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História Linhas de Código - O Melhor Encontro do Universo


Escrita por: PeixeEmbolorado

Notas do Autor


Povo, olá.

Perdoe a demora, estava ocupada com algumas coisas. Mas enfim...

Como eu citei na outra fic quando "anunciei" essa daqui, o Izuku é, em suma, eu. Até mesmo o Márcio é um amigo imaginário meu.

Os pensamentos dele são os meus, e a história dele é a minha, e eu quis contar para combinar com o momento e porque eu acho melhor desabafar com pessoas que eu não conheço do que falar para alguém que eu vou ver de novo depois.

A questão é: Nenhum de vocês me reconheceria se esbarrassem comigo na rua.

Só muda que eu não terminei o ensino médio por causa da minha idade, não por desistência. E eu não estou na Mensa, eu iria fazer o teste esse ano, já estava tudo marcado com a minha mãe, mas tivemos de cancelar por causa da pandemia. Essa desgraça kkkkkk

Desculpem por essa nota longa, eu tentei fazer o capítulo maior que eu pude, mesmo sem muito tempo. E é isso.

Espero que gostem, escrevi com todo carinho, e espero de coração que consigam rir um pouco com isso.


Ou pelo menos soltar um arzinho pelo nariz.

Capítulo 5 - O Melhor Encontro do Universo




O piolho e a pulga resolveram se casar,

Mas esse casamento foi por falta de milho.

Eu jogo chute tiro liro liro

Eu jogo chute tiro liro lan



Que porra é essa, Márcio?



A trilha sonora romântica desse apolíneo momento.


Observava Todoroki arrumar a mesa com muita felicidade, demais para quem iria jantar com uma pessoa tão estranha. Ele parece inocente, sem fazer ideia do que se passava na minha cabeça. Se bem que nesse quesito, todas as pessoas são inocentes, afinal não têm que ouvir esse excremento via anal de alimentos não digeridos toda hora.


Tem uma música melhor não?


Dizer que de mim jamais gostou

Chorar e choraar

Não tenho pai, nem compadre

Comprou cigarro, que milagre!

Chorar e choraar.



Eu vou chorar se você continuar cantando. De onde você tirou essa bagaça?



Chapolin Colorado.


– Sente-se — Sorri para ele ao ouvi-lo, em grande contraste com a expressão homicida reservada para meu amigo imaginário. — Bom... Eh... Eu nem sei por onde começar.



Então pule para o final e enfie a língua na nossa garganta.


Márcio!



Nós rimos pela timidez do mesmo, e Márcio dá uma risada forçada em um sorriso falso, logo mudando para uma expressão maliciosa ao notar o rubor no rosto do homem em nossa frente.


Tu tem uma cara de uke da porra, mas acho que esse pivete tem mais.


Fique calado.


– Eu já conhecia há um tempo o seu trabalho — Me espantei pois nunca imaginei que eu fosse ter fãs, eu agia na surdina fazendo pentest para algumas empresas, e por isso, nunca imaginei que fosse ter um admirador secreto.


 Ainda mais um tão...


Bem-apessoado.



Gostoso.


Márcio!



– Realmente aprecio em demasia, é bom ter uma relação pré-estabelecida, mesmo que unilateral com um colega de trabalho.


Colega de trabalho. Se forçar mais caga. Admita amigo, você quer reger uma orquestra com ele.


Ignoro os comentários indecentes do ser em minha cabeça e volto a prestar atenção naquele deus grego maravilhoso.



Eu sou mais, sou a própria definição de deus grego.


Com certeza, Hefesto.



Ri internamente da minha piada e finjo não ouvir os gritos de Márcio insultando-me.

 

Ele sorri, e começamos a comer, eu tinha muitas perguntas para fazer, mas não conseguia decidir o que dizer, em parte por não querer perder aquela oportunidade magnífica, por outro lado, não queria arriscar e falar merda.



Pergunta se ele gosta de sentir um pouco de dor.


Tá maluco? Eu não vou perguntar isso!



– Você já sabe um pouco sobre mim, acredito — Ele virou o rosto um pouco envergonhado, e essa expressão me confundiu.


Eu assisti muito Metaforando, e por isso posso dizer que esta expressão indica que ele sabe mais do que um pouco. Ele é um stalker... Adorei!


