História Lírio Branco - Alstroménia

•°* Jung Hoseok *°• 

Depois daquela declaração tão perturbadora sobre o Shin, o caminho até a república continuou no mais absoluto silêncio. Yoongi não falou comigo e ainda fez questão de colocar o fone de ouvido para abafar ainda mais o som da minha possível voz. Ignorei esse fato e continuei a andar até que estivéssemos enfim em casa.

Yoongi logo passou a subir as escadas, parando no meio e se voltando para Seokjin, que lia um livro calmamente sentado na poltrona da sala enquanto tinha suas pernas cruzadas e uma taça de vinho pendendo em uma de suas mãos.

– Você.. como você pode permitir que eles façam esse tipo de coisa? Seokjin, como eu vou dormir com esses três berrando bem do lado do meu quarto? – o alfa perguntava raivoso para o ômega que parecia não se abalar pelo tom ríspido de Yoongi.

– Dorme no sofá se está tão incomodado. Eles não vão parar tão cedo, Min. – repousou a taça vazia na mesinha de centro da sala e encarou o alfa de maneira afiada. – E é hyung para você. – sorriu em seguida. – Oh, se você não quiser dormir na sala, tenho certeza que Hoseok não se incomodaria em dividir o quarto com você. Leve seu colchão para lá, já que o quarto do Hobi é o mais longe no corredor. – engoli em seco encarando o Kim com os olhos arregalados, ele por sua vez, apenas sorriu de maneira inocente e subiu as escadas antes que Yoongi dissesse qualquer coisa.

– Esses bastardos! – Yoongi vociferou, e eu acabei por me encolher. O alfa nervoso não era lá a coisa mais agradável do mundo.

O mais velho se jogou no sofá de maneira irritada, e aquele clima pesado me sufocava aos poucos. Passados alguns minutos no mais absoluto silêncio - tirando as bufadas e xingamentos que o Min proferia -, pigarreei e tentei sorrir ao ganhar a mínima atenção do alfa.

– Sobre mais cedo, obrigado. Acho que se não fosse você, eu teria de lidar com o lado descontrolado do Shin sozinho... Então, obrigado mesmo. – Yoongi acenou sem muita emoção, logo desviando a atenção para qualquer outro ponto. – E... Se quiser ficar no meu quarto, eu não me importo, ‘tá bom? – sorri para o alfa e caminhei até a cozinha em busca de algo para comer, já que o horário do jantar passara há certo tempo.

Vasculhei o fogão e vi que Seokjin havia feito kimchi. Sorri minimamente e preparei um prato para mim. Eu comia sem perceber o que acontecia ao meu redor, já que os eventos recentes mexeram bastante comigo. Só fui me tocar do tempo presente quando o alfa tatuado se sentou junto a mesa com um prato de comida parecido com o meu. Meu estômago gelou no mesmo momento, mas tentei continuar comendo normalmente.

– Não precisa ficar com medo de mim. – ele disse erguendo o olhar em minha direção.

– Mas eu não estou... E-eu.. – tentei argumentar escondendo a minha surpresa, mas a risadinha cortou qualquer chance que eu possuía para continuar negando. – Como sabe? – perguntei sem olhá-lo.

– Sou um alfa e você um ômega. Seu cheiro te denuncia. – deu de ombros e continuou comendo como se aquilo significasse nada. Porém eu nada disse, não queria ter de dividir minha triste condição com o alfa rebelde. – Mesmo sendo curiosamente um tanto quanto fraco. -  divagou mais para si mesmo, logo voltando a comer.

Voltei a jantar provando da comida, companhia do Min e daquele silêncio que se tornava cada vez mais agradável. A presença do alfa era algo bom, mesmo que nada conversássemos. Terminamos de comer no mesmo momento, e logo os pratos jaziam dentro da pia. Enquanto eu lavava a pouca louça suja, Yoongi saiu pela porta que havia na cozinha, dando para um pequeno jardim que era cuidado por Seokjin. Da janela eu conseguia ver o alfa ascendendo um cigarro e tragando-o de forma lenta, aproveitando possivelmente o gosto da nicotina. Ele ficava incrivelmente belo com as mãos nos bolsos daqueles jeans surrados enquanto os braços cobertos por desenhos dos mais variados tipos.

Fiquei tão distraído que acabei me cortando com uma das facas. Guinchei de dor, logo lavando o ferimento e o levando a boca. Foi um corte no dedo, nada muito grave. Terminei de arrumar a pia e dei uma última olhada no Min que parecia dar a última tragada em seu fumo. Subi em direção do meu quarto, ignorando os ruídos nada castos vindos do penúltimo quarto do corredor. Adentrei meu cômodo e logo procurei por entre minhas coisas um band-aid, encontrando apenas um colorido. Ri para o nível de maturidade do curativo e logo o enrolei no corte. Gostei do resultado fui para o banheiro me arrumar para dormir.

Quando saí já com o meu pijama já pronto para me deitar, uma batida tímida ecoou pelo quarto silencioso e logo o alfa tatuado aparecia com a face um tanto corada e não olhava para mim diretamente. Lembrei-me o porque de Yoongi estar ali, saindo do meu torpor momentâneo.

– Ah, pode se acomodar onde quiser, se quiser eu posso dormir no chão e você na minha cama, eu..

– Nada disso. Já é suficiente poder dormir no chão contanto que eu não tenha de ouvir aqueles... – sua face se torceu em desagrado. – Vou pegar as minhas coisas.

E sem esperar o alfa saiu do quarto, mas logo voltou com cobertores, travesseiros e um colchão debaixo do braço enquanto tentava debilmente passar pela porta. Corri até si e o amparei, logo tudo estava arrumado e pronto para dormir.

– Eu vou apagar a luz, ok? – perguntei quando ele já estava se deitando em seu colchão. Yoongi apenas murmurou em concordância e assim a escuridão tomou conta do quarto.

•°*~☆~*°•

Acordei no meio da noite com o ranger da porta se abrindo e o alfa se esgueirando para fora do quarto. Pude ouvir a geladeira abrir e fechar “talvez ele esteja bebendo água”, pensei. Antes que eu pudesse divagar ainda mais, a porta se abriu novamente enquanto ele caminhava até onde estava anteriormente. Consegui ver pois já estava há um tempo observando o cômodo no escuro, assim foi fácil ver a silhueta do Min. O que eu não esperava era que ao contrário de se deitar no seu próprio colchão, era que ele se sentasse em minha cama, e deitasse. Como se isso já não fosse suficiente, além de estar na mesma cama que eu, Yoongi apertou-me contra seu corpo enquanto ressonava calmamente.

O alfa dormia tranquilamente, mas dentro de mim um turbilhão de emoções dançava e fazia a minha respiração rarefeita. Eu não entendia como ou por que ele estava fazendo tal coisa, mas não posso negar que o aperto de seu braço envolto em minha cintura fazia eu me sentir protegido e confortável.

Eu só teria que lembrar de acordar mais cedo que ele ao amanhecer.