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História Love and Darkness (Em revisão e hiatus) - Norfolk - Casa de campo - 2 de 3


Escrita por: AfroLilith

Notas do Autor


Amores, eu juro que tentei manter o capítulo inteiro dessa vez, mas infelizmente não deu!

Sendo assim o capítulo anterior que teria duas partes, agora terá três. Sorry, mas ao ver o tamanho deste que estou postando agora vocês entenderão que era impossível não dividir em três partes. Então é isso... a próxima atualização será fechamento do capitulo, blz?

Sugiro que ouçam a versão de "Who are You" que deixarei linkada no início do capítulo.

Capítulo 36 - Norfolk - Casa de campo - 2 de 3


Fanfic / Fanfiction Love and Darkness (Em revisão e hiatus) - Norfolk - Casa de campo - 2 de 3

POV CAMILA


– É muito lindo, Dinah, e... enorme. – Após nossa tensa conversa na biblioteca decidimos dar uma volta pela linda propriedade que pertenceu a dona Angélica Morgado, avó de Lauren.

– Dona Angélica amava este lugar. Ela vinha sempre que necessitava respirar um pouco de tranquilidade e descansar a mente. Dizia que aqui era onde ela encontrava paz de espírito e força para continuar sua luta, que era restaurar o que sobrou de sua família. – Disse-me enquanto sentávamos próximas a linda piscina natural.



Quando Dinah sugeriu que eu viesse para cá, imaginei que fosse uma pequena casa de campo.
De fato é um local perfeito para se fugir do vai e vem de uma metrópole como Boston, mas a casa de campo em si, está longe de ser pequena e modesta. Trata-se de uma casa rústica, de dois pisos. Construída à beira de um lindo lago cercado por um bosque. Seu revestimento em madeira e pedras talhadas, dá a ela o charme de uma bela casa de campo, mas está longe de ser uma pequena propriedade. São três casas, sendo uma a principal, que é onde estou. Há uma piscina natural enorme, com plantas aquáticas decorando a borda. De tirar o fôlego.




– Sinto como se cada detalhe daqui fosse pensado com muito carinho...

– Sim, Angélica de fato era apaixonada por essa casa. Acredito até que planejava morar aqui depois que passasse para Lauren o controle das empresas. Mas infelizmente não viveu o suficiente para ver seu sonho concretizado. – Diz saudosista enquanto seus olhos vagueavam pela bela propriedade.

– E como foi isso? Quer dizer... Ally me contou que ela adoeceu, chegou a ser internada... mas Ally estava tão emocionada que acabamos não aprofundando muito no assunto. Sei que ela já estava doente, mas decidiu não revelar à neta para poupá-la. É isso?

– Hum, sim. Fui a primeira pessoa a saber, e depois Ally. Ela pediu que não contássemos à Lauren. Ela não queria que a neta soubesse que sua avó, única parente próxima ainda viva, estava com um câncer agressivo no pâncreas. Passou por todos os exames e os diagnósticos eram sempre categóricos. Sem cura.

– Nossa!

– Sim... – Diz entre suspiros. – … deram a ela apenas seis meses de vida, mas a velha era teimosa... superando todas as expectativas ainda viveu por dois anos e com uma boa qualidade de vida, pois abriu mão do tratamento que seria apenas um paliativo, já que não havia como se curar.

– Ela não teve complicações por não fazer o tratamento?

– Não. As vezes ela tinha dores agudas, mas então recorria aos cuidados do seu velho amigo, o Dr. Peter L. Slavin, presidente do Mass General Hospital. Ah, e avô da Issartel. Mas essa ultima informação é irrelevante, pois ninguém tem culpa dos parentes que a vida nos dá. – Reviro os olhos ao ouvi-la citar a irritante Keana. Por nada, só que... ela é um ser humano desnecessário. E saber que o laço entre as duas famílias é mais arraigado do que eu imaginava, traz-me um incomodo ainda maior.

– E Lauren nunca desconfiou?

