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História Lírio Oculto - Capítulo 2 - No Sunhae


Escrita por: bruneviev

Capítulo 3 - Capítulo 2 - No Sunhae


Caro dono dos meus pensamentos, essa é a minha primeira carta. Por favor, não estranhe se estiver muito ruim.

Acho que você se esqueceu de mim. Mas não tem problema, se estiver lendo isso, talvez você se lembre.

Eu sempre te amei, de todas as formas. Mesmo antes de você ser uma outra versão de si mesmo.

Ah, isso é tão vergonhoso. Mas acho que é a única forma de eu me declarar pra você direito.

Gostaria que você não tivesse se distanciado tanto. Qualquer que fosse seu problema, eu teria te apoiado.

Admito que parte disso é culpa minha. Depois do que ocorreu naquele ano, eu não soube como proceder. Sentia-me como uma intrusa, e sempre que eu chegava perto parecia que eu forçava nossa amizade. Seria bom te ouvir dizer “oh, Sun (é como você me chamava, lembra? Tudo bem, vou parar de te tratar como se você tivesse perdido a memória), você nunca me incomodaria!”.

Depois que eu li o que eu acabei de escrever, eu percebi o quão besta isso soou.

Eu sou tão ruim nisso. Pensei ter sido a melhor ideia que eu já tive, mas no momento, me sinto uma imbecil.

Sinto muito, da dona desse caderno.

 

Kim Seokjin estava perdido e desconfortável.

Uma hora, ele estava se aprontando para seu primeiro dia de aula. Na outra, se viu parado, olhando para o parquinho da pracinha que costumava frequentar aos cinco anos.

Apesar de ser uma segunda-feira, havia, sim, muitas crianças brincando acompanhadas de seus pais, no local.

Quando percebeu, estava sentado em um dos bancos de mármore da praça durante algum tempo. Havia perdido a hora, e decidiu que não se atrasaria no primeiro dia do último ano. Resolveu faltar. Mais tarde dava um jeito de recuperar a matéria perdida.

Tirou a blusa de frio azul marinho do uniforme, ficando apenas com a camisa cinza, onde estava estampado o emblema da escola, no lado esquerdo. A calça comprida, de moletom, o protegia do frio ameno que fazia naquela manhã.

Esticou as costas, reclamando mentalmente da falta de recosto que o banco tinha, enquanto se espreguiçava. Soltou um bocejo fraco.

Observar a alegria da geração mais jovem o deixava tranquilo. A espontaneidade, a euforia, a sinceridade, o fazia lembrar-se de quando era mais novo, feliz, ao lado dos pais e da irmã.

Apoiou a cabeça nas mãos, que, por sua vez, foram apoiadas no joelho.

Viu-se sendo empurrado no balanço mais baixo — seus pais achavam os outros balanços, os mais altos, perigosos demais para a idade do garoto — por sua mãe, enquanto seu pai estava sentado na toalha de piquenique, embaixo do salgueiro, ajudando a pequena da sua irmã a comer.

Seokjin lembrava que aquele salgueiro era o lugar preferido de sua mãe para fazer piqueniques, pois, segundo ela, tinha a melhor sombra, o dia todo. Riu, lembrando-se de quando seu pai quis fazer um piquenique perto da fonte, e a mulher quase ferveu de raiva com a teimosia do marido. No fim, ele estava só a provocando.

Lembrou-se, também, de quando fez birra porque alegava não gostar do sabor do bolo escolhido daquela vez. Ele dizia não gostar mais de bolo de abacaxi, porque a “fruta malvada” o tinha atacado da última vez que foi ao mercado. Sua mãe, percebendo que o garoto achava que o abacaxi tinha o espetado de propósito, comprou outro bolo — desta vez, de morango — e deu ao menino. Morango virou sua fruta preferida desde então.

Voltou ao presente quando ouviu um choro de criança. Uma garotinha havia caído de joelhos do escorregador, ralando-os de um jeito feio. A mãe da menina, que antes conversava com outra mulher em um banco próximo ao de Seokjin, correu para acalentar a filha.

