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História Llévame Gitano - Tu Respiración


Escrita por: Tinkerbaek

Notas do Autor


- IMPORTANTE -
- LEIAM AS NOTAS -

Mais uma: recomendo que ouçam a música a seguir quando aparecer um (**) em uma parte do capítulo, deem play na música QUE ESTARÁ LÁ EM BAIXO NAS NOTAS FINAIS novamente. Desçam um cadinho que ela estará lá, okay? Vai ajudar na imaginação, prometo!
Mas obviamente, isso cabe totalmente à vocês se querem ou não ouvir.

Eu queria ter postado ontem... Mas vocês sabem como eu sou meio perdida no rumo da vida, então...
Espero que vocês gostem desse capítulo, pois adorei escrevê-lo!

Betado por Carol

Capítulo 6 - Tu Respiración


Fanfic / Fanfiction Llévame Gitano - Tu Respiración

 

Talvez contar tudo aquilo para Kai realmente fora uma boa escolha. Podia lembrar claramente a forma como o cigano o olhou durante todo seu desabafo. Sua atenção, como parecia dividir a carga de emoção que botava em cada palavra. Lembra-se também de como ter sua mão envolvida pela mão do maior fora o basta para lhe fazer chorar novamente.

Kai não o interrompeu enquanto falava, não questionou. Kyungsoo ficou com a lembrança dos olhos castanhos e sinceros lançando um olhar fixo em direção ao seu rosto, e aqueles dígitos acariciando as costas de sua mão. Um conforto tão bom, conforto, este, que nunca recebera antes. Sorriu ao lembra o que o moreno lhe dissera depois de se despedirem. 

 “Chamo-me Jongin. Muito prazer em, finalmente, te conhecer.”

 •••

Seu coração estava um turbilhão estranho de sentimentos. Por fim, o cigano lhe dissera seu verdadeiro nome, e isso afetou o burguês de tal forma que sua mente ainda o fazia pensar no sorriso encantador que o moreno o direcionou ao falar.

Incrível era o fato de estar até mais aliviado ao pensar sobre o baile que aconteceria em quatro dias. Apesar de ainda não gostar da ideia, podia pensar com calma sobre isso. Pois todo o peso de sua alma fora jogado para fora. Alguém, finalmente, o escutara.

•••

 O cigano estava sorrindo. Sorrindo não pelo fato de ver o rapaz de pele branca chorar, e sim, por finalmente ser considerado confiável o suficiente para escutar suas lamentações. Ah, queria tanto que ele continuasse mais tempo por lá... Mas teve que deixá-lo voltar para casa, voltar para onde pertence. O moreno sabia bem que ele voltaria para vê-lo, mas há um tempo já era um martírio ter que esperar o retorno daquele ser humano gentil e curioso.

Kai não sabia como a vida do burguês podia ser infeliz. Claro que tinha ideia do que ocorria, mas nunca ouvira a confirmação da própria boca de Kyungsoo. Seu coração pesou ao vê-lo chorar, pesou ao saber que tanta tristeza, monotonia e revolta podiam caber em um corpo tão pequeno.

Ah, aquele pequeno corpo que o abraçou enquanto chorava, pedindo seu colo, seu carinho, um lugar para consolo e aconchego. Sabia que ainda sorria, pois ele fora o escolhido para ouvir e ver suas fraquezas, algo que a maioria dos homens lutava para esconder até de si próprios.

“Por que tanta felicidade em seu rosto?” Fora despertado de seus devaneios ao ouvir aquela voz feminina gentil. Voltou sua visão para o local onde a escutara e notou o olhar curioso daquela moça alta, morena de cabelos lisos e castanhos, caminhando em sua direção.

“Estou apenas feliz, preciso de um motivo?” Apesar da conotação da frase, seu tom de voz também era gentil, o que fez a moça sorrir, mas de uma forma preocupada.

“Não foste ver aquele rapaz novamente, certo?” O olhar da figura feminina mudara junto com seu tom, enquanto sentia seu cabelo ser alisado pelos dedos finos da mesma. Sabia que ela o entendia mais que qualquer um e que talvez estivesse notando sua mudança, mas não queria que interferisse em sua vida.

“Tens algum problema com ele?”

“Sabe que sim...” Sua resposta foi rápida, o que partiu um pouco o coração de Kai. “Meu querido... Não está se envolvendo novamente com esse erro, certo? Lembra-se o que aconteceu da última vez? Lembra-se que...”

“Eu lembro!” Interrompeu o moreno, desviando do carinho da moça.

“Então...?” Insistiu, tentando voltar sua mão para os cabelos longos e lisos do rapaz. Mas Kai havia se aborrecido o suficiente com ela para evitar mais um toque.

