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História Little Gift - Disregard


Escrita por: DanyPS

Capítulo 4 - Disregard


Alex Vause não podia acreditar na cena ridícula que estava presenciando. Piper, uma semana depois do surto daquele maluco, já estava pendurada nele de novo? Sabendo que precisava se recuperar rapidamente para não dar o gostinho de mostrar sua decepção aqueles dois, a morena assumiu uma expressão neutra e continuou sua caminhada na direção em que eles estavam. Fez questão de cumprimentá-los:

- Boa noite – foi curta nas palavras.

- Oi Alex – Piper respondeu de forma vacilante.

Larry pareceu surpreso ao constatar que sua noiva sabia o nome dela. Mesmo assim tentou ser educado:

- Boa noite – virando-se novamente para Chapman, ele iniciou uma conversa: - Então posso confirmar o almoço com meus pais amanhã?

- Sim – a loira respondeu em um tom de voz baixo.

Vause percebeu que ela estava envergonhada e era pra ficar mesmo.

O elevador enfim chegou ao térreo, mas com ele veio a segunda parte do suplício da morena: ficar fechada naquela caixa com o casalzinho patético. Mesmo sendo um trajeto de poucos segundos, para ela duraria uma eternidade.

- Eles vão ficar tão felizes. Especialmente mamãe. O que acha de chamarmos Polly?  – o homem continuava o assunto enquanto acariciava as costas da noiva.

E Piper continuava econômica com as palavras:

- Pode ser.

- Você parece cansada. Que tal uma massagem pra dormir mais relaxada? - ou o homem era um completo idiota por não perceber o desconforto de Chapman ou estava fazendo de propósito por saber que aquela conversa incomodava a outra mulher ali dentro do elevador.

Alex nem prestou atenção se Piper chegou a responder, pois começou a sentir enjoos e uma leve sensação de falta de ar. Por isso, mal as portas se abriram, ela apressou-se em sair e acelerou os passos em direção a seu apartamento. Teve de se conter pra não bater a porta com força.

E quando finalmente se viu livre de olhares curiosos, deixou que toda a raiva que sentia fosse extravasada. A primeira coisa que vez foi ligar o som, escolhendo um rock dos mais pesados, e aumentando até que o volume ficasse um tanto alto para aquela hora da noite. Mas ou era isso, ou os vizinhos ouviriam seus berros de raiva:

- Burra! Idiota! Imbecil! – Vause socava uma das almofadas do sofá.

Era difícil precisar a quem eram direcionados aqueles xingamentos, se para Piper ou para si própria. Porque Alex se sentia exatamente assim, como uma completa idiota, por ter tentado ajudar uma mulher que não queria ser ajudada. E, o pior, que a usara para se divertir quando foi necessário, mas que já voltara correndo para sua vidinha perfeita. Alex tinha vontade de tacar a cabeça na parede, tamanho era o ódio que sentia de si mesma por ter se exposto em uma situação como aquela. A maldita loira a fizera sair de sua zona de proteção, antes mesmo que a morena se desse conta da burrada que estava fazendo. E somente uma pessoa conseguira aquilo antes.

Porém havia um lado bom naquilo tudo. Pelo menos agora a historinha estava encerrada. Alex resolveu que não perderia mais um minuto sequer dali pra frente com qualquer coisa que se relacionasse a Piper Chapman. Poderia ver o tal Larry apertando o pescoço da loirinha que não moveria um dedo para impedir. Isso se ela mesma não fosse ajudar a esganar aquela idiota.

Com o passar dos minutos, Vause foi retomando a sanidade. Abaixou a música, tomou um banho, serviu-se de algumas taças de vinho para conseguir relaxar e apagou no sofá mesmo.

No dia seguinte acordou com uma leve ressaca, mas firme no propósito de sair de casa e buscar um pouco de ar puro. Precisava ainda mais disso depois do fatídico encontro da noite anterior. Alex tomou apenas um suco e às nove deixou o apartamento. Mas foi só pôr os pés no corredor para ter certeza de que tinha alguém lá em cima curtindo com a cara dela. Só isso explicaria um novo encontro das duas àquela hora da manhã.

Piper aguardava o elevador e assim que ouviu o barulho da porta sendo aberta, virou-se. Alex mais uma vez não teve como fugir e a solução seria vestir sua máscara de indiferença.

- Oi Alex. Tudo bem? – Chapman a cumprimentou.

