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História Love, Death and Pirates - O Lorde Perdido


Escrita por: moonwish e Love_SugaMon

Notas do Autor


VOLTEI, MEUS AMORES!!
Não demorei tanto pois dessa vez levei uns 15 dias pra terminar esse cap e revisar, mas ainda podem haver alguns erros. Trago novas bombas dessa vez e espero que entendam TODO O PLOT da história com essas respostas

Façam boa leitura!!

Capítulo 31 - O Lorde Perdido


“— Então se Minho vai mesmo morrer, como tudo isso acontece? Como podemos garantir que a Lâmina da Vida será usada na hora da execução?!”

Jisung aquela hora tinha tantas perguntas e era frustrante assistir Chanhee e Chan se encarando como se soubessem de todas as respostas mas estivessem negligenciando a situação apenas para garantir que Lee Minho fosse morto de acordo com o destino.

“— A Lâmina da Vida é um perfeito ímã de destino, e se for de acordo com a previsão, deve ser feito pelo homem de cicatriz no pescoço e-”

O Han não pode ouvir muito depois daquilo. O rosto do tio preencheu sua mente como se fosse sangue derramado em água limpa, manchando qualquer vista do fundo que tivesse. Os sons ao redor dele mais pareciam ecos enquanto ele relembrava os dezesseis anos de idade quando visitou o tio junto de Jinyoung, à pedido do "pai." Jisung nunca entendeu bem o que havia vindo fazer naquela casa enorme há quilômetros do castelo. Ele apenas lembrava que o Park havia dado uma bela surra no tio. Enquanto apanhava, o jovem Han observava atentamente e quase de forma hipnotizante a cicatriz que Han Janghoon possuía no pescoço e se perguntava se era alguma marca de guerra.

Quando questionou Jinyoung na volta para o castelo, o guarda havia ficado em silêncio antes de mudar de assunto.

“Seu pai queria que você visse seu tio hoje. Esse é o homem deplorável que jamais pode chegar a governar nosso reino.”

Foi tudo que disse no caminho a cavalo antes de murmurar “Janghoon chega a ser pior que Jongsung às vezes…”

Naquela idade, o príncipe se questionava das palavras de seu mentor, mas nunca as ignorou.

Agora, parado no centro de uma sala quadrada de madeira, repleta de móveis de alta qualidade, a mente de Jisung tentava focar no principal, mas se lembrar da cicatriz no pescoço do tio e comparar ao que o Capitão Bang havia dito sobre a morte de Minho, tinha medo do que aquilo podia significar.

Se era Han Janghoon o responsável pela morte de Lee Minho, de que jeito a Lâmina da Vida ceifaria o capitão?

“Acredite no destino, senhor Han.”

A doce voz de Chanhee lhe dava aquele conselho, mas Jisung só conseguia pensar que era palhaçada.

— Você entendeu? — Ele sente um tapa no topo de sua cabeça, sendo acordado de seu transe por Soyeon, quem lhe rodeava com uma flor de pétalas brancas nas mãos, arrancando uma por uma e espalhando nos pés do rapaz, sem que seu vestido longo de seda azul bagunçasse o círculo que fazia com a planta. — Idiota, concentre-se no seu objetivo. Como você disse, não podemos avançar no plano sem descobrir o que nos espera.

— Eu não estava ouvindo. Poderia repetir?? — Pediu Jisung, tentando acompanhar a mulher com o olhar assim que ela para ao lado dele.

— Deve ser o cansaço. Você mal dormiu. — O dono da voz chamou a atenção de Jisung para olhar na direção da porta da cabine da capitã, onde este se encostava e sorria fofo.

O jeito animado e até esperançoso que Minho mirava a Jisung era de lhe partir o coração, ainda mais porque sua destra segurava o medalhão, passando do polegar e indicador até o médio, brincando com o acessório enquanto esperava o rapaz terminar o contato com o tio.

Como poderia contar ao amado que aquele medalhão de nada servia e que Chan estava confiando a vida de Minho ao destino e a uma Lâmina que até então ninguém sabia onde estava??

E pior: como Jisung contaria que o homem da cicatriz na verdade era seu tio? E que de alguma forma, era ele o responsável pela morte de Minho?

O Capitão Bang havia dito para não contar nada até que fosse a hora certa, e que cada detalhe dali para frente poderia mudar tudo. Também havia dito que tudo tinha seu tempo, e que Jisung não podia interferir em nada.

— Cansado ou não, precisamos fazer logo. Não tenho tanta energia assim, e depois disso ainda temos Lugar Nenhum para avisar e preparar todo mundo adequadamente. Quanto mais cedo as coisas forem feitas, capitães, melhor. — Soyeon olha firme ao Han assim que termina seu círculo de flores e oferece sua mão esquerda para que a pegasse e encaixasse os dedos ali. — O que vamos fazer é perigoso, mas será rápido. Você o distrai enquanto eu investigo o máximo que puder, mas não deixe que tentem te ferir. Mesmo não estando lá, a magia cria um portal que pode materializar tanto de cá para lá quanto de lá para cá.

— Então se tentarem nos matar lá, podem conseguir aqui? — Minho questiona preocupado e a mulher assentiu positivo.

— Mas eles não precisam saber disso, né? — A Jeon sorriu confiante e respirou fundo. — Não vamos demorar tanto.

Jisung a olha com certa preocupação, mas não era como se ele tivesse escolha. Sequer sabia o que ia fazer aquele momento, mas era necessário coragem para lidar com o que estava por vir.

— Estou pronto.

Ambos assentiram antes que ela fechasse os olhos e de repente, tudo à frente de Jisung se tornou névoa cinza. O chão que pisava, antes de madeira, agora parecia uma água escura e rasa que cobria suas botas até o calcanhar. A vista era de um horizonte interminável, escuro e sombrio. Mesmo o clima era frio, e a única coisa que lhe mantinha seguro era a mão dada à bruxa bem ao seu lado.

Ela o olha com um sorriso mínimo.

— Ótimo, agora preciso que pense no seu tio. Precisamos localizá-lo e entrar no navio. O resto deixa comigo.

Pediu ela, tranquilamente. A voz de quem sabia o que estava fazendo foi capaz de acalmar a preocupação do Han.

Ele então pensou em Janghoon. Só de lembrar do rosto do tio, seus dentes trincavam de ódio por ele, lembrando do último nome cujo o pai, Park Jinyoung gritou antes de morrer. A raiva que sentia era incessante, e sua vontade por vingança crescia de forma gigantesca. E para piorar, se fosse mesmo Han Janghoon responsável pela morte de Minho, então aquele homem deveria pagar com a vida também.

O Jisung assustado e com medo de matar já não existia mais. Não quando ele entendeu que alguns maus eram para o bem, e que, como pirata, seu mundo era sem lei. Ali, pelo menos, ele podia ser livre sem se preocupar com as regras as quais cresceu. O mais engraçado era ver o "pai" tentando educá-lo; logo ele, um assassino.

Pensar em todas aquelas coisas fez Jisung apertar os olhos com ódio.

De repente o silêncio que fazia naquele lugar vazio foi substituído por águas pesadas que ricocheteavam madeira. O ar ficou salgado e quente. E o que era infinito pareceu se fechar na concepção de espaço do rapaz. Mesmo o calor da mão de Soyeon pareceu ausente.

Até que, no instante seguinte, uma voz surpresa chamou sua atenção e o fez abrir os olhos:

— Han Jisung??!

Quando olhou, estava no centro de uma luxuosa cabine, espaçosa e cheia de materiais banhados em prata e ouro. No canto ao meio, um pequeno escritório com uma enorme poltrona de seda roxo se destacou, e mais ainda o homem sentado nela, parado assim que avistou o sobrinho em sua frente. Este, que antes estava escrevendo seu diário, agora se encontrava de expressão assustada pela aparição repentina.

— Como entrou aqui?! — Se levantou rapidamente e puxou logo sua pistola do coldre.

Jisung lembrou-se do que Soyeon havia dito sobre se machucar naquele mundo, e rapidamente ergueu as mãos. Ele precisava ganhar tempo para a mulher, mesmo que nem sequer a visse. “Soyeon, seja rápida”, ele pensou apressado.

Estou tentando", a voz em sua cabeça respondeu firmemente. Diferente de um pensamento, aquilo soava como um sussurro no ouvido que penetrava até ecoar em cada canto do cérebro, destacando-se das outras vozes na mente do rapaz.