O Kim recordou de outro momento vivido naquele parque. Foi quando estava brincando com um amigo, que deu a ideia de subirem no escorregador pela rampa. Seokjin, ingênuo, concordou. Estava na metade do brinquedo quando, de repente, o garoto apareceu, descendo. Eles se encontraram de frente, e caíram ambos no chão. Seokjin de costas, e o amigo, de joelhos. Os dois saíram machucados.

Deu uma risada quando lembrou o quão brava ficou sua mãe, tanto, que resolveu reclamar com a responsável pelo menino. Eles nunca mais se viram depois do acontecido.

Uma das memórias mais felizes que ele tinha, era provida dali. Foi quando um circo nacional, de uma indústria pequena, havia visitado a região. Seu pai o acompanhou, e, então, assistiram a palhaços, malabaristas, mágicos, bailarinos.

Durante quase um mês inteiro, Seokjin colocou a ideia de ser um mágico, na cabeça. Fez até seus pais comprarem um kit de mágica para iniciantes, que, segundo o garoto, “tinha instruções muito difíceis”, por isso, desistiu da profissão.

Era estranho como uma memória puxava outra. Ontem mesmo ele não se lembrava de nada disso. Nem mesmo da praça que estava agora! Como o cérebro conseguia armazenar tanta informação? E como a memória conectava acontecimentos desse jeito? Temia nunca descobrir.

Curvado para frente, divagando há bastante tempo, não percebeu quando uma presença feminina se alojou ao seu lado.

— Cabulando aula, novato? — a voz aveludada adentrou os ouvidos do mais novo.

O Kim fez suas costas ficarem eretas no mesmo momento, chegando a se atordoar. Virou a cabeça para a esquerda, se deparando com uma mulher jovem, com os cabelos amarrados em um coque, o analisando.

— Quem é você?

— Oh, perdão. — deu um sorriso torto, deixando um riso escapar pelo nariz enquanto meneava a cabeça.

Colocou uma mecha do cabelo que não era longa o bastante para ser presa no coque para trás da orelha antes de continuar.

— Sou professora na escola onde você estuda. O reconheci pelo uniforme. E, como nunca te vi lá, julguei ser um aluno novo. Meu nome é Baesam. Pyo Baesam. Muito prazer.

A morena estendeu a mão delicada para o rapaz, enquanto jogava levemente a cabeça para o lado. Seokjin aceitou o cumprimento.

— Está certa. Vim de outra cidade, parei aqui e perdi a hora. — analisando sua própria fala, o Kim continuou. — Não deveria estar dando aula agora?

— Meu horário de segunda é só as três primeiras aulas antes do intervalo. Saio da escola mais cedo. — a mulher respondeu simples.

Seokjin fez uma expressão de entendimento, virando-se novamente para o parque.

— É de que ano?

— Como?

— Está estudando em qual série? — perguntou, dessa vez com mais clareza.

— Terceiro ano.

Baesam sorriu e mostrou ao rapaz um caderno de capa branca, no formato de um livro.

— É o primeiro trabalho de artes, a minha matéria. — não tirou o sorriso do rosto, nem por um segundo. — Acho que escrever sobre si mesmo é um ótimo jeito de se entender. Você consegue facilmente dizer quem é uma pessoa pelo que ela escreve. É libertador, porque escrever te dá uma liberdade que qualquer outra coisa não dá. É como se você vivesse uma segunda vida.

Baesam falava com a voz calma, baixa, mas alta o suficiente para ser ouvida pelo garoto ao lado. Parecia viajar em pensamentos longínquos.

A Pyo percebeu, então, que parecia uma boba viajando e deu um sorriso amarelo enquanto balançava a cabeça em negação, levantando-se do banco de mármore e se posicionando na direção do mais novo.

— Até amanhã, aluno de nome desconhecido. — riu pela última vez e, com uma reverência, deixou a praça.

Seokjin nem havia percebido que não falara o nome para a sua nova professora. Contudo, não se importou muito com isso, afinal, amanhã eles se veriam novamente, na escola.

Ouvir a mulher falar que já tinha saído da instituição porque já era intervalo, o fez perceber que estava ali tempo demais.

Pegou o caderno em branco e o guardou na mochila, se levantando de jeito preguiçoso e rumando de volta para a casa.