Só que dessa vez Alex não obteve sucesso em se manter impassível. Talvez fosse o fato do babaca não estar ali e assim ela não precisava esconder suas emoções. O fato é que fez questão de olhar dentro dos olhos de Piper quando respondeu:

- Comigo tá tudo ótimo.

- Vai se exercitar? – a loirinha perguntou olhando a roupa que a morena vestia.

Era muita cara de pau Chapman tentar manter uma conversa amigável. Alex não queria perder a compostura e mandá-la para todos os lugares possíveis, por isso desistiu de esperar o elevador e desceu de escada mesmo, deixando Piper sem resposta.

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Piper acordou naquele domingo tomada por um inexplicável desânimo. Ela havia dormindo bem. Larry não havia se demorado muito em sua casa na noite anterior e logo que ele se foi, ela tomou um banho e deitou. Sendo assim, o desânimo não era provocado por cansaço.

O estado em que se encontrava era estranho, levando-se em conta que ela e o noivo haviam chegado a um acordo e Piper voltara atrás no propósito de que se mantivessem afastados. Ela não deveria estar feliz com isso?

As palavras de Polly e de sua mãe reverberaram em sua mente durante vários dias. Precisava mesmo tomar uma atitude tão radical? E houve ainda uma outra contribuição para que revisse sua decisão: o beijo de Alex e a vontade que ela própria sentiu de prolongá-lo. Era claro que essa sua vontade sem cabimento fora motivada por carência. De qualquer forma, não podia se arriscar a que uma situação parecida acontecesse novamente.

Além do mais, Alex foi bastante eficiente em demonstrar que aquele gesto não significou absolutamente nada para ela. Haviam se encontrado duas vezes depois daquele dia e a morena não mencionou o assunto em nenhum momento. Nem mesmo pareceu ter ficado com raiva da reação da loira por ela ter proferido aquelas palavras nada gentis. Vause até lhe forneceu uma nova informação: a de que trabalhava em casa. O que foi uma grata surpresa para Piper, que imaginava que Alex não tinha nenhuma ocupação já que nunca a vira em trajes e horários compatíveis com um trabalhador comum.

Sendo assim, quando Larry ligou a convidando para jantar e disse que já havia comparecido a duas sessões de terapia, ela decidiu que a melhor coisa era deixar os últimos incidentes de lado. Sabia da gravidade das explosões do noivo, mas lhe deu um novo voto de confiança. No entanto, foi extremamente clara com ele ao dizer que esperava não se decepcionar novamente e nem chegar à conclusão de que foram precipitados. Bloom lhe garantiu que ela não se arrependeria e Piper queria de verdade acreditar naquilo.

Tendo aceitado o compromisso de almoçar com os pais de Larry naquele domingo, Piper precisava fazer algumas compras antes e foi quando se encaminhava para o mercado que encontrou Alex Vause saindo de seu apartamento. Um fato raro, já que a morena geralmente acordava tarde.

Obviamente Chapman sabia da enorme implicância que Vause nutria por seu noivo e não se espantou com a frieza dela ao topar com os dois juntos. Larry também a reconheceu como a mulher que ameaçou quebrar a cara dele e, quando ficaram a sós, questionou-a como ela sabia o nome da morena. Piper disse que elas haviam se encontrado algumas vezes e que Vause era uma pessoa agradável e prestativa. Não entrou em detalhes de como haviam sido esses encontros. Era estranho ter que omitir algumas coisas dos dois para manter o mínimo de equilíbrio entre eles.

Assim, embora tivesse entendido o comportamento de Alex na noite anterior, não estava preparada para a indiferença que ela demonstrou naquela manhã quando estavam somente as duas. A morena a olhou com uma expressão enfurecida e depois foi embora pelas escadas praticamente deixando Piper falando sozinha. Qual era a razão daquilo? Não podia mais ser por conta da história da semana anterior. Então... seria pelo fato dela ter visto Chapman com Larry? Isso não fazia sentido, mas que outro motivo teria?

Piper passou o domingo agindo de forma automática, pois dentro de si havia algo que a corroía: tentar entender a reação de Alex Vause.

                 

Uma semana se passou e nem sinal de uma certa vizinha. Piper tentava fingir que aquilo não tinha a menor importância e que mais cedo ou mais tarde, como das outras vezes, um encontro ocasional entre elas acabaria acontecendo naturalmente. Até que uma situação a deixou bastante intrigada.