— Eu vim para desafiá-lo. — Foi o que disse para parar o homem, o que fez com que Janghoon olhasse o sobrinho atento às palavras seguintes. — Ao sudeste de onde está agora está indo meu navio e de meus aliados. Todos estão dispostos a lutar contra você pela permanência do trono.

Janghoon riu de escárnio.

— Acha que um naviozinho de merda com uma tripulação inútil vai derrotar um esquadrão? — Ainda de arma posta, Janghoon manteve a pose também.

— Não estou aqui por achismo. Estou aqui porque sei que podemos, afinal meu pai e os guardas foram facilmente mortos a primeira vez. — De mãos erguidas, Jisung ousou debochar quando deu um sorriso ladino ao perceber que suas palavras irritavam o tio.

— E o que vai fazer um príncipe fugitivo que assassinou o pai como rei? Você mesmo abandonou esse lugar. — Ergueu uma sobrancelha ao questionar ironicamente.

Jisung quase riu. O tio era tolo. Era engraçado como um tolo como ele podia ser tão odioso. Queria logo matá-lo, mas aquela forma o impedia de fazer algo.

“Soyeon?”

“Estou quase. Aguente um pouco mais.”

— Sabe de uma coisa, tio: sempre quis saber o que houve para conseguir essa cicatriz. — Perguntou curioso, não apenas para distrair o homem, que sorriu interessado.

Janghoon suspirou e se sentou de pernas cruzadas na poltrona que exibia sua ganância materialista. Sem abaixar sua pistola, começou a falar.

— Acho que já deve ter escutado os boatos de dois irmãos apaixonados pela mesma mulher antes. — Olhou nos olhos de Jisung, quem aos poucos baixava as mãos, já sabendo bem o que se tratava. — Mas infelizmente ela escolheu o irmão mais velho ao invés do mais novo. Era uma tola, poderia ter conquistado muitas coisas ao lado dele. O irmão mais novo sabia bem que ela apenas escolheu o mais velho por garantia de poder, mas o mais novo sabia bem que o coração dela pertencia a ele. Numa noite, visitando o castelo da família do mais velho, o mais novo tentou beijá-la, provando de seu amor e lealdade. Mas ela, uma vadia ambiciosa, ainda preferia o mais velho. E quando o mais novo tentou tocá-la, ela o cortou com uma pequena adaga que estava entre o corvete. Ele sangrou sem parar, mas sobreviveu sem machucar nenhum ponto vital. Foi ali que ele percebeu que ela seria apenas uma vaca e que deveria morrer da pior forma possível. E o mais velho fez o favor de fazer isso por mim junto daquele pirata estúpido.

Riu ao final e quase tirou Jisung do sério. Ele não sabia como podia estar aguentando ouvir tudo aquilo sem fazer nada. E para piorar aquele sorriso nojento estava na cara de Janghoon de novo.

O rapaz queria poder enfiar sua espada na garganta dele e arrastar pelos lábios até ter rasgado aquele sorriso e retirado sua mandíbula e maxilar do lugar. Queria fazer com que ele pagasse por cada dor que ele causou à falecida rainha, a Jinyoung e…

— Aliás, meu sobrinho… Quer saber por que seu pai e sua mãe arriscaram trair um pirata bem em frente ao castelo aquele dia? Capitão Lee, não era? Eu o conheci… — Era do passado do pai de Minho que falava. E por mais que Jisung quisesse calar a boca do Han de uma vez, quanto mais tempo ele conseguisse, melhor para Soyeon.

“Aguente mais um pouco. Eu sei que está difícil, preciso que fique calmo ou perderei conexão”, ela pediu e fez o Han mais novo ali respirar fundo.

— Era um ótimo pirata. Daqueles de verdade, e estava mesmo fazendo um ótimo trabalho para mim quando o encontrei a primeira vez. — O sorriso de escárnio voltou ao rosto dele enquanto contava e aos poucos deixava Jisung curioso. — Há mais de vinte anos, pedi que o Capitão Lee assassinasse um navio de lordes e suas esposas que participariam da conferência do meu irmão e negociariam terras. Eu só queria que o reinado dos Han caísse em ruínas e eu tivesse um gosto do meu irmão implorando meu dinheiro para continuar. Havia combinado com o capitão que todos no navio deveriam ser mortos… mas… uma criança sobreviveu.

A partir daquele momento, Jisung soube bem de quem ele falava: Lee Minho.

— Quando cobrei que todos sem exceção deveriam ser mortos, ele traiu nosso acordo e fugiu. Então contei ao meu irmão uma mentirinha… Disse que sabia quem dos lordes havia lhe traído, e que haviam tentado entrar em contato comigo. Ele desconfiou, no começo, é claro, mas quando contei sobre o Capitão Lee, ele logo acreditou. O acordo então era que devolvesse a criança e que a criariam no castelo como o lorde que deveria ter sido. E o Capitão negou novamente… E foi assim que ele teve sua morte, pagando pela traição ao meu trato. Engraçado, não é? — Perguntou ao ver a expressão de Jisung, quem ao mesmo tempo que não sabia se acreditava, percebia que as peças bem que se encaixavam. — A criança cresceu, se tornou capitão como o pai de criação, quando na verdade pertencia aos aliados do seu pai desde o começo. E então, anos depois vocês se encontraram e se uniram contra mim.

— Você é detestável. — Jisung cospe, ainda que sua saliva fosse parar do outro lado, onde seu corpo real estava. — Não sei se está mentindo, mas se for verdade, merece pagar pelas mortes e tormentos que causou. Do meu pai, minha mãe, a mim… do Capitão Lee…

Do outro lado, enquanto Minho esperava, ouve o nome familiar do pai ser dito pela boca de Jisung, este quem reproduzia tudo o que falava. Antes não passavam de palavras sem contexto, mas aquela chamou atenção.

Minho andou até ele rapidamente e colocou as mãos nos ombros de Jisung, sacudindo-o, confuso.

— Meu pai?? Jisung? O que tem meu pai??? — Questiona curioso.

Jisung sente seu corpo fraquejar e de repente começar a sumir. Sua visão falha, alternando entre o mundo escuro e a cabine do tio. Seus ombros pesavam e pareciam ser empurrados, quase o deixando sem controle do próprio corpo.

— Mas que porra… — Janghoon se levanta e prepara o dedo no gatilho, pronto para atirar quando percebe o sobrinho desaparecendo em sua frente como mágica.

— Soyeon! — Chama ao ver que mal podia se mexer e que perdia conexão.

Ao gritar, o tio dispara e a bala chega em sua posição no mesmo instante que ele desaparece completamente.

Janghoon assiste a bala atravessar sua cabine agora vazia e trinca os dentes antes de se sentar e afastar o diário de cima da mesa onde o mapa preso ao móvel estava. Ele então marca o local que Jisung disse que seguia, sorrindo satisfeito em seguida.

— Que porra foi essa?! AH! — Jisung esbraveja e resmunga de dor ao sentir algo pinicar em seu ombro esquerdo. Minho, retira as mãos do lugar, estranhando a reação do Han. Quando ele afasta o sobretudo furado, percebe uma mancha de sangue na camisa amarelada. Ele olha por debaixo do pano e nota que a bala quase havia lhe atravessado, por sorte machucando superficialmente. O rapaz então esbugalha os olhos ao ficar cara a cara com Minho. — Tá maluco???! Não ouviu o que Soyeon disse??!

O Lee puxa o ar pelas narinas com mais força, cheio de questionamentos, mas sem conseguir falar nada. E antes mesmo que pensasse em algo, Soyeon já estava contornando a mesa enorme de sua cabine para ajeitar o mapa que antes os rapazes preenchiam com navios.

Ela chama a atenção dos dois com seus passos pesados e nada pacientes, organizando primeiramente os navios aliados em cima de Lugar Nenhum, ilha localizada à sudeste da Bahia de Busan, nem perto e nem muito longe da enorme ilha que era o Japão.

Jisung se aproxima da mesa também, percebendo que a mulher preenchia agora os navios inimigos à frente dos aliados.

— Conseguiu descobrir? — Minho quebra o silêncio ao olhar para Soyeon, terminando de organizar o mapa.

