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História Love is a Sin (Taekook) - Hello, Little Angel...


Escrita por: Peper_KTZ

Notas do Autor


Tradução do título: Olá, Anjinho...

Boa leitura e perdoem qualquer erro 😊

Capítulo 4 - Hello, Little Angel...


Fanfic / Fanfiction Love is a Sin (Taekook) - Hello, Little Angel...

Jungkook  P.O.V

6:00                                    Wednesday, 18, March


Chegamos na cabana eram seis horas em ponto. 

Desde que meu celular tocou pela primeira vez, ligaram para mim mais vezes. Ao todo foram quatro de Jongin, duas de Seokjin e dez de Jimin. Não atendi nem uma. A última ligação de Jimin às 4:23 foi o que acordou Taehyung, que acabou pegando no sono um pouco depois da primeira ligação.

- Chegamos. - anuncio, tirando meu cinto. 

Vou para a porta de Taehyung e o ajudo a sair do carro. Seguro nos seus braços e dou um impulso. Ele levanta rápido demais para alguém que está machucado e quase cai, mas consigo segurá-lo. Passo seu braço esquerdo pelo meu pescoço e abraço sua cintura. 

Não deixo de notar que Taehyung analisa tudo, desde a cabana até a área em volta dela, desconfiado e até receoso.

- Venho aqui sempre que quero ficar sozinho. Já faz um tempo desde a última vez então deve estar um pouco sujo lá dentro, mas vai servir. - digo, e ele concorda. 

Seguimos até a porta e eu tiro a chave do bolso com um pouco de dificuldade por conta do peso de Taehyung. Entramos.

A casa não era nada grande, mas era confortável. 

- Eu vou te deixar no quarto e vou ver o que posso fazer para te ajudar com os machucados nas suas costas. - 

- Certo - 

Subimos as escadas e o levo para o meu quarto - o único que tinha na cabana. Tinha uma cama de casal, que ficava de frente para a porta principal. Do lado esquerdo da cama tinham duas poltronas, uma mesinha, e mais atrás o acesso para a sacada. Do lado direito ficava a porta para o banheiro e uma estante de livros. Do lado da porta de entrada ficava a cômoda para guardar as roupas, e haviam algumas fotos em cima.

Deixo Taehyung sentado na cama e vou abrir as cortinas. 

- Tá... - nervoso, me viro de frente para ele. - O que eu faço agora? - pergunto.

- Como assim? - 

- Bom, você está com dor, não é? O que eu posso fazer para ajudar? - repito e ele me analisa por um tempo. 

- Para começar, tenho que me livrar dessas correntes nas minhas asas. Faça o que for preciso, mas tire... por favor. - Taehyung pede e eu posso ver que ele está um pouco ansioso. 

- Tudo bem - suspiro e me sento na cama, com ele de costas para mim, e passo a analisar com cuidado sua situação.

As correntes não estavam exatamente presas, mas se Taehyung tentasse mexer as asas, iriam forçar o ferro estranho e consequentemente, apertá-las. E bem perto da base, de onde saíam suas asas, havia um tipo de adaga cravada nas costas do Anjo. Era pequena, mas larga, e interligava as correntes nela. O que era um problema, porque se as correntes se mexessem muito, a adaga também mexeria, rasgando ainda mais a pele de Taehyung e trazendo a lâmina para cada vez mais perto da base das asas.

- Taehyung, se a base das suas asas cortar, o que acontece? - pergunto, incerto.

- Elas nunca mais vão nascer. Por quê? - pergunta desconfiado. Eu hesito na resposta, com medo da reação dele. - Por que, Jungkook?! - pergunta de novo, impaciente e alarmado.

Sobressalto.

- Porque... tem uma lâmina cravada nas suas costas, que é ligada com as correntes. Toda vez que você mexe as asas, as correntes puxam e trazem a lâmina para mais perto da base. - explico, engolindo em seco.