“É minha vida...” De fato, apesar de se importar com sua comunidade, queria poder fazer suas próprias escolhas. Todavia, como sempre, suas ideias liberais assustavam a todos, principalmente aos anciãos. Por mais que devesse respeito a todos, não deixaria que mandassem em suas ações.

“Da última vez eu te protegi, meu anjo. Mesmo não gostando e não apoiando sua escolha, mas não aguentaria que descobrissem e lhe fizessem algum mal... Temo por seu futuro.” Odiava-se por ter um coração tão fraco, ainda mais quando as palavras vinham daquela moça, que possuía aquela expressão preocupada para com ele. Deu alguns passos à frente e a abraçou. Apesar de a cigana ser alta, ainda era pequena em comparação a ele. “Não quero que faça nada errado... E também não quero te perder. Como viveria sem ti?!” E então amaldiçoou-se por fazê-la chorar. Por que todos que amava tinham que chorar? Ainda mais demonstrar desespero no mesmo dia, era agoniante. 

“Tens que deixar-me escolher meu próprio rumo... Sabe disso.” Sentiu que o abraço afrouxara, e os olhos avermelhados da figura feminina o encaravam com um peso de bronca, preocupação e discordância. Mas ela o conhecia tempo suficiente para saber que nada daquilo adiantaria.

Sabia que as consequências podiam ser severas, tinha plena consciência do que era permitido e abominado dentro de seu próprio povo. Entre os ciganos havia suas próprias regras, condutas, comportamentos e, por sua mente ser tão livre e desigual, era considerado um rapaz rebelde, mesmo que fosse amado e querido por todos. Tinha plena consciência de seus atos, e não os temia perante aquela sociedade fechada. 

Ela sabia disso, aquela moça de cabelos longos. Que sussurrou com amargura em sua direção.

“Só não quero perder meu irmãozinho... ”

•••

 “Um baile de máscaras?” Perguntou a mulher um tanto gordinha, com surpresa no olhar.

“Sim, mãe! A senhora poderia torná-lo um baile de máscaras!” Kyungsoo estava confiante naquela sua nova ideia. Sabia que podia ser loucura, mas queria arriscar colocar aqueles seus devaneios repentinos em prática. “Ouvi dizer que esse estilo de festejo está se tornando muito conhecido e querido. Até mesmo o Rei já dera um baile assim!” E o rosto da matriarca iluminou-se com aquela última informação que ouvira. Ora, era claro que uma mulher tão egocêntrica adoraria chamar a atenção em ser uma das primeiras da região a dar um baile tão elegante e misterioso.

“Mas está tão em cima da hora para avisar e...”

“Minha mãe, sabes que temos um cocheiro que é capaz de entregar cartas em uma velocidade incrível. Ele dará conta de entregar os avisos!” De fato, não queria dar tanto trabalho ao pobre homem que guiava suas carroças e carruagens, mas a vontade de que tudo aquilo desse certo estava empolgando o burguês.

“Irei escrever os avisos agora mesmo! Obrigada, meu filho!” E, recebendo praticamente um empurrão, observou sua mãe correr de forma desengonçada para o quarto, pronta para escrever diversos alertas para os convidados levarem suas lindas e encantadoras máscaras. Kyungsoo estava pronto para, em plena felicidade, sair de sua casa quando notou o rosto aborrecido de seu irmão mais velho, de braços cruzados e apoiado na parede, o observando.

“O que pretende, querido irmão?”

Claro, como sempre, algo surgiria para acabar com toda sua felicidade momentânea. Baekhyun conseguia ser absurdamente desagradável quando queria, e percebeu que o moreno estava mesmo tentando destruir a pequena gota de empolgação que ainda estava presente.

“Um baile de máscaras? Posso saber o porquê dessa mudança tão repentina de sentimentos sobre essa palhaçada que servirá apenas para conhecermos a infeliz moça que casará com um de nós?”  Obviamente não contaria sua real intenção para Baekhyun, mas sabia que o mais velho não o deixaria em paz com aquele assunto. “Acho apenas que seria melhor não vermos o rosto da moça, talvez, assim, até tenhamos a chance de nos perdermos dela de propósito no baile. Não acha uma ótima ideia?” Brincou, sorrindo da mesma maneira que o mais velho.

“Que seja.” Fora a resposta do outro rapaz, que passou por Kyungsoo fazendo questão de esbarrar em seu ombro. Ora, fora até fácil desviar a atenção do irmão, porém sabia que a mente maldosa do mesmo estava tramando alguma coisa.

Entretanto, resolveu desapegar-se dessa ideia, pois sua mente também estava tramando algo e, ao sair porta afora que, finalmente, sua ideia fora colocada em prática.