— Consegui, mas não muito. Devem haver pelo menos três dúzias de navios com artilharia pesada. Canhões por toda parte, são navios de guerra, contei pelo menos três andares. Devem abrigar mais de cem homens em cada um deles. — Ela falava aquilo sorrindo. E os dois piratas dessa vez sabiam o motivo.

— Lugar Nenhum é rodeado de águas rasas. Os navios vão encalhar, não conseguem atracar no porto. — Minho afirma e olha para Jisung, quem concordou imediatamente.

— Meu navio também não vai muito longe, mas não é nada que eu não dê conta sozinha. — Indagou a Jeon, sentando-se numa cadeira de frente ao mapa. — Se conseguirmos fazer com que encalhem, os navios se tornarão obsoletos e os canhões inúteis para um confronto de frente. Terão que lutar com pistolas ou espadas. Teremos mais chances assim.

— Mas para que eles caiam na nossa armadilha, precisaremos então pegá-los a caminho de Lugar Nenhum. — Jisung agora é quem fala, apontando no mapa centímetros antes da pequena ilha. — Como disse, são navios pesados e lentos, eles devem estar cientes de tudo isso e vão estar atentos às águas rasas.

— Então teremos que deixar que nos alcançem, distraí-los com a briga e deixar que se aproximem das águas. — Minho prossegue e os outros dois assentiram igualmente.

— Com sorte, esse plano funciona. Caso não dê certo, vamos incendiar tudo. — Soyeon olha direto a Minho e ele revira os olhos.

— Meu rum… Assim nunca conseguirei beber em paz.

Jisung solta uma leve risada.

— Relaxa, capitão, quando ganharmos essa batalha, pagarei rum para todas as tripulações. — Afirmou Jisung, convencido.

— E eu vou tirar belas férias. — Soyeon se permite abrir um sorriso de alívio só de imaginar a paz que seria estar sozinha novamente.

— E lá vamos nós de novo. — No cesto da gávea, assistia um céu azul brilhante e sentia o vento bater em seu rosto, refrescando a pele e trazendo um tom vívido aos olhos e nervos. O rapaz agregou em seu rosto um sorriso de quem estava contente com o rumo que sua vida estava tomando, desde suas ações até decisões. — Tô realmente muito cansado de fugir. Se eu quero, agora eu vou lá e faço.

— Mas isso significa se meter numa guerra que nem é exatamente nossa, né? — As palavras ainda ignorantes do rapaz de cabelos ondulados caindo sobre a testa, sentado no chão do cesto com as pernas entre um pequeno pedaço de madeira que ligava a superfície à varandinha do local, chamaram a atenção do loiro de olhos castanhos para ele.

Tsc, pelo visto quem quer fugir agora é você, Bang Chan. — Felix estalou a língua nos dentes, ainda descontente com os atos do outro. — Nós podemos ser imortais, mas essa vida é a nossa também. Seungmin deve estar contando comigo nessa jornada, Sangyeon… E mesmo Soyeon! Pode não parecer, mas eu realmente me importo com o mundo que vivo e as pessoas nele. Se tudo isso acabar, então não há motivo para viver. Não é assim que funciona? A gente luta pelo que queremos??? Não foi isso que você fez quando me trouxe de volta do Jardim???

Chan ficou calado. Ele já sabia que seus pensamentos não passavam de egoísmo. O homem que havia nele quando perdeu Felix pela segunda vez, dessa vez à morte, já se encontrava com medo. Não desejaria sentir a dor da perda de novo, e perceber que “imortais” era apenas um termo limitado a gente como ele — apenas marionetes de alguém maior — e que qualquer coisa poderia acontecer lhe assombrava.

Olhar Felix nos olhos, ambos sentados àquela altura, com aquele vento pacífico e céu claro e tranquilo, fez parecer o paraíso; Isso se a expressão do Lee não fosse de decepção.

— Eu estarei fazendo isso por você. — O Bang respondeu, mas não era o que o outro queria ouvir.

— Devia estar fazendo isso por todo mundo. Ou pelo menos só por você. Pessoas como nós vão viver nesse mundo até o último grão de osso se esfarelar na terra ou no mar, e eu queria muito poder prolongar o dia em que esse momento vai chegar. Não concorda? Não acha que merecemos viver juntos mais que algumas semanas?

Ele quis concordar. Felix no momento parecia o único com a cabeça no lugar ainda que irracionalmente estivesse se atirando ao precipício.

— Quer arriscar mesmo assim?

— Quero.

— Mesmo com a magia dela enfraquecendo? — A pergunta de Chan fez com que os dois se entreolhassem. Tanto o Bang quanto o Lee estavam preocupados.

Já haviam alguns dias que tinham notado que Soyeon estava fraca. Mesmo que tentassem descobrir o motivo, era um mistério já que ela não conversava mais do que o necessário e dificilmente expõe os próprios problemas, nem quando isso queria dizer que estava cada vez mais fraca.

Medo talvez? Medo de que as pessoas ao redor se aproveitassem, ou medo de voltar ao comum.

Felix assentiu mesmo assim. Mesmo sabendo que a mulher estava mentindo a eles.

— Quando notou? — Perguntou ao de cabelos castanhos.

— Quando ela aceitou nós como ceifadores. Primeiro ela queria me matar para ficar apenas com você, Seungmin e Sangyeon. Mas, depois disso, nos aceitou e nem sequer devolveu os poderes de volta aos outros. E quando ela usa a magia, o corpo cansa mais rápido do que antes.

— Igual com o ataque às sereias. Se ela perder os poderes, significa que perdemos também, não é? — O Lee desvia seu olhar para o horizonte, enxergando de canto o aceno positivo do Bang. — Mesmo que a gente perca tudo para que ela possa continuar forte, ficarei ao lado dela. E você também devia, afinal foi ela quem te salvou da morte. Nós devemos nossa vida a ela tanto quanto qualquer outra pessoa.

— Sei disso. Não pensei em abandoná-la mesmo quando quis negar a briga dos Han pelo trono. — Respirou mais pesado ao pensar em um motivo para toda aquela situação em que a Jeon havia se metido. — Talvez ter exposto a Lâmina dos Mortos e não estar nutrindo devidamente com almas místicas... Talvez sair da caverna, ou mesmo…

A voz de Chan pausa como se ele soubesse um terceiro motivo, ainda que fosse incerto.

Felix logo percebe a maneira que havia encerrado aquele pensamento alto.

— O quê?

— Uma vez, na Inglaterra, encontrei com um bruxo amigo e ele me pediu um favor um tanto estranho. Lembro-me que podia sentir que aquele homem estava morrendo aos poucos, e talvez ele tivesse até duas semanas. Engraçado que, quando ele me pediu o favor, me deu exatamente duas semanas para cumprir o ordenado.

Os olhos de Chan viajavam pelo horizonte enquanto em sua mente, a cena daquele dia era recriada sem dificuldade.

— E o que era a ordem?

— Matar uma pessoa: um pedido comum para um ceifador, não é? Era o que eu achava, pelo menos. Naquela época, foi a primeira vez que Soyeon me emprestou uma lâmina diferente. Eu estava apenas começando o trabalho, e ela não explicou muita coisa além de que aquilo me ajudaria. Até hoje me pergunto o porquê de uma lâmina tão especial para ceifar um jovem de dezessete anos apenas.

— Mas… Pensei que nosso negócio fosse apenas com adultos.

— Aquele era especial. O garoto era filho do bruxo, que conseguiu ficar vivo em meio aos humanos, ainda que os habitantes do vilarejo atentassem à vida dele. E o mais interessante naquilo tudo foi que enquanto eu conseguia sentir a vida se esvaindo de outros, a dele era como se apenas somasse com as demais.

— Feitiço de proteção talvez?

— Sendo filho de bruxo, não duvido nada. A questão é… por que o pai mataria o filho se tentou protegê-lo? — Chan questionava-se, intrigado com aquela memória. — Quando terminei o serviço e trouxe a cabeça do rapaz ao pai, aqueles poucos dias de vida se tornaram anos.

O Bang não precisou falar mais nada para que o Lee entendesse o ponto que ele queria chegar.

E durante o dia todo, aquela incógnita ficou remoendo na cabeça dos dois. Não podia ser apenas uma coincidência ou ambos estavam teorizando demais onde não havia nada.

No fim das contas, chegaram à conclusão de que a maior probabilidade seria a Lâmina dos Mortos exposta demais, afinal a única pessoal mística morta por ela antes havia sido Felix, quem logo a alma foi poupada.

