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História Love and Darkness (Em revisão e hiatus) - Bom Dia


Escrita por: AfroLilith

Notas do Autor


Olhem só quem retornou com atualização??? Sim, sim, sim! Euzinha *-* kk

Amores, antes de mais nada quero agradecer todo apoio, carinho e compreensão de todx vocês!
Foram inúmeras mensagens incríveis. Confesso que derramei algumas lágrimas ao lê-las.
Peço desculpas aos que por ventura não receberam a minha resposta... juro que tentei responder a todx, entretanto tornou-se humanamente impossível dado o volume de mensagens enviadas tanto aqui quanto no twitter.

Só posso agradecer de coração e garanti-los que SIM! a fic continuará. Não só ela, mas outras novas virão em breve.

Bom, é isso! Agora bora falar rapidinho sobre o capítulo que se seguirá... está enorme para compensar as semanas sem postagens. kk... Tem vários POVs de variados personagens, então... acomodem-se, relaxem, e gozem... de uma boa leitura, claro. *-* kk

Comentem, pois amo lê-los e respondê-los!

Erros ajeito depois.

bjkas

Capítulo 55 - Bom Dia


Fanfic / Fanfiction Love and Darkness (Em revisão e hiatus) - Bom Dia


 POV ALLYSON BROOKE

Guadalajara, México.


"A Vida é uma peça de teatro que não permite ensaios... Por isso, cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento de sua vida... Antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."




Duas semanas confinada num quarto de hotel podem nos servir para muitas análises existenciais. O ser humano pode se surpreender genuinamente com as tantas descobertas trazidas por momentos de pura reflexão. Não que eu me mantenha em cárcere, privada de contato humano. Nem uma coisa nem outra.

As entradas e saídas dos competentes agentes contratados exclusivamente para esta missão exemplificam bem o quanto têm sido bastante agitado para uma pessoa que até então seguia uma rotina bastante burocrática e de certo ponto servil, afinal de contas é o que se espera de uma boa secretária executiva, certo?

Eu poderia simplesmente culpar o meu trabalho e dizer que ele é o responsável por ter arrastado a minha vida para este incomodo mecanicismo onde a previsibilidade moldou-se como uma espécie de característica pessoal minha.

Previsível.

Com seu eterno bom humor, Dinah sempre tentou cutucar-me para que eu pudesse enxergar o quanto tudo em minhas ações soava demasiadamente previsível. Eu naturalizava sua inocente implicância e não me permitia tê-la como algo a ser levado em conta, por erroneamente tecer comparações que me fizessem olhar para ela, Dinah...

… nunca para mim.

Se torna mais fácil fugirmos de encarar nossas atitudes e assim aceitá-las como certas quando insistimos em compará-las com as atitudes dos outros. Era mais fácil pensar que as cutucadas da minha querida amiga eram somente a estranheza de uma pessoa que vivia a vida como se não houvesse um amanhã. Para pessoas iguais a Dinah, ter sua vida toda planejada é algo insosso.

Tedioso.

Somos o oposto uma da outra. O que sempre tornou nosso laço de amizade ainda mais forte. Ter alguém como Dinah em minha vida é como ter todos os dias um motivo para sorrir mesmo nos dias mais difíceis, com cargas pesadas de compromissos burocráticos. Não atoa ela sempre repetir a célebre frase de Charlie Chaplin: 
“A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.”

Olhar para Dinah sempre me foi uma agradável distração, pois no fundo ela sempre representou tudo aquilo que eu julgava não poder ser. E não há nada de errado em tal percepção, pois de fato, não podemos ser uma cópia de outra pessoa. Nossas vivências se encarregam de nos moldar assim, tão ímpares. Mas ao nos permitirmos momentos de autorreflexão, compreendemos que, aquilo que mais admiramos no outro, pode ser aquilo que os nossos medos não nos permitem viver.

Viver em função da alegria do outro é não viver sua própria alegria. É preciso ter cuidado com o espelho, pois nem sempre ele reflete a melhor imagem do que somos. Mas evitá-lo é não permitir conhecer todas as nossas facetas.

E agora, neste luxuoso quarto de hotel, enquanto confiro o look que escolhi para acompanhar junto ao agente Will o próximo passo que será dado quanto ao nosso “Fujão”, permito-me contemplar a minha pequena figura através do amplo espelho...

… Vejo uma mulher no auge dos seus quase vinte e sete anos de idade. Suas formas não são espetaculares, mas agradam aos meus olhos, arrancando de mim um sorriso satisfeito. Pela primeira vez.



Caminho para fora do quarto onde me encontro hospedada, pondo-me a caminhar pelo corredor do último andar reservado para a nossa opulenta, porém discreta comitiva. Dois dos nossos seguranças escoltam-me até o elevador privativo.

Entro sozinha na caixa de aço repleta de espelhos em suas paredes e aproveito o momento para mais uma vez entregar-me a vaidade dando uma última conferida no vestido escolhido para a ocasião; um tule com estampa em folhagem, tendo suas mangas caídas nos ombros, enquanto o leve tecido abraça o meu corpo acentuando as partes mais sensuais de minha silhueta em uma perfeita combinação de discrição e sensualidade.

Nos pés a sandália preta com aplicação de cristais e de salto mediano da sofisticada marca italiana Jimmy Choo, completa o look. Meus cabelos presos em um alto e bem alinhado rabo de cavalo fora o penteado que pareceu-me mais adequado a garantir-me frescor. Procurei não carregar muito na maquiagem para não destoar do clima de verão intenso que se faz em Guadalajara mesmo em horários noturnos. É uma bela cidade, porém muito quente... ainda mais para pessoas acostumadas com o clima gélido de Londres.

O nosso compromisso com o “Fujão” ocorrerá no início da madrugada, o que me garantirá tempo suficiente para desfrutar desta que será a minha última e mais importante noite em terra mexicana, já que prometi a preocupada Dinah Jane que retornaria à Inglaterra assim que conseguíssemos extrair do nosso homem todas as respostas que ele guarda consigo por muitos anos. E promessa do agente Will é de que Carlos Evans cuspirá todos os segredos que guarda antes mesmo do sol nascer.

Sendo assim, acabei aceitando o seu convite para jantarmos no que ele chamou de seu restaurante favorito em Guadalajara. Não vou mentir... adorei a encantadora sugestão do agente.

Trata-se de uma bela oportunidade para apreciar as iguarias locais para além dos restaurantes do hotel, e, desfrutar da bela companhia masculina do sempre educado agente, enquanto conversamos um pouco mais sobre os próximos passos a serem dados nas investigações.


— Boa noite senhorita, Brooke! — Cumprimenta-me John, motorista designado a levar-me em segurança aos lugares em Guadalajara. Algo que até então fora bastante restrito à alguns cafés e lojas próximas ao hotel.

— Ótima noite, John! — Cumprimento-o entre sorrisos assim que o gentil chofer abre a porta traseira do automóvel para acomodar-me.
De fato me encontrava feliz por finalmente ter a chance de ir além dos arredores. Era lastimável estar na belíssima Guadalajara e não poder aproveitá-la minimamente, e o pouco que já havíamos nos deslocado até então era mais que suficiente para mostrar-me o quão encantadora a diversidade cultural latina consegue ser.




***



Desde a nossa chegada tive poucas oportunidades para conhecer um pouco mais da cultura local. Parte por estar muito focada em contribuir para que a missão seja um sucesso, parte por cuidados com a minha própria segurança.

Como bem explicado pelo agente Will, uma equipe de investigações precisa estar ciente que; quem investiga não está imune de ser investigado. No nosso caso, os cuidados precisam ser ainda mais redobrados, visto que agimos dentro do território mexicano como uma espécie de “poder paralelo”. Ou seja... ilícito já que não temos qualquer autorização oficial do governo mexicano para agirmos como uma espécie de força policial.

E é exatamente tudo o que estamos fazendo desde que pisamos em solo mexicano.


Lembra quando disse que não temos autorização oficial? Então... sem autorização oficial o jeito é obter autorização extra-oficial. Ah, sim! Um bom bocado de dólares na “carteira” pode nos garantir vistas grossas em determinadas situações, acesso irrestrito à documentos, e até mesmo um hangar em uma base militar para usarmos como bem quisermos.

Sim, corrupção de agentes públicos.

Não há outro nome, e muito provavelmente tais ações fariam os falecidos Jauregui Morgado se revirarem em suas urnas funerárias. Mas... estávamos cada vez mais próximos de alcançarmos o nosso objetivo e medidas drásticas faziam-se necessárias àquela altura do jogo.

Ao longo dessas semanas tenho feito contatos dentro da corporação policial e judiciária de Guadalajara. Alguns até mesmo fora da bela cidade mexicana onde decidimos montar o nosso centro de operações. Compramos a nossa liberdade para agir em solo mexicano despejando alguns milhares de dólares em cada órgão pertencente aos governos; municipal, estadual, e federal.


E a Dinah “chorando” por míseros meio milhão de dólares... aquilo fora somente para darmos o pontapé inicial. Mas no fundo a grandalhona sabia que seria necessário escancarar o cofre para nos certificarmos de que poderíamos entrar sem sermos notados, e o mais importante ainda... sairmos como se nunca tivéssemos pisado em solo mexicano.

Ah! Engana-se quem pensa que a corrupção é uma prática exclusiva dos países latino-americanos...

Para que pudéssemos chegar aqui sem sermos notados obviamente que se fez necessário embarcarmos em um voo “inexistente” da Inglaterra para cá. Ou seja... alguém precisou cuidar para que o setor de tráfego aéreo ignorasse a presença do nosso jato particular no espaço aéreo britânico, outro alguém cuidou para que as câmeras de segurança do aeroporto não fizessem o nosso registro, e por aí vai...

Tivemos de cuidar até mesmo do nosso próprio “quintal”.

Para todos os efeitos, Allyson Brooke, secretária executiva da magnata Lauren Jauregui, mantém-se ativa em suas funções na Anglo American PLC, sem nunca ter retirado seus pés do solo britânico.


