História Little things - Eleven

Depois da notícia que iria tocar no Norae Jam, absolutamente nada mais podia afetar o humor de Mark naquele dia. Enfrentou todas as aulas restantes do dia com o sorriso no rosto e se sentindo levíssimo; estranhou somente que Lucas não apareceu mais depois de ter sido chamado por So-Yun. Assumiu que o assunto que ela tinha era importante mesmo, então livrou de si o pensamento no amigo, confiando que ele apareceria até o final do dia lhe mandando mensagem ou ligando para terminar de contar sobre o que conversou com o organizador.

No ônibus, voltando para casa, Mark estava tão feliz que todas as pessoas que olhava na rua pareciam estar felizes também. Quando parou num semáforo vermelho, ele olhou janela abaixo e viu uma criança o olhando através do vidro do carro que estava. Ele acenou para ela, que sorriu e acenou de volta. Fofa; vai visitar a avó que ela não vê há tanto tempo e vai ganhar um presente dela. Olhou para a pessoa que estava sentada no banco ao seu lado; vai receber um aumento no trabalho - com isso, vai levar seus pais num restaurante chique e terá uma noite agradável com eles, como não tinha há muito tempo. Depois, respirou fundo, pensando no tanto de música que ia tocar quando chegasse em casa, inclusive tomaria um tempo para planejar um set de músicas antes mesmo de qualquer notícia de Lucas.

O ônibus parou novamente, agora em um ponto vazio, poucas pessoas no aguardo. Um grande número de passageiros desceu, incluindo aquele homem que antes estava ao seu lado, esvaziando bastante o lugar. 

Mal podia acreditar quando ouviu o início daquele discurso de sempre, e não sabia também o por quê precisava tanto dele.

-Peço humildemente a atenção de todos aqui presentes! Gostaria de apresentar pros senhores o meu Bolinho Feliz, deliciosos bolos de chocolate caseiros e com uma surpresinha dentro! - Abriu um sorriso ao ver Haechan, o menino do sorriso bonito e cabelo colorido, parado na frente do ônibus, segurando firme sua mochila e anunciando seus bolinhos e poemas.

Quatro pessoas compraram os bolos, e Mark notou o quão satisfeito ele parecia com isso. Provavelmente ele está vendendo pouco hoje em dia; antes ele vendia mais e não ficava animado assim. Se vende pouco, o pessoal na casa dele vai reclamar e voltar a insistir que ser escritor é uma péssima ideia. Não tinha sequer o notado até chegar perto. 

-Oh! Markie, você tá aqui! - Sorriu como sempre ao ver a mão dele estendida pedindo para comprar um Bolinho Feliz. - Pera, eu vou até o final e volto pra falar contigo. - Antes dele responder, o garoto já olhou para os lados, andando como podia no espaço estreito do ônibus. - Ah, o senhor vai querer um também?

Mark esperou Haechan terminar seus negócios ansiosamente. Sentia a urge de falar para ele sua novidade, não entendia o motivo. Sequer havia comentado até agora que tocava para ele. Talvez faria mais sentido contar para Jaemin primeiro, mas contar para o mais novo parecia mais atraente. Culpa de todos aqueles minutos que insistiam em fazê-lo pensar nele. Esperava que agora lembrasse de pegar algum contato, ficaria mais fácil que esses encontros ao acaso.

-Oi. - Estava olhando para a janela, então se assustou com o toque no seu ombro, que anunciava Haechan sentando ao seu lado. -Ih, desculpa, te assustei.

-Ah, oi. - Sorriu. - Tudo bem. Aqui. - Entregou o dinheiro contadinho enquanto recebia seu Bolinho Feliz de costume. - Faz tempo que não te vejo.

-Do que você tá falando? - riu meigo - A gente se viu início da semana passada.

-Jura? - perguntou sem graça - Parece que faz mais.

-Faz tempo que eu parei pra falar contigo. É diferente. - Puxou seu celular dentro da bolsa, colocando fones de ouvido no aparelho. Posicionou um lado em si e ofereceu o outro para Mark. - Quer? Tava ouvindo Phantom.

Ele aceitou e pensou o quão regular aquilo estava se tornando. Estava baixinho, assim como ele gostava, e notar aquilo o fez mais uma vez se sentir esquisito - teve a impressão que por um segundo deixou de respirar. Mas devia ser só impressão mesmo. Passaram o tempo de uma música inteira calados, apenas apreciando a melodia e a vista da cidade alaranjada que corria pela janela do ônibus. Mark se perguntou se Lucas aceitaria tocar aquela no Norae Jam.