 

Quando levantou da cama de manhã, a loira sequer imaginou o que a esperava na escola.

Seu dia foi tranquilo. As primeiras aulas eram sempre mais amenas, antes dos professores decidirem pegar pesado com a matéria.

Apesar disso, estava chateada com sua amiga. Tinham combinado de ir ao shopping pela tarde, já que os clubes só seriam abertos na próxima semana, mas o encontro foi desmarcado porque a garota precisava ir ver o namorado.

Sentia-se trocada. Parecia ser a prova viva de que ter uma dupla comprometida não era nada bom. Lamentou, pois não queria voltar para casa tão cedo àquele dia. Havia brigado com os pais.

Decidiu que iria ao shopping sozinha, afinal, já estava grande o suficiente para se virar sem companhia. Como havia ficado por um tempo parada, divagando sobre que rumo tomar, não notou que a escola já estava quase vazia.

Os corredores sempre pareciam desertos no horário de saída.

Decidiu usar o banheiro antes de rumar até o ponto de ônibus. Subiu as escadas até o mais próximo, ignorando a sensação de estar sendo observada quando alcançou o segundo andar.

A sensação era esquisita. Era diferente de tudo que já havia sentido antes. Parecia angustiada sem motivo.

Pensou em não ignorar.

Viu uma tática na internet uma vez para saber se alguém a vigiava. Resolveu tentar a sorte.

Fingiu um bocejo longo, que logo foi acompanhado de um bocejo verdadeiro vindo da boca da mesma. Não se preocupou em colocar a mão na frente dos lábios.

Parou no meio do corredor, alcançando o celular no bolso de trás da calça, fingindo ler alguma mensagem.

Nesse meio tempo, atentou os ouvidos para qualquer ruído ao seu redor, a fim de ouvir alguém bocejar, mas nada de anormal passou pelos seus ouvidos.

Cogitou ligar para alguém, mas se fosse só paranoia da sua cabeça, provavelmente a chamariam de louca, ou esquizofrênica. Não era bem o que ela queria, então, colocou fones de ouvido e fez uma música começar a tocar no aparelho.

Andou, dessa vez mais confiante, até chegar ao banheiro feminino. Entrou e fechou a porta atrás de si.

Descansou os braços, deixando a mochila vermelha e branca em cima da larga pia de mármore escuro e granito. Caminhou até uma das cabines, aliviando suas necessidades.

Saiu, indo em direção à bancada escura, pronta para lavar as mãos.

Estava tão entretida com a música em seus fones de ouvido, que sequer olhou para o espelho, para ver quando a silhueta de roupas escuras adentrou o banheiro e, muito menos, quando este trancou a porta por dentro.

Tirou seu anel do dedo calmamente, prestes a ligar a torneira para lavar as mãos, quando sentiu uma luva agarrar sua boca, e outra segurar seu pescoço com força.

Assustou-se, levantando o olhar para o espelho encardido, vendo o próprio rosto ficar cada vez mais vermelho.

Não teve chance de gritar, visto que quem a agarrou pressionou fortemente os lábios femininos, mantendo-os fechados. Debatia-se com desgosto e loucura, tentando inutilmente se soltar do aperto.

Moveu as mãos desesperadamente pela pia, derrubando, com isso, sua mochila e seu anel. Seus pés se moviam desenfreadamente, sendo guiado pelas pernas que perdiam a força aos poucos. Tentou chutar seu agressor, impulsionando os pés para trás, ato que falhou erroneamente e só fez o aperto no pescoço ficar pior.

A vermelhidão em seu rosto dava lugar a um tom arroxeado. Poderia jurar ter visto algumas de suas veias saltarem com a pressão.

Lágrimas frias entravam em atrito com o calor do seu rosto. A garota, já quase inconsciente, sentia-se um lixo. Não conseguia ver nada do seu agressor, ele estava bem atrás do seu reflexo. Tudo o que via eram luvas de couro, e braços cobertos com uma jaqueta escura.

Ela sabia que iria morrer. Sentira isso desde antes de entrar no banheiro, mas ignorou.

Ela chorava sua morte.