Normani Kordei cuidou para que meu cartão de acesso “milagrosamente” continuasse registrando as minhas horas trabalhadas.

De fato... tenho trabalhado como nunca.

Ah, não me orgulho de estar me envolvendo em práticas pouco éticas, sendo muitas até mesmo ilícitas. Tampouco me arrependo de embarcar nessa missão à la James Bond.


Decidi apenas permitir-me, pela primeira vez, viver a vida intensamente.



— Chegamos, senhorita! — Comunicou-me John. Sorri, surpresa ao ter a porta do carro sendo gentilmente aberta pelo agente Will que já aguardava na sofisticada entrada do restaurante La Tequila.

Não pude deixar de reparar no quanto o meu acompanhante mostrava ser um belíssimo homem sem os ternos formais do dia à dia. Não que homens trajando ternos executivos sejam pouco atraentes aos meus olhos, mas conviver diariamente com tantos homens vestindo trajes tão formais os tornam como cópias não tendo muito que os difiram.

Era gratificante poder ver o agente Will vestido tão à vontade. O homem alto e loiro se mostrava um verdadeiro colírio para os olhos usando uma simples camisa social na cor azul claro com seu colarinho e mais dois botões abertos, além das mangas estarem dobradas.

A calça jeans com alguns poucos rasgados, apertada o suficiente para expor os músculos bem definidos das coxas do agente, era sem dúvida um complemento perfeito ao look pouco formal escolhido por ele.


— Boa noite, srta. Allyson! — Cumprimenta-me o agente com um brilhante sorriso enquanto seus olhos azuis pareciam analisar-me em detalhes. O que me proporcionou uma estranha sensação de frio no estômago e um desejo de sorrir sem limites.

— Boa noite, agente Will!

— Oh, por favor, senhorita... apenas Will, sim? — Sorrio surpresa com sua ousada espontaneidade.

Ao longo desses dias, conviver quase que diariamente com Will acabou nos tornando muito próximos um do outro, visto que o homem está chefiando as investigações e precisa manter-me informada de cada passo a ser dado. E embora por vezes tenhamos sido companhia para o outro em momentos ociosos, Will sempre se mantivera sério e pouco disposto a abrir-se sobre sua vida privada. Sendo assim, pouco sei sobre o homem além de sua fé religiosa, e sua sincera amizade com Martin desde os tempos em que ambos trabalharam para o FBI.

Ah, sim... e que Will é solteiro, embora tenha sido noivo por longos anos de sua ainda primeira namorada. Algo que chamou muito a minha atenção.

Não que fosse uma informação relevante...




— Concordo em deixar a formalidade de lado desde que seja mútuo, Will. — Enfatizo, divertindo-me com o momento descontraído propiciado pelo bom agente.

— Este é um bom acordo, hum?! — Responde-me deixando transparecer um certo divertimento e satisfação ao que ouvira, enquanto apoiava com sutileza a mão em meu ombro para conduzir-me à mesa que nos fora reservada.

Mostrando-se um perfeito cavalheiro, Will puxou-me gentilmente um assento em nossa mesa, pondo-se a sentar-se logo em seguida bem a minha frente, olhando-me com o cenho franzido como se aguardasse por resposta.

Seus olhos são de um azul tão intenso que olhá-los diretamente trazia-me a sensação de um mergulho em águas profundas e cristalinas, fazendo-me remexer inquieta ao ter novamente aquela sensação de calafrios no estômago. Céus! Qual era a pergunta mesmo? Ah, sim...

— Propor bons acordos é um talento do qual me orgulho, Will! — Digo por fim, ainda sentindo-me um pouco desconcertada com aquele sorriso que insistia em não abandonar os lábios do meu acompanhante.

— E o meu é garantir que bons acordos sejam cumpridos, Allyson. — Sussurrou as palavras como se estivesse compartilhando um segredo, deixando escapar um sorriso logo em seguida.

A forma como o meu nome soava em seus lábios era provocativamente diferente e por alguns breves segundos passou por minha cabeça a ideia de que o agente Will estivesse flertando comigo.

Mas logo me recompus, pois era óbvio que o homem estava apenas sendo gentil como sempre fora, certo? Mostrava-se um pouco mais desinibido que o habitual, o que era compreensivo já que estávamos pela primeira vez tendo um encontro menos formal.

Okay... talvez encontro não fosse o termo devido para o que tínhamos dadas as circunstâncias. Não que estar em um encontro com o gentil agente fosse algo inapropriado, visto que o homem é solteiro e eu também sou. Mas não era um encontro, encontro.

Se fosse eu saberia, certo?


Seu convite para um jantar em um restaurante de comidas típicas foi tão e somente um ato de gentileza e sensibilidade por saber que esta será a minha última noite em Guadalajara.

Nada além disto.



Will remexeu em seu assento parecendo muito disposto a tecer mais um de seus comentários provocativos, que fora interrompido pela chegada de um sorridente garçom a nos oferecer as cartas de bebidas e refeições. Seu diálogo com Will deixava transparecer uma certa intimidade entre eles. Por certo o agente tornara-se um assíduo frequentador. Ele mesmo havia dito que o La Tequila era o seu restaurante favorito em Guadalajara. Talvez até mesmo fosse costumeiro vê-lo desfrutando de belas companhias. Algo perfeitamente compreensivo sendo Will um charmoso homem no auge dos seus trinta e cinco anos de idade e solteiro. Era isso... não havia a menor chance de ser a primeira que o agente convidara para algo do tipo, e eu me sentia bem com isso, certo? Afinal de contas, não havia nada em especial em tal convite, e eu não deixaria que prováveis carências afetivas trouxessem-me quaisquer confusões. Certo.

Will sugeriu iguarias pouco apimentadas para que pudéssemos evitar reações indesejadas do meu organismo nada acostumado com fortes temperos. E enquanto o garçom anotava o nosso pedido, sorri agradecendo mentalmente por sua sensível preocupação com o meu frágil paladar.

Já que teríamos uma longa noite de trabalho pela frente, para bebericarmos enquanto aguardávamos o prato príncipal, Will sugeriu que pedíssemos Mojito sem álcool, o que fora prontamente providenciado pelo prestativo garçom.

Will é de fato um homem bastante peculiar. Desses tipos bem raros...





— Uhu... falando em acordo... — Decido entrar logo no assunto principal a ser tratado, tentando assim afastar tais pensamentos inquietantes que insistiam em povoar minha mente. — … alguma chance do nosso homem não colaborar?

— Hum... zero. É claro que esperamos uma certa resistência dele inicialmente, mas... a situação do cara não é nada favorável. O faremos compreender que um acordo para evitar uma deportação será a única saída viável. — Diz confiante.

— Acha mesmo que ele irá nos entregar tudo assim? — Digo avaliativa enquanto o agente sorvia calmamente um pouco de sua bebida. Nada poderia sair dos eixos, pois aquela seria uma cartada definitiva. — Quero que entenda que não estou duvidando de sua competência, nem dos homens comandados por você, Will, mas... Carlos Evans passou muito tempo usando identidade falsa para se esconder. E por tudo o que descobrimos certamente o homem teme não só a justiça como também àqueles que estão por trás de sua fuga. — Will acenou em concordância, em seguida descansou sua taça na mesa e olhou-me compreensivo. Eu precisava ter todas as garantias de que nada sairia fora do planejado. Estávamos arriscando muito ali.

— Não se preocupe! — Disse com um meio sorriso. — Entendo o seu ponto. Mas é como eu disse... não há outra saída para ele. Nós o pegamos e temos informações mais que suficientes para mantê-lo em nossas mãos. — Concordei sentindo-me satisfeita em tê-lo tão confiante. Nunca duvidei de sua capacidade e determinação, mas naquele momento eu precisava sentir bem a temperatura das coisas para ter a minha autoconfiança reforçada. Afinal de contas, de todos ali, eu era um peixe se arriscando em águas desconhecidas. — Deixaremos claro para ele que não há escapatória. Ou aceita um acordo e fica somente com a inevitável condenação por uso de identidade falsa em solo mexicano, ou terá de enfrentar uma deportação para a Inglaterra, que o fará cair direto nas mãos do FBI, e assim tentar explicar o que sabe sobre o assassinato de Enrico Flores. E convenhamos... — Ponderou voltando a bebericar um pouco mais de sua bebida. … convencer o FBI de sua não participação direta ou indireta no brutal assassinato do homem que ele usurpou a identidade não será tarefa fácil... — Acenei em concordância. Ele tinha um ponto, a situação não era nada favorável ao Evans não deixando escolha que não fosse um acordo de cooperação.

— Confesso que ainda me parece surreal tudo o que descobrimos... — Pondero avaliando as circunstâncias. — … quer dizer... viemos atrás de um homem que até então acreditávamos não ter tanto a nos revelar assim a não ser alguma informação interna sobre acontecimentos dentro da Anglo American PLC que pudessem estar implicados no assassinato do casal Jauregui Morgado. Agora nos vemos diante de algo muito maior e tudo graças a um cruzamento de dados.

— Ah, sim, mas... por experiência investigativa te asseguro... reviravoltas em casos assim são bastante comuns. — Replíca calmamente. — Quando Ricky me contatou, solicitando meu envolvimento nas investigações, ao analisar o caso não tive dúvidas de que não havia a menor possibilidade de ter sido um assalto com desfecho trágico. — Pondera com um franzir de cenho. — Homens fortemente armados entram na mansão de um magnata tão importante sem a menor dificuldade, rendem e depois matam todos os agregados, incluindo boa parte dos seguranças da família, violentam e executam o casal a sangue frio, e depois saem sem levar praticamente nada de valor? — Olha-me com descrença. — Nada se encaixa nessa tese de latrocínio. — Finaliza voltando a sorver de sua bebida. Sim, a tese usada para encerrar o caso sempre soou esdrúxula e causou muita revolta na incansável Angélica Morgado, que acabou morrendo antes de ver os responsáveis pagando pelo crime bárbaro cometido. Muitas vidas foram devastadas sem que uma explicação minimamente aceitável fosse dada, e nós não iriamos poupar esforços para que a justiça fosse feita. Por dona Angélica e principalmente por todas as vítimas diretas e indiretas. Essa missão tornou-se a nossa verdadeira razão de viver. — Perdão... não era a minha intenção lhe trazer tais lembranças. — Comenta pesaroso ao ver-me tão absorta em pensamentos.