-Alguma novidade? - Haechan perguntou, no silêncio de intervalo entre uma música e outra. Era estranho como ele parecia sempre perguntar ou dizer a coisa certa na hora certa. - Você parece querer falar alguma coisa.

-Sim, na verdade! - Virou em direção a ele, empolgado. - Hm… Deixa eu ver por onde eu começo….

-Pelo começo seria ótimo. - sorriu travesso.

-Ai, olha-

-Tô brincando, anjo. - Levantou as mãos em sinal de rendição. Mark riu, balançando a cabeça. - Parece algo bom.

-E é mesmo. Bom, eu nunca mencionei antes acho, mas-

O ônibus parou novamente. Mark olhou para a janela por reflexo, e se assustou quando viu que estava no ponto que deveria descer, que ficava a duas ruas do seu prédio. Pela segunda vez naquele dia, ficou muito frustrado. Impressionante como absolutamente TODOS os tipos de transporte público ficaram mais rápidos esses dias.

-Ai, que merda… Haechan, preciso ir agora. Eu desço aqui.

-Putz, só porque era a primeira vez que eu queria te ouvir. - Tirou o fone da orelha do outro. Mark mostrou a língua. Grosso. - Olha, parece ser algo legal mesmo que você ia contar. É uma pena a gente parou tão rápido. Tomara que você não esqueça da próxima vez que a gente se ver.

Uma luz acendeu na cabeça de Mark quando ele estava se levantando, e se aproveitou da movimentação dos passageiros descendo e subindo para ganhar uns segundos a mais.

-Haechan, você poderia me dar seu número. Assim a gente pode combinar de se ver depois. - Falou rapidamente, olhando os outros receoso. Achou que por um segundo viu as bochechas dele com um rubor na face surpresa, mas no final ele só tinha um sorrisinho sapeca. Impressão.

-Não precisa ter pressa não, Markie, eu não vou pra lugar nenhum. A gente ainda vai se ver mais vezes. É bom você correr ou vai ter que esperar a linha inteira circular de novo.

Por um milésimo de segundo, ele ponderou se não deveria fazer isso mesmo.

-Ok então. Até. - Sorriu acenando, indo logo para a porta e pulando na calçada. Se tivesse demorado um pouquinho mais, iria realmente se atrasar para chegar em casa. Só ali fora percebeu como não teria valido nem um pouquinho a pena, por mais animado que estivesse em falar com Haechan sobre o Norae Jam. Nada era válido por uma bronca de Taeyong.

Chegou em casa num tempo mais curto que o normal, sentindo ânsia para tocar seu violão e conversar com o irmão. No entanto, para sua frustração, ele ainda não atendeu seus chamados da sala. Talvez tivesse ficado estudando na faculdade até mais tarde, como às vezes fazia. Ou tivesse enfim começado seu estágio obrigatório, como disse um dia que precisava fazer. Se jogou no sofá, repassando os detalhes do dia na sua cabeça. Não é possível, eu só preciso falar com alguém.

Ah! Jaemin!

Mark correu para a cozinha procurando o interfone, até se lembrar que tinha anotado o número do vizinho no celular, depois de se encontrarem três dias antes na loja de conveniência. Voltou para o sofá, tirando o aparelho da mochila. Procurou o contato e discou, se sentindo meio nervoso durante as quatro longas chamadas que soaram. Estava pensando que seria ignorado, até enfim ouvir uma voz em resposta.

-Alô?

-Oi Jaemin. É o Mark.

-Oi, hyung. - A ligeira mudança no timbre do garoto indicava que ele estava sorrindo. - Tudo bem? Achei que você não fosse ligar de verdade.

-Você tá em casa?

-Sim, por que? Ia fazer cookie agora.

-Queria conversar com alguém. - Sua voz quebrou no final, e torceu para que ele não tivesse percebido.

-E você lembrou de mim? - Uma risada. - Que fofo, hyung. Vem pra cá. Eu posso cozinhar enquanto você fala comigo.

-Posso filar uns cookies depois? - brincou, esperando de qualquer jeito uma resposta positiva.

-Lógico, hyung-ah. A receita é muito grande só pra mim. Pode trazer seu violão, se quiser.

-Ok, então. - Desligou, correndo animado para seu quarto. Enfim poderia contar a novidade da sua vida para alguém.