•••

 Encontrar Jongin, como o chamaria a partir de agora, nunca era tão fácil, e pela primeira vez na vida torcia para que o rapaz o encontrasse. á era noite quando foi procurá-lo entre as tendas coloridas daquela caravana, e sentia vários olhares sobre si. Não que aquilo não fosse comum, obviamente estranhariam um burguês frequentando aquele lugar, mas ultimamente os olhares tornaram-se mais pesados. Apenas ignorou, voltando sua atenção à sua busca.

Não havia festejo algum, era como os dias tranquilos nos quais os ciganos apenas trabalhavam até tarde, então resolveu procurar Jongin em sua carroça ou em alguma tenda. E, para seu alívio, fora informado de que estava atendendo clientes naquela noite. Fingir querer saber sobre o futuro seria uma boa desculpa para o que verdadeiramente pretendia.

Correu para o local, a carroça onde fora consultado pela primeira vez. Nunca abrira um sorriso tão largo como aquele. Seu coração disparara de uma forma completamente diferente ao ver o rosto alegre do rapaz mais alto em sua direção.

“Kyungsoo...” Disse ele, fixando seu olhar no burguês.

“Eu... Olá, Jongin...” E vagarosamente, caminhou até aquela almofada azul em frente à mesinha, sentando-se nela. Algo havia acontecido depois daquele momento de desabafo de Kyungsoo, e o rapaz tinha plena ciência disso. Sua felicidade ao ver o cigano nunca fora tão grande como estava sendo... Ver seu sorriso, seus lábios avermelhados, os cabelos que, para sua infelicidade – ou felicidade – estavam completamente soltos, deslizando sobre os ombros do mesmo, por serem fios pesados e extremamente lisos.

“Deseja alguma consulta?” Apressou-se o cigano, fazendo o menor levar um susto ao sentir como as mãos ásperas do cigano adiantaram-se para envolver as suas.

“Na verdade, eu... Queria lhe pedir uma coisa...” Seu coração batia rápido. Sabia que podia ser uma péssima ideia, mas estava disposto a pedir. Vendo que o moreno fizera um silêncio curioso, prosseguiu. “Lembra-se que lhe contei sobre o baile que minha mãe dará no próximo domingo?” E vendo a concordância do cigano resolveu que era hora de dizer logo o que tinha para falar. “Gostaria de ir...?”

Seu coração fora tomado por desespero e arrependimento ao sentir suas mãos serem soltas. Talvez realmente fosse uma péssima ideia, pois o olhar de confusão que Jongin possuía deixava claro que não deveria ter tocado naquele assunto. Uma coisa era o burguês se aventurar no mundo dos ciganos, porém era outra completamente diferente o cigano se aventurar no mundo dos burgueses.

“Por que está a me perguntar isso?” A curiosidade do maior era clara, e tudo o que Kyungsoo gostaria de fazer no momento era fugir, correr e não olhar para trás. Claro que suas estruturas foram realmente abaladas da última vez que vira o moreno. De onde tirara a ideia de que eram próximos o suficiente para convidá-lo daquela maneira? Somente um abraço acolhedor não poderia ser o suficiente para estarem realmente próximos, certo?

“Sinto muito, eu só...” Queria desculpar-se, mas sentia-se magoado, de alguma forma. Mas quem sabe não fosse exigir muito? O burguês nunca possuiu amigos, não sabia como lidar com eles, não sabia como ser um amigo de verdade. Ele nunca sentira por ninguém o que sentia por Jongin, talvez estivesse confiando demais em seu coração.

Ora, mas por que estava pensando tantas lorotas? Seus sentimentos o confundiam, seus assuntos mentais não faziam sentido. Era claro que seu nervosismo estava deixando-o abalado. Tentou levantar-se e ir embora, esconder sua vergonha e seu desapontamento, mas aquelas mesmas mãos que seguravam as suas segundos atrás envolveram seu pulso, impedindo que prosseguisse com a fuga.

“Até quando tentarás fugir de mim?” A voz grave do cigano era gentil, e também possuía uma carga de desapontamento que fez com que Kyungsoo se sentisse culpado. “Por que não me deixas dar uma resposta?” Insistiu mesmo, puxando levemente o pulso do branco, que suspirou ao desistir de fugir. “Por que desejas que eu vá ao baile?” O burguês sentiu o olhar fixo do maior sobre si, mas não teve coragem suficiente de encará-lo. Nunca tinha coragem suficiente para fazer nada, e estava fraquejando sobre sua ideia naquele momento... Sempre covarde.

Todavia a pergunta que o cigano fizera o deixara confuso. De fato não tinha um motivo claro para convidá-lo. Era apenas um impulso, e que talvez pudesse causar problemas para os dois, mas sabia que devia dar uma resposta.