— Oh, não se preocupe, Will! São lembranças dolorosas sim, mas... aprendi a lidar, pois não há o que fazer... elas nunca desaparecerão. — Contemporizo, deixando um sorriso triste e lamentoso escapar dos meus lábios. — No fundo tento me convencer de que ver os responsáveis atrás das grades irá colocar um ponto final nisso tudo, mas sei que não, pois nada fará o tempo voltar atrás e mudar o que acontecera.

— Entendo o que quer dizer, mas se me permite...? — Aceno em positivo encorajando-o a prosseguir. — Ter passado por tudo o que você passou e ainda ter forças para lutar por justiça é admirável, Ally. Ninguém poderia condená-la por não se envolver. Na verdade é até esperado que vítimas de uma violência tão brutal queiram manter-se distantes de tudo o que trás tais recordações tão dolorosas. Mas aqui está você, ham?! Lutando para que a justiça seja feita. — Sorrio emocionada com suas palavras. Era a primeira vez que me permitia dividir tais aflições com um alguém fora de minha bolha social. E era também a primeira vez que alguém adjetivava-me de tal maneira. Para muitos Allyson Brooke não passa de uma competente secretária executiva. Sempre pronta para atender todas as reivindicações da toda poderosa herdeira Jauregui Morgado. Sempre soube que não era somente isso, entretanto essa era a imagem construída. E enxergar para além das simplificações grotescas requer muita sensibilidade. Will, embora exercendo uma profissão tão criteriosa e por vezes bastante dura, demonstrava cada vez mais transbordar sensibilidade. —Vamos pegá-los, Ally! Todos pagarão, acredite no que digo. E quando isso finalmente acontecer, de fato, Ally... não apagará ou mudará o passado, mas dará a você e a senhora Jauregui a paz necessária para um recomeço. — Sim... um recomeço para todos...

— Obrigada, Will! — Digo entre sorrisos, afastando as nossas mãos para enxugar uma lágrima solitária que insistiu em rolar. Eu queria muito acreditar que ao final de tudo, de fato seria um recomeço para todos...

— O que foi? Ficou tão pensativa...

— Pelo jeito algumas semanas de convivência foram mais que suficientes para aprender a ler bem as minhas expressões, ham?!

— A senhorita é bastante transparente. — Franzo o cenho deixando-o sem graça com o deslise cometido. — Perdão... você. — Sorrio para a sua pronta correção.

— Segundo a Hansen eu sou previsível demais.

— Hum... isso cheira mais como implicância de amiga. — Provoca com um arquear de sobrancelha. — Sou um especialista em analisar pessoas e comportamentos e amparado na minha vasta experiência posso garantir o que digo, hum?!

— Ah, então o senhor agente especial andou me analisando, ham? — Inquiro com humor.

— Okay... me declaro culpado! — Confessou com um revirar de olhos que me fez rir desse comportamento quase juvenil do agente. Me sentia impressionada com o quanto me sentia a vontade estando em sua companhia, e pela primeira vez me peguei pensando no quanto sentiria falta da nossa convivência diária.


Mas nada que é bom dura para sempre...


***


Não demorou muito para que o garçom trouxesse o nosso pedido, servindo-nos com presteza, embora os seus gestos fossem delicados. Sem cerimonialismo degustamos os nossos pratos com bom paladar. A escolha de fato havia sido divina; Filete de pescado chetumal com aspargos e camarões.

Durante o nosso jantar alguns burburinhos chamaram a nossa atenção. Os olhares dos clientes focavam admirados uma outra mesa enquanto punham-se a cochichar. Estranhamos, pois era um comportamento atípico do que se espera em um restaurante como o La Tequila.

Não tardou para que entendêssemos do que tratava-se; a ilustre presença de Thalia, famosa cantora e atriz mexicana era responsável por todo aquele comportado alvoroço. Fazia-se notável os olhares de admiração tanto dos homens quanto das mulheres para a bela e talentosa artista.


Não muito diferente dos demais admiradores me permiti ter os meus segundos de fã, pondo-me a observar a estrela mexicana que continua a brilhar como se o passar do tempo fosse-lhe um mero detalhe. Algumas pessoas de fato parecem sido tocadas pelos deuses...


— Ainda não me disse o que motivara aquela singela ruga de preocupação… — Indaga Will, roubando para si toda a minha atenção. O garçom já havia retirado os nossos pratos e reposto um pouco mais do delicioso coquetel de montijo sem teor alcoólico.

— Hum... é que... bom. A ideia de finalmente podermos colocar as mãos nos responsáveis sempre nos pareceu a forma correta de se honrar o tio Michael, a tia Clara e as demais pessoas que perderam suas vidas em decorrência daquele crime bárbaro... sempre foi o grande desejo de dona Angélica Morgado... honrar os mortos e trazer paz de espírito aos vivos, principalmente à neta, entende? — Desabafo.

— Uhum... e isso acontecerá, Ally.

— Aí que está, Will... será mesmo? Se o “Fujão” confirmar as suspeitas de Martin, teremos uma verdadeira bomba em mãos, e se eu conheço bem a Lauren como penso conhecer, o estrago poderá ser enorme em sua vida. Justo no momento em que ela demonstra estar no controle de tudo, e feliz ao lado da esposa…

— Hum... é um potencial estrago, ham?! Mas tenho certeza de que você estará lá por ela... essa Lauren Jauregui deve ser uma pessoa incrível.

— Porque diz isso?

— Pessoas incríveis atraem pessoas incríveis... — Sorri largo com a sua gentil observação. — Então... preparada? — Era preciso estar



***


Na saída do restaurente alguns flash de luz quase nos cegaram. Observei Will olhar com preocupação para todos os lados e puxar-me pela mão até o nosso carro. Já bem acomodados no interior do veículo pudemos compreender de onde vinham aquelas luzes capazes de cegar uma pessoa. Eram paparazzis se aglomerando na calçada do restaurante em busca de registrar a saída da grande estrela mexicana. Céus! Pelo jeito a mulher é uma espécie de lady Di do México...



***


POV RICKY MARTIN

Norfolk, 23:30h



Na minha profissão não há tempo para descanso.



Essa coisa de chegar em casa depois de um longo dia de trabalho, dar um longo beijo na pessoa amada, depois caminhar até a cozinha, abrir a geladeira e escolher aquela cerveja estupidamente gelada para tomar enquanto assiste a uma partida de futebol, ou qualquer um destes esportes onde um bando de trogloditas correm atrás de uma bola, é pura invencionice de Hollywood. A bem da verdade, nem lembro quando foi a ultima vez que tive a oportunidade de aproveitar a minha confortável casa sem preocupar-me que um telefonema qualquer venha roubar-me o sossego.

Acho que nunca.

Como chefe de segurança eu preciso estar atento 24 horas. Uma jornada definida de trabalho é um luxo ao qual não me cabe. Na teoria, assim como os demais homens aos quais sou responsável diretamente, tenho uma jornada de oito horas diárias de trabalho. Na prática isso se torna inviável, já que sou responsável direto em comandar a equipe tática montada para a segurança da herdeira Jauregui Morgado, e em paralelo, uma outra equipe de investigações, que neste momento encontra-se em Guadalajara, pronta para dar um passo decisivo nas investigações, sob o comando do meu amigo e agente, Will Bracey.

Lembra o que disse sobre tempo para descanso? Pois é... aqui estou eu, analisando pela milésima vez os relatórios referentes a tentativa de emboscada no
Public Garden.

Horas após o “término” do meu turno de trabalho cá estou eu tentando montar esse maldito quebra cabeça, enquanto aguardo pacientemente os desdobramentos da operação em Guadalajara.

— Pelo jeito somente as patroas terão uma boa noite de sono, ham!? Solto uma risada ao ouvir o perspicaz comentário de Jwan ao adentrar em nosso quarto.

— Uma boa noite acredito que sim, mas de sono? — Indago com humor, depositando um beijo em seus lábios. — Duvido muito, meu amor. — Rimos uníssonos, pois era mais do que óbvio que as patroas aproveitariam aquela primeira noite do reencontro fazendo tudo... menos dormir.



— No fim acabou tudo bem.

— Está longe do fim, querido. Digo, soltando um suspiro audível ao comparar as fotos do caso Enrico Flores com as imagens extraídas das câmeras de segurança do Public Garden.

— Hummm... alguém anda muito pessimista.

— Não estou... apenas não vejo como essa história poderá acabar bem. — Solto as fotos sobre a escrivaninha e pego o meu celular decidido a enviar uma mensagem ao agente Will... havia um padrão ali e precisávamos confrontá-los.

— Do que está falando?

— Das duas. — Digo, sem desgrudar os meus olhos da tela do celular, e terminando de enviar a mensagem.

— As patroas?

— Uhum...

— Perdoe-me querido, mas não entendo a sua preocupação.

— Temo que a senhora Jauregui esteja com a razão... — Jwan franze o cenho demonstrando confusão. — … a outra Lauren.

— Hum... você fala pelo que descobriu sobre Enrico Flores?

— Uhum... se for confirmado pelo Carlos Evans, o que obviamente será, a toda poderosa terá uma verdadeira bomba nas mãos, com potencial para abalar e muito essa paz toda.

— Pensando assim faz bastante sentido o que você diz...

— E é somente a pontinha do iceberg... veja! — Mostro a ele as fotos do corpo de Enrico Flores, enviadas por meus amigos do FBI e o vejo arregalar os olhos surpreso. Embora Jwan não seja um especialista em investigações, os anos de convivência nos renderam inevitáveis trocas de conhecimentos. Nosso relacionamento é a melhor definição de perfeita simetria.