Chorava, porque as últimas palavras que disse aos seus pais pela manhã, antes de sair de casa, foram “não enche”. Arrependeu-se amargamente de não ter dado sequer um abraço antes de deixar o recinto.

Chorava, pois sabia que não estaria presente para ver sua irmãzinha mais nova nascer. Havia ajudado a escolher o nome de Hazel, mas nunca chegaria a vê-la.

Chorava, pois sabia que sua mãe não teria forças para entrar no seu quarto depois de vê-la morta. Provavelmente, eles se mudariam do local o mais rápido possível. Memórias ruins sempre abalaram sua progenitora.

Chorava, pois sabia que seu pai perderia completamente a noção e voltaria a beber. Perderia a reabilitação, o emprego, a renda que os sustentava. Torcia para que ele não voltasse a bater na mulher.

Chorava, pois era a única coisa que conseguia fazer naquele momento. Até respirar se tornava difícil.

Quando deu por si, o elemento a havia jogado no chão sujo do banheiro. Seus fones de ouvido, juntamente com o celular, haviam parado do outro lado do local. A tela do aparelho estava trincada. Seus fios loiros cobriam boa parte do chão ao seu redor.

Sempre gostou de cabelos compridos.

Sua visão estava extremamente turva. Não só pelo estrangulamento, mas pela pancada que recebeu na cabeça após recair sobre o chão.

Pensou em gritar, pedir por ajuda, implorar pela sua vida, tentar levantar, ou qualquer outro meio de se defender, mas estava zonza demais para qualquer uma dessas coisas. Nenhuma palavra poderia sair de seus lábios naquele momento. Ela não conseguia nem formular uma frase direito.

A silhueta que vestia jaqueta de couro estava borrada, e, graças à má iluminação causada pelo elemento estar contra a luz, não conseguiu ver nenhum traço do rosto a sua frente.

O agressor abaixou-se em cima da menina, que, sem forças, tentou colocar a mão na frente do rosto para se defender de qualquer coisa que estaria por vir. Foi intuitivo. Pensou ter ouvido algum murmuro sair da boca da pessoa acima de si quando sua mão foi tirada da frente do próprio rosto, mas nada audível.

O desconhecido se aproximou, ficando a centímetros do rosto feminino. A loira viu, aos poucos, a silhueta ficar mais clara, mais nítida, ao menos o suficiente para enxergar seus traços, e arregalou os olhos o máximo que pode, entreabrindo a boca prestes a dizer alguma coisa.

Mas, antes que o fizesse, um garfo atravessou sua garganta, espirrando sangue para todo lado, inclusive na roupa de seu assassino.

Um último sopro de vida foi dado. Um último respirar foi sentido. Um último bater do coração da garota pareceu ter ido embora mais rápido do que previsto.

Os olhos castanhos já estavam sem brilho, olhos que presenciaram o exato momento da própria morte. Olhos que nunca contarão nada a mais ninguém. Olhos sem vida, olhos mortos.

O elemento arrepiou-se por completo, aproximando o rosto da face já gélida da garota e respirando fundo, sentindo seu aroma natural e suado, se misturar com o cheiro metálico do sangue.

Desaproximou-se o suficiente para poder encarar por completo sua incrível obra de arte. O rosto molhado de suor e lágrimas salgadas, as pálpebras escancaradas, os lábios pálidos por pouco se encostando, o cabelo loiro manchado de escarlate, o sangue escorrendo do ferimento no pescoço, o peito já sem o movimento de vai e vem do coração bombeando sangue, e o corpo estirado.

Ficou ali durante bons minutos.

Por fim, subiu o corpo e destrancou a porta, saindo casualmente do banheiro, tendo consciência de que ninguém estaria perambulando pelos corredores àquela hora.

O assassino sentia-se realizado.

A garota loira, apenas não sentia.

 

Frio. O tempo era frio. A escola estava fria. As pessoas estavam frias. O ambiente era repleto de muito frio. Frio e solidão. Poucas gotículas de chuva recaíam sobre o local. O clima parecia se adequar à situação.

A notícia de que a garota estava morta foi dada naquela manhã de terça-feira. Como a escola ainda não funcionava às tardes, o corpo gélido da ex-estudante só foi encontrado no dia seguinte, quando os alunos mais adiantados já estavam no recinto.