Jisung agora encontrava-se pelos corredores do Ceifadora, aproveitando o conforto dos enormes corredores enquanto ainda esperava Minho terminar sua conversa com Soyeon já que ambos estariam dispostos a lutar nos mares enquanto os outros iriam à terra caso o “plano A" funcionasse.

Enquanto abria porta em porta, reconheceu uma figura que além de trabalhado nos músculos de bíceps e quadríceps, possuía uma forma magra nas sombras. Este que tinha piso silencioso, respiração lenta e relaxada, e andava brincando com uma faca que girava entre o médio e indicador.

Fazia tempo que não tinha um confronto direto com o garoto desde a madrugada, e mais ainda, desde que o esqueceu em Lugar Nenhum.

— Ah, Jeongin! — Chamou com um aceno e o Yang se aproximou devagar, encostando o ombro na parede, cruzando o pé esquerdo depois do direito, quase numa posição de flerte ao ficar cara a cara com o outro. — Quase não vi você o dia inteiro.

— Eu estava dando uma olhada nesses quartos. Muita qualidade. Os lençóis das camas parecem feitos do seda chinês mais caro de tão bom que são para dormir. E a comida… Nem me fale.

— Vejo que aproveitou bastante da hospitalidade da Capitã. — Sorriu contente ao ver no olhar do Yang que aquele garoto que encontrou na prisão do pai havia desaparecido por completo.

Jisung costumava se culpar pelo que houve com ele, mas ver que estava bem era reconfortante. Jeongin era como um irmão mais novo postiço. A única diferença era que esse mesmo “garoto” era um ladrão e assassino silencioso, com bela lábia. E por conta disso, o Han sabia que o Yang não estava só “olhando” os quartos. A própria faca que girava nos dedos tinha material caro, característico do trono que Jeon Soyeon tinha no seu deck. Ele apenas deu um sorriso de quem sabia de tudo e preferiu ignorar logo depois.

— Jisung. — A voz dele soou séria, até mesmo quebrando o clima de nostalgia que Jisung estava sentindo quando escutou aquele tom; até mesmo preferiu se pôr de pé em frente ao outro pirata. — Preciso fazer um pedido importante.

Eles se olharam intensamente enquanto o Yang contava o que queria, sério, sem piscar ou tremer. A respiração do Han era um pouco pesada, como se estivesse preocupado. Era um pedido perigoso, e Jisung quase hesitou em aceitar.

— Preciso apenas que confie em mim. Você consegue? — Era o que dizia quando segurou ambas mãos de Jisung e as apertou como se implorasse.

Jisung ainda hesitava. Mas ele temia que mesmo sem a aprovação, Jeongin faria de qualquer jeito.

— Certo. Eu confio em você.

Foi a última palavra sobre aquele assunto antes de serem interrompidos por outro alguém, um rapaz de cabelos avermelhados abrindo a porta atrás de Jeongin, espiando o corredor e dando de cara com os dois o encarando de volta.

— Han Jisung. Era com você mesmo que queria falar. — Seungmin chamou e então olhou para o outro rapaz, esperando que ele fosse embora logo.

— Agora? — Arregalou os olhos ao irmão, notando a cara séria dele; e depois virou-se para Jeongin. — Podemos falar mais tarde? Precisamos atualizar muita coisa.

— Claro! Estarei em algum desses quartos… olhando… — Riu ao terminar de falar e seguiu seu caminho até a escada para o andar debaixo, deixando os dois rapazes no corredor.

Jisung então entrou no quarto logo atrás de Seungmin, fechando a porta detrás dele.

Notou quando o Kim seguiu rumo até a cama e se sentou na beirada com o diário da mãe ao centro do colchão.

O Han ficou parado próximo à porta apenas observando o outro lhe olhar de uma pequena distância entre o móvel e ele, esperando que dissesse o que tinha de ser dito.

— É um alívio, sabia? — Disse o Kim ao erguer seu olhar para o irmão. — Todos esses anos eu achava mesmo que ela havia me abandonado e cansado de mim. Pior foi ser despejado tempo depois sem nada nas mãos, sem saber para onde ir direito ou o que fazer da vida. Saber que na verdade ela me amava mais do que dizia e demonstrava e que estava dando o jeito dela da gente ficar junto me deixou aliviado.

Jisung sentiu o coração ficar quentinho com as palavras do outro, sorrindo levemente antes de começar a falar.

— Você teria adorado conhecê-la de verdade. Não como a estranha que ela conta no diário... Mas mesmo sabendo que ela estava escondida quando te visitava, pra mim parecia que era quando ela estava livre de fato. — Ao falar, soltou um suspiro pesado como se sentisse os momentos que a mãe havia descrevido: a sensação de entrar na carruagem e deixar o castelo, vê-lo ficando para trás e indo de encontro ao filho mais velho.

— As coisas podiam ter sido diferentes e isso me frustra demais. Às vezes ela mencionava mais uma criança e eu sempre me perguntei se era um irmão e sempre quis conhecê-lo. Imaginava se ele se parecia comigo ou algo do tipo. Imaginava se ele gostaria de brincar comigo também, correr pela chuva, escalar as árvores...

— Confesso que nunca pensei bem em irmãos, mas isso teria soado incrível também.

— É… — Seungmin concorda enquanto acariciava o diário da mulher e um sorriso pequeno em seu rosto. — Aceitei sua proposta pela gente. Também quero tanto quanto você que seja pago a desgraça que eu vivi e nossa mãe também.

O olhar dele era verdadeiro… ou melhor, determinado. E Jisung sabia que podiam contar com aquilo do fundo do seu coração. Não porque aquele era seu irmão, afinal mal conheciam um ao outro, mas porque mesmo sem intimidade podia ver que Miyoung foi importante para Seungmin também.

— Agora, eu quero saber… — O Kim acrescenta, guardando o diário na pequena mesa ao lado da cama, próximo a uma lamparina de vela quase no seu fim.

— O quê? — Perguntou confuso, mas sorriu logo que ouviu o fim da sentença.

— Sobre você... Mamãe teria adorado que nos conhecêssemos.

— Tem razão... Por onde eu começo? — Finalmente, o Han se aproximou da cama do Kim, sentando-se na beirada de frente a ele, começando a falar devagar a própria história.

Naquele momento, nada era mais assustador que Soyeon cara a cara com Jeongin no momento que ele abriu a porta da cabine ainda com a pequena faca em mãos. Ela tanto curiosa quanto o achando imprudente por tentar roubar um objeto de seu navio achando que seria algo simples. Já ele havia percebido o que havia feito de tão distraído que estava depois do pedido que fez a Jisung.

A sorte mesmo é que quem ainda estava ali era Minho, preparado para ajudar os dois e ainda terminar de teorizar o plano antes de convocar outra reunião de superiores.

Este mesmo que logo interviu a Jeon de avançar contra o Yang com as unhas afiadas dela contra uma lâmina de ouro.

— Depois a gente discute isso, temos coisas mais importantes a tratar. — Ele diz ao se colocar no meio dos dois, olhando principalmente para Soyeon.

Por concordar, ela se acalmou, mas ainda tinha um olhar relançado ao rapaz, ainda que não fosse pelo motivo da faca.

— Eu já não te conheço de algum lugar? — Perguntou após encarar por tanto tempo, sentindo certa familiaridade nele.

— Eu já roubei você alguma vez? — Questionou o Yang, risonho ao direcionar-se do lado da mulher enquanto ela terminava de preparar o mesmo feitiço feito antes a Jisung.

— Ninguém me rouba. Isso seria suicídio. — Ela ri de volta e Minho também.

— Ela tá certa. Roubar uma bruxa nessa terra é como pedir para ser amaldiçoado pelo tempo em que viver. — Acrescenta o Lee, ajeitando a blusa no corpo antes de dar uma olhada no ferimento no braço, retirando a fita e notando que aos poucos a pele se fechava novamente.

— Mais amaldiçoado que isso… — Murmurou baixo, em escárnio das palavras alheias.

— Esse ferimento vai cicatrizar como se fosse um corte profundo. — A mulher diz quando olha para Minho mexendo no curativo e ele olha confuso.

— Mas foi só um cortezinho.

