Camila encostou na porta da sala de artes e me olhou com certo deboche, revirou os olhos e suspirou. Me aproximei dela, que mudou o olhar na hora e fechou os olhos, tornando a abri-los em seguida.
— Diga, Lauren. — cruzou os braços e me encarou.
— A gente pode ir pra algum lugar mais reservado? — perguntei olhando pros lados — É muito sério.
— É sobre o que aconteceu entre a gente? — perguntou.
— Não, eu não quero falar sobre isso. Mas eu juro, vamos pra um lugar onde ficaremos sozinhas.
— Certo. — ela olhou o relógio de pulso — Minha aula termina daqui uma hora, mas eu posso sair mais cedo, quer ir pra minha casa?
— Sua casa?
— Sim. Você quer?
— Huh, claro. — suspirei e cocei o braço esquerdo.
— Certo, então vamos.
Camila entrou na sala e em segundos saiu novamente, mas agora com a mochila nas costas. Seguimos lado a lado em silêncio até o estacionamento, e só quando chegamos lá me lembrei de que tinha chamado Diane pra ir comigo pra casa depois da aula, então decidi ligar pra ela enquanto acompanhava Camila até seu carro.
— Ei, baby, está na aula? — vi Camila me olhar séria.
— Sim, mas saí pra atender. O que houve? Você está onde? — parecia preocupada.
— Então, eu tenho que resolver umas coisas agora e não vou poder te esperar.
— Oh, aconteceu alguma coisa? Você está bem?
— Não, não aconteceu nada e eu estou bem. Mais tarde eu te explico. — parei junto com Camila ao lado do seu carro — Quando eu terminar aqui, passo na sua casa.
— Ah, tudo bem então, vou te aguardar lá. Tenho que voltar pra aula.
— Certo, até mais tarde, baby. Boa aula. — e desliguei.
Coloquei o celular no bolso da frente da mochila e me virei pra Camila. Estava encostada em seu Jeep Compass preto, de braços cruzados, meio sorriso sarcástico e sem emoção nos olhos.
— Está namorando, Jauregui? E não me contou.
— Eu não estou.
— Oh, jura? Me parece que está sim. — se empurrou com os ombros e se aproximou de mim — Sorte a dela — disse baixinho e saiu de perto.
— Por que sorte a dela?
— Vamos logo, eu quero saber o que tem pra me dizer.
— Certo, te encontro na sua casa.
Ela entrou no carro e eu atravessei o estacionamento até chegar na minha Gla. Liguei ela na mesma hora em que Camila passou por mim em seu carro. Conectei o iPod no rádio e segui a cubana até que chegamos em sua casa. Ela estacionou no lado de fora da garagem e eu no acostamento na frente da residencia. Descemos do carro quase ao mesmo tempo, seguindo pra porta de entrada.
— Meus pais estão trabalhando e minha irmã na escola.
— Oh, tudo bem. Bom que se você gritar comigo ninguém escuta.
— Oh, Deus, o que você fez?
— Eu não fiz nada, mas talvez você não acredite em mim.
— Por que eu não acreditaria?
— Porque envolve alguém que você... Supostamente, ama.
— Supostamente?! Se eu digo que amo, é porque amo, não existe essa. — ela disse quando entramos na casa.
— E você me ama, Camila? — perguntei parando atrás dela enquanto trancava a porta.
Ela parou, ficou rígida. Vi seus ombros subirem e descerem mais intensamente enquanto suas mãos apertavam as chaves na porta. Pisquei algumas vezes tentando me concentrar em todas as suas reações, mas estava quase impossível quando o clima naquele ambiente gritava comigo pra fazer algo. Fechei os olhos, colocando os dedos por dentro das lentes pra esfregar os mesmos. Larguei a mochila delicadamente no chão e caminhei com calma pra perto de Camila. Encostei meu corpo nas suas costas e ela ofegou, levantei meu braço direito, jogando seu cabelo todo só pra um ombro, deixando o outro completamente acessível. Inalei seu perfume e...
— Por favor, responda.
— Eu... Eu... Caramba, Lauren!
— Não custa nada responder.
— Eu conseguiria se... Se você se afastasse.
— Te atrapalho aqui?
— Um pouco, Lauren.
— Certo. — dei dois passos pra trás.
— Eu... Lauren, eu amo.
— Ama? — um sorriso nasceu em meus lábios e ela se virou pra mim.
— Sim, mas não do jeito que gostaria que amasse. — falou abaixando a cabeça — Desculpe.
Soltei uma risadinha sarcástica e neguei com a cabeça, recuando mais ainda até ficar perto da minha mochila e a pegar, jogando em meu ombro. Caminhei pra sala e me sentei no sofá, olhando pra Camila, para que ela fizesse o mesmo, e ela fez. Se sentou numa poltrona de frente pra mim e cruzou as pernas, me encarando, pedindo com o olhar que eu começasse a falar.
Tomei um ar, pensando em como começaria a dizer que seu namorado é um cretino nojento, principalmente depois do que acabou de acontecer.
— Certo. Você ama o Dylan? Não tem nada a ver comigo, ou com a gente, só seja sincera. Você o ama? — perguntei.
— Mas é claro que amo. — se inclinou pra frente, me olhando pouco perdida — Por que você está perguntando isso? O que houve?