Quando esse tipo de coisa acontece, a reação normalmente é a mesma. Pessoas em choque, caladas, desconfortáveis com o ar melancólico e angustiante que não cessaria tão cedo. Ali não era diferente.

Choros altos eram ouvidos, estes, vindos de uma única garota: a morena que havia cancelado a saída delas ontem à tarde. Oh, como ela se sentia culpada e arrependida. A última expressão que viu da loira foi uma cara triste e descontentada. Estava arrasada.

Pessoas perplexas adentravam e saíam da instituição todo momento. A notícia de uma aluna morta era mais avassaladora do que é de se imaginar.

Apesar de ser socialmente normal ver notícias ruins na televisão, é sempre diferente quando acontece com você. Nunca é esperado. A reação que você imagina ter, com certeza, é diferente na prática. É algo indesejável para qualquer um, ter que passar por uma situação dessas.

A diretora não soube o que fazer. Chamou a polícia imediatamente, mas temia pela reputação de sua instituição e, é claro, pela vida dos outros alunos.

Tratou de cancelar as aulas daquele dia antes mesmo da polícia chegar, mas a maioria dos estudantes já estava no meio do caminho. Então, o cancelamento das aulas não adiantou muita coisa, nem poupou estômagos de quererem vomitar seu interior.

Park Jimin era um desavisado em agonia.

Quando chegou à escola, tudo que ficou sabendo era que uma loira havia sido assassinada no segundo andar. Isso o preocupou profundamente.

Jimin parecia ter uma extrema dificuldade em encontrar qualquer conhecido. Rolava os orbes escuros de um lado para o outro, mexendo, aflito, a cabeça, procurando alguém que pudesse lhe informar melhor.

O primeiro que avistou foi Jungkook, de jaqueta de couro, encostado em uma pilastra na área verde do local.

Correu até o colega de classe, em um alarde descomunal. Agarrou-lhe os ombros, fazendo-o virar-se totalmente para si, o desencostando do concreto frio.

O Jeon levantou ambas as sobrancelhas, movendo a cabeça para trás, fazendo um leve bico inconsciente. Jimin estava suado, parecia tenso e preocupado de um jeito esquisito. Mesmo após anos de convivência, Jungkook nunca havia o visto tão desconcertado.

— Quem é a garota? — o Park perguntou, em um sussurro nervoso.

— Que garota? — Jeon indagou, ainda com a careta estampada na face. — A que morreu?

Jimin fez que sim com a cabeça, molhando os lábios ressecados, sem conseguir deixar sua voz sair.

— Não sei. Era aluna do primeiro ano. Ela estudava com meu irmão. — Jungkook respondeu, murmurando.

O Park soltou os ombros do mais alto, se afastando poucos passos enquanto, de olhos fechados, respirava fundo. Relaxou a postura antes tensionada, abaixando os braços. Parecia mais calmo, aliviado. O badboy entendeu, quase instantaneamente, o que se passava com o amigo.

Jimin elevou a cabeça, dobrando o pescoço, ainda de olhos fechados. Seus pensamentos ficaram extremamente bagunçados ao receber a notícia, e não havia raciocinado direito assim que citaram a cor dos cabelos da falecida.

Os batimentos de seu coração voltaram a ser rítmicos, e a culpa que sentia diminuiu.

Ao abrir os olhos, percebeu que Jungkook havia voltado a encostar-se à pilastra de concreto, e tratou logo de se explicar — apesar de achar que o amigo já havia entendido.

— Não vim ontem. — disse o óbvio. — Quando liguei para minha irmã de tarde, ela não atendeu ao telefone. Deixei pra lá, e, quando fiquei sabendo que uma loira havia sido atacada, liguei os pontos. Meu Deus, eu quase morro do coração.

Jimin suspirou, aliviado por não ser sua irmã a que estariam investigando o corpo morto agora.

O loiro se sentiu mal logo depois. Afinal, de um jeito ou de outro, alguém havia morrido. Alguém que faria falta para muitos.

Jungkook deu dois tapinhas no ombro masculino do colega de classe, fazendo uma expressão compreensiva. Pensou em convida-lo para ir com ele, e mais dois amigos, ao bar perto de sua casa mais tarde.