— O homem era membro de uma gangue?

— Uhum... mais precisamente a temível Mara Salvatrucha!

— Isso não está cheirando bem, Ricky! — Diz levando as mãos à cabeça, estarrecido.

— Não, não está. Mas calma, pois vai feder ainda mais quando você souber o que descobrimos ao analisarmos as gravações das câmeras de segurança do Public Garden... Digo mostrando duas fotos extraídas das câmeras de segurança. — Então, o que me diz?

— Oh, merda!!!

— Ah, meu caro... isso mesmo. Merda das grandes!

— Espera! Você acha que há uma conexão?

— Sim, pois não acredito em coincidência.

— Hey, calma lá, Ricky! Vamos com calma, está bem? — Esbaforido o vejo caminhar até o pequeno frigobar do nosso quarto e trazendo cervejas para nós. Sorrio para o seu perceptível desespero de momento, pois sei que lidar com revelações tão aterradoras não é o seu forte.

Jwan é um mestre em fugas em alta velocidade. Formou-se como primeiro em sua turma de defesa pessoal voltada para motoristas particulares, além de ser um exímio atirador de elite. Mas lidar com a parte que desmembra e expõe as vísceras de crimes ultrajantes nunca foi o seu ponto forte.

Algo bastante natural quando se pensa em segurança privada de pessoas com tamanho grau de importância. Por isso é importante ter uma equipe formada por especialistas de cada área. É o que chamamos de “ cada macaco no seu galho”. Um agente lotado em uma função que não seja de sua formação é um risco simplesmente inadmissível. — Vamos lá, Ricky... Pondera dando uns goles em sua bebida. — … eles são terríveis, extremamente violentos, mas trata-se de uma gangue de rua, hum?! Lutam por território para vender suas drogas e armas. Imaginá-los por trás da tentativa de sequestro no Public Garden é okay, mas o que você está sugerindo é algo muito diferente.

— Sim, estou sugerindo que a M-13 está envolvida sim no assassinato do casal Jauregui Morgado, e que agora, por algum motivo ainda desconhecido, o alvo deles passou a ser Lauren Jauregui Morgado, a herdeira do casal que muito provavelmente foi executado por membros dessa gangue. — Digo apontando para as fotos em cima da mesa. Não queria assustá-lo, mas eram os fatos e precisaríamos lidar bem com isso.

— Uau!!! Isso é... isso é... insano? Quer dizer... por que a M-13 faria isso? O que eles teriam contra essa família para querer todos mortos? Outra coisa... porque tentar matar a herdeira Jauregui Morgado só agora? Tiveram anos para fazer isso, Ricky. E volto a repetir... não me parece em nada com os métodos utilizados por eles. E você está se esquecendo que o M-13 é uma gangue de Los Angeles que atua na América do Norte e na América Central. Não há qualquer indício de que tenham ramificações na Inglaterra.Sorrio com suas perfeitas indagações e constato que ele ficou realmente bom nisso, mas...

— O corpo de Enrico Flores foi encontrado no Rio Tamisa, Jwan. Ou seja... na Inglaterra. E no mesmo ano e mês que ocorreu o assassinato dos pais da patroa. Está aí a conexão. As tatuagens no corpo dele deixam claro que o homem pertencia à Mara Salvatrucha, e as imagens extraídas das câmeras de segurança do Public Garden comprovam que aqueles homens tem os mesmos tipos de tatuagens. Temos aqui um padrão... não uma coincidência, meu caro! — Finalizo terminando de beber a minha cerveja.

— Sim, você tem total razão. O que faremos então?

— Neste exato momento o “Fujão” está sendo interrogado. Eu queria muito estar lá, mas sei que Will dará conta do serviço muito bem. Enquanto isso precisamos providenciar mais reforços de segurança para o entorno da casa de campo.

— Ah, prepare-se para encarar a fúria da patroa. — Sorrio para o seu debochado comentário.

— Não lidarei com ela, mas sim com a srta. Hansen. Além do mais, a patroa está muito ocupada tendo a sua lua-de-mel, hum?! Duvido que irá notar qualquer coisa que façamos.

— O amor é uma bela distração, ham?!

— Sim... bela, tentadora e... perigosa.



***





POV Narrador

 Guadalajara, México.



— Por aqui, senhorita Brooke. — Will sinaliza para que a secretária executiva siga o seu caminhar através do longo corredor pouco iluminado de um dos galpões pertencentes à base militar de Guadalajara.


Haviam finalmente colocado as mãos em Carlos Evans... o “Fujão.”


Ao chegarem ao final do amplo corredor repleto de portas de aço, Will apressou-se em indicar-lhe a sala em que iriam acompanhar o interrogatório ao qual Carlos Evans estava sendo submetido.

Tratava-se de um ambiente extremamente escuro, com um espelho semitransparente capaz de dar-lhes total visão de tudo o que acontecia na sala ao lado. A sensação de estar praticamente face a face com o homem que poderia levar aos responsáveis pelo assassinato dos pais de sua amiga de infância provocava em Allyson um misto de emoções, e por um instante sentiu todo o corpo tremer em expectativa.


— Tudo bem, senhorita Brooke? — Preocupado, indagou-lhe o atento agente.

— Sim, Will! — Assegurou-lhe com firmeza. Por dentro sentia suas entranhas remoerem em ansiedade. Estava diante do homem que poderia, sem querer, ajudá-los a colocar um ponto final naquela triste jornada, e quem sabe assim, trazer paz ao despedaçado coração de Lauren Jauregui.

Mas para isso a justiça precisaria ser feita. E a única forma seria fazendo Carlos Evans falar o que sabia. E até aquele momento ele parecia pouco disposto a colaborar.

— Já disse que só falo na presença do meu advogado! — O homem bradava nervoso. Por certo tentava inutilmente se agarrar no que considerava uma espécie de fio de esperança. Mal sabendo que o jogo havia terminado para si.

— Compreendemos e desejamos respeitar todos os seus direitos. — Respondeu-lhe calmamente o seu interrogador.


Jason, como chamavam o grandalhão, era considerado o terror dos interrogatórios. Suas práticas consideradas pouco ortodoxas falavam por si. O moreno de pele bronzeada e cicatrizes adquiridas ao longo de sua vasta experiência em guerrilhas odiava ser contrariado e costumava deixar explicitado aos desavisados. Embora fosse perceptível o quanto Evans sentia-se intimidado pelo grandalhão, sua resistência em dar ao homem o que ele queria, era um claro sinal de que não fazia ideia no que estava metido.


Jason puxou uma cadeira e sentou-se calmamente em frente à Evans. Um estalar de dedos fora ouvido fazendo Evans engolir seco, e na sala ao lado, Allyson olhar um pouco assustada para o agente Will que prontificou-se em sorrir para a jovem secretária como se lhe dissesse que ficaria tudo bem.


O rosto de Jason fixou em Evans com uma tal curiosidade que intimidado o homem baixou os olhos.


— A questão aqui senhor, é que não sabemos a quem solicitamos um advogado, pois segundo os documentos portados pelo senhor, estamos diante de Enrico Flores, nascido no México no ano de 1979, filho de pai e mãe guatemalenses. Consta aqui também, senhor, que Enrico Flores foi encontrado morto em junho de 2004, mais precisamente em Londres. Um pouco longe de casa, já que o homem residia nos EUA... —

Evans ouvia com atenção, e embora suas expressões fossem de um homem amedrontado, que compreendia a gravidade dos fatos, tentava manter-se resistente aos questionamentos feitos. Preocupada, Allyson voltou os olhos para o agente Will.


— O homem parece determinado em não abrir a boca.

— Com o incentivo certo todos abrem. — Diz sério, sem desviar os olhos do espelho. — O homem está somente tentando ganhar um pouco mais de tempo, o que é normal, mas no fundo sabe que a casa caiu. Resta a ele fazer a escolha certa... entregar a nós o que queremos e assim negociar uma redução de pena, ou continuar encobrindo quem está por trás dele e apodrecer na prisão.


— E se ele escolher não abrir a boca? — Sussurrou temerosa, recebendo sua atenção.

— Não se preocupe... cuidaremos para que ele cuspa nome por nome. — Respondeu-lhe com um breve afago no ombro. Allyson sentia-se Impressionada com o quanto Will era seguro de si, e de suas competências, sem denotar arrogância. Ao seu lado tudo parecia bem mais fácil. Em muito Will a fazia lembrar-se de sua amiga Dinah Jane... que certamente vibraria caso pudesse ser ela ali em seu lugar.

Conhecendo a coragem da amiga, não duvidaria em nada ser ela mesmo a fazer o “Fujão” cuspir nome por nome antes mesmo do sol nascer.


Para Allyson, a amiga Dinah Jane era a verdadeira definição de “força da natureza.”




Mais calma voltou sua atenção ao que acontecia na sala de interrogatório. Jason espalhara sobre a mesa alguns documentos e fotografias, dando assim início a uma estratégia considerada bastante eficaz... apelo ao psicológico.



Embora pesasse sobre Carlos Evans substanciais indícios de envolvimento com agentes pertencentes ao crime organizado, era nítido para todos que o homem não passava de um outsider que ousou bancar o espertalhão e que agora, provavelmente se via encrencado tanto com o crime organizado, quanto com a lei. Para pessoas iguais à Evans não há tortura maior do que ser posto sobre si o peso da culpa junto ao medo do que estaria por aguardá-lo.

— Como o senhor mesmo pode conferir nestas fotos, Enrico Flores não faleceu de causas naturais. Parte do corpo foi encontrado no Rio Tamisa, próximo a Ponte de Westminster, e a cabeça nunca foi encontrada. — Evans estava completamente imóvel, aturdido com o que seus olhos viam. As imagens eram fortes demais.