“Só gostaria que... Conhecesse um pouco de meu mundo também...” Surpreendeu-se como aquela frase havia saído de forma tão sincera de seus lábios. É... Talvez fosse verdade aquilo. Apesar de não gostar do ambiente no qual vivia, e de ter passado a fugir para onde os ciganos residiam, algo em seu coração gostaria que Jongin tomasse conhecimento sobre sua vida, queria que Jongin gostasse dele mesmo com toda aquela diferença.

“E me deixariam entrar...? Sei que deve ter esquecido, mas já lhe disse que nem sempre sou bem vindo nos lugares.” Oras, já era fato que lembrava disso. Qual mais seria o motivo de Kyungsoo dar a ideia de um baile de máscara se não fosse para fazer o cigano passar despercebido?

Bailes de máscaras eram feitos justamente com a intenção de serem elegantes e repletos de mistérios. Não haveria ocasião mais propícia para que Jongin adentrasse em seu mundo, pelo menos uma vez na vida. Ao contar para o mesmo sobre sua ideia, ele recusara de início, mas de forma relutante. O burguês sabia que, com uma certa insistência, convenceria o cigano de ir.

Jongin não era medroso, covardia não fazia parte de seu vocabulário, muito menos de sua vida. E soube disso quando o maior aceitou, deixando claro que só o faria porque o burguês havia insistido. Kyungsoo sabia que aquilo poderia ter se mostrado estranho, mas não hesitou em jogar seu corpo para cima de Kai, abraçando-o de uma forma desajeitada. Não era bom em saber quando deveria abraçar alguém, talvez não fosse um bom momento, muito menos um bom motivo, contudo, queria experimentar a sensação de tê-lo perto de si novamente, então deixou que seu impulso o levasse a diante, passando os braços entre os ombros e pescoço do mais alto. “Muito obrigado.” Disse, vergonhosamente.

Por segundos achou que sua ação não seria retribuída, até que sentiu os braços fortes do cigano deslizando por suas costas, de forma gentil e acolhedora. Kyungsoo estava agora ansioso para que o baile chegasse.

Já a moça que conheceria? Bem, aquela questão sumira de sua mente.

•••

 Toda sua ansiedade para que domingo finalmente se fizesse presente fez com que o tempo passasse devagar demais na percepção do burguês mas, por fim, chegara.

Da janela de seu quarto observava as carruagens a chegar, todas sofisticadas, finas, elegantes... Porém sua atenção estava voltada para qualquer homem que aparecesse a pé, e que de fato seria o único, pois Jongin insistira em ir por si mesmo, e que Kyungsoo aguardasse sua chegada em casa.

Dera o endereço para o cigano, além de tê-lo levado a um ateliê onde, graças a um bom pagamento, em apenas dois dias conseguiram costurar uma roupa completamente burguesa para o moreno, feito apenas para suas medidas. Nunca o vira com outras vestes e, provavelmente, estranharia aquele rapaz bronzeado com uma roupa para um baile de gala.

“O que tanto espera, meu irmão?” Teve de se segurar em uma das cortinas da janela graças ao susto que Baekhyun lhe dera. Sempre tão escorregadio...

“Acho que estou apenas nervoso para saber quem é a tal moça de quem nossa mãe tanto fala. Afinal, o baile está acontecendo justamente para conhecê-la, certo?” Tentou desviar o assunto, torcendo para que o mais velho acreditasse naquela desculpa.

“Ora, não seja por isso, irmãozinho! Nossa mãe mandou-me subir para lhe buscar justamente para conhecermos a moça tão aguardada. Ela já está aqui e está perguntando por nós!” O sorriso sarcástico de Baekhyun destruíra toda a felicidade de Kyungsoo. Era óbvio que não gostaria de conhecer sua futura possível esposa, mas fora praticamente arrastado por seu irmão ao encontro da mesma, que aguardava num canto do salão de festas, no primeiro andar da casa.

“Ah, aqui está ele!” Disse a matriarca da família Do, puxando seu filho mais novo para perto de si e de uma pequena família ao se lado. Lá se encontravam um homem, uma senhora e uma moça, muito jovem, aparentando ser mais nova que os dois garotos a qual seria prometida apenas a um. “Filhos, gostaria de lhes apresentar o senhor e a senhora Nam, e sua adorável filha.”

Baekhyun e Kyungsoo encararam a menina, que sorria sem graça e se apresentou como Nam Hani, e que acabara de completar dezessete anos. Apesar das diferenças de idades entre eles não serem exatamente muito grandes, sabia que, ele tendo vinte e dois e seu irmão vinte e três, não deveria ser nada confortável para uma menina tão nova ter que lidar com isso.