— Você mais que ninguém deveria saber que sereias têm armas letais, e até mesmo um arranhão que não cura bem fica marcado na pele. É assim que elas costumam marcar presas. Você vai ter é sorte se sarar como se nada nunca tivesse acontecido. — Indagou de forma retrucada, parando de andar no seu círculo de flores para levantar a saia do vestido pela canela, mostrando um corte vertical em cima da tíbia, cicatrizado e aparentemente profundo. — Uma vez, quando eu ainda era pequena, talvez quinze anos, decidi entrar sozinha no mar sem saber que estava entrando em um território de uma manada pequena. Minha sorte foi ter sido apenas um aviso, e o corte mal sangrou. Levou uma semana para sarar e a ferida que ficou, e como pode ver, parece até que a lâmina fincou no meu osso. Acredito que tenha a ver com o mar ou mesmo as rochas que usam para fazer a lâmina tão afiada, talvez alguma bactéria ou musgo de rocha… A questão é: um cortezinho pode ser perigoso.

Terminou de falar enquanto os outros apenas prestavam atenção sem muito o que dizer. Minho tampouco precisou dizer algo já que a Jeon apenas continuou seu ritual.

Ela repetiu também às palavras que antes dizia a Jisung, explicando para o Yang todo o processo que faria antes de juntar aliados. O Lee, pelo contrário, desistiu da companhia e retirou-se da cabine em poucas palavras. Ele aproveitou o sol da tarde mais frio para ir ao deck do Ceifadora, observar seu navio logo atrás preso ao outro, ainda bem interligados pelas madeiras, mantendo velocidades constantes para que não rompessem as tábuas.

Dali, ele subiu pela varanda, pisando nas tábuas que eram conectadas um pouco na diagonal, e com o peso do Lee, ficavam quase côncavas. Do Rainha Vermelha, uma bela mulher observa o rapaz, na proa, atenta ao que ele faria.

— Afim de um duelo, capitão? — Ela questiona com um sorriso no rosto, pondo a mão no cabo da espada.

Minho sorriu em satisfação. Fazia um tempo que não duelava além dos treinos que ajudava Sunwoo a ensinar Chanhee, nada muito incrível já que o Choi era apenas um amador. E olhando para a executora da Capitã Minji, uma velha amiga, ele sabia que estava diante de uma oponente formidável.

— É claro, senhorita.

Quando ele aceitou, Bora sorriu e subiu de primeira a varanda, ainda que as três tábuas que ligavam o navio lhe deixassem em desvantagem de altura, sendo esta já mais de dez centímetros menor que Minho. Sua única vantagem ainda eram os golpes baixos e a agilidade, ao contrário do outro que teria mais cuidado com os movimentos para que não caísse depois de se desequilibrar.

— Aposto três sacos na moça. — Das alturas, no cesto da gávea do enorme navio, Felix e Chan ainda estavam ali, dessa vez assistindo ao espetáculo que estava prestes a começar.

— Aposto três também. — Chan soltou uma risada após sua fala e fez Minho lhe encarar como se perguntasse se duvidava das habilidades dele.

Logo que a atenção foi chamada, as tripulações já estavam atentas aos dois entre os navios. Abaixo dos pés, um mar sendo velozmente deixado para trás quando navegava. Cair ali era risco de vida e de afogamento — pelo menos para o único humano ali —, mas era a essência que queriam para batalhar.

O público apostava alto. Divididos entre a Kim e o Lee, visto que ambos eram extraordinários espadachins.

Ela, uma mulher cujos golpes eram imprudentes, violentos e sem medo do adversário. Sua maior arma era de fato sua altura, pois facilitava movimentos baixos e dificuldade a visão dos indivíduos maiores que era. E ainda que fosse de pouca altura, ela era forte. O corpo podia ser humano, mas ela ainda tinha sangue de sereia correndo nas veias, garantindo agilidade e força em cada ataque.

Ele, um humano cujo pai treinou de forma extrema até que atingisse “perfeição.” Movimentos cuidadosos, atento às brechas inimigas. Quando batalhava, ele mais parecia dançar de tão rápido que sua espada atingia a inimiga. Seu estilo era do tipo mais silencioso, movimentos precisos eram importantes e custe o que custar se ele tivesse que apenas defender até encontrar pontos fracos.

Mesmo sendo apenas um humano e agora batalhando com uma sereia cujas habilidades eram instintivas, ambos estavam praticamente no mesmo patamar.

Sunwoo quem ficou responsável por organizar as apostas, usando um barril para guardar as moedas que pagaram os tripulantes.

Com toda a barulheira que faziam de torcida, chamaram a atenção mesmo dos que estavam andares abaixo do Rainha Vermelha e Ceifadora, incluindo Jisung e Seungmin, estes assistindo do convés, de costas a Minho, interessados na luta.

Ao contrário de todos, Soyeon estava estressada com os gritos por nomes dos dois enquanto ainda tentava se concentrar antes de se aproximar do Yang, oferecendo sua mão para ele.

O rapaz a olhou enquanto as palavras anteriores dela giravam em torno de seus pensamentos.

— Falando sério, sinto que te conheço de algum lugar também. — Ela sorri levemente ao ter a confirmação de que não era apenas coisa de sua cabeça.

— Talvez já ténhamos nos cruzado por alguma dessas terras. — Indagou também e então ele segurou sua mão.

O toque fez Soyeon sentir o peito pesar de repente, como se algo apertasse a caixa torácica, e por consequência seu coração. Ela se encolheu e apertou a mão dele, fechando os olhos após um suspiro pesado.

— Você está bem?? — Se abaixa ao perguntar e tentar olhar no rosto dela, mas antes de mais nada, a Jeon apenas ajeita sua postura e respira fundo.

— Eu estou. — Ela não estava, mas preferiu ignorar. Tinha aquela cara de cansaço e dor ao mesmo tempo enquanto ia ficando ao lado do mais novo. — Devo ter usado demais minha magia em tão pouco tempo. Ceifadores, curar um amigo, manter os navios em velocidade igual, os raios, minha lâmina e agora essas mensagens... Depois disso, preciso dormir umas quinze horas.

Jeongin concordou. Era de fato ela quem mais estava trabalhando naquele lugar e merecia quantas horas quisesse para descansar. Assim, tratou de fazer cada passo que Soyeon havia explicado antes de forma certa para não tornar o trabalho dela mais difícil do que já estava.

Assim feito, de olhos fechados, os dois deram início à conexão.

O corpo de Jeongin relaxou como se todo o peso que sentia antes já não existisse mais. Era como se seu peito estivesse cheio de ar e ele estivesse nas alturas com um doce e gentil vento refrescando o rosto. De repente, ao abrir os olhos, todos os sons e cores invadiram audição e visão. Ele estava no centro de Lugar Nenhum, uma enorme feira de venda e troca de todo tipo de material.

Ainda ao lado dele estava Soyeon, segurando firme a mão alheia quando abriu seus olhos e se localizou também.

O local estava cheio de gente de todo tipo, e principalmente piratas. Quando notaram a presença dos dois, olharam diretamente aos papéis que estavam nos murais, pregados nas paredes de madeira das tendas.

As mãos nas pistolas e espadas foram as primeiras ações dos homens e mulheres presentes ali, sacando e apontando aos outros dois.

— Eu não faria isso se fosse vocês. — Soyeon abriu um sorriso ladino, usando a mão livre para dar um estalo do dedo médio e polegar, e instantaneamente fez cada uma das pessoas congelarem antes de atacar. Ela então olhou ao Yang. — É bom você começar a falar, eu não sei se aguento muito.

Quando Jeongin olhou para ela também, arregalou os olhos ao perceber que o nariz sangrava por ambas narinas, os olhos avermelhavam e as artérias começavam a marcar em seu rosto.

Ele engoliu em seco e olhou de volta às pessoas à frente deles, respirando fundo antes de ditar suas próprias palavras.

Ainda nas tábuas ligadas pela proa e broa dos navios, iniciava-se uma fervorosa batalha de espadas. Os barulhos estridentes ecoavam várias vezes num único segundo de tão rápidos que eram os golpes. Firmes e brutos, as espadas se chocavam e ainda assim nem Minho e nem Bora se moviam muito para atacar. Com um pé na frente e o outro atrás, mantinham colados, exceto o tronco que desviava vez ou outra de golpes mais ousados.

A plateia gritava os nomes de ambos ou então batia palmas quando alguém atrevia um golpe mais sujo.