— Você confia em mim? Quero dizer, mesmo que saiba que eu estava me apaixonando por você, e eu te dissesse algo, que pode parecer improvável, sobre ele, você vai acreditar em mim e não vai pensar que estou fazendo isso pra acabar com o relacionamento de vocês? — levantei as sobrancelhas.
— Huh, você não está, né? — desconfiou.
— Óbvio que não! Olhe pra mim, Camila! — praticamente gritei — Eu pareço com alguém que terminaria com o relacionamento de outra pessoa? — perguntei completamente indignada.
— Não, não parece. Enfim, fale o que houve. — falou.
— Certo, depois que você saiu de perto de mim hoje no corredor, eu fiquei ali um pouco com Diane e quando estava indo pra aula, eu, bem... — parei, sem jeito pra falar tudo.
— Fale, Lauren. — esfregou as mãos.
— Eu passei em frente ao banheiro masculino. — me inclinei pra frente, olhando bem em seus olhos — E eu ouvi o Dylan...
— O que ele dizia, Lauren? — perguntou séria.
— Bem... Ele dizia que finalmente você ia... Bem... — neguei com a cabeça.
— Que eu finalmente o que?! Fala! — gritou comigo, ficando na ponta da poltrona.
— Finalmente transaria com ele. — falei rápido demais, e trocando as palavras dele.
— Huh... — franziu o cenho e fechou os olhos.
— Mas não com essas palavras. Disse que não aguentava mais esperar, que não gostava de você, que só aguentou esse tempo todo contigo porque você é muito gostosa e parece foder muito bem. — passei as mãos na boca, num ato desesperado.
— O que? — ela riu sem humor — Ele não... — negou com a cabeça.
— Ele sim. Eu ouvi, Camila. Ele conversava com um tal de Tyler. — quando eu disse o nome, ela arregalou os olhos.
— É o melhor amigo dele. — disse sem emoção — Mas não, claro que Dylan não diria essas coisas. Você deve ter ouvido errado, sei lá, Lauren! — gritou, se levantando da poltrona — Ele não diria essas coisas! Ele me ama!
— Você não pode ter certeza disso, Camila. — eu disse, abaixando a cabeça — Mas quer saber? Hein, Mila? — olhei pra ela.
— O que, Lauren? Quero saber de quê? — estava com cara de choro.
— Você acredita no que quiser.
— Eu... Lauren, eu confio em você. — disse pegando uma almofada e a apertando.
— Eu estou vendo. Bem, eu fiz o meu papel. — peguei uma almofada também.
— Sim, você fez. E eu agradeço. Mas eu sou incapaz de acreditar nisso. — ela disse pouco triste e eu me levantei, negando com a cabeça — Já vai? Vai voltar correndo pra sua namoradinha? — ela soltou uma risada falsa.
— Huh, talvez, Camila. Talvez eu vá encontrar Diane. Que alias, mais uma vez, não é minha namorada.
— Por isso transou com ela.
— Não, eu transei com ela porque eu senti vontade. Sabe? Tesão?! Pois então, senti isso. Ah, e ela também, obviamente.
— Poupe-me dos detalhes, Lauren. — disse.
— Só estou dizendo! Ela gosta de estar comigo, de conversar comigo...
— E eu também! Eu já te disse isso!
— Ela gosta de mim. De outro jeito, aquele que você diz não sentir por mim.
— Eu... Eu.. É, eu não sinto. — deu de ombros — Enfim, obrigada por me contar sobre o Dylan.
— Não foi nada. Nós somos amigas, me importo com você, não quero ninguém te magoando.
— Eu tenho certeza que ele não vai.
— Assim eu espero. Ou eu quebro a cara dele. — ela riu alto — É sério, eu lutava MMA!
— O que?!
— Sério! Enfim... Qualquer coisa, me ligue.
— Pode deixar.
— Eu já vou, okay? — comecei a andar pra porta.
— Se você realmente tem que ir...
— Vou buscar Diane.
— Oh! Claro! Até mais, então.
— Até, Mila. Obrigada por me ouvir.
— Obrigada você por me contar. — ela abriu a porta pra mim — Cuidado na rua.
— Sempre tomo.
Ela ficou na porta enquanto eu caminhava até meu carro no acostamento. Entrei nele e dei uma buzinada pra Camila, que deu um tchauzinho com a mão.
Manobrei o carro, voltando o caminho todo pra escola. Faltavam cinco minutos pra aula da Diane terminar, se eu fosse bem rápido chegaria à tempo, antes que um de seus motoristas fossem buscá-la.
Parei no estacionamento bem na hora que o sinal tocou. Fiquei no carro olhando pras escadas, e alguns minutos depois fui honrada com uma das mais belas visões. Diane descia, e estava mais linda do que me lembrava de hoje cedo, com aquela blusa branca e seu blazer preto, sua calça social da mesma cor e saltos altos. E é claro que ao seu lado estava Jackie, usando um vestido branco super colado e cabelo preso num coque.
Suspirei fundo com um sorriso nos lábios e desci do carro, indo em direção a elas. Quando me viu, ela arregalou os olhos e abriu um sorriso enorme, praticamente correndo pra mim.
— Ei, baby! Você veio pra mim?! — me abraçou.
— Com certeza eu vim pra você, baby.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.