– Ah, Mila... na época era tudo muito mais complicado do que hoje. Lauren estava passando por uma fase muito difícil. As oscilações de personalidades ainda eram bem descontroladas. Então... digamos que essa Lauren que conhecemos sequer existia. É complicado explicar... penso que somente a doutora Elisabeth conseguirá explicar melhor o que digo. E a propósito... remarquei para amanhã sua conversa com ela. – Balancei a cabeça em concordância, pois estava mais do que na hora de ter essa conversa com a doutora Elisabeth. – Mas sim... Lauren só ficou sabendo quando sua avó foi para a ultima e fatídica internação. E posso te dizer que sua reação colocou em xeque se ter escondido dela a verdade foi ou não a melhor solução. Ela se fechou ainda mais. E como disse, se recusou a comparecer no velório. Apenas pediu que a avó fosse cremada assim como os seus pais. Fez as malas e sumiu por um bom tempo. Ninguém sabia onde ela estava. E até hoje é um mistério. Voltou como se nada tivesse acontecido.

– Ela não fala sobre?

– Sobre a morte da avó? Raramente. E mesmo assim quando o faz, faz de forma muito superficial. – Soava tão estranho pensar Lauren reagindo dessa forma fria e impessoal à morte da própria avó... a Lauren que eu conheço é sempre tão sensível... fico imaginando quanta dor deve ter guardada dentro de si, para desencadear reações tão extremadas nela, a um simples lampejo de confronto.

– Ela foge de tudo que causa dor, né?

– Uhum... – Dinah volta seus olhos aos meus e só então percebo o quão emocionada ela está. A mesma dor que vi nos olhos da Allyson quando conversamos no borboletário. A sensação que me passa ao pensar na dedicação dessas duas, é de que cada uma ajuda a carregar um pouco deste fardo. Não que elas vejam Lauren como um fardo, mas sim a dor que ela carrega... esta sim é um enorme e pesado fardo. Se isto não é o que chamam de amizade, eu não sei o que seja. Pois embora tenham com Lauren um forte vínculo profissional, são acima de tudo amigas, e essa amizade parece ser mais valiosa para elas do que qualquer outro vínculo.

– Deve ser por isso que ela não volta mais aqui... esse lugar deve lembrar muito a avó. – Digo, refletindo sobre tudo o que Dinah me disse até então.

– Com certeza. Fiquei muito surpresa quando ela escolheu a mansão Morgado para morar lá em Londres quando se casou com você. Não sei o que passou na cabeça dela... talvez entre morar na mansão Jauregui onde aconteceu a tragédia, ou morar na mansão Morgado, ela tenha escolhido a única que não traria lembranças ainda piores. Se for isso, ainda assim acho estranho, pois, ela poderia ter comprado outra propriedade.

– Bom, se você que a conhece há mais tempo não consegue entender...

– Hum... não pense assim... no começo realmente não é tarefa fácil, mas aos poucos vamos conseguindo compreender como funciona essa coisa de múltiplas personalidades. Tem muita coisa que aconteceu quando Lauren decidiu se mudar para Londres que eu não sei. Allyson poderia saber, pois estava lá, mas... eu amo a Ally, porém essa forte ligação que ela tem com a Lauren as vezes não deixa ela perceber algumas coisas que acontecem. – Diz, demonstrando um certo descontentamento. Desde que conheci Dinah percebo que ela sempre se mostra como a mais firme das duas. Allyson, embora demonstre saber lidar muito bem com a Lauren, por vezes me passa a impressão de ser mais cautelosa. Entretanto, chama bastante a minha atenção perceber que Lauren demonstra aceitar muito mais o que Dinah diz do que o que Allyson diz. Não que ela despreze os cuidados de Allyson... não mesmo! Desde o início notei que a baixinha tem bastante voz ativa com ela, mas... o pulso firme de Dinah parece surtir mais efeito. Tanto com Lauren, quanto com a inominável.

– Fico me perguntando se Lauren tem noção do quanto é amada... as vezes eu penso que não, pois ela vive como se estivesse sozinha no mundo. Mas ela tem você, tem a Ally, tem Normani, a Vero, e tem a Dorothy que, meu Deus... morre de saudades dela e está aqui, de braços abertos, a espera da sua menina ingrata.