Do Rainha Vermelha, Jisung tinha um sorriso no rosto e de braços cruzados assistia o Lee duelar. Observava suas coxas grossas e marcadas na roupa, sentia vontade de apertá-las ou mesmo sentar ali. Os braços que se moviam numa dança para desferir golpes e a forma que suas artérias e veias marcavam nas mãos era estranhamente atrativo.

O sorriso em seu rosto era quase exposto quando de repente se lembrou das palavras do tio e se tocou de quem ele era.

Mais uma vez Minho estava em seu destino.

Não apenas filho adotivo do pirata cujo o rei Han havia matado, mas filho legítimo de um lorde cujo o mesmo rei confiava ao ponto de negociar terras. Aquela criança perdida… aquele futuro lorde e agora pirata era Minho.

Jisung não sabia se devia mesmo contar aquilo ou deixar como está, afinal Minho havia dito antes que não importava, por mais que tivesse curiosidade sobre a mãe dele.

E, ainda que contasse, e depois? Nada mudaria…

Porém Jisung desviou aquela ideia. Queria contar, afinal mais uma vez sua família foi responsável pela morte de seus pais, tanto adotivo quanto biológico. Era da história dele que estavam falando, e ele merecia.

O Han do deck quando olhou ao Lee naquela prancha teve certeza de que falaria toda a verdade sobre o lorde perdido que anos atrás causou a morte do pai, o Capitão Lee.

Pelo menos era mais um segredo que Jisung não estava mais escondendo dele, além do medalhão.

E por falar nele, era graças a isso que Minho ousava golpes tão arriscados contra Bora, confiante em sua proteção mesmo quando se desequilibrava da madeira e a plateia aumentava os gritos achando que cairia — uns quase comemorando e outros quase se decepcionando.

A espada de Bora atingia no centro da lâmina de Minho, e o som estridente era quase como se fosse partir no meio. Ele também defendia firmemente, ameaçando com golpes baixos ao avançar a perna direita como se preparasse uma rasteira, fazendo a menor recuar estrategicamente, percebendo seus movimentos de primeira.

— Esperto. Não esperaria menos do capitão do Rainha Vermelha. — Depois de recuar, Bora avança com tudo na direção do rapaz, com golpes rápidos contra a espada dele, afastando-o do centro.

Quando as espadas engatam, Minho desliza sua lâmina para baixo com toda força que tinha para focar sua mão esquerda em segurar a direita da mulher e roubar a espada dela.

Golpe falho, pois assim que Bora percebeu, atreveu-se a perder o equilíbrio quando ao abaixar sua espada, girou a perna esquerda na direção do Lee, chutando o peito desprotegido dele para trás.

Ela recupera sua posição assim que ele se equilibra de novo após o chute, ambos voltando às posições iniciais.

— Esperta. Não esperaria menos da executora de Kim Minji.

A plateia grita eufórica com a boa luta. As provocações e elogios eram frequentes, palavras de animação ao adversário eram como um gás para que dessem seu melhor na luta sem perder a concentração.

O tempo se passava e nenhum movimento ia muito longe. E quando chegavam perto demais, Bora era tentada a se afastar e Minho a fazer o mesmo, voltando tudo do começo, até que algo mudou.

A tripulação atenta à luta acabou por esquecer de olhar a direção do enorme Ceifadora a caminho de rochas monstruosas, provavelmente de cavernas submersas no caminho a Lugar Nenhum.

O Navio ia na sua maior velocidade bem em direção às rochas, e facilmente o baque mataria ambas tripulações.

As águas eram cortadas no caminho rapidamente, aproximando o grande navio ao seu destino final.

Até que, em meio aos gritos e aplausos, um par de olhos, do Rainha Vermelha, se desvia arregalado à frente, apontando e gritando o mais alto que conseguia.

— ROCHAS! ROCHAS À VISTA!! DESVIAR O BARCO!!

Ele repetiu várias vezes, mas a gritaria ao seu redor era maior ainda. Quase ninguém notou seu desespero a não ser Seungmin, rapaz mais próximo da beirada do Ceifadora com o Rainha Vermelha, ainda que de canto de ouvido, percebeu as palavras do homem da tripulação alheia e olhou para frente.

A expressão sobressaltada se fez presente quando notou rochas do triplo do tamanho do navio com poucos metros de distância.

Ele correu pesado até o timão, desviando o leme para o caminho mais curto o mais rápido que pode.

— JISUNG! SOLTAR ÂNCORA!!

Jisung se alarmou também. Sem tempo para pensar, quando percebeu do que se tratava, correu para o convés do barco até a manivela, soltando de uma vez, independente do solavanco que causaria.

Enquanto Seungmin girava o timão para a esquerda, a âncora atingiu as rochas abaixo e fez com que o barco desse uma curva de quase noventa graus da posição que estavam, empurrando todos para direita dos navios.

O Kim precisou segurar firme para não cair. Já o Han não conseguiu se prender à manivela e o corpo foi lançado para a direta, atingindo as madeiras da beirada do barco com suas costas, quase perdendo o ar dos pulmões.

Por sorte, o mesmo havia sido feito no Rainha Vermelha, por Sunwoo e Chanhee, quem mantiveram a calma para parar o barco quase no ponto de atropelar o Ceifadora.

— E é por isso que dessa vez precisamos lutar! Não podemos mais nos esconder aqui! Não estou falando de dívidas ou de pagamento pelas cabeças! Eles não terão piedade. — Jeongin ainda tentava convencer os piratas ao redor dele e de Soyeon. O mais rápido que podia ainda não era p suficiente já que a mulher sangrava pelo nariz e a mão suava frio entrelaçada na dele.

— E como poderíamos confiar nas suas palavras? — Uma feirante questiona. Usando bandana vermelha na cabeça, um vestido branco sujo e simples, ela parecia ser a única corajosa e racional entre os demais que ainda forçavam as espadas contra o feitiço da bruxa, afinal, com uma pequena adaga em mãos, ela agora descascava uma laranja tranquilamente enquanto olhava o Yang. — Afinal, todo mundo aqui conhece gente da sua lábia.

— Porque eu também fui enganado. Ofereci a eles informações valiosas sobre o herdeiro do príncipe alguns meses atrás, e mesmo assim fui aprisioado e quase entregue à forca. Perdi meu navio e a tripulação foi morta também. Não vão se importar pelas cabeças que vocês tragam dessa vez, rico ou pobre, adulto ou criança, homem ou mulher, eles vão limpar todo mundo.

Ficaram em completo silêncio, exceto por Soyeon grunindo de dor num instante.

— Garoto. Precisamos- — Ia avisá-lo quando sentiu como se suas costelas fossem esmagadas.

Jeongin sentiu dor na coxa direita e quase caiu no chão daquele lugar.

— Temos que ir. — Ela tentou dizer calmamente, mas não conseguiu disfarçar a dor.

Jeongin olhou nos olhos da mulher e pode ver que havia mesmo algo de errado. Ele então olhou aos piratas perplexos na frente dele e ditou as últimas palavras.

— Chegaremos em breve. É melhor estarem preparados. Preferem morrer como covardes ou morrerem lutando pelas próprias vidas??! Vocês que sabem.

Foi tudo que disse antes de abrir os olhos no Ceifadora junto de Soyeon e gritar de dor ao mesmo tempo que ela quando percebeu que a mesa do escritório havia caído em cima dos dois.

Quando o navio fez sua volta bruta para desviar das rochas, duas pessoas sem onde se apoiarem acabaram perdendo equilíbrio e deslizando da madeira que os mantinham de pé.

Primeiro Bora e depois Minho. A espada dela foi a primeira coisa que tocou o mar violento quando caíram. Para piorar, as tábuas estavam de distância menor do que antes de um navio ao outro, deixando pouco espaço para Minho, que quando caiu, soltou a espada para agarrar uma mão na madeira e outra na mão de Bora.

Sua espada caiu raspando pelo rosto da mulher, machucando a testa dela num corte vertical até a bochecha. Seus rápidos reflexos apenas lhe ajudaram a não perder um olho ou até mesmo morrer quando a ponta da lâmina quase se cravou em seu rosto. O ferimento se destacou e sangrou. Minho até mesmo olhou assustado quando foi conferir o estado da companheira de batalha.

— Você tá bem???

Ele puxa ela com mais força, fazendo com que ela também segurasse no pouco espaço da tábua.

