História Logo você? - Leva ou não leva pro quarto?

O fim de semana foi bem difícil. Por um lado eu precisava ficar com o Gustavo, além de ficar de olho para as possiveis gracinhas dos meus irmãos e primos. Alias o Bernardo, meu outro primo, chegou para completar o esquadrão de proteção à Anoca, ou EPA!, como eles são conhecidos aqui em Ribeirão pelos nossos amigos. André, Alex, Felipe, Bernardo e Lucas sempre foram o pior pesadelo dos meninos que ousavam chegar perto de mim. As histórias são incontáveis, e eles já fizeram de um tudo. Deixar o cara sem calça no meio da balada? Já fizeram. Embebedar e deixar o cara com um travesti em um hotel de estrada? Também. Enfim, só posso dizer que se eu quisesse realmente ficar com alguém tinha que ser bem escondido.  

O Gustavo tinha que voltar pra São Paulo logo depois do batizado, e eu queria ficar um pouco mais e matar a saudades da minha família. Minha próxima campanha era em dois dias, e apesar de entender ele não ficou muito feliz. Principalmente depois de saber que o Lucas ia ficar em Ribeirão também. Resultado? Briga! Eu infelizmente não sou a pessoa mais paciente do mundo, e não aguento ciúmes. E ele, por sua vez, não gosta de receber não. Quando ele foi embora eu pedi, quase implorei para gente conversar direito e ele não ir embora brigado comigo. Mas foi como falar com o vento... Ele foi, e nada se resolveu. E o pior, meus irmãos sabem. Agora é que o problema começa. Já ouvi algumas piadinhas, e se não me engano as vozes que eu ouço no quarto do André são dos demais integrantes do EPA! Ótimo...

- ANOCA! - Eu ouvi a voz da Maria Julia me 'gritando', e revirei os olhos. Eles tinham vindo para cá e minha mãe estava de posse do Vicente. Nunca vi avó mais babona. - Vem cá, please. - Levantei revirando os olhos, prendi o cabelo o topo da cabeça e andei lentamente em direção ao quarto em que eles estavam.

- Eita, blogueirinha. Se seus seguidores te verem assim... - o Bernardo, meu primo mais velho, disse rindo. Ele não estava errado: sem maquiagem, meio descabelada e com um short curto de moletom e a minha camiseta do Pink Floyd favorita . 

- Eles veem o tempo todo no Snap. - Eu disse rindo, e me joguei em cima do André, que me abraçou e beijou o topo da minha cabeça. Apesar das implicancias eu amava muito meus irmãos.

- Amiga, bateu saudades da época idiota de adolescente quando estes babacas faziam a gente brincar de verdade ou consequencia para tirar da gente o nome dos carinhas que a gente estava a fim. - a Maria Julia disse me fazendo rir.

- E depois acabar com todas as nossas chances fazendo o cara nem querer mais olhar na nossa cara. - Eu disse revirando os olhos. Comigo era ciúmes de irmão, e a Maria Julia tinha o Felipe completamente apaixonado por ela e o Alex se fazendo de gostosão, mas querendo umas casquinhas também. A prova de que toda mulher é idiota é que ela vai casar com o que fingia que não estava nem ai pra ela.

- Agora não tem mais esta desculpa, a gente só quer fazer vocês ficarem com vergonha mesmo. - O André disse , e eu fiz careta pra ele. 

- OK! Roda alguma coisa ai... - Eu disse, e o Lucas pegou uma das garrafas de cerveja vazias que eles estavam tomando. Eu sentei e já estavamos meio que em roda. O primeiro caiu do Felipe para o Lucas, e meu coração disparou.

- Verdade ou consequencia? - o Felipe perguntou, e o Lucas passou a mão no rosto.

- Verdade... 

- É verdade que você já era apaixonado pela Ana desde a adolescencia? 

- Vocês sabem disso já, meu. A vida toda eu tive que ouvir vocês me sacaneando... - Ele disse rindo,  e eu sorri de lado. Eu nunca soube de nada na época, mas eles me contaram depois. - Eu sempre gostei dela, mas só me dei conta muitos anos depois. 

- Vira logo isso de novo. - Eu disse virando a garrafa por ele, e caiu o Bernardo me perguntando. Revirei os olhos esperando pelo pior. - Verdade, vai...