Se ao menos pudesse voltar no tempo... mas não podia. Pensou o homem, enquanto o seu interrogador, com uma irônica e calculada calma, seguia a despejar sobre a mesa mais fotografias daquele crime horrendo. — Senhor Evans, senhor Evans... — Disse calmamente enquanto batucava os dedos sobre as fotografias. — … ou o senhor nos prova que estamos testemunhando algum tipo de milagre divino, para que assim possamos solicitar junto a defensoria pública um advogado para o ressuscitado Enrico Flores, ou o senhor confirma que estamos diante do cidadão inglês, Carlos Evans, como constam as imagens registradas pelas câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guadalajara. Então… o que me diz???

— Okay, sou Carlos Evans, mas... e...eu não tenho nada a ver com a morte de Enrico Flores.

— Assassinato, senhor!

— Eu nem sabia de sua morte, okay?

— A sua situação está muito complicada… — Inalterado, Jason fitava o semblante nervoso do interrogado, que parecia lutar contra a sua dura realidade.

— Eu exijo a presença do meu advogado!

— Claro, senhor. Nos dê o nome do seu advogado que iremos fazer a ligação.

— Eu não tenho um...

— Perdão! Pensei ter ouvido o senhor exigir a presença do seu advogado.

— Você disse que solicitaria um defensor público.

— Claro, senhor! Um defensor público... — Jason levantou de sua cadeira e deu três batidas na porta de aço, que fora aberta logo em seguida por um dos tantos agentes que acompanhavam de perto aquela operação. — … Agente Fuentez, o senhor Carlos Evans deseja muito colaborar conosco, mas para isso precisamos muito que um defensor público esteja presente para garantirmos a ele sua ampla defesa. Poderia nos fazer este favor?

— Infelizmente a essa hora estão todos dormindo, capitão. — Proferiu teatralmente o agente sem sair de sua postura militar. Evans olhava indignado. Parecia não ter entendido ainda que aquele não era um interrogatório como outro qualquer.

— Isso é um absurdo!!!

— Calma senhor Evans... deve haver algum engano... — Na sala ao lado, o agente Will ria da jocosa interpretação dos colegas enquanto Allyson mal conseguia piscar os olhos. — Tem certeza, agente Fuentez?

— Sim, senhor!

— E os plantonistas?

— Todos dormindo, senhor!

— Entendo... dispensado, agente! — Jason balançou a cabeça em negativo fingindo um descontentamento. — Bom, senhor Evans... infelizmente teremos de aguardar a primeira hora da manhã para conseguirmos um defensor público para o senhor.

— Isso é ridículo! Conheço os meus direitos, está ouvindo? Não falarei mais nada até que meu advogado esteja presente.

— Senhor Evans!!! — Um estrondo provocado pelo tapa que Jason desferiu sobre a mesa fez Carlos Evans saltar em seu lugar, quase caindo da cadeira. — Está ficando tarde e eu prometi aos meus homens que os liberaria para dormirem em suas respectivas casas, com as suas respectivas esposas, senhor! — O som da voz irritada de Jason ecoava no ambiente. Enquanto falava aos berros, o homem mantinha os olhos abrasivos fixos nos de Evans, que àquela altura suava e tremia temendo por sua integridade física. — Eu não quero falhar com os meus homens, senhor Evans! Pois se eu falhar com eles senhor Evans, eles ficarão chateados comigo, e se eles ficarem chateados comigo, eu ficarei chateado com o senhor. O senhor quer me ver chateado, senhor Evans?

— Nã..não, senhor!

— Ótimo, senhor! Então sugiro que sejamos razoáveis aqui, sim? — Evans freneticamente gesticulava a cabeça em positivo, enquanto Jason recompunha a sua pacífica postura anterior, voltando a sentar-se frente à frente com o interrogado. — Veja, o seu caso é bastante complicado, senhor Evans! — Disse, voltando a batucar os dedos nas fotografias. — O máximo que um advogado poderá fazer é tentar um acordo conosco. Algo que podemos fechar aqui e agora. O senhor nos esclarece algumas dúvidas e ficamos somente com o indiciamento por falsa identidade, hum? — Evans concordava com tudo o que ouvia sem titubeios. Àquela altura tudo o que o homem mais desejava era livrar-se das garras do carrancudo agente Jason intacto. Se conseguisse tamanha proesa poderia se considerar de fato um homem de sorte. Todos ali conheciam bem a fama do homem, velho conhecido do agente Will. O acordo entre eles era de uma operação limpa. Jason prometeu que faria o possível, e de certo modo, Will sabia que ele estava tentando.

— A pena máxima neste caso são cinco anos de regime fechado mais multa a ser definida pelo juiz. Mas o senhor é réu primário, então cairá para um terço da pena, podendo cumprir o último ano em semiaberto ou até mesmo prisão domiciliar. O que convenhamos, senhor Evans... não é nada mal. Agora, se o senhor insistir em fazer os meus homens passarem a noite toda aqui por um mero capricho seu, cuidarei para que o senhor seja indiciado também pelo assassinato de Enrico Flores. E sabe o que vai acontecer, senhor Enrico? O senhor fará o FBI salivar de alegria, pois Enrico Flores era membro da Mara Salvatrucha, a gangue que se tornou uma pedra nos ilustrados sapatos dos EUA.

— Senhor… uhu… e..eu não tenho nada a ver com a morte dele.

— Tem como provar isso para a New Scotland Yard? Se quiser arriscar não tem problema, senhor Evans. Acionamos as forças policiais britânicas, o senhor retorna para a sua terra natal, e reza para que eles não passem o teu caso para o FBI. Seria trocar alguns anos em uma prisão aqui no México por perpétua no país do Tio Sam. — Salientou o interrogador enquanto remexia nas fotografias, voltando-se para Evans num tom peremptório.

— Okay...

— Podemos contar com a sua colaboração?

— Uhum.

— Perfeito! No dia 22 de junho de 2004, dois dias após o assassinato de Clara Jauregui Morgado e de seu marido, o senhor Michael Jauregui Morgado, CEO do conglomerado de indústrias M&J groups, o senhor embarcou no Aeroporto Internacional de Heathrow, Londres, com destino a Guadalajara, usando os documentos de Enrico Flores, homem que foi encontrado morto no Rio Tâmisa no final de junho de 2004. Mesmo ano e mês do assassinato do casal e de sua estranha partida para o México…


— Olha, eu já disse que não tive nada a ver com a morte do Enrico, okay?


— Senhor Evans, eu não ligo para Enrico Flores! Não estou nem um pouco interessado em saber se o senhor matou ou não matou aquele fodido. O que eu quero saber senhor Evans é; qual era a sua ligação com ele, pois sabemos que não há a menor possibilidade de um bunda mole igual ao senhor fazer parte da fodida Mara Salvatrucha. Estamos certos, senhor?

— Uhu... uhum...

— Ótimo! Então responda... onde o conheceu?

— Conheci Enrico na época em que trabalhei no Hippodrome Casino. Eu era um fiscal de mesa, enquanto Flores integrava a equipe responsável em identificar os clientes trambiqueiros. Pela convivência acabamos nos tornando amigos.

— O senhor costuma escolher bem seus amigos, ham?! — Indagou com um sorriso torto. — Senhor Evans, eu estou muito curioso em saber como um sujeito que tem como grande experiência no curriculum um trabalho de fiscal de mesa em um cassino de luxo, consegue facilmente emprego em uma multinacional? 

— Hum... fiz uma entrevista e passei. — Evans estava nervoso, suas mãos trêmulas, e aparentava medo no brilho de seus olhos. O que não passou despercebido pelo atento interrogador.

— Sério???

— Uhum...

— Simples assim, senhor Evans? Não precisou chantagear ninguém lá dentro? — Insistiu Jason, encarando-o com animosidade.

— Não!

— Vamos lá, ham?! O Hippodrome Casino é conhecido por ser frequentado pelos figurões da alta sociedade. Imagine só quantos segredinhos sujos não dá para se colher trabalhando em um local tão bem frequentado... escolhendo o alvo certo, talvez dê até para se conseguir um ótimo emprego em uma multinacional como a Anglo American PLC. Um verdadeiro prêmio de loteria para um simples fiscal de mesa.

— Não fiz chantagem com ninguém! Entrei na Anglo American PLC de forma limpa.

— Porquê será que não consigo acreditar numa só palavra dita pelo senhor...?

— É a mais pura verdade!

— Achei que tínhamos um acordo, senhor Evans... — Jason levantou irritado, voltando-se à porta de aço esmurrando-a violentamente. — … agente Fuentez! — Vociferou nervoso, sendo atendido prontamente pelo subordinado.

— Pois não?

— O nosso homem não quer colaborar.

— Lamentável, senhor!

— Sim, lamentável…

— Mas eu est… — Atônito, Evans ergueu-se de seu lugar acostando-se na parede dos fundos, tendo em seu encausto um bufante agente Fuentez que o alcançou e o agarrou pelo colarinho, pondo a arrastá-lo para o centro da sala. Evans esperneava e gritava em desespero enquanto o agente Fuentez o mantinha erguido pelo colarinho, seus pés mal tocando o piso.

— Eu trabalho com nomes, senhor Evans!!! — Bradou Jason desferindo um tapa na face do interrogado.



Na sala ao lado, Will observava atento o olhar aflito de Ally para o que acontecia na sala de interrogatório. Àquela altura até mesmo Will, secretamente, temia pelo descontrole do velho conhecido e cogitou retirar a sensível Allyson Brooke daquele ambiente pesado.

— Penso que seja melhor sairmos, hum?! — Sugeriu calmamente, recebendo como resposta um sinal negativo de cabeça.

— Estou bem, Will! — Embora a cena fosse forte para uma pessoa não acostumada com violência, Allyson mantinha seu rosto voltado para a sala de interrogatório, incólume. Naquele momento Will compreendeu que o que mais afligia a sensível, porém destemida mulher, não era a violenta cena que se desenhava á sua frente, mas sim o que estava por vir…



— O senhor está disposto a colaborar, senhor Evans??? — Outro tapa violento fora desferido contra o homem que já cuspia sangue.