— Estou. — Respondeu firme, mesmo que seu coração quase estivesse saindo pela garganta com a morte quase eminente. Ela agarrou a madeira com uma mão e tentou pegar a beirada do barco para se puxar para cima. — Foi por pouco.

— É.

O Lee a ajuda, usando sua coxa esquerda para que a perna direita dela alcançasse um apoio e a impulsionasse até o convés do navio. A Kim logo retribuiu o favor e puxou o rapaz pela mão, firmes e salvos no Rainha Vermelha de novo.

— Empate? — Ela questiona com a respiração pesada, parecendo cansada demais depois daquilo para tentar de novo.

Minho sorriu e então rasgou sua camisa, na borda, usando o pano para limpar o rosto e cobrir o olho dela também.

— Dessa vez sim. A próxima, fazemos em terra.

Os dois riram levemente antes do Lee se virar até o Ceifadora e notar Jisung se levantando com dificuldade do chão. Deixando a moça de lado — já que, como sereia, ela não demoraria a se curar —, ele saltou de um navio ao outro sem dificuldade já que a distância era curta, descendo o deck até o convés e ajudando o Han a se levantar.

— Você tá bem???? — Pergunta preocupado, olhando o rapaz que parecia sem ar tentar respirar. Minho segura as mãos no rosto dele enquanto Jisung ia fazendo que sim com a cabeça.

— Eu só… bati muito forte… no barco. — Ele intercala com grandes puxadas de ar pelas narinas. — Você está bem?

— Aham. — Também fez que sim com a cabeça.

— Mas que porra tá acontecendo! — Soyeon grita alto e dolorido, empurrando o móvel com toda força que tinha.

Suas costelas agora pareciam rasgar os músculos e órgãos, e mesmo assim levantou-se cambaleando até a porta.

— Soyeon! — Jeongin chamou ao sair logo depois e mesmo caminhando pesado e falho, segurou ela pelo ombro e abriu a porta logo depois.

— Dez minutos! DEZ MINUTOS ERA O QUE EU QUERIA! — Trinca os dentes assim que olha para as tripulações de ambos navios, atônitos. Ela percebe a grande rocha na frente deles e ainda assim se deixa enfurecer sabendo que nada disso seria necessário se todos estivessem prestando atenção na rota. — ESTÃO MESMO TÃO DESESPERADOS ASSIM POR ESSA COROA OU É BRINCADEIRA DA PARTE DE VOCÊS?

Enquanto falava alto, nuvens ao redor deles se tornam acinzentadas, carregadas de chuva e prontas para disparar raios. O vento se torna cada vez mais frio — quase gelando o corpo de quem estava exposto demais a ele.

No mesmo momento, a visão da Jeon se torna escura, fechando-se aos poucos até que ela não tivesse mais noção de nada.

— SOYEON! — Chan pula da metade da escada do cesto da gávea, percebendo o estado em que a mulher estava.

Ela cai nos braços de Jeongin, gélida e pálida. O nariz sujo de sangue seco entregava seu exagero no uso de poderes, e pior ainda, as costelas quebradas perfurando os órgãos impediam a cura imediata de sua imortalidade, já que se não estivesse tão exausta e desgastada do uso de magia, facilmente seria curada. Não apenas aquilo, mas uma força ainda maior atrapalhava sua vida, no entanto ninguém ali conseguia imaginar o quê… ainda.

A noite chegou e ainda haviam algumas pessoas na porta em frente à cabine da capitã, esperando.

Já faziam algumas horas que Chan e Felix estavam ali dentro junto de Bora, ajudando a própria Jeon a executar uma cirurgia nela mesma. A dor era exaustiva mas sem nenhum medicamento para adormecê-la e cansada demais para pensar, fez tudo aquilo acordada.

De um canto, Bora — esta cujo ferimento no rosto encontrava-se quase inexistente — mantinha um pano úmido e quente ao redor do corte na costela, manchando o lindo vestido azul de sua dona. Felix segurava uma lamparina próximo para iluminação e Chan segurava a mão direita livre dela com a sua, a qual era apertada sem dor.

Soyeon ao invés de gritar, escolheu apertar os músculos do corpo e deixar que a adrenalina fizesse o trabalho do analgésico. Sua mão esquerda pousava a palma um pouco acima da ferida. De olhos fechados e dentes trincados, ela conduzia os movimentos de seus poderes para afastar a costela que perfurava o pulmão, permitindo então que o processo de cura fosse realizado lentamente.

Doía.

A mulher sabia bem o quanto aquilo estava doendo, mas era incapaz de gritar agora. A última coisa que faria era demonstrar fraqueza próximo à guerra, e mais ainda em frente aos seus subordinados.

Demorou, mas quando a última costela foi consertada e sua pele foi costurada por Bora, a bruxa desmaiou na cama, escorrendo suor pela testa, cabelo e braços. O corpo fraco não aguentou muito.

A pulsação foi medida pela Kim e ela olhou ao Bang e ao Lee, ambos de expressão preocupada.

— Ela vai ficar bem. O pulso é forte e parece estar estável, vou ficar aqui para garantir que nada mude, mas por hora devemos deixá-la descansar.

Ela comunica aos dois, se afastando da cama para buscar um pano limpo e com cuidado passar por debaixo do tronco da Jeon adormecida, rodeando a cintura até as costelas, cobrindo o ferimento cuidadosamente.

Felix e Chan se entreolharam. Sabiam bem que ela estava fraca e aquilo só confirmava o que conversaram no cesto da gávea horas antes.

Eles saíram do quarto da mulher evitando demonstrar preocupação aos demais da porta, por mais que soubessem que era uma informação importante — assim como perigosa.

— Ela está bem. Só precisa descansar, nós gastamos a magia dela excessivamente, mas agora precisamos tomar as rédeas e manter o curso de navegação para Lugar Nenhum por nós mesmos. — Chan inicia a conversa antes que os olhos curiosos dos outros e suas bocas questionadoras dissessem algo. — Evitem ferimentos, batalhas que não sejam com objetivo de treino também não estão permitidas. Capitão Lee e Han, criem turnos da tripulação para olhar os navios e manter o timão na direção certa, tornem seus navegadores úteis. — Ordena ao final ao olhar os dois mencionados. — Seungmin, trate de descansar também, sua ferida não está cem porcento. Dispersar.

Quando terminou, ele apenas deu a volta ao redor do grupo, junto de Felix, descendo as escadas da escotilha para baixo do convés.

E assim como queria, foi feito duas duplas em cada navio controlando timão e velas — este também a âncora caso necessário —, garantindo a segurança dos navios enquanto não chegavam ao destino.

Durante o dia, Sangyeon e Jeongin dividiam o controle do Ceifadora, e Changmin junto de Bora ajudavam no Rainha Vermelha. À noite, Sunwoo e Chanhee cuidavam do primeiro mencionado. No cesto da gávea de apenas um navio, ficava Felix, responsável pelos avisos de emergência de dia e de noite.

Naquele primeiro turno noturno, no navio detrás estava Jisung com as mãos no timão. Ele bocejava um pouco cansado, mas tentava se manter firme na sua posição por ter sido um dos primeiros a se comprometer.

— Está uma bela noite. — Minho veio em passos rápidos do convés até subir no deck e parar ao lado de Jisung. Ele colocou os braços para trás, observando o horizonte limpo, já que as velas estavam levantadas devido ao vento que ia contra eles.

As estrelas brilhavam mais fortes no céu, e as velas apagadas do convés por conta dos ventos pareciam favorecer um momento romântico. O vento estava fraco, refrescante ao corpo gélido daqueles dois à noite.

— Você devia estar olhando o convés e cuidando da âncora, Capitão Lee. — Jisung olha o rapaz e este nega com a cabeça.

— Não é necessário, Vossa Majestade. — Ele olha à frente onde o Ceifadora ia mais adiantado, com Chanhee guiando o navio e Sunwoo estendendo as velas no lugar. E lá de cima, Felix exibia uma pequena luneta, atento à rota como disse que faria. — Qualquer problema, seremos avisados logo.

Jisung suspirou ao ser chamado de tal forma, vendo que depois de meses, Minho não tinha jeito nenhum. Ele então aceita o argumento e respira fundo, afastando-se do timão e se encostando na borda atrás deles.