- Diz só pra gente, Anoca. Você e o Lucas, ainda rola?

- Você é louco? Eu tenho namorado. - Eu disse revoltada, mas o Lucas me segurou quando eu ia levantar. 

- Ana, leva na esportiva vai... Você sabe como eles são, só estão fazendo isso pra te provocar. Todo mundo sabe que você não volta comigo. - Ele disse e eu congelei. Era isso mesmo? Ele aceitou de vez? E porque eu não estou feliz com isso?

-  Lucas... - Eu disse, mas ele me interrompeu. 

- Vai, próximo. - Ele disse, e eu virei a garrafa de novo. Desta vez caiu do André para o Felipe, que escolheu verdade.

- É verdade que você e a MaJu se pegaram no ano novo de 2014? - Meu irmão perguntou, e o Alex ficou vermelho.

- Espero que não seja... - o Alex disse, e a MaJu ficou roxa. - Puta que pariu, Maria Julia. Você sabia que ele gostava de você e ficou com ele mesmo assim?

- E você estava pegando aquela loira que ficava com o André também. - a Maria Julia disse nervosa. - E o Lucas! Ela pegava todos vocês, que nojo!

- E você pelo jeito também pegava todo mundo, né? - o Alex disse, e acho que esse foi o pior erro da vida dele. 

- Não, Alex. Mas devia! O único aqui que nunca deu em cima de mim foi o Lucas, deve ser algum tipo de código de melhores amigos... Mas eu nunca quis nada com ninguém porque no fundo eu sabia que se eu ficasse com algum deles nunca ia ter nenhuma chance com você. E só pra quebrar a sua cara, eu nunca fiquei com o Felipe também! - Ela levantou, e o Alex foi atrás. Eu fui também, e logo todos os meninos vieram atrás.

- Maria, volta aqui... - o Alex dizia indo atrás dela, mas ela estava bem chateada com ele.

- É melhor você dormir aqui hoje, eu vou levar o Vicente pro meu pai. - Ela disse já na sala, e eu vi minha mãe se levantar com o 'bolinha' no colo. 

- Não acredito que vocês já estão brigando de novo, o casamento é em dois meses. Vocês me prometeram que iam agir como adultos! - Minha mãe disse, e a Maria Julia tentou pegar o Vicente do colo dela. As duas se olharam quase que em uma batalha, e por fim a Maria Julia desistiu. 

- Eu só quero ir embora, e levar meu filho comigo. - Ela disse pra minha mãe. 

- Ela tá exagerando, eu só reagi mal a um comentário. - o Alex disse, e meu pai riu disfarçando ainda sentado no sofá. 

- Posso imaginar... - Minha mãe disse revirando os olhos. 

- Maria, desculpa vai. Você sabe que... - o Alex disse, e a Maria Julia interrompeu ele.

- Que você me ama? Que você é ciumento? - ela disse colocando a mão na cintura. - O que mais eu tenho que saber? E o que você tem que saber? Não vale? Que eu também te amo? Que é você que eu escolhi, e nada mais deveria importar? Que eu tive um filho com você, e que isso deveria ser a maior prova de amor do mundo?

- Véi, para com isso. - o Felipe falou. - Mesmo que eu um dia tivesse tido algo com ela... É com você que ela está! 

- Mano, você tem que começar a seguir os conselhos que me deu um dia... - o Lucas disse, e eu olhei pra ele. - Olha o que aconteceu comigo e com a tua irmã, justamente porque eu fui o idiota que você tá sendo agora. Bem, eu fui ainda mais idiota... Mas de qualquer forma, eu não quero que vocês terminem do jeito que a gente terminou, e ainda mais com o meu afilhado 'bolinha' na parada. 

- Para variar o Lucas disse algo que presta... - Eu disse de braços cruzados, mas rindo de leve. - E Maria Julia, sem drama também. Ele já entendeu que tá errado. 

- OK! - Ela disse olhando pro chão, e o Alex abraçou ela, pegando no colo. Mesmo depois de dar a luz a magrela continuava leve como uma pluma. 

- E mãe, devolve o Vicente pra ela. - Eu disse, e minha mãe revirou os olhos passando ele para o colo da Maria Julia, que riu. O clima melhorou e no fim já estávamos rindo daquilo. O clima só pesou de novo quando o Lucas disse que ia embora, e eu senti que precisava falar com ele antes de voltarmos para São Paulo. 

