História Loser - Bubbline - Bel-bel

  Quarta. Acordei de manhã mais animada para ir à escola do que jamais estive. Levantei rápido, peguei duas toalhas, minhas roupas e corri para o banheiro. Tirei o pijama e joguei no canto da parede atrás da porta. Liguei o chuveiro e senti a água fresca se chocar contra minha pele quente, me causando arrepios. Eu estava sorrindo, um sorriso tão largo que se descrevido, poderia ser confundido com os que se usam em histórias de terror. Me lavei rapidamente, desliguei e fui tomar café. Comi duas fatias de pão francês e tomei café com leite, tudo na pressa, como se pudesse chegar super atrasada naquele dia em especial, já que nele eu estava de fato querendo ir pro colégio, e é a Lei de Murphy: se algo pode dar errado, pode crer que vai dar. E da pior forma possível. Por isso, melhor prevenir do que remediar.

Após terminar o café da manhã, me dirigi ao banheiro para escovar meus dentinhos. Escovei muito bem cada parte da minha boca, analisando até minha língua enquanto fazia caretas em frente ao espelho para enxergar melhor todo o espaço. Sorri, satisfeita com o resultado e fui me trocar. Bonnie sempre vai pra escola de blusa, não importa o que aconteça nem a temperatura. Eu só vou com a camiseta do uniforme ultimamente. E calça e tênis, lógico. Ainda não cheguei nesse nível. Logo pus a roupa e fui arrumar um pouco meu cabelo. Antes de ir, abri a bolsa da minha mãe, enfiando minha mão entre as infinitas coisas que ela joga lá e procurando algo valioso.

Achei ele, tirei de sua embalagem e joguei na boca. Chicletes de hortelã sempre são bons para o hálito. Então revisei tudo. Não estava esquecendo de nada, então só chamei o Marshall e peguei minha mochila. Ele, como sempre, acordou de mau humor e fechou a porta na minha cara para se trocar com mais privacidade. Saí de perto e fui checar o celular. Nenhuma mensagem, beleza. Então Marshall saiu do quarto e me entregou a chave enquanto ia colocar um pouco de café numa xícara. Abri a porta, saí de casa e fui até o portão, onde abri o cadeado e fiquei aguardando meu irmão. O gato da vizinha estava no muro, como de costume. Chamei ele. O felino se espreguiçou sem pressa antes de pular até o muro mais baixo para que eu pudesse acariciá-lo.

Então, meu irmão aparece na porta e me pede a chave. Eu jogo, ele tranca a porta da sala e nós descemos a rua juntos, com o portão destrancado. Mas ele já ia voltar, então não tem problema. Ele chega até a esquina que fica em frente ao supermercado e se despede. Eu também me despeço e sigo caminho com duas meninas da minha sala que achei no caminho, e prosseguimos juntas. Chegamos atrasadas, infelizmente. Tivemos que esperar nossa fila entrar na sala, e quando vi minha classe passando, imediatamente procurei Bonnibel entre os outros. Lá estava ela, ao lado de Isabel. Ela ergueu o rosto e me viu à sua direita. Acenei discretamente, e ela fez o mesmo, sorrindo. A mulher, então, nos deixa passar. Não posso conter meu ânimo, a passos largos e rápidos bato na porta três vezes em ritmo, sorrindo de lado com os lábios comprimidos.

A “Professora do Sete” abriu a porta, indiferente, e já vi na lousa frases de exemplo para sua aula de português chata. Ela voltou à sua posição em pé ao lado da lousa e voltou a explicar enquanto nós, as atrasadas, entrávamos na classe em busca de nossos lugares. Tornei a procurar Bonnibel, e sorri discretamente para a mesma, que devolveu da mesma forma. Aquela troca de olhares, tão curta e sorrateira, mas intensa como nenhuma outra, durou um segundo e meio, mas foi o suficiente para me fazer esbarrar na própria carteira, sem perceber que já tinha chegado ao meu destino. A sala, em silêncio, voltou sua atenção pra mim apenas para saber o porquê do barulho, e logo voltaram a encarar a lousa. Bonnie riu baixo de minha trapalhada, e eu ri junto.

Explicando aquelas baboseiras que nem ela gostava de saber sobre, a professora não percebeu que eu havia tirado meu celular da bolsa e já o usava em meu colo, olhando para baixo e abrindo as mensagens.

Eu: oi, bel-bel

Um minuto. Dois. Três. Olhei de relance para Bonnibel, que apoiava sua cabeça na mão e acompanhava as explicações da professora com atenção. Pedi pra Isabel chamar ela, que foi quase ignorada por completo pela garota, que apenas murmurou um “presta atenção”, sem tirar os olhos da professora, só deixando sua posição para fazer anotações em seu caderno com folhas rosa-claras. Então estalo os dedos. Ela nem pisca. Chamo ela sussurrando alto o suficiente para ela escutar. Bonnibel vira a cabeça impaciente. Mostro o celular por debaixo da mesa e aponto para a tela, onde nossa conversa continuava sem uma resposta da mesma.

Mexo a boca, evitando deixar qualquer som sair, formando a palavra “responde” com uma expressão inconformada. Ela suspira, derrotada, e sem virar para trás, abre sua bolsa e tira o aparelho de lá. Ainda sem tirar os olhos da professora, liga a tela, olhando rápido para colocar a senha. Então espera um pouco, e abre as mensagens. Visualiza minha mensagem, e digita com agilidade resposta, antes de voltar a anotar algo sobre a matéria no caderno e repousar o telefone em seu colo.

O meu vibra, e abro a notificação: Bel-Bel.

Bel-bel: Oii, tenta não se distrair na aula, tá? É pro seu bem ;*

Sorrio com a audácia e envio outra mensagem, ainda sorrindo com a resposta que bolei.

Bonnibel percebe a vibração de seu telefone, e dirige a mim seu olhar irritado. Mas não aguenta de curiosidade, e acaba por colocar o aparelho abaixo da mesa para ler o conteúdo de minha mensagem. Ela lê, e parece travar. Então um sorriso embaraçado aparece em seus lábios, inevitável, e percebo suas bochechas avermelharem. Ela desliga a tela, sem responder, provavelmente para não alongar a conversa e volta a prestar atenção na professora, ainda sorrindo de canto. Sorrio, vitoriosa, mesmo não tendo minha resposta no momento, e lembro de minha mensagem novamente, feliz por agora poder dizer coisas assim sem medo.

  “Como, com você prendendo toda a minha atenção?”