História Lolita - Los Angeles

P.O.V. Dolores

Algumas pessoas passam a vida inteira, ou ao menos grande parte dela sonhando em por os pés em qualquer meio de transporte aéreo. Já eu, gostaria de não ter que usá-los tanto. Muitas vezes, estar nas nuvens para mim é estar no inferno. Meus pensamentos são grandes demônios, também conhecidos como ansiedade, ou sofrimento por antecipação. Esta poderia ser mais uma reflexão minha ao observar o jardim pela janela do meu quarto, mas não. Aqui estou mais uma vez, só que agora é pior.

Eu simplesmente não quero. Sei que não estão fazendo pela minha vida, mas sim para manter a família real. Nenhuma justificativa será suficiente para me convencer, mas devo obediência a todos. Até parece que eu posso mudar algo!

- Filha para a sua segurança e para o bem da monarquia, você precisa ir. É o que estão fazendo com todos os membros mais jovens da família.

- Por favor, não! Eu nunca fiquei tanto tempo fora daqui sozinha.- insisti.

- Quando chegar ao Consulado, seu responsável será Albert. Você deve se afastar um pouco e será a única da família lá.- Começa a explicar.- A colocamos numa escola tradicional. Não crie mais problemas!

Sabe quando você está fazendo de tudo para resolver um problema, mas só resta uma gota de esperança no fund do poço e quando quando chega lá, ela simplesmente evapora? Aqui estamos!

- Adeus, filha! Faça uma boa viagem.- meu pai beija minha testa.

- Adeus, Dolores! Faça uma boa viagem!- minha diz segurando meu rosto entre suas mãos e beijando minha testa também.

Só Deus sabe oque me aguarda em Los Angeles.

* * *

U.S.A.

Horas depois...

- Senhorita Lannoy, seja bem-vinda aos Estados Unidos da América!

Tudo que posso assimilar agora é claridade e um homem tentando falar alemão. Isso desperta toda a grosseria do meu ser. Nem se quer é meu idioma natural.

- Por favor,seu alemão é terrível. Fale comigo em Francês ou inglês.- eu digo abrindo meus olhos.

- Sim, senhorita Lannoy!- ele diz rindo discretamente.

Reviro os olhos. Provavelmente é o tal Albert. Traduzindo: meu mais novo babá.

- Se quiser ter boa convivência comigo, me chame apenas de Lola.- sugiro.

Ele ri mais uma vez e eu não sei qual é a graça.

- Ok, Lola. Vamos logo, a senhorita deve descansar porque amanhã começam as aulas.- ele diz me dando a mão e eu a pego, me levantando.

Saímos do jato e o carro está logo à frente. Um homem carrega os poucos pertences que eu trouxe e coloca na mala do veículo. Pensei em mudar um pouco meu estilo de vida e ser mais independente, mas parece que não vai acontecer. Eles me tratam do mesmo modo que os outros serviçais tratariam enquarto entro no carro e noto um fotógrafo idiota perto da pista, então dou graças a Deus quando o motorista abandona o local.

Em menos de meia hora estamos entrando no consulado, que fica numa rua chamada "Durand Dr.", se é que li o nome corretamente. A casa tem um conceito de Castelo, mas não chega aos pés do que vi em meu país e outros lugares do mundo.

A propriedade tem vista para o sinal e o lago de Hollywood. Meio decadente, mas me lembra videos caseiros que uma certa cantora usaria.

Fazemos um tour que leva quase dez minutos e no fim, alcançamos meus aposentos.

- Lola, tentamos arrumar seu quarto de uma forma que te agradasse.- ele respira fundo.- Fiquei sabendo que a senhorita gosta de flores e algumas coisas meio obscuras.

Ele dá um sorriso amarelo, enquanto dou um sorriso super doce. Entramos no quarto e eu simplesmente amo oque vejo. O formato é oval, iluminado por um enorme lustre, com grandes janelas, varanda ,closet enorme, banheiro maravilhoso, cortinas escuras rendadas na minha cama e nas janelas.

- Eu adorei!- Digo quando ele termina de me mostrar o quarto.

- Fico feliz!- Ele diz sorrindo.

- Vou me preparar para dormir agora.- Digo me sentando na cama macia.