– E tem você também... – Diz sorrindo para mim, que retribuo um pouco envergonhada. – Mila, a mente da Lauren está entre dois mundos. Não! Na verdade eu diria mais... a mente dela está em vários mundos e todos colidindo. Ela foge da dor, e essa fuga faz ela deixar pessoas pelo caminho. Ela ama Dorothy, e sempre pede para que eu procure saber como ela está. Lauren já a convidou para morar com ela, mas de certo modo, Dorothy também vive presa no passado. Ela ama este lugar, pois Angélica não era somente patroa dela. Elas eram amigas, confidentes. Se gostavam tanto que por um bom tempo cheguei a cogitar a hipótese deste sentimento ser bem mais que de amigas. – Igual Allyson com Lauren... Pensei, mas não falei. Tenho muitas coisas para pensar, organizar dentro de mim, e ficar remoendo mais problemas não ajudará em nada. – Estou vendo essa cara que você está fazendo e posso até adivinhar o que passou nessa cabecinha... – Será que minha cara condenou tanto assim? – … posso te garantir que não, Mila. Não é igual a relação da Ally com a Lauren. Não é igual ao que Ally sente por Lauren, ou vice-versa. – Céus, preciso aprender a disfarçar... – Tire isso da sua cabecinha.

– Não pensei nada, Dinah. Você é que está imaginando coisas.

– Uhum... certo...

– Além do quê... não seria nenhum absurdo...

– Mila...

– Ally é bem bonita, e Lauren... nossa!!! Quem resiste àqueles olhos verdes?

– Uhum...

– E ela nem precisava ter aqueles lindos olhos verdes pra ser um escândalo de linda.

– Uhum...

– Mas não... quis Deus brincar de fazer uma obra de arte...

– Certo... agora você pode limpar a baba. – Diz rindo em deboche, fazendo-me revirar os olhos e mostrar-lhe a língua. Okay... nada maduro de minha parte, mas a maior ama uma provocação e eu caio fácil.

– Pare, Dinah! O que eu quero dizer é...

– Não, Mila! Escute bem de uma vez por todas. Allyson ama a Lauren, mas como uma irmã. Ambas são filhas únicas e foram criadas praticamente juntas. Passaram pelo inferno juntas e sofreram juntas. Todo este sofrimento criou em Ally uma espécie de sentimento de proteção com Lauren. Dona Angélica se preocupava bastante com a baixinha, mas pouco pôde fazer quanto a isso, pois notou que ela sofreria ainda mais caso não a deixasse perto da Lauren ajudando-a. Não ouse invejar essa relação, pois de certo modo é bastante doentia. E ninguém merece viver atrelado em uma relação de tanta dependência assim. Nem relação de amizade, muito menos romântica. E era por isso que dona Angélica se preocupava tanto com a pequena. Ally também teve lá suas complicações emocionais por ter vivenciado aquela maldita tragédia. – Suas palavras entraram como tapas bem dolorosos. Mas, fiz por merecer o belo puxão de orelha. Em momento algum eu pensei na relação de Ally com a Lauren por essa ótica. Invejei sim o grau de intimidade entre as duas e me sinto envergonhada, pois como Dinah bem disse... se formos olhar com mais tato, de fato não é uma relação muito saudável.

– No fundo eu sinto que essa desconfiança...

– Ciumes.

– Pare, Dinah!

– Vamos, admita.

– Ah, pare! Não é ciumes.

– Vou te dizer o que eu sempre digo à Lauren... A única forma de enfrentarmos o que sentimos é reconhecendo o que sentimos. Acho que você mais do que ninguém já sabe disso, pois ao admitir que estava apaixonada por Lauren sentiu necessidade de se afastar um pouco para poder pensar melhor sobre ela, sobre você, e sobre o rumo que irão tomar nessa relação. Estou errada? – Deus, ela vai continuar me repreendendo?

– Não, não está. – Seu olhar severo obrigou-me a admitir. – Okay... admito que sinto ciumes. Mas ao mesmo tempo acho tolice sentir. Droga, Ally foi quem estava lá quando mais precisei. – Me sentia mal com minhas desconfianças e estúpida. – Não mediu esforços para me ajudar, e se colocou disposta a enfrentar a amiga caso fosse preciso. Então... no fundo eu sei que estou sendo infantil.

– Você é tão madura...

– Oi???

– Sim!

– Acabo de admitir meu ridículo ciumes da relação de Ally com a Lauren e você diz que sou madura? – A olhei incrédula... só podia ser deboche da maior.

– Uhum! No seu lugar eu não conseguiria separar as coisas assim, muito menos admitir que o que sinto não tem fundamento. – Fico em silêncio observando suas expressões para ver se encontrava algum sinal de ironia, mas Dinah sustentou seu olhar, enfatizando o que dissera.

– Ah, não sei... talvez seja o carinho que tenho pela Allyson. Aquela pequena me conquistou com seu jeito meigo, discreto, palavras sempre pontuais, e bondade. Não tem como não gostar dela.