- Merda... - ele passa as mãos pelo rosto. - Desgraçado... Seu desgraçado... - xinga baixo, provavelmente a pessoa que fez isso. 

- O que eu faço? - Ele suspira pesado e demora um pouco para responder, respirando fundo vezes demais.

Estava claramente abalado com a situação.

- Tu precisa tirar a lâmina antes que ela corte a base. Tem como fazer isso sem mexer nas correntes? - pergunta e eu percebo que Taehyung está preocupado e aflito - muito aflito.

- Não sei, não consigo enxergar direito assim. Você precisa tirar a blusa. Ou o que sobrou dela... - digo e ele balança a cabeça, concordando.

- Eu só vou poder abrir, tu irá ter que cortar ou rasgar a parte de trás. - me diz e começa a abrir a blusa.

- Ok, então eu vou na cozinha procurar uma tesoura. Se eu tentar rasgar vai ser pior. - 

- Tudo bem. - depois que ele responde eu vou a passos rápidos para a cozinha e procuro por uma tesoura. Acho uma na gaveta e volto para o quarto. 

Taehyung está com a blusa aberta e eu percebo que ele está muito mais machucado do que eu pensei. Tem vários cortes e hematomas por toda a extensão de seu tronco exposto. 

Volto a me sentar atrás dele e começo a cortar a blusa para conseguir tirá-la. Depois desse processo, jogo o que sobrou dela em um canto do quarto. Depois eu me preocupo com isso. 

- E então? - ele insiste. 

Tento me concentrar na arma em suas costas e não no fato de elas serem largas e fortes. Fortes para caralho.

- A corrente que está interligada na adaga é a que faz a pressão no resto. Quando eu puxar, você vai sentir as asas apertando por um tempo. - explico o que eu vejo. 

- Tudo bem, não me importo, só faça logo. - ele manda e eu respiro fundo. 

Eu envolvo a lâmina na minha mão direita, e com a esquerda me apoio no ombro do Anjo. Começo a puxar, e ele geme com a dor, então tento ser mais rápido. 

- Jungkook, puxe de uma vez! - ele diz sôfrego.

- 'Tá! - me assusto.

" 1, 2, 3 " 

Puxo. 

Ele grita e morde a própria mão, tentando descontar a dor. São segundos para sangue novo escorrer por cima do seco, saindo do corte fundo em suas costas.

- Pronto. - digo, e ele respira fundo várias vezes, trêmulo. - Está tudo bem? - pergunto, preocupado ao ver a forma como aperta o colchão, como seu corpo treme e sua.

- Argh... - respira fundo mais uma vez, jogando a franja para trás. - Sim, tudo bem. - ele responde. - Tem como tirar as correntes agora? - me pergunta baixo. 

- Tem sim. - 

Tiro tudo de cima das asas e o vejo grunhir aliviado. O Anjo mexe as asas, conferindo se não tem mais nada as prendendo ou incomodando.

Eu levanto e vou buscar uma toalha e tentar achar uma roupa limpa que sirva nele. Pego tudo e paro em sua frente, o vendo recolher as asas com a expressão torcida de dor.

- Pode ir tomar um banho. Eu vou arrumar aqui e ver se tem alguma coisa para nós comermos. - digo, lhe entregando as coisas. - O banheiro fica ali, a água quente é a da direita, tanto da banheira quanto do chuveiro. - explico e ele assente. - Você vai querer passar algum remédio nos machucados? - pergunto, e ele olha o próprio corpo. 

- Acho que sim - 

- 'Tá. Eu te ajudo quando você sair do banheiro. - falo e ele acena com a cabeça.

- Obrigado - eu só sorrio fechado em resposta.

Vejo ele entrar no banheiro, fechando a porta, e só então vou para a cozinha preparar alguma comida para nós.

...

7:37


Depois que coloco uma pizza congelada no forno, fico no sofá desenhando enquanto espero Taehyung descer. 