- Me retirarei para deixá-la mais confortável.- Ele pega um pequeno cartão em seu bolso e me entrega.- Aqui está meu número. Qualquer coisa me ligue.- Faz uma pausa tentando se lembrar de algo.- Tudo que precisa para ir à escola amanhã está no seu closet. Seu café será servido as seis e meia. O motorista estará te esperando em frente à pota principal sete horas.

Ele diz se dirigindo a porta.

- Tudo bem.- Digo sorrindo.

- Boa noite, Lola!- Ele diz abrindo a porta.

- Boa noite, Albert!

Ele fecha a porta, finalmente me deixando sozinha.

Corro para o meu closet que mais parece um quarto. Eles o encheram de coisas novas. Escolho um conjunto de camisola e robe preto, tiro as etiquetas, tomo um bom banho e me visto.Numa das divisórias da parede do closet, vejo uma mochila e uma camisa de uniforme. Realmente é tradicional: saia, camisa branca com botões frontais, blazer e saia num tom intenso de vinho, meias brancas e saltos pretos fechados.

Graças à ansiedade, não estou com sono e aproveito para arrumar as coisas que estavam na mala dento do closet. Sim, eu meio que menti pra Albert. Mas assim que termino tudo, apago na minha cama. Sei que terei uma longa semana.

* * *

Acordo com a claridade que quase me cega. Meu café da manhã está na escrivaninha. Como e depois me arrumo. Coloco a roupa que separei ontem, um colar com pingente de Aqua-Aura, brincos pequenos, uma pulseira bem fina de ouro e um anel que sempre uso. Pego minha mochila e desço as escadas correndo, pego o meu sanduíche de peito de peru, vejo Albert tomando café da manhã e ele me passa algumas instruções para quando eu chegar na escola. Ele também me dá um IPad que ainda está na caixa e depois eu corro para o carro.

Como será que devo me comportar? Se nenhuma amizade surgir, é só eu me concentrar nos estudos!

***

Acabo de chegar na escola e todos me olham como se eu fosse anormal. A escola de fato é tradicional, antiga e... cara! Até parece que é novidade. Meus pais nunca me colocariam para estudar numa instituição qualquer.

Olhando as placas, encontro a secretaria. Depois de ser bajulada pela diretora, saio da saio da sala dela com meus livros e horários, procurando agora meu armário. Assim que o encontro, abro e coloco meus livros, levando apenas o material que preciso pra aula de história. Encontro a sala e quando entro, vejo o professor sentado em sua mesa e os outros alunos sentando-se em carteiras aparentemente aleatórias. Todas são pra duas pessoas. Me sento em uma vazia e logo uma garota loira passa pela porta e se posiciona ao meu lado, depois de procurar um assento.

- Prazer, Lily-Rose Melody Depp.- Ela diz sorrindo e me estendendo sua mão.

- Lola Lannoy. O prazer é todo meu!- Eu aceiro sua mão retribuindo o sorriso.

Será que estou prestes a fazer a primeira amizade da minha vida? As pessoas sempre me acharam estranha e eu nunca pude manter contato com quem é da minha idade fora de casa.

- Bom, Lola... Você é novata. Estou certa?- Lily pergunta enquanto divide sua atenção entre mim e seu celular.

- Sim. Eu cheguei neste país ontem.- Digo sorrindo.

- Percebi que você tem um sotaque diferente, mas quase imperceptível.- Ela retribui o sorriso enquanto guarda o celular.

- É que passei a maior parte da minha vida falando francês e alemão.- Explico e Lily me olha curiosa.

- De onde você é?- Ela pergunta apoiando um cotovelo na mesa.

Eu conto ou não? Vou contar. Ela nem deve saber onde fica Luxembugo. Imagine só saber o que andou acontecendo por lá.

- Luxemburgo. Suspiro.

- Mas por que você veio morar num lugar tão distante de Luxemburgo? 

Ok, ela está complicando a situação.

- Minha família determinou que seria melhor para minha segurança, considerando os ataques que vem acontecendo na Europa. Agora, estou morando aqui com uma pessoa de confiança da minha família.

Não menti, apenas não entrei em detalhes. Lily me olha com pena, provavelmente porque eu contei que tive que me afastar da minha família.

- Eu sinto muito, Lola! Já vi que sua vida não é muito diferente da minha.

Como assim? Se bem que o nome dela não me parece muito estranho.

- Você também se muda muito?- Pergunto a encarando.