Chapman estava voltando da casa de Polly, tinha ido jantar com a amiga, e ao chegar na entrada de seu edifício viu Alex a ponto de entrar no elevador. Ao ver a mulher morena usando as costumeiras calças justas que lhe marcavam o corpo, a jaqueta e as botas de couro, Piper sentiu o coração dar uma leve acelerada.

- Aleeex – ela chamou.

Mas para sua surpresa, em vez de olhar para trás, ela teve a nítida impressão que Alex apressou seu passo para dentro do elevador. Piper ficou tão chocada, considerando se seria possível que a mulher não a tivesse ouvido, que demorou pra reagir e quando correu já encontrou as portas do equipamento fechadas. Será que havia entendido certo? Vause fingira que não a escutara chamar, a ponto de nem segurar as portas do elevador, só para fugir dela? E se fosse isso, que motivos aquela mulher tinha para evitá-la?

No dia seguinte, ao chegar em seu escritório, aquela dúvida ainda a atormentava e Piper não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Estava tão imersa em seus pensamentos que passou direto pela mesa de Taystee e nem ao menos a cumprimentou. Percebendo que havia algo errado, foi a amiga que a seguiu:

- Está em um mau dia? – Jefferson foi logo perguntando.

- Oi? – Piper a olhou um pouco confusa, como se só agora se desse conta de que já estava em sua sala.

- Você passou direto, com uma cara estranha... Larry novamente?

- Dessa vez não – Piper confessou.

- Sua mãe? – Taystee tentou novamente.

- Não... minha vizinha.

- Hã? – foi a vez da secretária ficar confusa.

- Esquece, deixa pra lá. – Chapman lembrou-se que Taystee ainda não sabia da existência de Alex. E por que precisaria saber? – O que temos para hoje?

A loira realmente tentou se concentrar no trabalho, mas foi difícil. Atrasou-se para uma reunião, não ouviu o telefone tocar por duas vezes, derrubou uma xícara de café na mesa. Tudo porque ainda matutava sobre o novo comportamento de Alex Vause com ela.

Quando finalmente deu seu horário de ir embora, ela rapidamente pegou sua bolsa e saiu do escritório.

- Boa noite Tay – dessa vez ficou atenta para não deixar de cumprimentar a amiga.

- Boa noite Piper. A propósito, seria bom resolver o que está lhe afligindo. Hoje o seu corpo até pode ter comparecido ao trabalho, mas sua mente com certeza estava em outro lugar.

- Ficou tão nítido assim? – Chapman estava levemente envergonhada.

- Ficou. E se precisar de ajuda pra resolver o problema com essa tal vizinha é só me chamar. Ela vai aprender que ninguém mexe com a minha chefinha e sai impune.

Piper riu.

- Ok. Pode deixar.

No caminho até em casa, Chapman tomou uma decisão. Se não fizesse algo, aquela dúvida acabaria consumindo-a. Então, assim que chegou em seu andar, no lugar de ir para seu apartamento, tocou a campainha do 304. Não demorou muito para a porta ser aberta e uma morena contrariada aparecer.

- Oi – a loira falou primeiro, já que a outra mulher apenas a encarava.

- O que quer?

- Nossa, Alex. Eu ia ter perguntar se você não me ouviu chamá-la ontem à noite quando estava pegando o elevador, mas só por essa sua reação já sei que a resposta é que ouviu sim. Mas apressou o passo de propósito pra não ter que falar comigo.

- Só isso? Se já teve a sua resposta pode me dar licença? Tenho trabalho a fazer, embora você ache que eu seja uma desocupada e que a única coisa que faço da vida é cair na farra.

- Cacete! Que bicho te mordeu? – Piper estava tonta.

- O que você quer Chapman? – a morena estava claramente irritada.

- Saber por que está me tratando desse jeito. O que eu te fiz?

- A mim? Nada. Apenas cansei de servir de palhaça.

- Eu te fiz de palhaça, Vause? Quando? – a loira, acuada, não viu outro jeito a não ser reagir de igual para igual. Era isso ou aquela mulher passaria feito um trator por cima dela.

- Que importância isso tem? Não podemos nem mesmo dizer que chegamos ao ponto de nos tornarmos amigas. Trocamos meia dúzia de palavras, saímos uma vez quando você estava precisando de companhia para ter uma noite de liberdade. Mas você já voltou pro seu amado noivinho, parecem estar até muito bem por sinal... – à medida em que falava, a irritação de Vause crescia.

- Ei, então é isso? – Piper a interrompeu - Seu problema é por ter me visto junto dele novamente?