Sua demora não me surpreende, não quando a imagem de seu corpo machucado coberto de sangue e suor e terra não sai da minha cabeça. Não consigo deixar de imaginar o que poderia ter acontecido para deixá-lo nesse estado. 

Quando Taehyung volta, a pizza já está pronta e morna.

Vestindo somente a calça moletom que eu o dei, seu tronco fica exposto. Com a pele limpa, boa parte de seus cortes não parece tão ruim, com exceção de um ou outro. Em contrapartida, hematomas ficam mais evidentes sem o sangue para cobri-los. A única coisa mais escura do que os machucados, são as tatuagens.

Agora sem o pedaço de camisa cobrindo seu torso, vejo que Taehyung tem muito mais tatuagens do que pensei. Em cada músculo que olho, há uma, desde a clavícula e descendo até onde a calça esconde. Não me surpreenderia se tivesse em suas pernas também, como a sequência de desenhos sugere que tem. Umas são apenas traços e símbolos estranhos, que nunca vi antes, e outras são figuras mais fáceis de deduzir o que são. Todas em tinta preta.

Acompanhando as tatuagens, cicatrizes também desenham sua pele. Antigas e novas. Grandes e pequenas. Assim como não consigo pensar em como Taehyung está aqui nesse estado, também não consigo pensar em algo que explique tantas cicatrizes, que explique como ele as conseguiu. Não são cicatrizes de um simples arranhão, não são cicatrizes que se consegue facilmente.

Todas essas tatuagens e cicatrizes desenham o corpo de Taehyung. E talvez eu não devesse estar encarando tanto, mas é inevitável. A pele bronzeada quase pede para ser tocada, e a lembrança de ser quente por pouco não me faz estender a mão na direção do peitoral marcado. O abdômen definido junto com cintura fina hipnotizam, o quadril dentro da calça preta quase dança a cada passo dele. Os bíceps fortes dos lados da clavícula bonita me fazem imaginar o quão forte Taehyung é, o que ele faz para ter um corpo que, mesmo forte, parece esconder a verdadeira força do Anjo. É quase como se dissesse "isso não é nada, chegue perto e eu mostro o que posso fazer".

Taehyung parece perigoso. Taehyung é perigoso. Seu corpo se movendo com tanta agressividade e ao mesmo tempo tanta elegância esconde a profundidade do que é capaz de fazer, dá vontade de pedir para que mostre. Sua expressão que parece estar sempre séria, sempre lançando advertências, diz que é melhor ficar quieto, que eu não vou querer ver.

Taehyung é como um daqueles animais cuja beleza avisa que é melhor ficar longe, porque é perigoso chegar perto.

Taehyung é perigoso e é magnífico.

Eu já o achava lindo quando estava acabado, e agora acho que "lindo" é pouquíssimo. É de longe o homem mais belo que eu já vi na vida.

Quase peço para ele posar para mim, enquanto busco tintas e uma tela. Parece errado que uma obra dessas não seja registrada.

Acabo me lembrando de piscar quando Taehyung se aproxima, e de que não nos conhecemos quando ele se senta ao meu lado no sofá.

Pigarreio.

- A pizza está quase pronta, enquanto isso é melhor irmos cuidar dos seus machucados. - digo, olhando para qualquer canto que não seja ele, perdendo a coragem de encará-lo quando ele me encara também.

Me levanto para ir atrás da caixa de primeiros socorros, inquieto sob seu olhar avaliativo, e peço para ele se virar de costas para mim quando a acho em cima de um armário. Volto a me sentar, respirando fundo. Abro a caixa e pego um algodão, o remédio e antisséptico para passar. 

O corte que a adaga fez está bem feio, vai deixar uma cicatriz grande, que acompanhará todas as outras que Taehyung tem nas costas; umas mais visíveis, e outras que só se consegue enxergar se chegar perto.

Começo a limpar os machucados menores, deixando o pior por último.

- Isso precisa de pontos, Taehyung. - aviso, mas ele nega com a cabeça. 