– Ah, isso é verdade. A baixinha merece um altar.

– Santa Allyson. – Dissemos uníssonas, rindo muito do apelido que demos à pequena. Dorothy apareceu cantarolando uma canção antiga, enquanto carregava nas mãos uma bandeja contendo a ambrosia que havia nos preparado. Dinah correu para ajudá-la com a bandeja. E a cena das duas discutindo sobre o fato de Dorothy sempre ignorar que tem mais empregados na casa para fazer tais serviços foi cômica. Parecia discussão de vó com neta. E era óbvio que Dorothy acabou ganhando a discussão. Na verdade Dinah deixou a velha senhora ganhar, pois brigar com Dorothy é um verdadeiro pecado, além de perda de tempo, pois se tem uma coisa que eu já havia percebido era de que... ela sempre faria o que desse na telha.



***



Depois de Dinah parar de atormentar Dorothy com seus papos e conselhos desconcertantes sobre relacionamentos e a importância de se manter vida sexual depois do sessenta anos, Dorothy se despediu de nós para levar ambrosia aos motoristas e seguranças. Ela só ficava satisfeita quando via todos bem alimentados, e ai de quem não comesse dos seus quitutes... a cena dela perseguindo Lauren para fazê-la comer veio na minha mente, fazendo-me rir dessa provável situação.


– Angélica era uma mulher muito forte e digna, né? – Disse levando uma colherada daquele doce divino à boca. – Soa impossível não admirá-la, mesmo não a tendo conhecido. É estranho imaginar que durante muito tempo nossas famílias eram muito próximas e do nada simplesmente essa ligação se desfez... As voltas que a vida dá. Fico pensando no porquê de ter sido assim, e não encontro respostas. Tudo poderia ter sido diferente... eu e Lauren poderíamos ter nos apaixonado de um jeito menos... estranho? Será que teríamos nos apaixonado? Angélica teria aprovado a nossa relação? Será que ela ia gostar de mim?

– Hum... – Diz revirando os olhos e soltando suspiros, maravilhada com o doce – ...tudo tem um porquê, mas nem todos os porquês são conhecidos.

– Não entendi, filosofa. Explique-me, por favor?

– Engraçadinha... não estou filosofando... talvez um pouco. Bom, mas o que eu quis dizer é quê, Não acredito no acaso. Apenas chamamos de acaso por falta de compreensão, mas tudo tem sua origem, seu significado, sua razão de existir, seus porquês. Nós estarmos aqui, juntas, tem sua origem. Ou seja... um evento que colocou nossas vidas na mesma rota. Mas não dá para simplesmente dizermos que a origem de nossas vidas terem de certo modo se interligado, seja por este, ou por aquele determinado acontecimento. Pois tais acontecimentos também estavam interligados à tantos outros que jamais serão conhecidos por nós. – Fiquei surpresa ao notar que de certo modo pensamos igual sobre tal questão.

– Ah, você está falando da teoria do caos, popularmente chamada de efeito borboleta, né?

– Exatamente.

– Dinah Jane Hansen... além de advogada e superamiga, ainda é filosofa e apreciadora dos teóricos das exatas? Hummm... – Digo em provocação.

– Muito engraçadinha você! – Reteso ao vê-la ameaçar me bater com a colher, fazendo-a rir. – Estou perdida, sabia? Você e Lauren são iguaizinhas até na zombaria... Pois saiba que foi ela quem me veio com essa ideia toda de Teoria do Caos.

– Sério?

– Uhum! A diferença é que, quando aquela cabeça dura viu que nossas ideias quanto ao tema eram bem parecidas, tentou me explicar com cálculos matemáticos. Eu me irritei, pois não entendi nada. – Eu ri alto ao imaginar as duas debatendo uma teoria tão complexa. Presenciar essas duas discutindo qualquer coisa com certeza deve ser tenso e ao mesmo tempo divertido.

– Ah, embora eu acredite na teoria do caos, meu entendimento quanto ao assunto não passa de pura filosofia popular. Li sobre o tema, mas pensar em termos matemáticos não é comigo.

– Só digo uma coisa... vá se acostumando, pois aquela ali vive com a mente voltada para a física e a astrofísica. Vá treinando a sua paciência, pois quando ela começa a citar as incríveis descobertas científicas, é preciso ter muita paciência sobrando. Eu não tenho.

– Ai, Dinah! Não seja tão má. Tenho certeza que irei adorar conhecer essa faceta nerd dela. – Dinah revira os olhos para o que digo, simulando nojo.