“Muito prazer, Hani.” Adiantou-se o mais velho, beijando as costas da mão da moça. Ela, de fato, mesmo com metade do rosto escondido por uma máscara lilás, parecia ser bonita. Sua pele branca, quase rosada, lábios pequenos e bem desenhados, olhos cor-de-mel e cabelos longos, ondulados e castanhos claríssimos. A menina já deveria ser cobiçada por várias famílias importantes, perguntava-se como sua mãe conseguira formar um acordo com os pais da mesma.

Ela era tímida, pois não reagiu ao contato de Baekhyun, apenas levou sua mão de volta para junto de seu corpo e observou Kyungsoo, que logo despertou de seus pensamentos e repetiu o cumprimento de seu irmão.

A questão era que o burguês mais tinha sua atenção focada na porta, tanto que nem notara quando apenas ele, o irmão e a mocinha permaneceram juntos no local. Sabia que o mais velho conversava animadamente com a garota. É claro, sempre gostava de exibir-se, mesmo que fosse para a moça que viveria infeliz com algum dos dois pelo resto da vida.

Estava com o pensamento longe e começava a sentir uma pontada de tristeza ao imaginar que o rapaz tão esperado tivesse mudado de ideia com relação ao baile. Mas antes de criar qualquer especulação, lá estava ele... E seu coração, por alguns segundos, parara de bater.

Um rapaz alto e moreno adentrava no local de forma cautelosa. Seus cabelos estavam soltos, mas possuía, presa ao rosto, a máscara branca e sem qualquer adorno ou desenho que pudesse manchar a uniformidade da cor.

“Com licença!” Exclamou, praticamente empurrando qualquer um que entrasse em seu caminho até o rapaz. Que, ao ver Kyungsoo, sorriu e esperou que chegasse perto. “Você veio...” Sussurrou, parando em frente ao cigano.

“Sim, eu vim...” Ele respondeu, com ternura e mantendo um olhar misterioso sobre o menor enquanto um silêncio entre os dois se fez presente. Nenhum dos dois se mexia ou falava, apenas olhavam um ao outro.

“Precisas... Prender os cabelos...” Não era uma boa forma de quebrar o silêncio, o burguês sabia disso, mas aliviou-se ao ver que Jongin pôs-se a rir daquela frase. “Sinto muito, esqueci-me desse detalhe.” Confessou, ainda mirando o rosto do branco,  deixando o menor completamente desconsertado.

“Nós... Talvez... Podemos dar um jeito nisso. Aguarde só um minuto.” E, deixando o cigano em algum local mais reservado e longe dos olhares alheios, subiu para seu quarto, quase correndo, tudo para poder buscar uma pequena fita de cetim branco. Talvez servisse para prender os cabelos do rapaz, já que claramente chamariam a atenção. Não era costume um homem deixar seus cabelos soltos em uma festa daquele porte. Ao descer apressado escada a baixo, encontrou um Jongin parado, quieto... Olhando para os lados como um pequeno filhotinho perdido. Nunca o vira daquela maneira.

Caminhou em sua direção, o que fez o maior sorrir ao avistá-lo.

“Sinto muito pela demora, mas cá estou.” Retribuiu o sorriso, e com as mãos, fez o maior virar-se de costas. Aquela fora a segunda vez em que tocara os cabelos do moreno... Tão lisos, macios... Deslizavam por seus dedos tão delicadamente que sua vontade era apenas de acariciá-los por horas. Porém, lutando contra sua vontade, prendeu aqueles fios tão belos com a fita branca, formando um rabo de cavalo frouxo. “Pronto.” Disse, avisando que finalizara o que fazia.

Porém, ao vê-lo virar-se novamente, pôde notar o desconforto no olhar do moreno, mostrando como estava claramente perdido naquele lugar. Sentiu-se um tanto culpado por insistir em levá-lo daquela maneira para um baile, principalmente quando, claramente, o convívio dos dois não seria aprovado por ninguém. Dava graças naquele momento por todos ignorarem a presença do cigano com vestes burguesas, mesmo disfarçado de todos com aquela máscara branca. 

“Venha comigo.” O rapaz de pele clara tomou uma das mãos de Jongin, puxando-o discretamente para subir as escadas para o segundo andar, já que a festa se concentrava totalmente no andar inferior. O lado bom de receber convidados daquele nível era que possuíam educação o suficiente para não invadirem os outros aposentos sem permissão prévia. Kyungsoo o guiou até uma pequena sacada no final do corredor, fechada por portas de vidro, mas que logo foram abertas pelo mesmo para liberar a passagem. Cortinas beges bloqueavam a visão de qualquer um que tentasse olhar para o corredor, ou qualquer um que tentasse olhar para a sacada. Sendo assim, fez questão de trancar a porta novamente para que o pequeno local ao ar livre escapasse dos olhares alheios.