- Não precisa, daqui a pouco já vai estar curado. Só limpe e vai ficar tudo bem. - fala, e eu suspiro, não concordando com ele. Entretanto, não insisto.

- Se você diz... - respondo em um murmúrio e começo a passar o algodão no corte. Quando encosto o remédio na ferida, Taehyung retrai as costas, se afastando do toque com surpresa.

- Fique parado ou vai demorar mais. - resmungo, o puxando de novo. 

- Isso dói - ele reclama, mas não se afasta mais.

- Eu sei que dói, mas tem que limpar. - o mais velho não responde e eu volto a passar o algodão, com mais delicadeza. 

- Pronto. - aviso, já guardando as coisas. Me levanto, coloco a caixa no lugar e vou jogar os algodões sujos no lixo. 

- Obrigado - 

- De na-... - ele me interrompe. 

- Não só por isso, mas por tudo que tem feito por mim. Desde que me tirou de lá até agora. - diz, olhando para mim. 

- Não precisa agradecer. - respondo sorrindo pequeno. 

Ele ia falar mais alguma coisa, mas é interrompido por meu celular tocando. É Jimin. De novo. 

Respiro fundo e atendo.

- Alô? - digo, hesitante. 

- Onde caralhos você está, Jeon Jungkook?! - ele grita, e eu tenho que afastar o celular do ouvido. 

- Oi p'ra você também. Estou bem sim, obrigado por perguntar. E você? - ironizo.

- Não me venha de graça agora! Estou tentando ligar p'ra você desde cedo, mas a madame decidiu que não ia me atender. Por que diabos você não está na faculdade? Você nunca falta, Jungkook! - olho para Taehyung e engulo em seco. 

- Você vai estranhar, mas eu estou bem. Desculpa não ter avisado mais cedo, mas é por um bom motivo, confie em mim. - 

- Como assim, "bom motivo"? Onde você está? - insiste exaltado e eu sei que ele vai me encher de tapas quando me ver de novo. 

Taehyung só observava e parecia querer rir do meu desespero, apesar de segurar.

- Jimin, eu não posso te falar agora. - 

- Onde. Você. Está? - pergunta pausadamente. 

Eu estou tão ferrado...

- Jimin... - manho.

Ele demora um pouco para voltar a falar, e eu tenho quase certeza que ele desistiu, mas esqueci de uma coisa: é com Park Jimin que estou falando. 

- É melhor você se preparar, porque eu vou atrás de você. Quando te achar, porque eu vou te achar, vou quebrar essa sua carinha bonitinha. - rosna e desliga, sem mais nem menos. 

E eu? Só entro em desespero, porque Jimin consegue ser bem assustador quando quer. 

Basta espiar Taehyung para perceber o olhar divertido que ele carrega, como se debochando da minha situação. Mas é tudo o que ele tem. Um olhar divertido. Nada além disso.

- Aish, está olhando o quê? - resmungo, desviando o olhar.

- Seu medo. Por que não disse onde estava? - questiona, e percebo que quer sorrir, ainda que se contenha.

- Você está achando divertido porque não conhece o Jimin. Ele vai me matar! Como ele vai reagir se te ver? - digo, choroso.

- Ele é seu namorado? - me pergunta com um pequeno sorriso de canto quase malicioso no rosto.

- Ai que nojo, não! - torso o rosto. - Ele é meu melhor amigo desde que éramos crianças, mas ele tem esse jeito super preocupado e vai me esganar por não ter avisado que eu não iria para a faculdade, vai me matar por não ter atendido às ligações dele e vai jogar meu corpo em uma vala por eu não ter dito onde eu estou. - falo, choramingando, e Taehyung apenas ri soprado.

Eu correndo um risco real de morte, e ele debochando de mim!

- Ok. Mas se ele é seu amigo como tu diz, então não vejo problema em ele saber do que está acontecendo. - fala.

- É, mas não vou falar nada agora. Não sei se é boa ideia falar que eu estou com o Príncipe do Inferno em uma cabana fora de Seul por telefone. - digo, franzindo o cenho. 