– Então conte-me sobre você, sei que tem doutorado em Medicina. Mas não sei em que área ou universidade — Ele se endireita como se estivesse com muito orgulho do que iria dizer.


– Eu fui migrando, não consegui parar quieto num lugar só, me formei em Oxford, mas meu mestrado é de Cambridge, e o doutorado de Harvard.



Caraí, o maluco é brabo.



– E como você decidiu que era isso o que queria fazer? — Ele pareceu hesitar um pouco.


– Eu não decidi, foi o meu pai... — Shoto suspira, e puxa um pouco de ar. — Ele e toda a família dele seguiram essa carreira, então ele quis que eu continuasse.


– E não gosta do que faz?


– Aprendi a gostar — Come mais uma garfada, antes de voltar para mim novamente. — A minha mãe sempre cuidou bem de mim, mas um dia ela... Eu não sei bem, é como se tivesse enlouquecido.


– Como assim? — Era uma das primeiras vezes em que Márcio ficava quieto.


– Ele... Maltratava muito ela, nós dois dependíamos financeiramente dele então eu prometi que ganharia muito dinheiro para irmos embora.



Não pergunta onde está a mãe dele, se ela não está aqui, alguma merda aconteceu.



– Ela foi internada num manicômio depois de um ataque que teve.



O filho da puta é um legilimente!



– Sinto muito.



Ele parece triste. Diz que é o cara mais incrível que já conheceu e que você quer acasalar com ele.


Deixa de ser doido, seria estranho dizer isso para alguém que acabou de conhecer.


Mas ele é foda.


É — Penso com um sorriso.


Só não é tão foda quanto eu, claro. Mas ele é o segundo melhor — Meu "Izuku" imaginário rola os olhos para essa frase que o real Izuku preferiu deixar quieta, não antes de pensar:


O segundo melhor sou eu.



– Não sinta, já faz muito tempo — Ele volta a sorrir com aqueles dentes brancos, às vezes eu olhava para aquele sorriso e imaginava aqueles caras do comercial da Colgate aparecendo e eu me visse de repente no meio de uma propaganda que passaria em algum intervalo de novela mexicana.


Misericórdia.


– Agora me conte um pouco sobre você, eu só sei sobre seu trabalho.


– Bom... — Estava meio envergonhado pelo que ia dizer depois daquela descrição estupenda. — Eu... Não tenho nenhuma formação.


– O quê? — Aquilo parecia tão irreal assim?


– Eu nem mesmo terminei o ensino médio, na verdade — A cada palavra, ele ficava mais espantado. — Desde criança eu fui distante da minha família, acreditava que era só por causa da minha idade, mas eu cresci e apesar de ter me aproximado não foi da maneira como eu gostaria.


Devia assumir ao menos para alguém, eu não ligava para nada na vida, mas inteligência era a coisa em que eu depositava todo o valor que, para mim, as outras coisas não tinham.


– Eles começaram a duvidar de mim, debochar dos meus sonhos, dizer que eu nunca conseguiria. Eu tentava impressioná-los toda a hora, eu decorei a tabela periódica, fazia cálculos grandes de cabeça, sabia a capital de todos os países, montava cubos mágicos e puzzles, mas nunca era o bastante.


Meus tempos na escola foram no mínimo, terríveis. As crianças eram idiotas demais, ou talvez, o único idiota ali fosse eu, só não entendia o que tinha na minha cara que fazia as crianças quererem me socar. Vinham até mim quando precisavam, mas me xingavam pelas costas, e me batiam quando saíamos da vista dos professores. Não prestava atenção nas aulas porque já havia lido nos livros e me sentia muito agitado por ter de ficar sentado numa cadeira sem fazer nada.

Ficar parado era um inferno, eu me arranhava até arrancar sangue, puxava meus cabelos até ver os maços caírem pela minha mão.


– Tenho hiperatividade, não consigo fazer uma coisa só, não consigo pensar em uma coisa só. Tenho duas vozes na minha cabeça, e às vezes, bem mais, eu tentei ser uma criança mais legal, para fazer amigos, para mostrar para a minha família que eu valia a pena. Que eles podiam confiar em mim.


Cheguei a perguntar para a minha mãe se aquilo não me faria inútil, mas ela não estava prestando muita atenção para variar.