- Lucas, posso falar com você? - Eu perguntei assim que ele anunciou estar indo. A sala congelou e todo mundo olhava para a gente. Ele só fez que sim com a cabeça, e eu andei com ele até o lado de fora. Ainda ouvi o Alex falando baixo 'Espero que os cabeça dura se acertem de vez...', e a Maria Julia respondendo 'Você não conhece a sua irmã não?'.

P.O.V. Lucas

Ela parou perto do meu carro com os braços cruzados, se protegendo do frio. Eu até ofereceria meu moletom pra ela, mas duvido que ela aceite. Ela suspirou algumas vezes, antes de finalmente falar. 

- Lucas, você sempre foi meu melho amigo... - Ela disse, e eu vi que ela estava quase chorando. - Eu nunca pensei que eu ia perder você assim.

- Você nunca vai me perder, Anoca. Você sabe que é só estalar o dedo que eu vou estar do seu lado. - Eu disse segurando ela pelo rosto, e as lágrimas rolaram daqueles olhos azuis que eu tanto amo. 

- Não é justo, eu sei o quanto os nossos sentimentos ainda estão confusos. E você continua dizendo por ai que me ama. - Ela disse, e eu sorri. Saber que ela ainda sentia algo por mim era quase tão bom quanto ter ela de volta, mas saber que ela sofria por ainda sentir aquilo me deixava dividido.

- Ana, eu sempre vou te amar. - Eu disse, e antes que ela conseguisse falar algo eu a interrompi. - Ainda que um dia eu pare de querer te beijar, eu ainda vou amar cada pedacinho dessa garota que cresceu junto comigo e que fez parte dos momentos mais felizes da minha vida. - Ela sorriu, e me abraçou.

- Eu também vou te amar pra sempre, Lucas. - Ela disse, e eu respirei aquele perfume que tanto me fazia falta. - Eu quero ter você de volta na minha vida. Eu sei que é pedir demais, mas eu preciso de você como amigo, como parceiro de vida. 

- Eu tô aqui, e se for isso que você pode me oferecer, eu aceito a oferta. Qualquer coisa é melhor do que não ter você por perto. - Eu disse, e aquilo me doeu muito. É óbvio que não era mentira, mas eu sabia que minha vida agora seria o céu e o inferno, tendo a mulher que eu amo tão perto, mas tão longe.

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Um mês depois...

São Paulo era, no geral, uma cidade bem cinza. Mas toda a agitação dos bares, e as cores das lojas e das pessoas, davam vida àquela cidade que eu aprendi a amar e a chamar de lar. No geral eu não saia muito, e o Gustavo também sempre foi muito caseiro. Aliás, se você está se perguntando se a gente ainda está junto depois da briga: Sim, estámos. Depois que eu voltei pra SP nós nos acertamos da única forma que a gente parece conseguir concordar, na cama. Não me leve a mal, a gente se diverte e se dá bem no geral. Mas toda vez que o assunto vira para os dois fantasmas na nossa relação, o problema começa. Se o meu whatsapp toca e ele vê que é o Lucas, o tempo fecha. E ai ele não gosta quando eu reclamo que ele mais uma vez estava almoçando/jantando/ou 'insira aqui qualquer atividade' com a Kefera. Eu prometi para mim mesma que não ia mais reclamar com ele, já que ele já sabe que me chateia. Mas eu parei de me importar também. Desde que eu o Lucas conversamos eu desbloquei ele no Whatsapp e todas as outras redes sociais, mas a gente só se encontra se for em grupo e nunca de caso pensado. E ele realmente tem me impressionado. Nunca mais implicou com o Gustavo, nem me provocou para causar alguma briga, e nem beber eu tenho visto ele beber. O Mauro me contou outro dia que ele tá melhor mesmo, e até entrou em um projeto para gravar vídeos todos os dias. O Chris me ligou também, mas para dizer que tinha gravado um vídeo com o Lucas que eles falavam de mim. Como já rola todo este problema com o Gustavo eu pedi para ver antes, e é por isso que eu estou aqui neste restaurante. O Chris não podia vir, mas o Lucas ficou de trazer o arquivo e a gente ia ver junto. Acho que essa era a primeira vez que a gente se encontrava por querer depois que terminou. Eu disse pro Gustavo onde estava indo e com quem eu ia me encontrar, e ele só me pediu para 'pensar bem no que eu estava fazendo'. O que ele acha que eu vou fazer? Trair ele? As vezes eu não sei se ficar com ele é a coisa certa. Eu sou apaixonada por ele, e eu sei que ele também é por mim. Mas a gente não confia nos sentimentos um do outro. 

