Corremos pelos existentes caminhos, após a escuridão transformar toda arquitetura civil, em uma obra pitoresca e distorcida de uma mente diabólica. Esse tal de Harry Mason, continua me guiando pelo caminho que ele diz conhecer, sua mão suada agarra firmemente a minha, e parece que não soltará. Ele vai determinado à minha frente, então sigo fiel, meu escudeiro.
Um latido surge atrás de mim, busco com meus olhos ainda lacrimejando, o dono do latido seco. A escuridão me atrapalha e a chuva piora ainda mais. Mas pude enxergar a criatura esfolada, com seus globos oculares saltando para fora. O músculo brilhava pelo sangue que o cobria, e em suas quatro patas ele corria. Latindo, e sedento por sangue nos perseguia.
- Pai! - eu gritei sem perceber. Algo no meu interior me fez chamá-lo de pai.
Ele buscou meus olhos e seguindo meu indicador, pode ver a criatura demoníaca. Era um cão, e dos grandes.
- Se afasta! - me empurrou para trás, e seu cano enferrujado cortou o ar, acertando em cheio a mandíbula da besta. Seus dentes voaram, e ao cair nas grades metálicas que cobriam as antigas ruas, soaram pesados.
Esqueci o isqueiro em meu bolso, mas não fazia falta. Pois, após o golpe, ele acendeu uma lanterna em um dos bolsos da jaqueta. Parecia não temer esse mundo, ou era a bravura pra proteger sua filha!?
- Venha desgraçado! - sua voz soou baixo.
Após o cão se levantar, pareceu pensar se levaria vantagem sobre esse destemido homem. Então ele veio novamente.
Com quase todos os dentes arrancados, e com um dos olhos destruídos, voltou à luta. O segundo golpe Harry errou, e o cão desviou correndo por baixo de seus braços. Vinha na minha direção, comecei a fugir, tentei gritar mas não tive forças. Ele me seguia e Harry o seguia. A minha sorte era que agora ele mancava, então tive tempo para buscar nesse mundo alternativo algum caminho para sobreviver.
Não ousei olhar para trás novamente. Minhas pernas cansavam e meu vestido me atrapalhava. Já perdia minhas forças, quando mais cães surgiram de um corredor estreito. Era meu fim.
- Cheryl! - uma voz familiar soou no meu ouvido. Era minha mãe.
Então busquei seu rosto à minha direita. E lá estava ela, mas seu rosto estava inteiro carbonizado. Mas eu sabia, era minha mãe.
- Mamãe!? - Então ela agarrou meu braço, e eu acordei.
Estava de volta no Suburban, parada na entrada de Silent Hill. Respirava ofegante e minha cabeça doía. Ao meu lado (no banco do passageiro) não havia ninguém e isso me doeu "Onde está minha Cheryl!" pensei comigo mesma.
No retrovisor, vi que uma fina linha de sangue, descia por meu cabelo loiro. Abri a porta e senti uma pontada nas costelas.
- Jesus... - disse involuntariamente, e retorcendo meu corpo tentei amenizar a dor.
Caminhei por alguns metros, estranhando toda essa densa neblina. Não podia enxergar quase nada à minha frente. Só se ouvia meus passos nessa cidade fantasma. Até que uma garota apareceu diante de mim. Em seu rosto não havia sorriso, seus olhos eram tão tristes e amargurados. E como ela tinha uma semelhança com Cheryl (só que um pouco mais velha).
Não disse uma palavra, e isso foi o mais estranho. Ela se virou, e caminhou lentamente "pedindo" para que a seguisse. Seus passos lentos ecoavam em um singelo salto, e seu rabo de cavalo dançava pelo ar.
- Ei espere! - gritei. Não houve resposta.
Chegamos em uma velha igreja não muito longe. Um velho cemitério enfeitava sua faixada e sem medo ela seguia em frente.
Abriu a porta dupla da igreja e buscou meu rosto antes de entrar.
Tive medo, claro, mas entrei. Um cheiro forte de incenso pairava no ar, e pessoas aparentemente sujas me encaravam com um mal olhar. Vestiam longas capas negras, e uma velha estava no meio. Um grande forno improvisado queimava e ardia em brasas. Era assustador. Uma igreja gótica com uma coisa dessas, me assustou demais, gostaria de correr, Mas senti que meu corpo não corresponderia.
- Olhe o que farão com a sua filha! - A moça quebrou o silêncio. Seus olhos agora penetrantes, fitaram os meus, e seu pavor foi passado para mim.
Ela caminhou até um certo ponto, então uns grandalhões a agarram, e sem pudor rasgaram seu vestido azul. Nua, a moça foi levada aos berros em direção ao forno, ela chorava muito, chorou tanto, que me fez chorar também. E eu sem palavras, parada ali como uma estátua, não pude fazer nada.
Quando ela sentiu o fogo em suas costas, não gritou, mas gemeu de dor, tanta dor, que de seus pulmões não houveram ar para gritar. Eu vi seus membros tremerem em espasmos involuntários, e sua carne se tornar preta. O cheiro era intenso até que seus nervos já destruídos, lhe convenceram a se entregar, e sua vida se esvaiu.
- Não quero isso para a minha Cheryl! - disse para mim mesma. Cai ajoelhada, e chorando cobri meu rosto.
- Então se entregue no lugar dela. - a voz aguda da velha soou bem em meus ouvidos. Respirei bem fundo, me levantei "Cheryl, a mamãe te ama. Mãe estou indo ao seu encontro. Me receba, por favor, me receba!" e então me entreguei.
- É por isso que você tem que sobreviver Cheryl, vá embora, sua passagem está paga! - era a voz da minha mãe em minha cabeça.
Meus olhos se abriram e em frente à igreja eu estava, não como mamãe, mas sim, como Cheryl!
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