“Perdoe-me, fui um tolo em pensar que se sentiria confortável com tudo isso, ainda mais quando eu mesmo possuo sentimentos iguais.” Estava envergonhado, de fato. Convidar alguém tão diferente para seu mundo desconfortável era uma ideia boba, ainda mais se tratando de um cigano que vivia de forma tão livre, sob a luz da lua.

“Não irei mentir dizendo que estou entretido, mas estou feliz por ter me convidado, mesmo com certos... Riscos.” O burguês observou que um sorriso pequeno formava-se nos lábios de Jongin. Seu coração estava tão acelerado... Não achava que pudesse ficar ainda mais belo, mas lá estava ele, com vestes de baile, vestido com uma elegância estranha para aquele homem, mas que lhe caía como uma luva. Seus cabelos lisos e negros presos por uma fita da mesma cor que sua máscara, que Kyungsoo mesmo fizera questão de amarrar. Já estava tornando-se incontável as vezes nas quais se perdia em um mundo de sonhos ao observar o rapaz moreno.

Sem perceber, o rapaz mais baixo acabara criando uma atmosfera silenciosa no local. Não era desconfortável, apesar dos dois estarem em uma observação sem fim. Encaravam-se, estáticos, e Kyungsoo se perguntava se Kai o analisava da mesma forma, se sentia o mesmo ao mirar seu rosto. Sabia que estava sendo um tolo, e talvez até demonstrando sua tolice. Provavelmente, estava agindo de forma vergonhosa ao encará-lo tão silenciosamente daquela maneira.

Entretanto fora salvo pela suave música que chegou ao local**, abafada por estar um tanto quanto longe de onde estavam, mas alta e clara o suficiente para ouvirem cada violino, violoncelo, viola, piano...

“O convidaria para dançar se soubesse os passos de tal música...” E fora Jongin quem interrompera a melodia com sua voz grave e um tanto divertida, despertando totalmente o burguês de seus devaneios.

Ora, mas era claro que ele não sabia dançar daquela maneira. Kyungsoo estava acostumado com os passos simplórios e lentos daquele tipo de dança, pessoas de seu meio social eram obrigados a sabê-los de cor, pois eram essenciais em qualquer atividade festiva as quais eram constantemente convidados a participar. Para ele eram tão automáticos e fáceis quanto respirar. Talvez fosse hora de ensinar algo para aquele rapaz alto... Por mais que tivesse certeza que aprenderia tão rapidamente que se espantaria.

“Esta é até simples, posso lhe ensinar os passos.” A música era lenta, não seria difícil mostrar os movimentos estáticos e marcados que possuía. Ensinaria a parte dos rapazes, já que era o certo e o mais costumeiro para ele. Primeiro curvou-se, fazendo Jongin imitar seu movimento.

Apesar da dança não ser solta e livre como as que os ciganos costumavam a fazer, aquela proximidade estava deixando-o nervoso novamente. Mesmo que mal encostassem um no outro, pois a dança era marcada por troca de olhares e ameaças de toques que não eram realizados, seus corpos dançavam em ritmo lento.

Kyungsoo estava certo ao pensar que Jongin aprenderia rápido, pois já havia dominado todos os passos e praticamente guiava-o na música. O burguês era capaz de ouvir os passos leves que davam, a respiração leve que o cigano possuía no momento. Kai o encarava nos olhos de uma forma tão intensa e constante que talvez estivesse sendo capaz de ver seus sentimentos.

Os dois possuíam uma das mãos um tanto levantadas, e como havia mostrado, elas não podiam se tocar, mas a proximidade dos dedos era tão mínima, que a vontade de sentir os dígitos ásperos do cigano crescia em seu peito, fazendo-o soltar um suspiro um tanto pesado e desviar seu olhar para tal local. Sabia que Jongin ainda encarava seu rosto enquanto movimentavam-se, e aquilo o deixava ainda mais repleto de emoções.

Voltou a encarar o rapaz mais alto, os corpos estavam tão perigosamente próximos que apenas um passo em falso seria ao suficiente para que se tocassem de raspão. As respirações se mesclavam aos poucos, e logo os dois já haviam fechados os olhos, deixando que se embalassem por seus instintos e conhecimento dos passos daquela melodia suave.