– Boa sorte! Quando nos conhecemos gastei o meu estoque de paciência ouvindo os papos nerds dela. Cheguei a desconfiar que ela estava me testando pra ver até quando eu suportaria. Mas, ela não contava com o meu incrível poder de resistência. – Diz arqueando a sobrancelha divertidamente.

– E foi assim que você se tornou uma super-amiga? – Digo em provocação.

– Super-amiga? Tipo, super-heroína?

– Aham! Com um super poder de resistência. – Arqueio a sobrancelha imitando seu gesto anterior, arrancando risos da maior.

– Meu Deus, Mila! Onde você tira essas coisas???

– Ah, vamos lá, Dinah! Conte-me a história de amizade de vocês, ham?

– Mas você já sabe, Mila! Dona Angélica me contratou para ser uma espécie de consultora jurídica. Meu papel era ajudar a neta dela no aprendizado, já que ela estava sendo preparada para substituir a avó como CEO da M&J Company.

Play Musica: Who are You ( Fifth Harmony ) Versão Instrumental
Link>  https://www.youtube.com/watch?v=mzxIcwu88Qc


– Hum... sim, essa parte eu sei. Quero saber como você se tornou super-amiga dela. – De repente o clima que até então estava sendo super descontraído foi se tornando tenso. Embora Dinah mantivesse um cativante sorriso nos lábios, seus olhos escrutinavam-me em silêncio, com bastante seriedade.

– Eu poderia dizer que foi com a convivência, mas sinto que a resposta seria insuficiente para sanar a sua curiosidade... – Disse-me ao romper o silêncio. Seus olhos permaneciam sérios, como se avaliassem bem as minhas expressões. De fato, o que ela disse é a mais pura verdade. Não me convenceria ouvir dela uma explicação tão simplista. Mas Dinah Jane é muito inteligente, e eu sabia que qualquer informação que conseguisse extrair dela, não seria por mérito meu, e sim por ela ter decidido compartilhar. Então sorri permanecendo em silêncio, aguardando que ela prosseguisse. – Angélica Morgado, a avó de Lauren foi a grande responsável. Sua luta me inspirou e continua me inspirando até hoje.

– Com a Lauren? – Indago.

– Hum... não só... – Ainda me parecia bastante vago. Já estava mais que claro para mim, o quão incrível era dona Angélica. Aliás, a família de Lauren parecia um celeiro de pessoas incríveis que, infelizmente eu nunca poderei conhecer. Mas essa devoção de Dinah pela senhora Morgado sempre me parece pouco explicada. Dinah novamente ficou em silêncio. Dessa vez parecia escolher bem o que dizer. Decidi que o melhor era não pressioná-la. Então a vi soltar o ar em um suspiro profundo. – … Angélica era uma mulher incrível. Mesmo que eu te diga isso mil vezes, ainda será pouco perante a grandeza que aquela mulher representava. Se fosse somente a forma com que ela tratava seus funcionários já seria de se prestar grandes homenagens àquela mulher, pois no mundo corporativo são raros, pra não dizer praticamente inexistentes, aqueles que tratam com dignidade os que dependem deles para o seu próprio sustento. E ela era assim... firme, mas justa. Nunca aceitava menos das pessoas, mas não cobrava além do que pudessem render. Durante sua gestão a M&J Company comemorava não ter processos trabalhistas, e eu estou falando de um conglomerado de indústrias com sedes em três continentes. Ela sentava para negociar com os sindicatos, falava diretamente com os funcionários nas assembleias, sempre mantinha um canal direto de comunicação com os seus funcionários. Fazia visitas surpresas nos refeitórios e comia junto dos operários. Só para avaliar a qualidade do que era servido. Era chamada carinhosamente pelos funcionários de “mãe”. E ela queria muito passar esse legado para a neta. E embora o transtorno limitasse bastante a neta, dona Angélica sempre acreditou no seu potencial. E eu entrei para fazer parte desse time que prepararia sua neta para substituí-la. Mas como eu disse, dona Angélica era bem mais que isso... Aquela mulher parecia ter sido tocada por algum ser divino. Só algo assim poderia explicar o senso de justiça daquela mulher.

– Como assim? – Ouvir os seus relatos sobre aquela senhora, fazia-me lamentar cada vez mais não poder ter a chance de um dia conhecê-la, e ao mesmo tempo deixava-me ainda mais desejosa em conhecer mais da história dessa incrível mulher.