- Acontece que viajo constantemente e por um longo período.- Ela suspira.- Meu pai é ator apesar de também fazer outras coisas e minha mãe é cantora, mas também atua. Eles são separados. Minha mãe é francesa e meu pai é americano. Já morei em 3 países diferentes: Inglaterra, Fança e Estados Unidos. Eles viajam muito, mas agora eu e meu irmão somos grandes demais pra ficar faltando na escola. Sendo assim, às vezes ficamos aqui em LA com a noiva do meu pai ou um amigo dele. 

Meu Deus... A ficha só caiu agora!

- Você é filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis? Amber Heard é sua madrasta?

Ela se surpreende.

- Exatamente!- Ela sorri.- Não me diga que lê tabloides!

- Eu não, mas minhas serviçais sim.- Digo sorrindo.

- Lola, estou começando minha carreira no cinema agora. Logo meu primeiro filme vai estrear e quero você comigo na Premiere.

Já vi que Lily é bem rápida nessa coisa de fazer amizades.

- Como quiser!

O sinal toca e todos já estão dentro da sala. Alguns olham pra mim, provavelmente querendo saber quem é a estranha que entrou na escola no último trimestre.

- Bom dia, turma!- O professor diz levantando de sua mesa.

Ele não parece ser rígido, e sim amigável.

- Bom dia, senhor Lestrange!- Todos dizem juntos.

- Vejo que temos uma aluna nova...- Ele me encara e o resto da turma me olha enquanto eu coro.

- Qual é seu nome?- Ele pergunta se aproximando um pouco.

- Dolores.

Ele encara o chão por um tempo e depois vai até sua mesa, pegando algo que parece ser uma planilha.

- Senhorita Lannoy...- Ele abre um sorriso enorme.- É um prazer tê-la em nossa classe.- Ele faz uma pausa.- Não fui avisado, por favor, me perdoe.

Lily me olha achando aquilo estranho.

- Tudo bem!- Digo meio sem graça.- Por favor, me chame de Lola!

- Seja bem vinda, Lola! 

- Obrigada!

Ele volta para o meio do tablado e me sinto um pouco aliviada.

- Bom... hoje, por  coincidência, falaremos sobre monarquia.

Ao ouvir aquilo a turma faz cara de tédio enquanto dou um sorriso de canto. Será fácil! Afinal, quem entre aqueles alunos seria melhor pra discutir sobre monarquia do que uma das herdeiras do trono de Luxemburgo?

- Nada de reclamações. Abram seus livos na página 168!

* * *

- Lola, o que foi aquilo na aula de história?- Lily-Rose pergunta assim que se senta na mesa do refeitório de frente pra mim.

- Eu não sei. Fiz algo errado?- Pergunto preocupada.

- Não. É que... se monarquia fosse uma matéria tipo cálculo, você seria professora em Harvard.- Nós rimos.

- Obrigada!- Digo sorrindo.

Começamos a comer enquanto Lily me explica como as coisas funcionam na escola. Em toda a minha vida, estudei com professores particulares. Confesso que agora, fico um pouco feliz por estar em Los Angeles, sem muitas pessoas dizendo como devo me como devo me comportar. 

Um garoto sai da mesa dos populares e se senta ao meu lado. Lily fica surpresa sorrindo e eu me assusto.

- Bom dia, meninas!- Ele sorri.

- Bom dia!- Dizemos juntas.

- Lily, não vai me apresentar à sua amiga?- Ele pergunta mordendo o lábio inferior e olhando pra mim enquanto eu coro.

- Travis Gomes, Lola Lannoy, Lola Lannoy, Travis Gomes.- Ela diz e revira os olhos.

- É um prazer conhecê-la, Lola.- Ele me lança um olhar galanteador e me dá um beijo na bochecha me fazendo corar novamente. Eu realmente não estou acostumada com este tipo de coisa.

- Igualmente!

Jura, Lola? É o seu máximo?

- Lily, por que você está tão afastada de nós desde sexta?- Ele pergunta a encarando.

- Grace fez algumas coisas não muito agradáveis na festa de quinta.- O olhar dela fica triste e Travis suspira.

- Entenda uma coisa: Grace é uma vadia. Ela anda conosco porque ainda não percebeu que ninguém a quer por ali. Minha mãe acha que eu estou levando garotas pro motel e fumando por causa das merdas que ela anda dizendo e fazendo.- Eles diz bravo e me espanto.