Seus lábios estavam ainda mais próximos, as pontas dos narizes se roçavam tão levemente, que fez com que aquele fosse o primeiro contato físico que ocorreu em toda estadia dos rapazes na sacada, mas fora o suficiente para fazer Kyungsoo sentir sua respiração vacilar. As mãos, que antes só ameaçavam um toque, agora se encostavam da mesma forma suave. As testas também cederam ao contato, mesmo que por cima das máscaras que possuíam em seus rostos... O roçar macio da pele branca com a pele morena.

Kyungsoo era capaz de sentir como a tez do cigano era morna e acolhedora. Jongin podia sentir como a do burguês era um tanto gelada, a ponto de fazê-lo estremecer.

O choque térmico das epidermes, tão pequeno, mas tão grande na percepção dos dois. Os lábios fartos dos quais ambos eram providos estavam ameaçando uma união, mas que não chegou a acontecer, pois quando sentiram que apenas milímetros os separavam daquele tão ansiado toque, a música cessara, pausando também suas ações.

Encontravam-se com uma das mãos entrelaçadas, testas apoiadas, narizes ainda roçando e bocas tão próximas que qualquer um ao longe poderia confundir tal proximidade com um beijo, porém o cigano dera um passo para trás no instante que a melodia se fora, reverenciando-se da mesma maneira da qual começou a dança. Contudo, antes que pudesse sair porta afora, proferiu apenas uma frase... Tão baixo quanto desconhecida para o rapaz branco.

“Me mangav tut...”

Kyungsoo permaneceu alguns segundos na sacada, tentando compreender tudo aquilo. Tendo a brisa de verão como sua única amiga no momento, pois era a única capaz de ajudá-lo a respirar normalmente depois de tão intensa situação que acabara de passar.

Seguiria Jongin, mas antes precisava se recompor.

•••

 Depois que o cigano saíra daquela sacada Kyungsoo não fora mais capaz de encontrá-lo. Obviamente ele teria ido embora, mas não o culpava, aquele não era o lugar mais confortável do mundo, até mesmo o burguês não era capaz de sentir-se bem. Por mais que tivesse tentado ir atrás do moreno, seus pais e seu irmão barravam todas as suas tentativas e, no final da história, passara o resto de seu tempo tendo que escutar sobre a vida de Nam Hani, algo que realmente não lhe importava nem um pouco.

O rapaz de pele alva não conseguira dormir naquela noite depois que os convidados se foram. Rolou em sua cama a noite inteira, com o coração incomodando-o por bater tão rápido, chegando, às vezes, até parecer que estava ficando com dificuldades para respirar. Rolou para esquerda, direita, para cima, para baixo, mas nenhuma posição o deixava confortável. Não importava quantos minutos ou horas passassem, não conseguia tirar o rosto do cigano do foco de sua mente, e aquilo impedia seu sono...

Lembrava-se de como fora dançar com ele. Sentir seu toque, sua respiração. Seus batimentos cardíacos pareciam completamente mais descompassados com aquelas memórias invadindo seus pensamentos daquela forma. Já podia ver o sol raiar, e ainda estava lá, com vontade de bater a própria cabeça na madeira da cama até dissolver cada lembrança que tivera de Jongin em sua sacada. Queria dormir, mas sabia que seu sono fora levado embora pelo cigano fugitivo. Então, resolveu que era hora de ir buscá-lo para si novamente.

Levantou-se de sua cama, sabia que todos naquela casa estariam dormindo depois de tantas taças de vinho e de tanto dançar. Aproveitou-se disso para trocar de vestes sem cuidado algum em manter silêncio e, correndo pela escadaria que interligava o segundo e primeiro andar, desceu a toda velocidade, já com um destino em mente.

E que não tardou a chegar, pois as tendas ciganas ainda estavam lá, da mesma maneira de sempre, todavia, quase alma viva alguma estava por lá, a não ser uma jovem moça morena de cabelos longos que, com um olhar cansado, deslizava seus dedos por pequenos fios de pano, e deles formava belos adornos. Ela logo notou sua presença e, com surpresa e um meio sorriso fraco, perguntou o que fazia ali.

O problema era que Kyungsoo não sabia o que fazia ali. Na verdade, o burguês não sabia o que estava fazendo há alguns dias, desde que chorara perante o cigano. Alguma coisa, de fato, havia abalado seu bom senso e controle. Porém, tentou fazer-se de desentendido ao dizer que perdera o sono e acabou, por distração, caminhando até o local.

“Ah, pensei que estava à procura de Kai.” Ela sorriu, voltando a sua atenção para o trabalho artesanal que fazia.

“Ainda bem que está só de passagem, pois ele ainda está dormindo... É muito cedo, mas se quiser esperar...” Disse a moça, sem muita vontade. Porém o burguês não queria mais incomodar, por mais que ficar naquela situação o incomodasse. Queria tirar suas dúvidas, acabar com aquela sensação estranha em seu peito, e assustou-se com a velocidade na qual tivera ao pensar que, pelo menos em algo, a cigana poderia ajudar.

