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História Love Letter - V - Exposing.


Escrita por: sweetiejin

Notas do Autor


11k de palavras, divirta-se!


Capítulo não betado.

Capítulo 5 - V - Exposing.


 

 

          EXPOSING

 

Uma semana após a proposta de Bambam e do time, Seokjin tentava arduamente se encaixar na rotina cheia de correria e camisetas suadas dos Daegu Venus.

 

Não era fácil, principalmente por ser o único manager ali. Era desgastante e lavar tanta roupa suja o deixava tonto. Sem contar com todas as vezes que tinha que ir atrás das bolas de basquete que acabavam por sair do ginásio e irem parar do lado de fora.

 

Nos primeiros dois dias ele estava bastante assustado. Primeiro por causa de Namjoon, estar no mesmo ambiente que ele e interagir consigo era um desafio, e segundo, pelos gritos e rosnados selvagens que os atletas soltavam enquanto treinavam.

 

O som agudo e irritante da sola do tênis contra o piso de madeira o estressava, o calor do corpo daqueles garotos o deixava desconfortável por todas as vezes qie se aproximavam para pegar uma das várias garrafinhas d'água. E sem contar aquelas toalhas completamente encharcadas de suor.

 

Lavar roupas, passar pano, lustrar as bolas, conferir peso e altura dos atletas, limpar os tênis, por as bolas dentro da cesta enorme e depois empurrá-la para dentro do depósito era cansativo. Mas tudo valia a pena quando ele e o time iam diretamente para uma das lanchonetes próximas ao colégio.

 

Percebia que Namjoon nunca iam com eles, e quando ia, era o primeiro a ir embora. No começo ficava chateado, pois achava que a culpa dele sempre sair antes era sua, mas após Bambam lhe contar sobre o pequeno Jongin, ele entendeu o motivo do Kim mais velho sempre sumir depois dos treinos.

 

Ele também odiava ouvir os gritos do treinador enquanto um dos garotos errava algum lance. Teriam uma partida contra um outro colégio, não podiam perder.

 

Contudo, a falta de um Ala Armador não facilitava em nada a vida deles. Principalmente por nenhum dos reservas se encaixarem nessa posição. Estavam com uma desvantagem em comparação ao time adversário e isso não era nada bom.

 

— Com quem será a próxima partida? — Jinyoung perguntou se aproximando dele.

 

Seokjin olhou em uma das folhas de sua prancheta, logo voltando a olhar para o Park.

 

— 3Racha, de Gangnam. — disse e viu o mais alto torcer o nariz.

 

Mesmo que não parecesse, Seokjin conhecia bem Jinyoung, já que ele também cresceu junto dos primos Park. Mas não tinham tanto contato. Não como antes.

 

Ele então voltou para o banco, se jogando nele e tombando a cabeça para trás enquanto suas roupas grudavam no corpo por causa do suor.

 

Seokjin engoliu em seco ao ver a barriga cheia de gominhos, os braços e coxas bem trabalhados dele.

 

A família Park tinham um corpo abençoado. Foi o que pensou, logo desviando o olhar para a prancheta novamente, anotando todos os avanços do time.

 

Namjoon do outro lado da quadra estava assistindo algo em seu celular enquanto ria. Um vídeo que Momo o enviou de Jackson bêbado tropeçando pela calçada enquanto cantava Singing in the rain e jogava vodka em si mesmo simulando uma chuva. Ao fundo se podia ouvir a risada descontrolada da loira.

 

Mark estava deitado em uma das arquibancadas com os braços cruzados e uma toalha cobrindo os olhos. Bambam, estava sentado ao seu lado assistindo a uma gravação do jogo do time de Gangnam, para poder analisá-los.

 

— Ei, Seokjin. — ouviu o treinador chamar o seu nome — Como estão os garotos?

 

— Estão todos bem, senhor. Bambam está mais rápido, Jinyoung menos mandão e Namjoon... — deu uma pausa olhando para a prancheta e suspirou — Ele está ótimo fisicamente, mas aparenta estar cansado, isso acaba afetando o seu desempenho, mesmo que minimamente.

 

O homem suspirou assentindo. Namjoon era o seu melhor jogador, sempre inteligente e centrado. Mas com a saída de Sangwoo, ele se sentiu culpado, e por isso acha que deve dar o dobro de si pra ocupar a falta que o outro fazia.

 

— Mande todos para casa, não precisa lavar os uniformes, vou pedir para o professor Yang levar toda a roupa suja pra lavanderia dos Geun. — disse e se despediu do Kim, logo avisando ao time que estavam dispensados.

 

— O que vamos fazer agora? — Bambam quis saber, quando todos já estavam de banho tomado — Lanchonete da senhora Gong?

 

Todos afirmaram com a cabeça, enquanto Namjoon ainda estava distraído com algo no celular. Seokjin se virou para ele, se aproximando devagar.