Antes que o fizesse, o celular do mais baixo tocou.

— É minha irmã! — exclamou, com leveza no tom de voz e um sorriso curto.

Fez um sinal de que ia atender ao telefone, balançando-o ao lado do rosto, ao mesmo tempo em que dava tchau ao amigo. Fazia isso enquanto dava passos curtos para trás, logo se virando completamente e andando na direção do jardim da escola.

Jungkook deu de ombros, levantando as sobrancelhas e comprimindo os olhos. Conveniente. Rumou em direção à saída, ainda um pouco tenso graças ao ambiente escolar, para casa.

Enquanto isso, o andar de cima havia sido interditado. Os alunos que ainda estavam ali eram poucos, mas alguns atrasados curiosos insistiam em subir as escadas do prédio, desacreditados com o acontecimento.

Eram todos barrados antes mesmo de cruzarem o corredor. No banheiro, um policial tirava fotos da vítima para uso posterior, enquanto dois investigadores, os que haviam sido designados para o caso, avaliavam o cenário.

Jung Jayong tinha um péssimo pressentimento.

O criminoso atacou uma aluna de uma das várias escolas da região, em um banheiro feminino, no próprio estabelecimento. Não era uma vítima de alto risco. Estava óbvio que o assassino era alguém de dentro.

A arma do crime, o garfo, havia sido trazida pelo desconhecido. Concluiu que o crime era premeditado, afinal, não tinha motivo para se levar um garfo ao banheiro.

Estava corajoso demais para ser um novato no que fazia. E isso deixava Jayong receosa.

Abaixada ao lado do corpo estirado da menina, a detetive inclinou a cabeça para o lado, fazendo o firme rabo de cavalo pender para a esquerda, acompanhando o movimento.

Estreitou os olhos redondos, encarando a face sem vida à sua frente. Buscou, inutilmente, descobrir o que as íris escuras tentavam expressar.

— Jung! — o parceiro a chamou, fazendo-a virar atentamente a cabeça para trás.

In Malchin era bom no que fazia.

Os policiais eram uma dupla complementar. Desde que Jayong chegou ao departamento, eles eram inseparáveis. Conseguiam compreender um ao outro rapidamente, e ambos eram muito inteligentes, sendo peritos no assunto. Graças a isso, passaram a ser sempre designados para casos juntos.

Malchin segurava a maçaneta do lado de fora da porta, enquanto chamava a colega com a cabeça. Jayong, então, impulsionou o corpo para cima, apoiando as mãos nos joelhos e se levantando enquanto rumava para perto do In.

O olhar do mais velho foi direto para a fechadura do lado de dentro da porta, onde se encontrava uma única chave enferrujada, sem qualquer chaveiro ou algo particular.

Encararam-se.

— Com licença! — Malchin chamou, em alto tom, o zelador da escola, que passava por ali com um balde de vassouras. — Vocês costumam deixar a chave do banheiro aqui mesmo?

O zelador parou o que estava fazendo e negou com a cabeça. Depois, voltou a andar.

Jung e In se encararam novamente. A morena, comprimindo os lábios enquanto semicerrava o olho direito, jogou a cabeça para a direita calmamente. O homem agradeceu ao funcionário da escola antes de comentar, em voz alta, o que ambos perceberam.

— O desconhecido se trancou com a garota.

— A pergunta é: por quê? — a voz dura de Jayong foi ouvida. — É com certeza alguém de dentro. O assassino sabia que ninguém estaria aqui a essa hora. Então, por que se trancar no banheiro?

— Talvez por precaução. Para a vítima não fugir. — o mais alto tentou.

— Não há indícios de ferimentos de defesa na garota, as unhas estão limpas, tudo indica que foi pega de surpresa. Mesmo se gritasse, não havia ninguém no segundo andar àquela hora. Não tinha por que ser precavido. — Jayong balançou a cabeça para os lados em negação.

— Vai ver ele queria passar mais tempo com ela. — Malchin dobrou o pescoço para a esquerda, analisando, de longe, o corpo da garota. — Mas não há sinais de que a roupa foi retirada e vestida novamente. Não teve abuso sexual.