– Você conhece bem a história de dor que ela passou com o assassinato do filho e da nora. A luta dela com a neta e o transtorno que Lauren desenvolveu por conta do trauma causado pela morte dos pais.

– Uhum...

– O que você não sabe, e praticamente ninguém sabe, é da luta dela para ajudar o homem que foi condenado como culpado pelo assassinato do seu filho e de sua nora.

– Como assim? Ajudar o homem??? Espera! Eu pensei que o caso tinha sido arquivado.

– Parte dele foi arquivado. – Sentia minha cabeça girar com essa informação. – As investigações foram bastante controversas e muito mal feitas, pois a pressão que os investigadores sofreram colocou tudo a perder. A imprensa não dava paz, e a opinião pública exigia respostas imediatas. Então fizeram muita merda. Foi ficando cada vez mais insano e até surreal. Muitas pessoas foram acusadas injustamente. – A medida que Dinah ia contando sentia seu semblante sempre leve se tornando cada vez mais duro. Porém seus gestos permaneciam polidos, e sua voz bastante serena. – Imagine... no meio disso tudo ainda tinha a Lauren para ser protegida por ela.

– Nossa!!! Eu não consigo imaginar essa loucura toda, muito menos tudo o que essa mulher precisou fazer para cuidar de si, de sua única neta e ainda de tantas outras pessoas. É demais imaginar um ser humano ser obrigado a passar por algo assim. É realmente surreal e insano, Dinah!

– Eu sei... anos convivendo com dona Angélica, ouvindo seus relatos nunca foram suficientes para que eu pudesse sequer mensurar o quão insano foi para ela ter vivido tudo isso. Os pais da Ally tiveram suas vidas revidas do avesso. Se não fosse o suporte jurídico de dona Angélica provavelmente teriam sido presos injustamente, pois tudo o que importava para a equipe de investigação naquela época era se livrar da pressão da imprensa e da opinião pública.

– Mas se me lembro bem, Allyson me disse que seus pais nem estavam na mansão.

– Pois é, mas os investigadores insistiam que o álibi deles era muito frágil. Era dia de folga dos pais da Ally, então eles foram para Rye visitar a avó materna da baixinha. Sr. Michael havia prometido levar Lauren e Ally ao cinema, então pediu aos pais da Allyson que a deixassem com eles.

– Qual a dificuldade dos investigadores em cruzar os dados e comprovar que estavam dizendo a verdade, meu Deus? – Era absurdo demais imaginar um caso dessa magnitude ser tão mal investigado. Vidas sendo jogadas no meio desse furacão feito marionetes.

– Absolutamente nenhuma. Tanto é que conseguiram comprovar.

– Mas e então...?