- Hey, Anoca! Desculpe o atraso! - o Lucas disse chegando por trás de mim, e beijando minha testa antes de se sentar do meu lado. 

- Até parece que eu já não te conheço... Eu acabei de chegar, calculando o seu atraso padrão de 30 minutos. - Eu disse revirando os olhos, e ele riu de mim.

- Desta vez a culpa foi do Alex, que me fez experimentar o terno do casamento neste calor! - Ele disse tirando o boné. - Eu tive que passar em casa pra tomar banho e trocar de roupa, senão você ia se arrepender de ter marcado comigo.

- Bem, então muito obrigada por pensar em mim. - Eu disse rindo, e logo depois a garçonete pegou nosso pedido. Ela reconheceu a gente e pediu para tirar uma foto. Nós sorrimos sem graça, porque uma foto nossa juntos podia ser o início de um escândalo, mas no final tiramos a foto. 

- Bem, você trouxe o vídeo? - Eu perguntei, e eu fez que sim, tirando o celular no bolso. Abriu o rolo da câmera e carregou o último vídeo. Ele tirou um fone do bolso e me deu um deles antes de apertar play. Ele já estava editado só para a parte que eles falavam de mim. O Maurinho estava no vídeo também, e eles gravaram para o qual quadro polêmico do Chris, o 'Leva ou não leva para o quarto'.

**VÍDEO ON**

Chris - T3ddy, você é um cara que tá sempre solteiro, mas nunca sozinho... Mas essa garota aqui que está na tela do meu celular é a única que já te fez pendurar as chuteiras, esquecer a vidinha de balada... Você leva ou não leva pro quarto: Ana Carolina Xicatto?

Na edição aparece uma foto do Instagram feita para uma campanha, onde eu usava uma jaqueta sem nada por baixo. 

Mauro - Eita, mas ai você sugou né?

T3ddy - Sugou muito... 

Chris - O namoro acabou, mas todo mundo diz por ai que você ainda é apaixonado por ela, né? É a chance de você esclarecer isso ai...

T3ddy - Você é muito babaca...

Chris - Oxe, eu babaca? Eu tô te perguntando... Eu acho ela linda, e se não fosse talaricagem eu levava mesmo.

Mauro - Eita, talaricagem dupla ainda né? Porque tu é amigo do ex e do atual...

T3ddy - E ela ia lá querer algo contigo? 

Chris - Mas o quadro é se eu, ou você, ou o Mauro levamos... Se elas vão aceitar ai já é outro assunto.

T3ddy - Oxe, então eu levo né? Ela é que não vai de jeito nenhum... Tá pra nascer garota mais certinha que a Anoca. 

Chris - Certinha pode até ser, mas santinha pelo o que você fala ela não é... 

Mauro - Eita!!! Isso ai é verdade mesmo hein! 

**VÍDEO OFF**

- Esse final eu já pedi para ele tirar. - Ele disse vermelho, e eu ri.

- Tá de boa, eu não ligo. - Eu disse, e em seguida mordi a boca. Ele olhou pros meus lábios. - Acho que tá bem inofencivo.

- O Gusta não vai pirar? - Ele perguntou, e eu fiquei séria.

- Acho que ele vai ficar meio puto, principalmente por saber que eu liberei, mas eu não vou virar a garota que se preocupa se o namorado aprova ou não algo. - Eu disse, ele sorriu pra mim.

- Eu tenho muito orgulho de você, garota. - Ele disse, e eu fiquei vermelha. - Além de linda e talentosa, ainda tem esse topete todo que te faz ficar uns 10 centímetros mais alta. Não que isso faça diferença quando se é uma anã.

- Eu vou te mostrar a anã... - Eu disse revirando os olhos, mas internamente feliz por conseguir novamente ter este tipo de relação com ele.