— Sabe, me pergunto se a Capitã Jeon perdeu o rumo dos navios devido ao uso excessivo dos poderes dela. Isso não deveria ter acontecido, certo? — O Han olha ao Lee se encostar ao lado dele e fazer que sim com a cabeça também. — Eu não sabia que isso poderia afetar desse jeito. Quer dizer… Vocês viviam falando do quão poderosa ela era e…

— Talvez ela também fosse histórias. Assim como eu. — Minho encosta seu queixo no ombro de Jisung, logo deitando a cabeça ali, ainda olhando o céu estrelado. — Quem não conhece, diria isso. Mas já vimos do que ela é capaz… Talvez realmente haja um limite para essa magia, ou ela tenha perdido o controle… Me pergunto se ela pretendia enfraquecer naquela caverna sem que ninguém mais soubesse, e quem sabe ali morresse, tornando-se uma lenda.

— Então o retorno do Capitão Lee Felix mudou isso?

— Talvez... Tudo aqui é um grande talvez. — Ele comentou com o olhar perdido naquele céu antes de erguer seu rosto, segurar o queixo do Han com seu braço direito e fazer com que se entreolhassem. — Você de fato é uma das poucas certezas que eu tenho nesse momento, Capitão Han.

Sorriu apaixonado, vendo as estrelas se refletindo nos olhos de Jisung, deslumbrado por tanta beleza numa única vista.

Já o outro encontrava-se hipnotizado. Perdido novamente nos lábios alheios cujo toque queimava seu interior e esquentava o corpo todo. Jisung quando tinha as mãos de Minho onde quer que fosse, pareciam encaixar perfeitamente na pele dele.

Naquele momento parecia apenas eles dois e o silêncio, prontos para um beijo cheio de paixão.

Os lábios ansiosos foram se aproximando vagarosamente, quase torturando seus donos cujas ações pareciam tímidas ao invés de precipitados como costumavam ser.

Foi ficando quente. Respirações estavam próximas demais e as mãos já estavam nos lugares certos das cinturas. Um de frente ao outro, apenas esperando o passo final.

Até que Jisung interrompe.

— Tenho que te contar uma coisa.

Ali foi que sua lentidão em iniciar o beijo se justificou. Um turbilhão de pensamentos percorriam a cabeça do jovem naquela hora.

Minho precisava saber da verdade sobre seus pais.



Handong tinha um sorriso de satisfação após ter disparado sua pistola.

O olhar de desespero da Capitã quando achou que seria morta era impagável para a jovem chinesa, quem lhe atirou bem ao lado do rosto no horizonte vazio apenas por sadismo.

Já a outra estava paralisada e assustada. Ainda tinha consciência, mas não conseguia acreditar que estava mesmo viva.

O seu ouvido fazia um barulho alto e doloroso, manchando seus pensamentos com esse som incessante. Sua boca tinha gosto amargo de medo… ou melhor, pavor.

Handong era extremamente forte e assustadora. Ela era mais do que uma lenda naquela região que afastava intrusos do território da família.

Sentindo um líquido quente escorrer de sua orelha e pingar em seu ombro, a Kim levanta a mão trêmula e coloca no local que sentiu aquilo. Quando olhou para o que tinha nos dígitos, mal conseguiu crer que era sangue.

Oops… — Handong deu de ombros, não parecendo se importar. Ela apenas sorriu.

Minji respirou fundo para se manter paralisada. Se ela não estivesse em desvantagem de número e precisasse daquela aliança, já teria rasgado o pescoço da garota.

— Se não me matou… — Suspirou pesado, olhando a mulher cara a cara. — Então temos um acordo?

Handong riu de escárnio mas não parecia discordar da ideia.

— Eu já havia sido avisada de que o povo do nordeste daqui estava se preparando para eliminação de ligações à pirataria, mas duvidei da capacidade deles. Porém, ver você aqui, praticamente chorando pela minha ajuda me fez mudar de ideia. — Handong guarda sua arma no coldre e olha para trás. Ela não disse nada ou mesmo se mexeu, mas foi suficiente para a tripulação que revistava as garotas de Minji as soltassem. — Vamos ajudar com uma condição.

Minji não hesitou. Jisung confiava nela para aquela união e faria o que fosse preciso.

— Fale o que é. — Pediu delicadamente apesar da escolha de palavras soar rude.

A chinesa sorriu de canto, virando-se de costas para andar pelo convés entre as tripulações e então se virou à Minji, abrindo os braços como se quisesse a acolher.

— Case-se com minha irmã mais nova e una-se a mim no meu navio como minha imediata.

Minji agora hesitou. Sabia bem de quem a mulher estava falando e de jeito nenhum podia aceitar tamanha baboseira.

“Yoohyeon”, o nome da caçula da família veio em mente, filha da segunda esposa do pai de Handong com uma mulher coreana. A garota era linda, de cabelos acinzentados como brasa apagada, tinha olhos ferozes e atrativos. O corpo era bem desenhado, como uma escultura das mais finas, além de longas e belas pernas que ela fazia questão de expor quando usava calças de couro coladas e apenas o busto da roupa da Dinastia Han, de tom azul como o mar, em contraste com a pele pálida dela.

Apesar da aparência de uma donzela, a personalidade era igual a da irmã. Ou melhor, ainda pior. Yoohyeon era cheia de si, tinha um ego alto. Talvez porque era realmente perfeita: bonita, inteligente e habilidosa.

Mesmo assim, Minji nunca teve interesse desde o dia em que se deparou com as irmãs a primeira vez. Quando, depois do tiro que levou de Handong, Yoohyeon apareceu como um cachorro abatido tratando de coletar informações sobre aquele navio, aquela tripulação e principalmente sobre a capitã.

Mas, nunca, jamais, em momento algum, Minji imaginou que tinha o dedo de Yoohyeon no pedido de casamento feito por Handong a ela.

Quando as palavras foram ditas tão corajosamente, passos são ouvidos entre a névoa e as enormes pedras. O salto da bota batia na rocha e ecoava por todo lado, chamando a atenção de todos.

De repente, um pulo para o convés. A silhueta da mulher foi rápida ao pousar apoiada no joelho direito e com a mão esquerda no chão. Ela trajava um capuz escuro, longo, cobrindo seu rosto.

Mesmo Handong permaneceu em silêncio, entregando que já conhecia a mulher.

Minji então entendeu de quem se tratava quando a dona do capuz se levantou e o retirou, já olhando a Kim com um sorriso de esperança.

— Diga que sim, Capitã. Diga que não esqueceu da noite incrível que tivemos… Seja minha esposa pela eternidade.

Loucas”, eram o que Minji conseguia pensar quando olhava o sorriso das irmãs para ela.

A Capitã do Sonhadora sentiu como se seu pescoço estivesse amarrado a uma corda num penhasco. Se fosse se livrar da corda, cairia do penhasco. Se decidisse manter como está, logo morreria enforcada. Era uma escolha difícil, que antes não pensou em hesitar, mas que agora estava brincando com sua vida.

— E então? — Handong chama a atenção depois de um longo silêncio. — Temos um acordo???


Notas Finais


Esclarecendo algumas coisas primeiramente já que muitas perguntas deixadas pelo capítulo de Histórias Ainda Não Contadas

- O navio que o pai do Minho, Capitão Lee derrotou era o navio de lordes que seguiam rumo à Bahia de Busan negociar com o "pai" do Jisung
- O Capitão Lee seguiu ordem de assassinato do irmão do Rei Han, no caso Janghoon, "tio" do Jisung.
- Quando Janghoon soube que o filho do lorde havia sobrevivido e o Capitão Lee por amá-lo se recusou a matar ou entregá-lo, foi quando Janghoon contou da sabotagem a Jongsung, o que acabou levando o Capitão Lee para a emboscada em Busan.

Então desde o começo o pai do Minho sabia da origem dele e mesmo odiando a realeza, amava o filho demais para exterminá-lo.

A história de todos aqui está interligada né? Bom demais

Juro que quis matar alguns personagens nesse capítulo, mas seria muito gratuito matar do nada KKKKK

Agora, mesmo revelando o grande segredo plot, criei outro por cima dele que vai ser importante para o segundo livro e quem descobrir ganha beijo KKKKK

Enfim, espero que tenham gostado e novamente muito obrigada pelo apoio de vocês à fanfic. Amo vocês de verdade e espero mesmo que estejam gostando do rumo que isso tá indo!

Vejo vocês em breve❣🥺


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