- É - ele concorda, o fantasma de um sorriso em seus lábios.

Quero pedir para não se conter, para sorrir de verdade. Quero dizer que quero ver como seu sorriso é, que quero escutá-lo rindo.

Mas sei que se ele começar a sorrir para mim, sorrir de verdade, vou me apegar. Vou querer ver mais e mais vezes, bem como agora. 

E talvez não seja uma boa ideia me apegar ao Príncipe do Inferno.

...

12:27


- Então, Jungkook... Faz faculdade de quê? - Taehyung me pergunta, os braços cruzados em cima da mesa.

Depois de comermos quase toda a pizza, conversando um pouco. É difícil arrancar qualquer coisa sobre ele, mas posso me orgulhar por conseguir fazê-lo se abrir um pouquinho, mesmo que só uma rachadura em uma muralha. Bom, agora pelo menos sei que ele tem dois irmãos, o que também me leva a saber que não gosta de falar sobre sua família, apenas pelo modo como ficou na defensiva quando o assunto começou. Sei que é um guerreiro e que se envolve em muitos treinamentos e batalhas, o que novamente me leva a saber que não gosta de falar sobre sua vida, pela forma como as informações saíram rasas. Também sei que ele e o pai não se dão bem, o que me fez perceber que, acima de tudo, Taehyung detesta falar sobre seu passado, pelo jeito como ficou ainda mais tenso do que já estava e me cortou antes que eu tivesse chance de perguntar mais a respeito.

Resumidamente... só sei seu nome, sua idade, e que veio do Inferno. Não sei como são seus pais ou irmãos. Não sei exatamente de onde ele veio, porque agora sei que o Inferno é dividido em partes, assim como um país. Não sei como é sua rotina. Não sei se tem amigos, namorada - ou namorado, porque isso eu também não sei -, ou um cachorro. Não sei nem mesmo como ele passa o dia.

Taehyung simplesmente não me deixa aprofundar um assunto, porque isso leva à perguntas, e ele não quer responder minhas perguntas.

- Arte. Estou no terceiro ano. - conto, de costas para ele.

- Irá fazer o que quando terminar? - olho brevemente para ele e enxáguo os pratos.

- Ainda não sei. Não pensei muito nessa parte. Vou deixar para quando me formar. - respondo enquanto guardo toda a louça nos armários. 

- Tae? - o chamo por apelido sem perceber, e ele me olha imediatamente. - Você já fez faculdade ou escola? - fico curioso.

- Escola, sim. Tanto lá no Inferno quanto aqui, e é bem diferente se for comparar. Aqui eles pegam muito mais leve na questão da disciplina e estudos, e as matérias são muito mais fáceis. - ele começa a divagar, parecendo lembrar de alguma coisa. - Mas faculdade, não. Tem coisas que vocês aprendem por opção aqui que lá nós aprendemos por questão de sobrevivência. Por exemplo, medicina. Lá, ou você aprende sozinho ou morre doente ou por causa de um ferimento mal cuidado. - 

- Caramba. É muito ruim? - 

Taehyung não responde. Fica em silêncio. Seu olhar se distancia do tempo atual e volta para pensamentos e lembranças que não vai compartilhar comigo. Os ombros mais uma vez tensos e a expressão séria me fazem me arrepender da pergunta.

- Tu não seria capaz nem de imaginar... - é o que ele murmura, o olhar sombrio felizmente dirigido à chaleira em cima do fogão, e não a mim.

Um arrepio frio na coluna causado pelo seu tom de voz tão frio quanto, me avisa para não insistir.

- Você deveria ir dormir. Vai ajudar um pouco com os machucados. - comento, na tentativa de quebrar o silêncio tenso.

- Tudo bem. - Taehyung se levanta da cadeira como quem acorda no susto, tão rápido que ela arrasta levemente para trás. 

- E você? - pergunta de repente, a expressão neutra como se nada tivesse acontecido.