Eu aprendi a tocar violino, dançar balé, jogar xadrez, me tornei campeão na minha escola, mas minha mãe continuava me levando para casa dela só nos finais de semana apenas para ignorar as coisas que eu dizia, as promessas que eu fazia, e minha tia continuava me tratando como se eu fosse idiota. Morava com a minha avó e minhas tias, e passava o tempo inteiro lá por causa do trabalho da minha mãe.


Ela era uma mulher ocupada, e embora ignorasse a maioria das coisas que eu falava, via algum potencial em mim, por isso ela não pensou duas vezes quando ouviu sobre a Mensa, e se agendou para me levar até um teste.


– Então fiz o teste para entrar na Mensa, e passei — Ele arregala os olhos novamente. Para os leigos no universo intelectualmente dependente, Mensa é o nome de uma organização onde estão os 2% das pessoas mais inteligentes do mundo, e sim, eu fazia parte dela desde os quinze.



– Abandonei a escola depois disso, eu me sentia ruim lá. Minha parte favorita era a ida e a volta na van, eu colocava meus fones e olhava pela janela, conversando com o Márcio, vivendo em um mundo em que minha família era mais legal, que eu via minha mãe mais vezes, e que meu pai não houvesse desaparecido, que minha escola tinha pessoas legais para fazer amizades. Sei que há problemas muito maiores e complicados do que os meus e por isso evito reclamar, mas minha insegurança só aumentava a cada palavra que eles diziam.



"Louco, você não conseguiria"


"Desista disso, é besteira"


"Cale a boca, quem liga?"



– Izuku — Olho para ele, e vejo um brilho em seus olhos, ele me olhava com carinho, mais do que qualquer outra pessoa já olhou. — Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço.


Havíamos acabado de comer e eu nem tinha percebido, atônito com aquelas palavras.



Você é incrível, Izuku.



Márcio já me disse isso muitas vezes, ele gostava de aumentar a minha autoestima, e me acalmar quando eu tinha ataques de pânico e pesadelos na infância. Eu não me imaginava sem ele, pois sem Márcio minha mente ficaria vazia.


Eu ficaria vazio.


Eu gosto de um lugar silencioso.


Mas não há nada que me dê mais agonia do que uma mente silenciosa.


– Com licença — Ele pega o meu prato e o leva para a pia, eu o sigo.



– Eu posso lavar.



Você lavando prato?


Eu sou uma pessoa educada.


Você nunca lavou os pratos da sua tia Neide quando ia almoçar lá com a sua mãe.


Eu era um adolescente em revolta.


E hoje, você não é?



Nós dois fomos até a pia, discutindo sobre quem iria lavar a louça.


– Não, não se preocupe com isso, você é visita... — Essas foram suas últimas palavras antes de um jato de água explodir em sua cara. 


A porra da torneira quebrou.


SOCORRO! — Márcio estaria rindo da cara desesperada de Shoto tentando proteger o rosto da água, mas naquele momento estávamos tão assustados quanto ele. 

Os gritos dele se mesclaram aos meus quando tentei tampar o fluxo com uma mão, mas acabei mudando o curso do hidroxido de hidrogênio fazendo-o vir bem em cima de mim.



Mas é um gênio da física.


CALA A BOCA, MÁRCIO!



Eu nem conseguia respirar direito, a camisa toda molhada, a dignidade que eu garanti pegar do quarto dele voltou a correr das minhas mãos. Márcio, antes sério, agora ria de mim.


Eu estava fodido. Acabaram as chances de pegar o cara gostoso hoje.


– ESPERA, IZUKU, SEGURA AÍ, VOU FECHAR O REGISTRO!! — Balancei a cabeça o máximo que pude no meio daquela agonia toda. — ESTOU INDO, SE PREPARA. 


Adoraria ouvir essa frase em outro contexto!


Assim que ele tirou as mãos da torneira, senti meu corpo ser empurrado para traz pela pressão, mas por sorte ou ajuda dos deuses, não caí. Estava todo molhado, Márcio parou de rir para me xingar por estar colocando tanta força, que eu inclusive, temia o que pode acontecer se continuasse fazendo.


Aos poucos, a força da água foi diminuindo, e me vi enfim, relaxado. Todoroki voltou para a cozinha e corou assim que me viu. Olhei para baixo e vi minha situação. A camisa branca agarrada em meu tronco e completamente transparente. 