- Vou pensar mais nisto.- Ela suspira.

Então Lily anda com os populares e os mais velhos?

- Amanhã todos nós vamos te esperar na entrada. Foda-se a Grace!- Arregalamos os olhos.

- Ok...- Lily sorri.

- Você também conta, Lola!- Ele me encara.

- Tudo bem!

* * *

Tarefa de francês completa! Sim, eu e Lily trabalhamos bem juntas. E é só o primeiro dia!

- Quer ir embora comigo hoje?- Lily pergunta.

- Você vai sozinha?

- Não. Um amigo do meu pai vem me buscar.

Querer eu quero. O problema é Albert.

- Só um instante!

A partir do e-mail, solicito que ele permita que eu volte pra casa com Lily. Ele faz um bando de perguntas, eu respondo e explico tudo, além de arranjar argumentos. Acabo vencendo.

- Ok, vou podei ir embora com você, Lily!- Digo sorrindo.

- Perfeito!-  Ela retribui o sorriso.

Em pouco tempo, o sinal toca. Hora de ir embora! Gradamos alguns de nossos pertences em nossos armários e nos encontramos na portaria. Conversamos por um tempo aleatoriamente, até que Lily olha pro portão e sorri.

- Vem, ele já chegou!- Ela me puxa pelo braço e eu sigo seu olhar.

Só posso ver de encostado num carro, tudo que minha família não quer pra mim. Uma criatura sinistra e ao mesmo tempo, o cantor de rock industrial mais lindo do mundo. Marilyn Manson. Algumas pessoas que passam pelo local ficam admiradas. Alguns olham para ele com reprovação e outros com medo. 

Ele tem um olhar maldoso que me dá medo e ao mesmo tempo me deixa louca. Assim que me vê, Manson morde os lábios. Lily me apresenta a ele e entramos no carro.

- Onde você mora, Lola?- Ao ouvir a pergunta de Marilyn, eu fico mais pálida que o normal outra vez.

- Consulado de Luxemburgo.- Abaixo a cabeça enquanto Lily-Rose e Marilyn arregalam os olhos.

- Puta merda, Lola! Não vai me dizer que você é a autêntica Dolores Lannoy, herdeira do trono!- Lily se agita e Manson ri baixo.

- Se é assim que vocês me conhecem por aqui...- Dou os ombros.

- Meu Deus, eu estou fazendo amizade com alguém da realeza.- Ela arregala os olhos.

- E eu vou dirigir o carro com alguém da realeza dentro.- Manson mostra como sua situação é mais complicada e rimos.

Logo ele liga o carro e dá partida. Conversamos sobre meus últimos dias até chegar ao meu destino. Manson estaciona numa vaga na garagem do consulado e assim que nós três saímos do carro damos de cara com Albert.

- Não vai me apresentar seus amigos, Lola?- Ele pergunta e pela cara, já sei que estou encrencada.

Ele deve saber qual é a reputação do Manson. 

* * *

- Senhor Manson, já percebi que você é bem diferente do que a mídia anda dizendo.- Albert diz e depois bebe um pouco do seu suco.

- Agradeço por nos convidar pra almoçar aqui. Pode me chamar de Manson.- Marilyn sorri.

- Ok, Manson.

- Lola, se Albert permitir, posso te trazer pra casa toda vez que for buscar Lily na escola.- Manson sugere.

Encaro Albert com cara de pidona e ele revira os olhos.

- Seus pais não precisam saber, certo?- Ele sorri e eu balanço a cabeça negativamente retribuindo o sorriso.- Então está combinado!

Não leva muito muito tempo pra eles dois irem embora e então, fico sozinha com Albert. Corro paro meu quarto e começo a estudar. Estou concentrada na tarefa de História, mas Manson acaba invadondo minha mente. O olhar dele... o sorriso... tudo!

Alguém bate na minha porta me fazendo voltar pra realidade.

- Pode entrar!

Albert entra e se senta ao meu lado na cama.

- Marilyn Manson? Jura?- Ele me encara.

- Você viu que ele não é bem o que dizem por aí?- Pergunto o encarando.

- Isto eu não posso negar.- Sorrimos.- Como foi o primeiro dia de aula?- Ele pergunta e eu suspiro.

- Tive sorte e conheci algumas pessoas. Me dei bem com os professores e não tenho muitas dificuldades.

- Bom saber!