História Lost Wings - Chapter 7 - The Mystery.

Ariel encarou Zayn por um momento e quase que involuntariamente, tocou o cabelo dele. Os fios — apesar da grande quantidade — eram sedosos e deslizavam entre seus dedos. Era estranho ter o cabelo dele contra sua pele, a sensibilidade do corpo de um anjo caído era diferente da dos humanos. Ariel podia sentir cada um dos fios, mas a sensação era mais como uma lembrança, a sensação do toque não era tão presente assim. 
Ariel podia sentir a confusão e curiosidade de Zayn, tanto pela energia que ele emanava como pelo seu tom de voz, seu olhar que procurava por respostas. Até então, Ariel nunca havia estado tão próxima de uma vítima de Shidows, ela sempre se mantinha a distância, observando e agindo antes que ele se instalasse. Ariel nunca havia deixado um humano sob sua proteção passar por algo como que Zayn havia passado e o peso da culpa e falha começavam a pesar em sua mente. 
Com relutância, ela tirou a mão dos fios escuros do cabelo de Zayn e deixou o quarto, fechando a porta com delicadeza.

Ariel passou uma semana observando Zayn.
Ele havia recebido alta no dia seguinte ao que ela o visitou no hospital e demorou alguns dia até a mãe dele deixá-lo ir para a escola. Ela não queria se separar de Zayn por um segundo sequer.
Sabendo que ele voltaria para a escola naquela segunda-feira, Ariel havia se matriculado no colégio alguns dias antes, seguindo o conselho de Constance que havia lhe dado: estar o mais próxima possível da vida de Zayn, mostrando ao Shidow que ele não estava sozinho. Claro que isso só desafiaria cada vez mais o vulto, mas ainda assim, Ariel estaria ali.
Talvez não devesse ficar tão próxima quanto pretendia, mas Ariel não resistiu o impulso de convencer a diretora do colégio com sua persuasão que seria bom ter um bom aluno a orientando na primeira semana de aulas — não precisaria mais que isso para dar um fim naquele maldito vulto. 
De forma que tudo parecesse apenas "coincidência", todos os novos alunos teriam seus "alunos orientadores" e por acaso o destino resolveu colocar Zayn como orientador de Ariel. Não que a anjo não se sentisse culpada por estar se envolvendo demais na vida pessoal de Zayn, mas havia algo dentro dela que parecia necessitar da proximidade do garoto. 
Tranquila por ter tudo sob controle, Ariel se sentou no gramado do colégio, apenas esperando por Zayn chegar e depois — por total coincidência — ter a mesma primeira aula que ele e talvez, todas as outras também. Agora Ariel quase acreditava no que os outros anjos caídos falavam sobre a persuasão ser algo viciante, que depois que usa uma vez, quer usar o tempo todo. Ariel não tinha a mania de usar, mas sentia que enquanto estivesse protegendo Zayn, abusaria da sua. 
— Procurando por garotos em perigo? 
Ariel não precisava se virar para saber quem havia acabado de se sentar ao seu lado. 
— Achei que sua mãe fosse te matar. 
Ela se virou e deu de cara com um Zayn sorridente, de olhar brilhante. 
— Ela teve misericórdia quando contei que uma garota de um metro e meio e cinquenta quilos me tirou de um incêndio, me carregando nas costas. 
— Tem razão, também tive pena de sua falta de sanidade quando me contou isso. 
Zayn riu e balançou a cabeça por alguns segundos, mas logo depois sua boca formou uma linha reta, indecifrável. 
— Seja lá o que tenha acontecido naquela casa, obrigado, Ariel. 
Dito isso, ele se levantou, tirando a grama que havia grudado em sua calça jeans e entrou no colégio.