- Eu o quê? - pergunto, tentando entender esse homem.

- Não vai descansar? - 

- Agora não. Vou arrumar a casa. - ele me encara por um tempo antes de concordar.

- Ok. - e sobe as escadas. 

Acho que entrei em uma bagunça maior do que pensei...

...

17:38


Quando termino de secar o chão, vejo Taehyung descendo as escadas devagar, passando a mão pelo cabelo.

- O que estás fazendo? - me pergunta quando senta no sofá. 

- Acabei de limpar tudo, estava secando o chão, mas já terminei. - explico e vou guardar as coisas. Sento no sofá e apoio a nuca no encosto. - Está melhor? - pergunto, virando o rosto para ele.

- O corte ainda dói, mas estou bem melhor. - 

Ficamos só nos olhando, até que minha atenção vai para a tatuagem um pouco abaixo da costela esquerda dele. Era um par de asas, idênticas às dele, e com uma espada no meio, separando-as. 

- O que significa? - pergunto curioso.

- O que significa o quê? - o mais velho levanta a cabeça, confuso, e eu aponto para a tatuagem. 

Taehyung olha para ela, e depois para mim, com a boca aberta.

Sua surpresa me deixa confuso.

- Você... - ele para no meio, embasbacado. - Você consegue... ver? - pergunta, pasmo.

- Ãhm, sim? - isso saiu mais como uma pergunta do que uma afirmação. - Por quê? Eu não deveria? - 

- O que exatamente tu estás vendo? - 

- Bom, é uma tatuagem toda feita de preto e é bem detalhada. São asas iguais às suas e tem uma espada no meio. - digo, franzindo as sobrancelhas.

Taehyung fica estático.

E então praticamente se joga em cima de mim, puxa os meus pulsos com pressa e analisa um de cada vez. Depois levanta a minha camisa quase desesperado, procurando algo.

- Hey! - exclamo, assustado com a mudança repentina do comportamento de Taehyung, tentando empurrar seus ombros, mas não causo efeito algum.

- Vira de costas. - manda.

- Por quê? - 

- Vira! - repete com a voz firme.

- Taehyung, você está me assustando! - digo, mas ele me ignora e me vira de costas ele mesmo, como se eu não pesasse nada, e tenho que apoiar as mãos no braço do sofá para não cair.

- Taehyung! O que foi?! - insisto. 

Me vira para ele de novo.

- Olhe para mim. - diz e tenta tocar meu rosto, mas eu seguro seu pulso antes.

- O que você está procurando? - pergunto devagar.

- Um sinal, Jungkook, um sinal. Agora dá para olhar para mim? - dessa vez ele segura meu queixo com uma mão, e minha bochecha com a outra, me fazendo olhar diretamente para ele.

Os olhos de Taehyung ficam totalmente negros, iguais quando eu o tirei do laboratório, e é inevitável para mim prender a respiração quando ele fica me encarando, parecendo estar em um transe. Quero desviar desse olhar vazio, mas tenho medo de fazê-lo justamente porque ele disse para olhá-lo, e a última coisa que eu quero agora é irritar Taehyung.

Alguns segundos depois me solta e volta a se sentar direito, ainda me encarando, e assisto seus olhos voltarem ao castanho normal.

- O que foi tudo isso? - pergunto, ainda atordoado.

- Me desculpe. Eu precisava saber se tu não tinha nenhuma marca. E como não achei, procurei alguma coisa dentro de ti, mas não consegui ver nada. - explica baixo, pensativo.

- Marca? Que marca? - pergunto, ainda mais confuso que antes.

- Não é todo mundo que pode ver essa "tatuagem", Jungkook. - fala e aponta para a marca em sua costela. - Tens alguma coisa que te permite ver. - murmura e passa a mão pela nuca. - Uma marca deixaria mais fácil de eu saber o que é, mas não tens nem uma e eu não consegui ver nada em ti. É como se eu estivesse sendo bloqueado. O que não é normal. - ok, agora ele conseguiu me deixar com medo.