— E...Eu es...estou colabo...

— Não! O senhor não está! O senhor está pensando que pode me fazer de palhaço, senhor Evans! Eu e todos estes homens que estão aqui! — Jason proferia as palavras aos berros. A saliva saltava de sua boca atingindo o rosto do homem. Eu disse ao senhor que gostaria muito de mandar os meus homens para as suas respectivas casas antes de amanhecer, e veja só... — Olhou para o relógio de pulso e furioso com o adiantar das horas desferiu outro tapa no rosto de Evans. — … na porra do meu relógio está marcando exatamente 04:45h da manhã, e ainda estou aqui, olhando para esta sua cara de merda, senhor Evans, ouvindo o senhor tentar me enrolar! Os meus homens deveriam estar em suas casas, dormindo com suas esposas!!! Fuentez, tire esse merda da minha frente e diga ao nosso contato do FBI para retirar logo esse lixo da porra do meu país!!!

— Okay, okay... eu falo tudo o que você quiser! Eu juro! 

— Pode soltá-lo, agente. Vamos deixar as coisas bem esclarecias aqui, senhor Evans... Um; eu só trabalho com nomes! Dois; seu tempo está acabando e ninguém virá por você a não ser o FBI, então sugiro que comece a soltar sua língua me dando nomes antes do nascer do sol.

— O senhor Alejandro Cabello!





***







POV ALLYSON BROOKE


A confirmação da ligação existente entre Alejandro Cabello e o nosso “Fujão” me fazia sentir que estávamos entrando em um pesadelo sem fim. Seria praticamente impossível conter Jauregui. E Lauren dificilmente faria algo para controlar os impulsos vingativos de sua outra personalidade, pois no fundo, ela o têm tanto quanto Jauregui.


São duas faces de uma mesma moeda.


Quem poderia julgá-la por desejar o pior para àqueles que brutalmente tiraram-lhe os pais e consequentemente sua sanidade mental? É fácil posarmos de guardiões da justiça quando não somos nós a sofrer na pele os efeitos de uma perda tão grande e irreparável. Eu estava lá com ela, e mesmo não tendo visto aquela cena horrenda, por vezes me pego rogando a Deus que tire do meu coração o desejo de ver todos os culpados recebendo o dobro do que impuseram ao tio Mike e a tia Clara. Ela viu tudo e como consequência da barbárie presenciada teve a sua personalidade desfragmentada, estilhaçada em mil pedaços. E um dos fragmentos deseja vingança...

… e eu não a julgo. Não mesmo!

Não é o meu papel julgá-la, tampouco apoiar tais impulsos. Como amiga o meu papel é ajudá-la a superar suas dores e seguir em frente. E entregar-se ao desejo de vingança não lhe trará a paz necessária para a superação de suas perdas, mas sim um irreparável mergulho a escuridão.

Entretanto sem dúvida alguma ter Alejandro de volta a lista de suspeitos tem potencial para tornar um completo desastre a árdua missão de manter Jauregui sob controle.

— Oh, céus!!! Agora isso… — Rogo aos céus, aturdida com o que vejo diante dos meus olhos através da tela do meu celular. A essa altura retornar a Londres tornou-se de fato uma obrigação.

— Suas malas já estão no carro, srta. Brooke.

— O agente Will já partiu, John? — Indago ao prestativo motorista. Meus olhos focados nas imagens que estampavam as capas dos principais órgãos de imprensa.

— Não, senhorita. Disse que irá lhe acompanhar até o aeroporto e depois seguirá para o departamento da polícia federal.

— Certo... avise-o que desço dentro de alguns minutos, sim? — Digo, já abrindo algumas mensagens de Normani que me diziam o quanto aquelas malditas matérias já estavam fazendo um considerável estrago. Nada que não pudéssemos resolver, mas a grande questão naquele momento era: como não deixar essas merdas todas chegarem até Lauren?

Eu precisava agir logo e só uma pessoa poderia mitigar os danos...



***


[Ligação telefônica]



*Mas que merda, Ally! Sabe que horas são? E lá vamos nós… suspiro tentando manter a minha boa e velha paciência, pois imagino que seu péssimo humor esteja ligado ao cansaço acumulado dos últimos dias… tem sido tempos difíceis para todos nós.

— Sim... aqui em Guadalajara são 07:30h, por tanto aí em Boston são 08:30h.

* Ah, obrigada por me informar sobre o fuso horário. Tenho certeza que será uma informação útil para o futuro, caso venha a planejar passar umas férias em terras mexicanas. Agora me deixe dormir, sim?

— Dinah, eu nem sequer dormi. Embarco daqui há pouco para a Inglaterra, portanto estou sem tempo para chiliques.

* Graças a Deus resolveu tomar juízo! Deu tudo certo?Tive vontade de questionar a sua falta de empatia com o fato de eu não ter dormido, mas… só renderia uma enorme e desnecessária discussão quanto as inúmeras vezes em que ela sugeriu/exigiu que eu retornasse logo para a Inglaterra. Seria entrar em um eterno jogo de acusações em que só terminaria quando uma das partes reconhecesse seu erro, ou seja… eu. Sendo assim preferi ignorar a sua intencional falta de empatia, focando no que de fato interessava que era o resultado final dessa operação em Guadalajara. E de repente me dei conta de que nem sabia por onde começar...

— Com o interrogatório sim.

*Significa então que temos nomes?

— Ah, merda... sim.

*Fale logo Allyson, ou terei um filho aqui!

— Alejandro Cabello.

*Espera! Acho que não ouvi direito.

— É isso mesmo que você ouviu! Carlos Evans confirmou que quem o contratou para trabalhar na Anglo American PLC foi o próprio Alejandro Cabello. — Disse calmamente, pois era isso… não havia como usar de meios termos para anunciar aquela merda toda. O silêncio que se fez do outro lado deu-me a perfeita dimensão do quanto ela estava em choque. — Dinah!!!

*Merda, merda, merda, Allyson! Mil vezes merda!!! Tem ideia do estrago que isso irá causar?

— Sim… eu sei.

*Merda, justo agora? O que mais aquele maldito disse?

— Nada que comprove de fato a participação do Alejandro, mas o suficiente para colocá-lo na lista de principais suspeitos. Will ficou de elaborar um relatório detalhado para Martin. Tenho certeza que já o providenciou. Sendo assim, Martin te deixará apar dos pormenores.

— Mais alguma coisa para que eu possa surtar de vez? — Okay… era a hora de preparar os ouvidos.

— Hum... digamos que esteja circulando nos sites de fofoca, e em alguns tabloides, uma foto minha e do agente Will, onde aparecemos saindo de um restaurante aqui em Guadalajara...

*O que??? Allyson!!!

— Não se preocupe, está bem? Normani irá cuidar de tudo lá na Anglo American. Foi um descuido terrível, mas chegarei em tempo de conter essa loucura toda.

*Eu acho bom mesmo, ham?! Enfrentar os acionistas agora é tudo o que menos precisamos. Se isso não for contido certamente exigirão explicações da presidência do grupo. O que fará Lauren surtar com todo mundo incluindo você, por sua teimosia em permanecer em Guadalajara.

— Eu sei... eu sei. Droga, Dinah! Como poderíamos imaginar que a cantora Thalia estaria no mesmo restaurante que escolhemos? A mulher atraiu um exército de paparazzis. Na saída estava um inferno. Mas logo vimos que estavam ali por ela. Não sou famosa nem nada, então nem passou a ideia de que iriam nos fotografar também.

*Você é a secretária executiva da herdeira do império Jauregui Morgado, que sai para ter uma noite romântica com um agente bonitão em terras mexicanas!Seu tom de deboche deixava claro que ela não perderia a oportunidade de me provocar mesmo em um assunto tão sério.

— Não tivemos uma noite romântica, Dinah!

*Não??? Partiram direto para o sexo, foi? Que orgulho, baixinha! Sabia que um dia você se revelaria…

— Misericórdia, Dinah! Não aconteceu nada demais! Will e eu apenas saímos para jantar em um restaurante de comidas típicas. Foi um jeito de aproveitar a minha última noite aqui para conhecer um pouco da culinária mexicana.

*Então... o agente Will não é latino?

— Ah, eu desisto! — Suas incensantes gargalhadas ao menos era um sinal de que por mais que estivéssemos entrando em tempos difíceis, a grandalhona não deixaria de ser a fortaleza que sempre foi para todas nós. Era isso… precisávamos manter o nosso time como sempre foi, com cada uma desempenhando o seu papel, pois somos o equilíbrio uma da outra. Normani com o seu profissionalismo impecável regado de muita doçura e sensibilidade, o furacão Dinah com a sua sagaz inteligência, coragem, força e muito bom humor, Lauren fingindo que não se importa, mas no fundo querendo colocar todos debaixo dos braços… e eu ? Ah! Eu tentando manter essa locomotiva nos trilhos sem que uma ou outra perceba que sou eu quem sempre mantém o pé no freio.


***



— E como elas estão?

*Espero que estejam vivas para que eu mesma possa matá-las.Estaquei preocupada, pois imaginava que tudo havia ficado bem entre elas com a chegada de Lauren em Norfolk.

— Como assim?

*Como assim??? Aquelas duas gritavam e gemiam tanto que eu cogitei a hipótese de estarem gravando algum filme pornô bem no quarto ao lado.

— Dinah??? — Tapei a boca para conter o riso. 

*Não, no quarto ao lado não... no meu quarto! Pois juro que em determinados momentos eu conseguia até mesmo visualizar a cena. Soltei uma argalhada alta. Inevitável não rir da situação. Embora Dinah seja uma exagerada, era imaginado que o casal aproveitaria e bem a reconciliação.

*Não ria, Allyson! Eu estou traumatizada, okay?

— Pare de drama, Dinah. — Disse, limpando umas lágrimas provocadas pelo riso.

*Drama? Estou rezando para que o escândalo protagonizado pelas duas ninfomaníacas não tenha sido ouvido nos aposentos do primeiro andar, pois se foi, só digo uma coisa... Dorothy está é morta a essa hora.