Do fundo da sala, Ariel tinha total visão de Zayn e do vulto também, que transitava de um ombro ao outro do moreno. Na visão de Ariel, era irritante e repugnante ver aquele Shidow atrapalhando e tentando e destruir a vida de Zayn, que era apenas um garoto de dezessete anos. 
O professor tagarelava algo sobre o começo do ano letivo e mudança de regras, e Ariel apenas aguardava ansiosamente o anúncio do novo projeto: alunos orientadores; enquanto planejava diversas formas de matar o vulto, mas nenhuma parecia boa ou segura o suficiente. Talvez, mesmo que involuntariamente, Ariel estivesse adiando esse momento, afinal de contas, Zayn se esqueceria dela e de qualquer envolvimento com o mundo sobrenatural. A vida dele voltaria ao normal, como se nada tivesse acontecido e Ariel seguiria em frente, nunca mais o veria. 
— Zayn Malik e Ariel Hughes.
Ariel levantou a cabeça, despertando de seus devaneios e percebeu que Zayn e o professor de meia idade a encaravam. Um tanto constrangida, ela se levantou, colocando a mochila em seu ombro, tal objeto que ela havia furtado de uma garota em uma cafeteria mais cedo. Claro que pelo menos se deu ao luxo de roubar uma garota de outro colégio.
— Você está realmente me perseguindo — Zayn disse baixinho a ela, assim que Ariel se sentou no lugar vago ao seu lado. 
— Talvez seja você me atraindo para perto, já que não para de pensar em mim. 
Zayn olhou para o lado, umedecendo os lábios e voltou sua atenção para Ariel.
 — É, talvez seja mesmo.
Impressionava com a resposta aparentemente verdadeira de Zayn, Ariel sorriu. 
O professor continuou formando as duplas e falando sobre o conteúdo de suas aulas de Física naquele ano e Ariel e Zayn não conversaram mais. Apesar das olhadas dele para ela, parecendo querer dizer algo e a troca de olhares constante entre eles, nada foi dito até então. 
— De onde você veio? — Zayn perguntou e pareceu aliviado a finalmente falar algo, o silêncio entre eles estava o matando. 
— Do Sul do país. 
Zayn assentiu, mas não se contentou a resposta que recebeu. 
— Mas você não tem sotaque sulista. 
— Já pensou em ser detetive? 
— Não até você surgir toda cheia de mistérios em minha vida. 
Ariel riu baixinho e negou com a cabeça.
— Não surgi em sua vida, sou apenas uma aluna comum que você teve o azar de esbarrar por aí. 
Zayn cruzou os braços em cima da carteira e franziu o cenho. Em sua opinião, Ariel falava, falava e não falava nada. Pareciam andar em círculos e nada era esclarecido da parte dela.
— Quem é Dom? — perguntou ele de uma vez. 
Ariel sentiu sua garganta se fechar e deu com os ombros, incomodada com a pergunta repentina. 
— Alguém que conheci a muito tempo — justificou ela, sem saber ao certo de onde havia surgido aquela resposta. 
— Tipo o quê, dez anos atrás? Você só tem dezesseis ou dezessete anos. 
Ariel riu sem humor e assentiu. 
— É, tipo isso. 

No final das três primeiras aulas, Zayn e Ariel seguiram para ao refeitório.
— Não deveria estar com seus amigos na hora da refeição? — perguntou ela quando entraram na fila do almoço.
Zayn deu com os ombros, sem saber ao certo como responder Ariel. Na verdade, deveria estar com seus amigos, sim. Mas sentia que qualquer minuto que passasse longe de Ariel, perderia alguma informação interessante sobre a garota que não lhe contava nada.
Apesar da confusão da noite do incêndio, Zayn sabia que era Ariel quem havia salvado sua vida, ele não estava louco. 
— Daqui a pouco Alfie nos encontra. 
— Alfie? — perguntou Ariel, segurando o riso.
Zayn riu baixinho e assentiu.
— Ele não se orgulha disso. 
— Bem, não é tão ruim assim.
Encarando Ariel, Zayn assentiu, tentando se convencer do que ela havia dito mas ambos caíram na gargalhada.
— Zayn também não é um nome tão normal assim — provocou Ariel.
— Ariel também não é o melhor dos nomes.
— Hey! Ariel é um nome lindo, para a sua informação.
Zayn levantou as mãos, como se estivesse se rendendo. 
— Se você está dizendo, quem sou eu para discordar?
Ariel empurrou Zayn de brincadeira e ele colocou a mão onde ela havia lhe tocado, a deixando confusa. Talvez tivesse usado força demais. 
— Você é gelada — comentou Zayn e ele pegou a mão dela, a surpreendendo. 
— Não sou gelada, — se defendeu ela, fazendo sumir qualquer resquício do sorriso que tinha no rosto pouco antes — eu estou gelada,. É diferente. 
Zayn encarou a mão de Ariel contra a sua, ainda achando ela muito gelada. Sua mão quente, não aquecia a dela. 
— Deixe de ser bobo — brincou ela, forçando um sorriso e puxou sua mão. 
— E aí, galera! 
Ariel olhou por cima do ombro de Zayn e viu o garoto que quase havia visto sua Adaga quando ela planejou atacar o vulto.
— Oi, Al — disse Zayn, ainda meio desnorteado e só então desviou seu olhar de Ariel.
— Estava procurando vocês mas a garota que eu estava orientando é uma grudenta, não me deixava em paz. Tive que dizer que ia no banheiro. 
Ariel riu baixinho e Zayn deu leves tapinhas nas costas do amigo.
— Al fugindo de garotas? Essa é nova. 
Alfie revirou os olhos e esticou o pescoço para ver Ariel, já que Zayn tapava sua visão.
— E aí, menina-perdida-da-festa. 
— Olá. 
Ariel desviou sua atenção de Zayn e Alfie que conversavam animadamente sobre algum jogo de basquete no final de semana e começou a prestar atenção nas pessoas ao seu redor. A sensação de que algo estava para acontecer tomou conta de seu corpo, lhe causando calafrios e uma sensação esquisita no estômago. 
Sobre o ombro de Zayn, o vulto estava agitado, entregando a Ariel aquilo que ela já sabia, Zayn estava em perigo novamente e seja lá o que fosse acontecer, seria no colégio.