- Como você tem tanta certeza que não é todo mundo que pode ver? Eu saberia se eu não fosse normal, não acha? - 

Mas ele não responde. 

Parece distante e eu me preocupo.

- Taehy-... Hm! - Taehyung tampa a minha boca antes de eu terminar de falar e faz sinal de silêncio. 

O Anjo começa a olhar em volta devagar e se levanta, soltando minha boca, ainda com o dedo na frente dos lábios, pedindo silêncio. Ele vai para perto da lareira, pega um pé-de-cabra e me entrega. Eu fico sem entender, então ele sussurra: 

- Tem mais alguém aqui - e vai até a porta, me pedindo para ficar perto de si.

"Era só o que faltava"

Taehyung abre a porta devagar e saímos em silêncio. 

Não há ninguém aqui fora, mas o mais velho continua andando em direção às árvores. Eu ergo o pé-de-cabra, pronto para bater ele em alguém. 

Então Taehyung levanta uma das mãos e alguém saí de dentro do bosque, sendo arrastado pelo vento, e é prensado contra a árvore mais próxima de nós. O Anjo estava indo para cima da pessoa, mas o homem que chegou agora grita antes.

- Ei, ei, ei! Sou eu! - o homem diz, e Taehyung para onde está ao reconhecer a voz.

- Yoongi? - 

- Surpresa, Alteza. - diz debochado e o moreno o solta, fazendo o homem cair no chão. - Ai! É assim que você me recebe? - pergunta, se levantando, e eu só observo, abaixando a minha "arma".

- Está louco?! Chegando assim do nada?! Eu podia ter te matado! - Taehyung fala,.se aproximando do tal Yoongi. 

Ele era mais baixo do que eu, apenas por um centímetro ou dois. Mas pode ser porque meus tênis são de plataforma, o que o torna da minha altura, se não até mais alto. Tinha cabelos loiros, quase brancos. A pele extremamente pálida. Usava camisa de manga longa preta, calça de couro preta e coturnos de cano alto. Escondidas na gola de sua blusa, eu conseguia ver partes de marcas parecidas com as que Taehyung tinha, como que ameaçando subir por seu pescoço.

- Eu sei, mas percebi que você não estava sozinho, então resolvi não arriscar chegar fazendo festa. - o homem explica. - Aliás, quem é o garoto? - pergunta, apontando para mim. 

- Não sou um garoto! - falo, indignado. 

- É o Jungkook. Ele me ajudou quando alguns humanos me pegaram. - 

- Muito prazer, sou Min Yoongi, o conselheiro e melhor amigo do Taehyung, ao seu dispor - se apresenta fazendo uma falsa reverência, antes de se voltar para o Anjo. - Humanos pegaram o Príncipe do Inferno? - começa a rir. - Espera até a Jennie ficar sabendo disso. - 

Minhas sobrancelhas arqueiam. Uma cena de alguém brincando com Taehyung parecia impossível na minha cabeça até minutos atrás. Me surpreende que o loiro ainda tenha cabeça, pois Taehyung faz parecer que arrancaria a de qualquer um que lhe encostasse.

- Não comece. O que estás fazendo aqui? Quem está cuidando do Reino? - Taehyung pergunta, voltando à expressão séria.

- Se acalme, ok? Namjoon está tomando conta das coisas. Alguém precisava vir ver como você estava. Não é todo dia que o Príncipe é expulso da sua própria casa pelo pai. - 

"Ele foi expulso?!"

- É... - pigarreio, chamando a atenção, completamente perdido - e muito curioso - sobre o assunto. - Está ótimo ver vocês conversarem, mas está frio aqui fora e eu continuo sem entender nada, então será que podemos entrar? - me pronuncio. 

- Concordo. - Taehyung suspira, parecendo se lembrar que tem platéia. - Vamos. -

Voltamos para dentro da cabana e o recém chegado olha em volta. Eu me sento no sofá e Taehyung senta do meu lado. O homem fica em pé, de braços cruzados.