***




POV Camila

Franzo o cenho cerrando os olhos sensíveis ao despertar com a incomoda claridade invadindo o quarto e suspiro ao sentir-me aquecida pelo corpo desnudo adormecido ao meu lado. Remexo ainda sonolenta e uma dorzinha aguda entre as pernas me faz retesar e de repente as doces lembranças invadem a minha mente. Sorrio aconchegando-me um pouco mais nos braços daquela que cuidou para que não só a minha intimidade doesse como um inferno, como também para o sorriso bobo que se fazia presente nos meus lábios. Sorrio mais, pois bem sei que as minhas provocações foram as verdadeiras responsáveis para que acordasse neste estado caótico.



Era como eu a queria e não me arrependo.



Minhas entranhas fervilhavam, desejando-a cada vez mais forte e fundo dentro de mim.



As dores passam, mas as doces e quentes lembranças de como fora não só a minha primeira vez, como a nossa, ficarão.


***


Apoiando-me em um dos cotovelos me ponho a observar cada detalhe daquele corpo ainda nu e adormecido entre os lençóis. As marcas da nossa primeira noite de amor estavam presentes em cada curva daquele corpo de pele macia e alva.

Mordo os lábios sentindo-me uma menina boba, travessa, insana com as lembranças das minhas mãos percorrendo cada curva de seu corpo com sofreguidão e avidez, louca por satisfazer os desejos por tanto tempo sufocados.

Só de pensar nos beijos, de lembrar-me da sensação de tê-la tomando-me e preenchendo-me por inteiro, sinto o fogo do desejo percorrendo-me novamente.

Dormimos tendo ainda os nossos corpos um pouco úmidos do banho. Estávamos cansadas demais para nos preocuparmos com algo tão irrelevante como; secar bem os cabelos antes de dormir.

Okay... eu demonstrava mais cansaço do que ela. Está aí algo realmente surpreendente, hum?!

Nem parecia que era Lauren a ter acordado cedo e enfrentado uma longa e difícil jornada. De algum modo suas forças pareciam terem sido revigoradas, enquanto eu? Ah, eu me sentia como se tivesse acabado de fazer uma árdua peregrinação pelo deserto do Saara.


Devo admitir que a maldita sabe mesmo como fazer o jogo virar.


***


Deslisei as pontas dos dedos em suas costas, não resistindo em sentir a maciez de sua pele desnuda. Lauren contorceu-se e soltou um gemido baixinho, rouco e aveludado, fazendo todos os pelos do meu corpo eriçar-se. Mordi os lábios com a visão de sua linda bunda sendo revelada com o deslisar do edredom em seu remexer.

A ideia de morder-lhe as nádegas me fez sorrir travessa, entretanto fui surpreendida com o seu revirar entre os lençóis, dando-me a visão de seus lindos seios de mamilos rosados, fazendo-me salivar com cada mínimo detalhe de sua perfeita simetria.


Linda, linda.


Baixei o olhar para a região de seu abdômen surpreendendo-me com um evidente e generoso volume na única parte totalmente coberta de seu corpo. Voltei os meus olhos para o seu rosto, certificando-me de que ela estava de fato dormindo.

E estava.



Voltei os meus olhos para as suas partes baixas e mordi o lábio inferior surpresa com aquela evidente ereção, não resistindo ao pujante desejo de tocá-la intimamente.

Deslisei uma de minhas mãos na pele de sua barriga, descendo delicadamente até a sua virilha.


— Hummm... Camila... — Meu coração quase saltou pela boca ao ser surpreendida pelo aperto de sua mão sobre a minha. Corada, fixei meus olhos nos dela encontrando seu lindo par de brilhantes esmeraldas encarando-me com uma certa curiosidade. — O que está passando por essa cabecinha, ham?! — Sussurrou, com um arquear de sobrancelha, e empurrou minha mão, fazendo-me agarrar o volume entre suas pernas. Eu abri um sorriso de lado, me aproximando mais dela. Lauren revezou o olhar entre o meu corpo nu e os meus olhos desejosos.

— Muitas coisas, mi amor.Levei minha outra mão até o seu rosto e fiz um breve carinho, em seguida a deslisei pelo seu pescoço até alcançar o vão entre seus lindos seios. Pude sentir seu coração bater contra a palma de minha mão, tão forte e desesperado quanto o meu. Balancei a cabeça, enquanto mordia o meu lábio para conter o desejo que já se fazia latente. — Como por exemplo... — Digo arfante, sem deixar de fixar o meu olhar no oceano que são seus olhos. — … se você acorda sempre assim, hum?! — Concluo imprimindo um firme aperto em seu membro, sentindo-o inchar pulsante na minha mão, fazendo-a soltar um gemido rouco, sôfrego e sexy. Seu lindo corpo contorcendo-se sobre a cama.

— Ah, querida... não me torture assim. — Diz ela, unindo mais os nossos corpos e empurrando sua ereção ainda mais ao longo do meu estômago. Sorrindo, olho para os nossos corpos pressionados e a surpreendendo puxando sua mão e levando-a até a sua ereção, incentivando que a envolva.


— Mostre-me como você faz isso. — Encorajo, olhando para ela através dos meus cílios. Seus olhos brilham com luxúria antes de deslisar a mão por toda a extensão de seu membro rijo, causando uma poça de excitação entre as minhas pernas. Lauren corre os olhos sobre o meu corpo, e enquanto sua mão fica mais rápida, a outra agarra firme o meu tornozelo, como se para garantir que eu não fosse a lugar algum.


Observando-a por um momento, vejo seu olhar parar no meu sexo exposto, minhas pernas ainda abertas ao redor dela, provavelmente mostrando o quanto estou gostando de observá-la.

Sabendo que a provocará um pouco mais, levo uma mão ao meu seio e brinco com o mamilo entumecido, levando a outra mão entre as minhas pernas.


Gemendo alto, ela se inclina sobre os calcanhares. Sorrindo, planto os meus pés, levantando um pouco os quadris.


— Isso é o que você quer ver, Camz? — Mordo os lábios e sorrio com o evidente desespero empregado em sua voz. — Você quer me ver fazer isso enquanto imagino estar em você? — Ela insiste, me fazendo concordar, mordendo ainda mais os lábios enquanto olho para ela novamente. — Por que você está tão quieta, hum?

— Apenas admirando. — Admito. Minha voz entregando o quão excitada estou. — Com que frequência você faz isso? — Pergunto quase sem fôlego. Grunhindo, ela se ergue sobre mim, descendo para pairar a cabeça logo acima da minha, com um largo sorriso nos lábios.

— Muito mais frequentemente desde que te conheci, Camila. — Ela confessa, me fazendo levantar uma sobrancelha, acelerando meus próprios dedos para combinar com seu ritmo. — Eu só tenho que pensar em você para ficar dura. — Ela diz entre gemidos incontroláveis. O pensamento de tê-la fazendo isso regularmente pensando em mim é devastadoramente excitante e me empurra ao ápice.

— Oh, Lauren!!! — Murmuro empurrando meus quadris, minhas costas arqueando quando me solto e pego os lençóis de cada lado de mim, desabando na cama um momento depois. Estou respirando profundamente e me vejo olhando para ela em choque, enquanto ela olha para mim com desespero em seus olhos.


— Você gosta do pensamento de eu fazer isso, ham? — Ela sonda com um grunhido rouco.


— Sim. Vamos Laur, me mostre como você se faz vir! — Eu exijo, surpresa quando ela envolve um braço em volta de mim e nos vira, empoleirando-me em suas coxas. Movo-me para pousar entre suas pernas, ajoelhando-me enquanto vejo sua mão acelerar os movimentos de vai e vem no membro rijo.


Ergo o meu olhar para seu lindo rosto, e a vejo olhando-me fixamente. Aqueles olhos verdes tão focados em mim como se não houvesse nada mais para olhar. Sorrindo, coloco uma mão em cada uma de suas coxas, apertando o músculo duro lá.


— Venha para mim, Laur. — Imploro, desespero transbordando em minha voz.


— Oh, Camz... — Lauren geme colocando uma mão em cima da minha coxa enquanto arqueia a cabeça para trás e se solta, os sucos caindo em seu estômago.

— Ah... sí, mi amor... — Inclino-me sobre ela e corro a minha língua em seu membro pulsante e rosado, me deliciando com o seu gosto em minha boca, beijando o caminho até seus lábios.

Lauren sorri devastada, deixando escapar algumas lufadas de ar enquanto me puxa contra ela e me beija ferozmente, fazendo-me sorrir em seus lábios. — Hummm... bom dia, cariño.


***


POV Lauren Jauregui


Completamente hipnotizada por sua estonteante beleza e graciosidade, assisti a latina vestir o seu robe de seda e ajeitar os volumosos cabelos em um coque alto e frouxo. Sem dúvidas eu poderia passar o resto da minha vida somente admirando cada mínimo detalhe nessa linda mulher... minha mulher.

Mas, ela insistia em lembrar-me que haviam mais pessoas na casa e que provavelmente estavam a nos esperar para o café da manhã. Tentei argumentar de que poderia pedir que providenciassem um farto café da manhã para nós em nosso quarto. Que provavelmente Dorothy até já teria pensado na possibilidade, mas discreta como é, certamente aguardava somente que o pedido fosse feito.

Em vão... a latina insistiu que tomássemos banho e fossemos ter o nosso desjejum em família, pois segundo ela, teríamos muito tempo para aproveitarmos a companhia uma da outra. Além do mais, ela queria passear comigo em um dos bosques próximo à propriedade, e se decidíssemos pelo café da manhã no quarto certamente não sairíamos tão cedo de nossa cama.

Ela tinha um ponto... de fato meus planos se resumiam em tê-la naquela cama pelo resto do dia...


… toda para mim.