– Então que eles estavam com duas frentes de investigações. – Me mantive em silêncio, pois sentia que essa história era mais intrincada do que eu poderia imaginar. – Uma para descobrir os autores do crime, outra para descobrirem os mandantes. A loucura maior se deu quando começaram a investigar todos os funcionários que mantinham contato direto com a família. Pois, segundo os investigadores, se tivesse sido um crime encomendado, quem quer que tenha encomendado só poderia ser alguém que conhecia bem a família. Dona Angélica também acreditava nessa versão. Bom, dona Angélica acabou conseguindo ajudar os pais da Ally a se livrar dessa acusação infame. Então os investigadores descobriram que 3 meses antes do crime, Michael havia demitido Gordon, gerente do setor financeiro. – Dinah faz uma pausa e respira profundamente. Seus olhos vagueiam pelo ambiente como se buscasse reorganizar os pensamentos. Por fim, seus olhos voltam a focar os meus. – Em seu depoimento, Gordon alegou que sua demissão foi conciliatória. Mostrou a carta de recomendação assinada pelo próprio Michael Jauregui Morgado, confirmando sua versão. Ele havia sido demitido por ter ocorrido vazamento de informações do seu setor. O que acabou deixando o sistema de segurança do setor financeiro vulnerável. Um erro técnico, mas muito sério. Segundo Gordon, ele se sentiu tão mal com seu erro que chegou a pedir demissão. Mas Mike não aceitou que sua saída fosse assim. Propôs até que ele fosse transferido para outro setor. E não era uma atitude de se estranhar, pois Michael era muito parecido com sua mãe no trato com os funcionários... porém, Gordon preferiu sair. Foi então que Michael lhe ofereceu um acordo e uma carta de recomendação pelos anos de serviços prestados. – Ouvia tudo com muita atenção. Por tudo que Dinah havia me dito até então sobre dona Angélica, era compreensível e aceitável sim imaginar que o que o tal ex funcionário disse em seu depoimento fosse a mais pura verdade. – Havia tanta pressão para se prender logo um responsável que Gordon caiu como uma luva para os investigadores. Não tinham conseguido ainda nem prender os autores do crime. Então, eis que Gordon se tornou o principal suspeito de ter encomendado o assassinato do casal Jauregui Morgado. Dona Angélica nunca acreditou nessa versão. Foi a única pessoa que acreditou na sua inocência. Embora seus advogados a aconselhassem a não se envolver diretamente com a defesa do pobre homem, ela não mediu esforços para provar sua inocência. – Vejo um sorriso de admiração brotar nos lábios de Dinah, mas o tom de sua voz denotava um certo lamento e revolta. – Já era muito para ela ter perdido o filho e a nora do jeito que foi. Ver um inocente pagando enquanto o verdadeiro responsável ficava impune era inaceitável. Então, ela contratou outro escritório de advocacia que não tivesse ligação direta com os negócios da família Jauregui Morgado. Com o passar do tempo, viram que as provas contra Gordon eram frágeis, e ele foi inocentado, mas... tarde demais. O homem já havia se matado na prisão. – Levo as mãos a boca, chocada com o que ouço. Meu Deus! Quantas vidas foram arrasadas por essa tragédia??? Quanto sofrimento causado por esses malditos que por ganância, ou seja lá o quê, mergulharam uma família inteira e todos ao seu redor ao completo caos... Quanto mais eu pensava nesta barbárie, mais parecia-me um poço sem fim... Ficamos em silêncio por alguns longos segundos. Dinah estava muito emocionada e não era para menos. Eu mesma sentia uma profunda vontade de chorar. Era pesado demais imaginar que muito provavelmente um inocente se matou por não suportar o peso de uma acusação tão horrível. – Deixou uma carta de despedida agradecendo a senhora Morgado por acreditar nele. – Diz ao romper o silêncio, olhando fixamente para as suas próprias mãos. Sua voz embargada como se lutasse para conter o choro. – Mesmo não sendo responsável por nada do que havia acontecido com aquele pobre homem, dona Angélica não mediu esforços em ajudá-lo... mesmo depois de morto. Cuidou para que sua família recebesse uma espécie de indenização do Estado e deu de sua própria parte uma relevante soma em dinheiro. – Seu olhos que até então permaneciam olhando fixamente para suas próprias mãos, olham-me desolados. As lágrimas já não eram mais contidas. Corriam por seu rosto feito cascata. Sua voz, embora embargada pelo choro, era calma e repleta de dor. – Ela sempre que falava sobre Gordon, dizia que sua ajuda à família daquele homem, foi apenas simbólica, pois dinheiro nenhum no mundo paga por uma vida perdida.

É verdade... dinheiro nenhum tratá Gordon de volta...

…Dinheiro nenhum trará de volta a vida do meu pai. –


Seu pai... seu pai. Tal revelação ecoa dentro de mim, que olho completamente atônita para a filha daquele homem que se matou na prisão por não suportar ser acusado de um crime que não cometera. Era seu pai. Não sei dizer em qual momento meu corpo se libertou do estado de paralisia em que se encontrava, apenas me vi envolvendo-a em meus braços enquanto suas lágrimas eram acompanhadas pelas minhas. Se antes sua forte ligação com a família Jauregui Morgado parecia-me mal explicada, agora já não restam mais lacunas a serem preenchidas. Angélica Morgado não só acreditou na inocência do homem que foi preso acusado de ter sido o mandante do assassinato de seu filho e nora, como o ajudou até após ter se matado na prisão. E Dinah... Dinah Jane Hansen se sente em eterna dívida pela mulher que, contra tudo e contra todos ficou do lado do seu pai.


***




 


Notas Finais


E então bolinhos... enorme o cap, né? Sorry, mas como disse não tinha o que fazer. Próximo será o fechamento deste. Mas me diga... O que estão achando das revelações da DJ?

Será que teremos mais revelações no próximo? haha ... Quero a opinião de vocês.

Não vou perguntar mais nada, pois tô podre de cansada, pois passei o dia todo terminando essa saga. Então... Comentem MUITO!


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