A morena deu uma sonora gargalhada debochada.

- Meu problema? De jeito nenhum. Eu não tenho nada a ver com isso, garota. Realmente, fui enxerida e me meti entre vocês duas vezes porque achei que corria perigo. Faria isso com qualquer pessoa que eu achasse que precisava de ajuda. Mas agora que já entendi que essa dinâmica é normal entre vocês e quem sabe até sirva para apimentar essa relação louca, eu não tenho mais nada a ver com isso.

- Não fala do que você não sabe, Alex.

- Eu não quero falar sobre nada, Piper. Você que veio aqui bater na minha porta pra me incomodar.

Foi a vez de Piper soltar uma risada irônica:

- Eu te incomodo ou o que realmente te deixa desse jeito é o fato de eu estar com Larry? – a loira mal podia acreditar que teve a audácia de fazer aquela pergunta.

- Vá se danar, Chapman. Realmente fico fora de mim só em saber que existem mulheres que se submetem passivamente a uma relação abusiva. E topar com uma mulher desse tipo bem no prédio que escolhi morar, pior que isso, no meu maldito andar, me tira do sério sim. Mas não posso consertar as cabeças fodidas de pessoas como você, então lavo minhas mãos. Agora me dê licença, porque realmente tenho mais o que fazer.

E Vause bateu a porta na cara da loira.

- Malucaaaa!! – foi a única coisa que Piper conseguiu dizer e esperava que tivesse falado alto o suficiente para que a morena a ouvisse do outro lado da porta.

Ótimo, problema resolvido. Agora não era só Alex que estava irritada com ela. Piper também não queria mais papo com Vause. E era até bom que aquela relação, seja lá o nome que tivesse, tenha acabado de forma tão inesperada como começara. Alex Vause seria página virada dali pra frente.

 

Se as coisas já estavam ruins pro lado de Piper, nas três semanas que se seguiram, elas só foram piorando. A cada dia ela tinha mais certeza que sua relação com Larry estava mudada e temia que essa mudança não tivesse mais volta.

O noivo realmente parecia estar se dedicando a melhorar. Comparecia às sessões de terapia, não estava bebendo, parecia mais calmo. Já pensava até em reiniciar as buscas por um novo emprego. Só que agora o problema não era ele, era Piper. A amizade e o carinho que sentia por Larry continuavam os mesmos, mas o amor... ela tinha sérias dúvidas se ele ainda existia.

E isso não era de agora. Piper vinha dedicando cada vez mais horas de seus dias a analisar o relacionamento deles. Era óbvio que por mais que acreditasse que fosse uma fase passageira, o comportamento do noivo nos últimos meses veio minando muito de seus sentimentos. Agora ela se dava conta de que talvez, se tivesse reagido desde o início, se tivesse gritado, brigado, se afastado, os problemas teriam sido solucionados antes. Mas não, ela foi aceitando, foi sendo compreensiva, dando tempo ao tempo... E temia ter permitido que as coisas chegassem a um ponto em que já era tarde demais. Temia que por mais que Larry voltasse a ser o homem que tanto amava, ela é que não conseguiria mais ser a Piper de antes.

Chapman sabia o porquê de ter demorado tanto para admitir a gravidade do que estava acontecendo. Não era uma questão de pura inocência. Os indícios estavam bem ali na cara dela o tempo todo. Fazia dois meses que não transavam. Larry quando não estava bêbado, estava deprimido, então obviamente sexo não era prioridade. Mas estranhamente ela não se importava nem um pouco com isso. Não fazia nada para mudar essa situação. Isso já não era um sinal suficiente de que havia algo errado com os sentimentos dela?

Além da falta de sexo, o ciúme que sentia do noivo também parecia ter desaparecido. Ao ponto de em uma determinada noite de bebedeira dele, ela ter presenciado de longe uma mulher se aproximar e falar algo no ouvido de Larry, que até hoje ela não sabia o que fo. E a única reação de Piper foi a de ir até lá e chamá-lo pra ir embora pela décima vez. Esse também não era outro sinal?

Mas a loira foi empurrando os problemas com a barriga, mesmo sabendo que havia algo errado, porque reavaliar sua relação com Larry tinha implicações mais profundas. Terminar o noivado com ele, era romper também com os planos de formar sua família. Pois se aquele homem, que conhecia desde os trezes anos, que sempre a amou e que foi um anjo no pior momento de sua vida, não seria a pessoa com quem ela casaria, quais as chances de encontrar isso em mais alguém?