“Será que... Poderia responder-me uma coisa?” Ela voltou seu olhar para o burguês, e este percebeu que ela o encarava com curiosidade, mas dando-lhe permissão para que prosseguisse com sua dúvida. “O que é... Me mang... Meganv... Mogenv...” Não lembrava ao certo o que ouvira, por mais que aquilo tivesse martelado em sua mente durante a noite inteira. E deu graças aos céus por ter sido interrompido pela mulher morena. 

“Me mangav tut?” Perguntou a cigana, adivinhando de modo certeiro a palavra que ouvira.

“Exato!” Disse quase como em um grito. Obviamente sabia que se tratava do idioma único e exclusivo dos ciganos, Jongin lhe falara sobre isso, apenas eles aprendiam, e apenas eles se entendiam. Aquilo fazia com que se tornassem únicos e uma sociedade mais estruturada do que o resto da população podia perceber.

 “Quem lhe disse isso?” Todavia o olhar sério e a voz um tanto ameaçadora da mulher se fizeram presentes. Um certo medo tomara conta do interior de Kyungsoo que, sem pensar duas vezes, falara qualquer coisa, menos a verdade.

“Ouvi um dia... Alguém por aqui falando... Deixou-me curioso.”

“Ah...” Exclamou a cigana, parecendo aliviada, e prosseguiu. “É uma frase usada entre nós apenas quando temos... Certeza de certos sentimentos. Nós a dizemos somente para quem é muito especial e importante. Em idioma local, seria o equivalente ao ‘Eu te amo’.”  

  

Seria o equivalente ao “Eu te amo”.

 

Kyungsoo precisou apoiar-se em uma das tendas para poder respirar de forma correta. Sua cabeça girara por alguns segundos e, durante aquilo, pôde jurar que vira tudo preto e que estava a ponto de desmaiar.

A mulher levantou-se num desespero, pronta para segurá-lo, mas o burguês dispensou a ajuda, agradecendo-a. Ele só queria correr... Correr para longe. E fora exatamente isso que fez ao virar de costas e andar para qualquer lugar, sem uma direção em mente.

A frase da mulher martelava em sua mente. Seu coração batia tão forte que chegava a lhe doer o peito, tinha que, diversas vezes, parar para recuperar o fôlego que, claramente, não era só pelo esforço físico que se esvaia-se de seu corpo. Não sabia exatamente onde estava quando deixou-se cair de joelhos ao chão, abraçando o próprio corpo com as mãos trêmulas e suadas, e tentando, mais uma vez, puxar o ar para seus pulmões.

 

 Seria o equivalente ao “Eu te amo”.

  

Amor? Aquilo fora uma declaração? Kyungsoo sentiu uma lágrima quente descer por seu rosto. Não sabia o que pensar, não sabia o que estava sentindo no momento, era tudo tão confuso, tão repentino... Apertava ainda mais os próprios braços quando deixou que o choro molhasse sua face branca.

Nunca ninguém o amara em toda sua vida, e nunca havia amado ninguém. Tudo aquilo, os toques, os sorrisos, os carinhos, a companhia, a atenção... Era tudo demais para si, tudo diferente, tudo estranhamente fora de sua realidade.

“Jongin...” Sussurrou, engasgando-se com sua própria saliva. Em toda sua vida só desejou que alguém gostasse de si, de forma real e sincera, mas saber que suas preces foram atendidas daquela maneira não era realmente algo fácil de lidar. Amar um homem era errado, tão errado que podia ser sua passagem direta para o pecado eterno. Tudo aquilo o assustava.

Ele amava aquele cigano? Por que seu corpo todo reagia daquela forma? Jongin o amava de verdade? Tudo o que pediu aos céus fora que o enviassem alguém para que pudesse amar e que o amasse de volta. Entretanto, nunca percebeu que não saberia como lidar com esse milagre realizado...

Pois Kyungsoo nunca amou... E não sabia como amar.  


Notas Finais


(**) youtube.com/watch?v=df-eLzao63I

Finalmente as coisas começaram a esquentar, né? *-*
Uma curiosidade: A música que pedi para que ouvissem é, de fato, da época em que se passa a história. Mozart nasceu 1756 e morreu em 1791. Foi um dos grandes compositores da época, chegando a compor as primeiras músicas quando tinha apenas 5 anos de idade.

Outra coisa: A frase que Jongin disse vem realmente do romani/romanês. Mas não posso assegurar que a grafia seja realmente essa, ok?

Meu twitter: @tiinkerbaek com dois "i"s


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