— Se descobrirmos por que o assassino passou mais tempo com a vítima, estaremos mais próximos dele.

— É. Vamos trabalhar nisso.

Ambos voltaram a analisar a cena. Não queriam deixar nenhum detalhe passar.

O resto do dia dos estudantes correu como o habitual, na medida do possível. Apesar disso, todos sabiam que nada estaria realmente normal depois do ocorrido.

As pessoas ficariam mais tensas, desconfiariam até da própria sombra, da pessoa mais próxima a eles. Porque é isso que um corpo morto faz.

É óbvio que aquele incidente, no início do semestre, era um mau presságio. Mau presságio que amaldiçoaria todo o resto do ano letivo.

E ninguém estava preparado de verdade.

 

Charlotte se encontrava perdida, ao lado de uma garota que parecia ser muda.

Nari não havia sequer resmungado alguma coisa desde que souberam do ocorrido. Isso incomodava profundamente a Kang.

Costumavam ir juntas à escola. A tia da Pyo sempre saía mais cedo do que o normal por ser uma professora, e Nari quase nunca estava disposta a ter que acordar meia hora antes para ficar mais tempo no local que tanto desgosta. Por isso, Charly se ofereceu a busca-la todo dia, e, desde então, só exceções as separavam.

Hoje foi uma dessas exceções.

A Pyo mais nova resolveu acompanhar Baesam, pois não havia conseguido dormir e já estava pronta desde madrugada. O seu plano para conquistar o Kim seria posto em prática hoje.

Quando chegaram ao ambiente, a notícia tinha acabado de ser dada. A diretora reuniu todos os professores para ver quais medidas tomar, então Nari teve que lidar com a novidade sozinha.

A morena havia se sentado na mureta que rodeia o jardim da frente da escola e ficado lá, estática e de olhos cravados no chão, divagando durante um bom tempo.

Não soube dizer exatamente quando Charlotte adentrou seu campo de visão. Tudo que lembrava era de ter concordado com a cabeça quando a mais alta perguntou se ela gostaria de ir passar o restante do dia junto a ela.

Charly encarava a amiga ao seu lado, esta que escorou o corpo no braço o qual, por sua vez, estava encostado na janela do carro de lataria escura. A cabeça pendia para o vidro, e os olhos cabisbaixos observavam desatentamente a paisagem rápida do lado de fora. As pálpebras de Nari pesavam de sono, mas a cabeça estava muito cheia para conseguir sequer tirar um cochilo.

— Está... — pigarreou a Kang, sem saber se aquela seria uma boa pergunta a se fazer no momento. — Está tudo bem?

Nari não respondeu. Sequer mexeu no lugar.

Charlotte engoliu em seco e respirou o ar profundamente.

Não fez questão de perturbar a amiga. Relaxou a postura, encostando o tronco no banco do carro. Sabia que seria ignorada se continuasse a tentar alguma comunicação com a colega.

— Eu tive medo.

Para a surpresa da garota de franja, a Pyo a encarava de olhos molhados e quase totalmente fechados. Charly entreabriu a boca, mas Nari a interrompeu antes de saber se foi apenas surpresa ou se ela falaria algo.

— Tive medo de ser você. — meneou a cabeça para os lados. — Não saberia o que fazer se fosse você. Não sei. Isso passou pela minha cabeça e... Caralho!

A mais baixa fechou os olhos, passando os dedos anelares na pálpebra, tentando enxugar as lágrimas que poderiam descer pelas bochechas.

Charlotte já tinha visto a outra chorar algumas vezes, mas nunca por preocupação, ainda mais por ela. Entrou em estado de choque. Não soube o que dizer para reconforta-la, em sua mente não se passava nada.

Nari abriu os olhos e olhou para a janela atrás da amiga. Haviam chegado, finalmente.

Sem deixar a Kang dizer uma só palavra, abriu a porta do automóvel e saiu do carro apressada.

A garota de franja permaneceu no lugar por pouco tempo, processando a situação.


Notas Finais


Kim Seokjin como Kim Seokjin;
Park Jimin como Park Jimin;
Park Min-young como Jung Jayong;
Yoon Kyun-sang como In Malchin.


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