E curiosamente, quanto mais indiferente ela se mostrava no decorrer daquelas semanas, mais Larry também ficava distante. Eles se viam de três a quatro vezes por semana. Jantavam juntos, ficavam na casa dela ou na dele, conversavam sobre assuntos aleatórios, sobre seus pais, sobre as possibilidades profissionais dele, mas nenhum dos dois falava mais sobre os planos de um futuro juntos.

Era óbvio que um deles precisava tomar coragem para iniciar uma conversa dura, porém sincera, sobre o que estava acontecendo entre eles. Mas nem Piper e nem Larry parecia encontrar disposição para isso. Então ia tocando do jeito que estava.

Quanto ao desentendimento com Alex, tudo continuava na mesma. Viram-se poucas vezes durante aquelas semanas e em cada um desses momentos praticamente não se falaram. Dependendo do humor de uma ou de outra até havia um “bom dia” ou um “boa noite”, mas isso não era regra. Pra se ter ideia do pé em que as coisas estavam, chegaram ao ponto de em um determinado dia descer juntas no elevador sem que nenhuma das duas dissesse absolutamente nada. Piper sabia que já estava com problemas suficientes em sua cabeça pra ficar perdendo tempo com uma pessoa que havia lhe dito de forma clara e direta que sua presença incomodava.

Mas embora se demonstrasse indiferente externamente, Chapman não era imune à sua presença. Cada vez que a via, ela sentia que havia algo no ar. Algo que não conseguia descrever, mas que estava ali entre elas.

E como se seus dias já não estivessem esquisitos o suficiente, Piper descobriu que até mesmo Polly estava estranha. Por duas vezes, Chapman encontrara a amiga no intuito de desabafar. Contou absolutamente tudo, seus problemas com Larry, sua irritação com Alex, seu medo de tomar alguma decisão para sair daquele impasse.

Harper sempre fora o tipo de pessoa que nunca negava um conselho, nunca omitia sua opinião, nunca deixava uma pergunta sem resposta. Mas naquelas duas vezes, ela se limitara a ouvir todas as lamentações de Chapman, sem nenhuma interrupção. E a única coisa que disse, ao final de todo o monólogo da loira foi:

- É... as coisas estão complicadas. Não sei o que faria se estivesse no seu lugar.

Piper mal pudera acreditar naquilo e estava começando a acreditar firmemente que alguém havia planejado um complô para deixá-la doida. Só podia ser essa a explicação.

Seu único refúgio, no meio de todo aquele pequeno caos em que se encontrava sua vida particular, era o trabalho. A loira passou então a evitar falar de seus problemas com Taystee. Não porque não confiasse na amiga, e sim porque era o único momento de seu dia em que ocupava a mente com outros assuntos e outras pessoas que não fossem Larry Bloom e Alex Vause.

 

Mas como nenhuma tempestade dura para sempre, chegou o dia em que as coisas começaram a clarear por si só, já que Piper não se mexia.

Era sexta-feira à noite, voltara cansada do trabalho e agradeceu internamente quando Larry lhe mandou mensagem cancelando o encontro deles daquele dia, dizendo que não estava se sentindo muito bem. Ela apressou-se em responder que não havia problemas quanto a isso, e não fez nenhuma questão de marcarem alguma outra coisa para o sábado. Na verdade, o que mais desejava era ter aquele fim de semana só pra ela, sem precisar fazer o papel de noiva de alguém.

Ela escolheu um programa qualquer na TV, colocou o pijama e admitiu que não havia lugar melhor naquele momento do que sua cama. Porém, antes de dormir, um leve sentimento de culpa lhe atingiu ao se dar conta de que nem ao menos havia perguntado a Larry o que ele estava sentindo, se era algo físico ou emocional. Foi só por isso que pegou o celular e ligou para o noivo. Depois do segundo toque alguém atendeu rindo:

- Alô – uma voz feminina.

Piper olhou para o telefone a fim de se certificar que não havia ligado errado. Não errara.

- Esse não é o telefone de Larry?

- É sim – a mulher riu do outro lado – Quem quer falar com ele?

- A noiva dele.

No momento em que falou isso, Piper ouviu a voz de Bloom ao fundo:

- Ei, quem te deu autorização para atender meu telefone?