- Você pode me explicar como veio parar aqui? - Yoongi pergunta para o Anjo. 

...

Depois de Taehyung contar tudo o que aconteceu desde que o vi pela primeira vez no parque, Yoongi se senta na poltrona perto do sofá, apoiando os cotovelos nos joelhos.

- Então quer dizer que você está ajudando um ser infernal, que pode matar você a qualquer momento, só porque acha que deve fazer isso? - o loiro me pergunta.

- É, quase isso. - afirmo, meneando a cabeça para os lados.

- Você sabe que se o seu pai descobrir sobre isso, o garoto está morto, não é? - dessa vez se direciona para Taehyung. Eu engulo em seco com a descoberta. 

Os dois estão sérios demais para ser um blefe.

- Eu estou bem ciente dos riscos que o Jungkook está correndo por me ajudar, mas eu confio nele e não vou deixar que o machuquem. - 

Eu fico de boca aberta, surpreso com a fala do Anjo. Estou começando a entender que é impossível saber o que ele pensa, porque momentos atrás parecia que ele poderia ir embora sem se importar e me esquecer, mas agora sei que não o faria, mesmo que suas atitudes de antes não revelassem isso.

- E mesmo que consigam o pegar, o que eu duvido que aconteça, não acho que Lúcifer conseguirá fazer muita coisa. - 

"Caramba, o nome do pai dele é Lúcifer... Lúcifer existe, e estou com o filho dele..."

- Como assim? - eu e o loiro perguntamos em uníssono.

- Depois eu te explico. - diz, olhando para Yoongi. 

Antes que eu pudesse contestar, alguém bate à porta. Com muita força.

- Jungkook, abra essa porta agora, antes que eu exploda essa casa inteira, com você dentro! - escuto a voz de Jimin gritar do lado de fora, e eu entro em pânico. 

"Como ele me achou?"

Olho pedindo ajuda para Taehyung, que fica em pé e apenas dá de ombros.

Tenho a impressão de ver um sorriso malicioso crescer nos lábios de Yoongi, mas não tenho tempo de perguntar o motivo.

- Jeon Jungkook! Sei que tem mais gente aí dentro! Abra a porta agora! - grita de novo, e mesmo confuso com o fato de ele saber que não estou sozinho, corro para abrir a porta e encontro um baixinho de cabelos tingidos de rosa furioso. 

Quando seu melhor amigo está preocupado com você, é de se esperar que ele te abrace e pergunte se está tudo bem, certo? Porém é Park Jimin, e a primeira coisa que ele faz é bater a porta e começar a dar tapas no meu peito e nos meus braços, me fazendo andar para trás. 

- Por que não me atendeu, seu filho da puta?! Eu fiquei igual um idiota te esperando na frente da sua casa, e quando pensei que você já tinha ido para a faculdade sem mim, fiquei uma hora rodando aquela merda te procurando! - consigo segurar seus pulsos, e ele me olha com aquele olhar assassino dele. 

- Como você sabia onde eu estava? - pergunto, olhando para ele. Jimin dá um sorriso de canto maníaco.

- Amigo, por favor! - revira os olhos. - Você ainda me subestima? Eu disse que ia te achar! Eu pedi para a Irene rastrear seu celular. - 

- Você o quê?! Jimin, você tem problema?! - 

- Sim. Se chama falta de paciência. Eu disse que ia te achar e-... - se interrompe de repente, assim que seu olhar para um pouco mais atrás de mim.

O peito de Jimin repentinamente subindo e descendo mais rápido do que o normal me deixa confuso, bem como seus olhos arregalados e surpresos. 

Sigo seu olhar, procurando saber o que deixou Jimin tão... afetado, até ver Yoongi sorrindo de canto, em pé e com as mãos atrás das costas. 

- Oi, anjinho... Que bom te ver... - 


Notas Finais


Obrigado por ler ❤️💜
Até o próximo!


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