Me cubro com os braços, tentando salvar o que restava da minha dignidade, e tentando não olhar para ele temendo encontrá-lo no mesmo estado e acabar com um grande problema entre as pernas.


– Acho que alguma roupa minha serve em você, venha — Ele me conduz para o seu quarto, aponta a gaveta das camisas e sai. Como a pia havia ficado por cima da minha calça, ela não estava tão destruída, até porque minha camisa era longa e a protegera.


Bravamente, como uma grande soldado.


Exato.


Aproveita que está aqui e rouba uma cueca dele.


Hum, sou doido — Debocho.


É sim.



Vesti uma roupa, quase cedendo a tentação de realmente furtar uma cueca dele, e saí para deixar que ele se vestisse. Àquela altura os deuses já haviam cagado com tudo, e nossa noite foi para o bueiro, então quando saiu, já soube exatamente o que diria.


– Me desculpe realmente por isso, eu deveria ter trocado essa merda antes — Assenti, balançando a mão como se dissesse que não havia problemas, mas na verdade, estava xingando o universo por dentro.


Márcio mesmo estava em prantos.



Por que o mundo é tão cruel? POR QUÊ?



Inconsolável, eu diria. No mínimo.


– Pode me dizer seu endereço, para eu te levar para casa? 


– Sim claro — Em poucos minutos, estávamos no carro dele, nem mesmo nos olhamos. Eu ainda estava envergonhado por ter ficado tão exposto em sua frente, e ele talvez pelo mesmo motivo. Começou a chover, e eu observava tranquilo as gotas escorrerem tristes pelo vidro.


Tão tristes quanto nós três.


Três?


Sim, eu, você e seu amiguinho lá embaixo. Se bombear até o de trás.



Nem tive cabeça para repreendê-lo pois assumi que ele tinha razão. Em meio a meu padecimento existencial, me encontrei surpreso quando a primeira lei de Newton jogou meu corpo para frente do nada.


– O que foi isso?


– Não acredito — Shoto tentava reviver o carro, mas o bichinho não parecia muito afim de ser ressuscitado. — Essa merda quebrou.


Ele soca o volante e se joga para trás com a mão na testa.


– Me desculpa, Izu, desculpa de verdade.


– Izu? — Ele ficou envegonhado, perdendo toda a pose frustrada.


– Quero dizer... 


– Não, relaxa, eu... Gostei — Nós dois sorrimos um para o outro no meio daquele caos, ficamos nos olhando por um tempo, Márcio quieto em espectativa. Aqueles olhos heterocromáticos me prendiam, uma tempestade cinza e turbulenta em contraste com o azul vivo e calmo como o oceano.


Nos aproximamos sem nem percebermos.


Nossos lábios se encostaram de maneira doce, como se ambos tentassem acalmar os nervos naquele contato.


Esqueci tudo. A torneira estourando, as piadas indecentes do Márcio, minha tentação em roubar suas cuecas e até o carro quebrado em que estávamos, ou a chuva que caía forte lá fora.


Só havia nós dois ali.



Quando nos separamos, ficamos um tempo ali, antes de encostamos novamente nossas bocas, talvez as coisas estivessem indo muito rápido, ao menos para mim, já que ele pelo visto já tinha sua paixãozinha platônica.


Nada poderia estragar aquele momento, nem o carro que tivemos de empurrar no meio de uma tempestade.




...




Cheguei em casa detonado, molhado, com as roupas bagunçadas, tremendo de frio, e com uma vontade imensa de urinar, mas com um sorriso idiota no rosto ao lembrar dos nosso beijos trocados dentro do carro.



Eu se fosse você adiantava.


Márcio me trouxe à realidade e minha bexiga quase estourou quando me dei conta dela, corri para o banheiro e quase chorei de quando o encontrei ocupado.


– Asui! Abre a porta, porra! — Ouvi uns barulhos estranhos, o que teria me surpreendido em outro momento, mas naquela hora só me desesperava.


Tanta água havia me dado uma agonia enorme em correr o mais rápido possível para a privada.


– Espera, não vou demorar.


– Eu vou ser o juíz disso. O tempo é uma coisa relativa.


– Relativa? Em relação ao quê?


– Ao lado da porta do banheiro onde você tá está! Para o que quer que esteja fazendo e me deixa entrar!!!




Nunca me arrependi tanto de um pedido na vida.

 




Notas Finais


Péssima decisão.


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