- Meu sexto sentindo benzinho – a mulher parecia responder pra ele – Você é um fofo, mas em nenhum momento acreditei que era solteiro como disse. Você tem jeito de homem casado, cheiro de homem casado, se comportou de forma culpada o tempo todo.

- Me dá esse telefone – Larry gritou.

- É pra já. A propósito é sua noiva quem quer falar com você.

Chapman arregalou os olhos ao ouvir aquela conversa se desenrolar do outro lado da linha. Larry a estava traindo? Puta merda. Jamais imaginara que ele fosse capaz disso.

- Piper? Piper? Você está aí? – ele a chamava desesperadamente.

- Estou Larry – ela respondeu estranhamente calma.

- Piper, eu preciso te explicar. Não chegou a acontecer nada entre mim e ela... eu estava no Public,  ela me abordou e...

- Você não cancelou nosso encontro de hoje porque estava se sentindo mal?

- Não... sim... quer dizer...

- Larry, vamos pular essa parte. Sabe o que é pior? Eu nem mesmo estou com raiva de você. É mais uma espécie de decepção... com você, comigo... por termos deixado que as coisas chegassem a esse ponto.

- Eu sei, amor.

- Não me chama de amor.

- Mas eu ainda te amo. É verdade. Piper, você é a única mulher que amei em toda a minha vida. Só que eu não sei... as coisas estão diferentes. Você não demonstra mais o mesmo interesse por mim.

- Agora você vai colocar a culpa em mim? – Chapman chegava a duvidar que estavam mesmo tendo aquele tipo de conversa, tal era a calma que a envolvia diante de uma traição que ele nem fazia questão de negar. O que de certa forma, era até mais louvável da parte dele.

 - Não, Piper. A culpa não é sua. Mas eu precisava saber se o problema era mesmo comigo. Se a ausência de sexo entre a gente era porque você não me desejava mais ou porque eu estava ficando impotente...

- Por Deus... Se estava mesmo pensando dessa forma, porque não veio conversar comigo em vez de procurar uma vagabunda qualquer?

- Porque era mais impessoal... não haveria sentimentos, não haveria envolvimento. Seria só sexo.

- E a que conclusão você chegou?

- Não sei, nós nem chegamos a transar. Eu estava no banheiro e quando saí, ela já estava com meu celular nas mãos...

- Onde você está?

- Na casa dela.

- Merda Larry. E a mulher tá aí do seu lado?

- Não, ela saiu do quarto e disse que daria cinco minutos pra eu me resolver.

Aquilo tudo era tão absurdo, tão surreal que por isso mesmo Piper acreditava que era verdade. Algo do tipo só aconteceria de fato com Larry Bloom.

- Você sabe que acabou, não sabe? – ela finalmente conseguiu dizer.

- Piper... eu queria poder fazer tantas coisas de forma diferente.

- Eu também. Só que não dá pra mudar o que passou. O que dá pra fazer é parar de prolongar um erro.

- Podemos conversar amanhã com mais calma?

- Me dê um tempo. Eu preciso de um tempo pra processar isso tudo. Mas eu te procuro. Eu te procuro pra gente conversar.

- Piper... independente de qualquer coisa, eu sempre vou te amar.

- Eu também Larry. Eu também. Preciso desligar. E vai se desculpar com a tal mulher. Não seja um cafajeste completo.

E foi assim que um noivado de três anos terminou. Através de uma ligação telefônica.

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Alex estava em casa avaliando se aceitaria o convite de Sylvie ou se passaria mais um sábado em casa sozinha. Estranhamente, fazia duas semanas que não tinha a mínima vontade de sair à noite. Tentou se convencer que era uma fase. O fato é que Vause andava mais recolhida ultimamente e pensava muito na mãe. Foi por isso que ligara para Diane na semana anterior, queria saber como as coisas andavam. Mas isso só a deixou mais melancólica. A mãe tentou disfarçar, mas obviamente andava triste. Alex queria tanto poder fazer alguma coisa. Mas sabia que não podia. Diane não queria ajuda. Assim como uma outra pessoa que entrara recentemente em sua vida, mas que ela já havia tratado de mandar embora.

Algumas vezes, ao cruzar com Piper, Vause pensava se não podiam retomar a tentativa de uma simples amizade. Mas bastava lembrar a cena da cabeça da loira deitada sobre o ombro de Larry, os braços de ambos entrelaçados, para que sua vontade sumisse. Para sua sorte, nunca mais se deparara com o tal homem por ali. Pelo menos isso.