Sentia uma urgência em recuperar o tempo perdido longe dela. E tê-la assim, tão fodidamente linda e sexy diante de mim, após a nossa primeira e inesquecível noite de amor, seguida por um primeiro bom dia igualmente inesquecível, só contribuía para que o meu egoismo me fizesse desejar manter-nos em nossa bolha de amor.

Mas, ela realmente tinha um ponto... passear com ela naquele lindo bosque sem dúvidas entraria na lista de “coisas inesquecíveis com a latina”, e eu queria ter todas as coisas inesquecíveis com ela.

— Banho, Laur. — Revirei os meus olhos para a sua chamada de atenção, levantando-me de nossa cama e pondo-me a caminhar em sua direção, recebendo dela um divertido arquear de sobrancelha, já ciente das minhas maliciosas intenções... todas muito boas, diga-se de passagem.



Camila havia decidido que o melhor seria tomarmos os nossos banhos separadas. Quis protestar, pois tê-la longe, mesmo que por alguns poucos minutos, era-me um esforço ao qual não queria me dispor.

Não mais.

Entretanto, meus argumentos que se resumiam em mantê-la presa em meus braços, aproveitando-me para distribuir beijos em seu pescoço, enquanto prometia a ela que usaria as minhas mãos somente como auxílio para o seu banho, se mostraram pouco convincentes diante de uma latina irredutível e bastante determinada que, com facilidade me ludibriou, deixando-me entre risos, arrastá-la até a porta do banheiro para depois soltar-se do meu aperto e empurrar-me para dentro. Ainda tentei contê-la, mas a latina foi mais rápida deixando o nosso quarto, aproveitando-se do fato de que somente ela mantinha seu corpo coberto por um robe branco de seda, enquanto eu ainda permanecia completamente despida.


— Certo... ao que parece, a minha latina também ama o controle. — Sorrio ao constatar que simplesmente amo que seja assim, do jeito dela.



***


POV Camila


Ao descermos encontramos Dinah sentada à mesa com os olhos perdidos na tela do celular, enquanto Jaclyn terminava de organizar os talheres na ampla mesa de café da manhã.

— Bom dia, Dinah... Jaclyn... — Sem soltar a minha mão, Lauren cumprimentou ambas com um lindo sorriso, fazendo-nos ter a atenção das duas.

Dinah encarou-nos com um arquear de sobrancelha seguido por um sorrisinho de canto de boca, devolvendo o cumprimento logo em seguida, fazendo-me corar de vergonha por já imaginar o motivo do seu divertido escrutinar.

Céus! Dinah Jane não deixa passar uma oportunidade.

Voltei os meus olhos para Jaclyn que parecia muito interessada em admirar o vestuário da minha esposa, já que seus olhos pareciam analisar cada centímetro de seu corpo. Talvez fosse ela uma apreciadora de moda, visto que Lauren estava de fato muito elegante trajando uma jardineira jeans, combinada com um top branco rendado, que deixava seus braços e parte de sua cintura à mostra. Franzi o cenho incomodada em demasia com a “análise” minuciosa da jovem ruiva de olhos castanhos.


— Bom dia, Jaclyn!

— Bom dia, srta. Cabello.

— Sra. Jauregui, Jaclyn! — A corrigi, a fim de esclarecer o equívoco cometido pela jovem agregada, enquanto a minha prestativa mulher, completamente alheia à tensão pré estabelecida, puxava uma confortável cadeira para que eu pudesse me acomodar.

— Oh, sim... uhu... perdão... sra. Jauregui. — Desconcertada, Jaclyn apressou-se na correção, mal conseguindo manter seus olhos nos meus, o que fez Dinah soltar um riso nasal, e Lauren, já sentada ao meu lado, olhar para nós como se nos indagasse o que havia perdido de tão engraçado.

Muito lenta ou muito cínica a minha querida esposa...

— Dorothy, onde está? — Indaguei ao notar a ausência da bondosa senhora.

Mesmo a casa de campo dispondo de um bom número de agregados, Dorothy costuma acordar sempre muito cedo para regar suas plantas e preparar o café da manhã de todos.

— Uhu... dona Dorothy pediu um dos motoristas que a levasse à cidade, alegando necessitar fazer algumas compras para a casa, senhora. — Respondeu-me a mocinha, com os seus ávidos olhos ainda teimando em procurar por minha esposa, que parecia mais preocupada em me servir com um pouco de tudo o que tinha na mesa, enquanto devorava um enorme croissant de queijo, fazendo Dinah Jane revirar os olhos para a sua completa falta de modos à mesa... ela parecia faminta.

Sorri para a cena cômica... de fato era preciso repor as energias.

— Certo... — Disse por fim.

— Desejam algo mais, senhoras?

— Talvez uns croissants a mais, lindinha. — Debochou Dinah, fazendo-me olhá-la em repreensão, mas como sempre a grandalhona deu de ombros.

— Estamos bem, Jaclyn... obrigada.

— Com licença, senhoras. — Jaclyn se retirou, e eu agradeci mentalmente por finalmente ter os olhos curiosos da jovem agregada bem longe da minha esposa. Não estava gostando nem um pouco da forma como ela olhava para Lauren. Nunca fui possessiva, nem era este o caso. O respeito mútuo se faz essencial para a boa convivência, e não abro mão. Desde que cheguei à casa de campo, Jaclyn sempre se mostrou bastante educada e discreta. E espero que se mantenha assim para o seu próprio bem.

A jovem foi contratada recentemente para compor a equipe de agregados da casa de campo, ficando encarregada de auxiliar exclusivamente a teimosa Dorothy. Em uma de nossas conversas, Dinah contou-me que Dorothy só aceitou ter uma auxiliar, caso fosse ela a escolher quem seria contratada, e quais seriam suas funções. A loira disse-me ter aceitado os termos, ciente que Dorothy colocaria todos os empecilhos possíveis e imagináveis como meio de dificultar a contratação de uma auxiliar para si. Dorothy é ciumenta com suas panelas e principalmente com os dois aposentos privativos principais da casa... a suíte que pertence a sua menina Lauren, e a que pertencera à Angélica Morgado.

Ao receber a informação por um dos homens que fazem a segurança da casa, que havia na cidade uma jovem de 18 anos de idade, órfã de pai e mãe, recém-saída do orfanato, necessitando de trabalho e local para morar, a bondosa Dorothy não pensou duas vezes em pedir que buscassem a jovem para que pudesse oferecer-lhe um emprego, além de uma morada.

Em nada surpreendeu-me saber de tal atitude vinda da sempre amorosa senhora. Em pouco tempo pude perceber que Dorothy é destes seres humanos raros, capaz de despir-se para vestir uma pessoa necessitada. Têm um coração que não cabe no peito, e uma alegria de viver que nos faz sempre crer em dias melhores, além de uma invejável sabedoria adquirida pelas tantas experiências de seus tantos anos de vida. Não que o avançar da idade conceda, por si só, sabedoria, mas Dorothy sem dúvidas soube aproveitar bem suas tantas primaveras. Sua presença é sempre um enorme prazer.


— Sem apetite, Camz?

— Hum, não... apenas deixei os meus pensamentos vagarem um pouco. — Respondi, voltando a servir-me com um pouco mais de chá. Lauren seguia olhando-me como se tentasse ler a minha mente. Não duvidaria nada dela ter mais este poder sobre mim... — Pensava em Dorothy. — Disse por fim, acabando assim com o seu escrutinar interrogativo.

— Ah! Hum... não se preocupe. Daqui há pouco ela estará de volta. E exagerada como é, não duvido de aparecer trazendo consigo o mercado inteiro. — Disse-me entre sorrisos enquanto devorava o ultimo croissant do cesto de pães.

— Pelo apetite de certa pessoa aqui, não considero exagero algum, mas sim precaução.

— Dinah... — Chamei sua atenção não conseguindo prender o riso. Já estava demorando para a grandalhona soltar uma de suas provocações.

— O quê? — Indagou Lauren com os olhos arregalados, demorando a se dar conta de que Dinah referia-se a ela. — Ah, se está aqui é para comer, não?

— Sim, mi cariño. — Disse, depositando um beijo em seu rosto, vendo Lauren sorri e mostrar a língua para a loira, que não tardou em devolver a provocação.

Essas duas juntas me fazem duvidar que de fato sejam responsáveis por uma das mais importantes multinacionais do ramo da mineração e petróleo do mundo.

— Que romântico ela defendendo a ogra. — Não contive o riso ao ver o olhar furioso que Lauren direcionou à amiga enquanto apertava um croissant em uma de suas mãos... não duvidaria em nada delas começarem uma guerra de comida.

— Ridícula!

— Você me ama, Laur... admita.

— Amo tanto que quero demitir você.

— Quer nada. Você não vive sem mim, Bob Esponja.

— Camz, eu não quero mais tomar café da manhã com ela. — E foi assim o nosso primeiro café da manhã em família.

— Dinah, pare de provocá-la. — Eu não sabia se agradecia mentalmente por Dorothy não estar presente para ver as duas mulheres se comportando feito duas crianças, ou se lamentava não tê-la ali para me socorrer com a guerra de infantilidades protagonizada pela CEO considerada a mais durona do Reino Unido, e pela poderosa advogada do M&J groups, famosa por nunca perder uma causa sequer.

As duas seguiram se alfinetando, e eu decidi por fim que era mais seguro e divertido ficar apenas como plateia. Por fim, entre apelidos e ameaças, salvaram-se todos. Jwan apareceu para avisar a Dinah que o carro estava pronto para levá-la à cidade, o que pareceu chamar a atenção de Lauren que indagou a loira se estava tudo bem.

Embora Dinah tenha dito que sua ida a cidade seria somente para providenciar as licenças necessárias para a instalação de torres telefônicas, pude notar uma certa tensão tanto dela quanto de Lauren. As duas, que há pouco se mostravam dispostas a entrar em uma possível guerra de insultos infantis e guloseimas, de repente iniciaram uma espécie de conspiração telepática...


***




 


Notas Finais


Dúvidas? Se sim, me digam quais, pois sou uma reles súdita de vocês *-* kk


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