Vause enfim tomou sua decisão e comunicou Sylvie que não iria ao Timeout naquela noite. Inventou que havia surgido um outro compromisso, pois não queria correr o risco de que a mulher se oferecesse para ir a sua casa. Teria de lhe negar esse pedido pela terceira vez e isso não era nada agradável.

Assim que encerrou a ligação, Alex ouviu uma batida leve na porta. Achou aquilo curioso, quem estava batendo em vez de tocar a campainha? Quase caiu para trás quando viu quem era. Raios, o que aquela mulher queria ali novamente? Deixá-la maluca de vez?

- O que foi Piper? – Vause perguntou antes mesmo de abrir a porta completamente.

Precisou ficar firme para o queixo não cair. Chapman estava linda. Usava uma calça jeans estilizada, uma blusa de alça com um decote generoso e saltos altos. A maquiagem também estava um pouco mais ressaltada que o normal.

- Quer sair?- a loirinha convidou.

- O que? – claro que Alex entendera a pergunta, mas preferiu fingir que não para ganhar tempo.

- Eu não quero ficar em casa hoje. E embora saiba que corro o sério risco de me expulsar daqui a pontapés, resolvi arriscar. Não está na hora de tentarmos acabar com esse grande mal entendido?

A cada nova palavra da loira, a morena ficava mais e mais estupefata. O que ela estava realmente pretendendo com aquela conversa?

- Piper, eu já vi esse filme. Exatamente dessa mesma forma, igualzinho. E odiei o final. Então muito obrigada, mas não quero sair com você. Cadê seu noivo? – Vause perguntou desafiadoramente.

- Nós terminamos.

Alex não soube dizer o que a surpreendeu mais: o fato deles terem terminado novamente ou a forma despreocupada com que a loira forneceu essa informação.

- Hum... de novo? – foi a primeira coisa que a morena conseguiu dizer, mas não perderia a oportunidade de alfinetá-la: - Mas semana que vem provavelmente cruzarei com os dois novamente ou quem sabe até antes disso. Então nem posso dizer que fico feliz por você.

- Alex, desarme-se. Eu vim aqui para conversarmos numa boa. Eu quero ir ao Timeout novamente. Naquele dia aproveitei muito pouco. E queria voltar lá com você.

- Não.

- Ok então, eu tentei. Vou sozinha mesmo – e a loirinha virou-se na direção do elevador.

Merda, sua idiota! Vause xingou a si mesma mentalmente. Como aquela mulher conseguia mexer tanto com ela?

- Chapman – ela chamou e a maldita já virou em sua direção com um sorrisinho nos lábios – Me dê quinze minutos.

- Posso te esperar aí na sua casa? – Piper perguntou como se não fosse nada demais.

- Claro que não – Alex respondeu indignada – Vai me esperar no seu apartamento. Eu passo lá quando estiver pronta.

Ainda tonta com o que havia acabado de acontecer, a morena ligou o som no volume máximo e foi tomar uma ducha rápida. Foi se arrumando de forma automática para não pensar muito sobre o que significava aquela aparição em sua porta.

Os quinze minutos acabaram virando meia hora, mas quando tocou a campainha de Piper, ela apareceu com um sorriso nos lábios e não reclamou da demora.

A loira parecia mais animada do que o normal, o que intrigava Vause enormemente. No táxi, a morena tomou coragem e perguntou o que Larry aprontara dessa vez. Chapman ficou um pouco pensativa nessa hora, mas acabou por dar uma resposta sincera e desandou a contar uma história sobre outra mulher ter atendido o telefone dele. E ao que parece o babaca não negou a traição.

Embora isso devesse deixar Alex contente, pois duvidava que Piper fosse o tipo de pessoa que perdoava traição, o que aconteceu é que um alerta apitou em sua cabeça. Subitamente entendeu o que havia ocorrido e foi impossível não se sentir usada. Ela era a vizinha que estava ali à mão, a lésbica que já tentara lhe beijar, a mulher que gostava dos prazeres que a noite reservava, ou seja, a idiota perfeita para servir de companhia a Piper quando ela queria superar algum problema com o noivo.

Ao se dar conta disso, Alex sentiu vontade de mandar o motorista parar o táxi para que ela descesse ou que retornasse e a levasse de volta para casa. Mas se fizesse isso, provavelmente Piper não sossegaria até saber o que havia de errado, então preferiu somente se manter calada.

Assim que chegaram ao Timeout e entraram, quem se materializou instantaneamente na frente de Alex? Isso mesmo. Sylvie. Naquele momento, Vause soube que a noite seria longa e reservaria fortes emoções.

- Você veio – a mulher falou de forma melosa – Mudou de ideia?

- Sim – Alex preferiu não entrar em detalhes.

Vendo que as duas mulheres já estavam se encarando, foi tratando de fazer as apresentações. Descreveu tanto uma quanto a outra como sendo sua amiga.

Se a presença de Sylvie servia para alguma coisa, era para que Vause não corresse o risco de ficar sozinha com Piper e assim, acabar caindo nos encantos daquela loirinha insidiosa. Durante quase uma hora, as três mulheres ficaram sentadas em uma mesa num arranjo muito curioso. Alex escolheu as bebidas e tentou iniciar algum assunto que pudesse ser do interesse das duas. Mas o que de fato aconteceu é que Piper e Sylvie pareceram entrar em uma disputa por sua atenção. Vause sabia quem ganharia fácil aquele embate e foi por isso que fez questão de dar mais abertura para a ex-namorada. Sylvie deixou logo claro que já tivera um envolvimento com a morena e nessa hora Piper quase cuspiu a bebida que estava em sua boca.

Quanto mais bebia, mais solta Chapman ficava e Alex não teve mais dúvidas de que a loira estava sim dando em cima dela tanto quanto Sylvie. A situação estava beirando o ridículo. Alex não sabia o que fazer. Sua vontade era arrastar a loira dali pra fora e perguntar que diabos Piper estava querendo flertando com ela abertamente daquela forma. Mas não sabia se estava preparada para a resposta que poderia receber, ainda mais que a loira já parecia levemente embriagada.

Movida por seus receios, Vause então fez algo de que se arrependeria depois, mas naquele momento achou que era sua única opção: levantou-se e disse que precisava falar com alguém. Sylvie foi mais rápida e anunciou que iria junto. Piper continuou onde estava, sozinha.

Vause deu uma volta pela casa noturna, com a ex-namorada colada atrás de si o tempo todo. Cumprimentou várias pessoas, parou para conversar com outras... Até que ficou arrependida e voltou para onde havia deixado Piper. Só que ela não estava mais na mesa. Será que fora embora?

- É com ela que está saindo agora? – Sylvie finalmente perguntou ao ver a preocupação estampada no rosto de Alex.

- Você acha que se fosse, ela teria ficado quieta e aceitado você dando em cima de mim descaradamente esse tempo todo? – Vause sabia que não estava sendo muito educada, mas naquele momento não tinha nenhuma disposição para isso.

- Quer dizer que você então só me usou pra fazer ciúme nela?

- Sylvie, por favor. Essa não é uma boa hora. Não perca o resto da sua noite comigo. Não vale a pena – a morena foi sincera.

- Ok, Vause. Você é quem manda. Sempre foi assim mesmo – a mulher deu de ombros e saiu, sem perder a pose.

Alex voltou a percorrer os diversos ambientes do Timeout, dessa vez em busca da loira. Mas nem sinal dela. A morena se deu conta de que nem mesmo tinha o telefone de Piper para conferir se ela realmente tinha preferido ir embora. Quando já estava prestes a desistir daquela procura, parou no balcão principal e pediu uma bebida bem forte para Linda, sua garçonete preferida do lugar.

- Vause, não foi você que veio acompanhada de uma loirinha de olho azul? – Linda lhe perguntou assim que a viu.

- Sim. Mas me perdi dela. Você a viu indo embora? Ela deixou algum recado para mim?

Linda soltou uma sonora gargalhada antes de dizer:

- Não, ela não foi embora. Acabei de cruzar com ela no banheiro e tive a nítida impressão que já a tinha visto essa noite. Só não conseguia lembrar com quem. Mas agora que apareceu aqui na minha frente, me dei conta que ela chegou com você.

- Ela está passando mal? – Vause alarmou-se.

- Não, fique tranquila. Ela está passando bem. Inclusive atraiu uma pequena plateia que está adorando assistir o showzinho que tá rolando lá dentro...

Alex nem quis saber se Linda ainda tinha mais alguma coisa para falar. Ela tomou a direção do banheiro, rápida como um raio. O local era relativamente grande e a princípio ela não localizou a loira. Mas quando continuou andando, virou à esquerda e foi até a parte do sanitário que ficava mais escondida, Vause não conseguiu acreditar no que via.

- Pipeeeeeerrrrr – a morena berrou furiosa.

 



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