 

— Sunbae? — chamou baixinho, mas o suficiente para o loiro ouvir — Não vem?

 

Namjoon pareceu se despertar de um transe ao ouvir a voz suave e um pouco receosa de Seokjin.

 

— Hoje não posso, Jin. — disse simplesmente, mas arrancando um sorriso do menor.

 

Namjoon era o único — além de Jinyoung — a chamá-lo pelo nome e não pelo apelido como os outros já haviam se habituado a fazer.

 

— Vai buscar Jongin outra vez? — quis saber, enquanto brincava com os dedos das mãos.

 

Namjoon acenou positivamente, guardando o celular no bolso e pondo as mãos ali.

 

— Preciso buscar ele hoje e levá-lo pro treino que vamos fazer na quadra do parque. — disse olhando para Seokjin, como sempre fazia, de forma suave, como se não quisesse assustar o mais novo. Pois, por mais que fosse sereno e calmo, ele ainda conseguia manter uma carranca pós treino assustadora.

 

— Ele ainda está resfriado? Não é muito bom deixá-lo no sereno. — sua voz saiu baixinha e tímida, com medo de estar sendo invasivo demais.

 

— Sim, mas não tenho escolha sabe, — suspirou e passou uma das mãos nos fios loiros — meu pai precisa trabalhar e não posso deixá-lo com minha madrasta ainda, ele se adaptou a ela, mas conosco por perto, ele ainda não se acostumou a ter uma mulher o rodeando além de suas professoras.

 

O mais velho parecia cansado, completamente exausto, e Seokjin queria fazer algo por ele. Sentia-se mal por vê-lo carregar todo o peso nas costas, ter tantas responsabilidades e ainda tentar se manter pleno mesmo que estivesse ao ponto de explodir. Ele era admirável.

 

Seokjin ergueu as sobrancelhas, como quem acabara de ter uma idéia, chamando a atenção do capitão de novo para si.

 

— Que tal deixá-lo comigo? A quadra do parque é perto da casa de Jimin, podemos ficar com ele lá. — disse receoso outra vez. Namjoon podia achá-lo intrometido demais.

 

O loiro pareceu ponderar a proposta de Jin. Uma de suas mãos foi até o seu queixo e seu cenho se franziu enquanto ele pensava.

 

— Tudo bem, parece uma boa. — ele disse voltando a por as mãos nos bolsos — Acho que Jongin ficaria melhor dentro de alguma casa e vocês são todos garotos, ele não estranharia.

 

Seokjin podia jurar que se sorrisse um pouco mais, rasgaria sua boca. Tentava se conter, o medo de estar parecido com o Coringa e assustar Namjoon era enorme. Então mordiscou o lábio inferior enquanto seus olhos brilhavam.

 

— Você vai buscá-lo agora? — perguntou e o maior assentiu — Então eu vou esperar por vocês na lanchonete junto com o time. — apontou para trás e então Namjoon olhou por cima do mesmo os seus colegas lhe observarem com uma expressão um tanto duvidosa.

 

— Ok, eu vou indo agora. — levantou a mão em despedida e o mais novo se curvou, ainda mantendo as mãos unidas.

 

Namjoon se despediu dos outros garotos apenas com um breve aceno enquanto seguia em direção ao jardim de infância.

 

Seokjin se aproximou do time, sendo descaradamente encarado por Bambam que tentava conter um sorriso.

 

— Jinnie — sua voz soou brincalhona — , sobre o que você e o nosso amado capitão estavam conversando? — perguntou e viu o moreno corar e abrir a boca para responder.

 

— Marcando um encontro, sunbae? — Soobin, um dos reservas perguntou.

 

— Achei que o capitão seria o último a tentar algo com o Jin hyung, eu ainda tinha esperanças. — Minhyuk , que era seu colega , choramingou.

 

— Espera, você queria sair com o Jin hyung? — Bambam exclamou surpreso.

 

Àquela altura Seokjin já estava vermelho como um pimentão. Com uma das mãos escondendo o rosto e a outra apertando fortemente a alça de sua mochila.

 

— Apenas vamos pra lanchonete. — Jinyoung surgiu, sabe-se lá de onde, interrompendo a pequena discussão de Bambam e Minhyuk  e olhando para Seokjin, por uma fração de segundos até começar a andar e ser acompanhado pelos outros.

 

Mark, que também havia sumido nesse meio tempo surgiu do portão principal do colégio um pouco ofegante, fazendo o tailandês lhe encarar confuso.

 

— Tive um imprevisto. — ele disse e então Bambam olhou para o seu pescoço, e havia uma marca avermelhada ali. Como um batom, meio borrado.

 

Contudo, ele deu de ombros e sorriu o chamando para irem junto com os outros. Mark sorriu de volta e bagunçou os fios brancos de Bambam, começando a andar.

 

Seokjin olhou para trás, vendo que os dois últimos trocavam alguns sorrisos e sorriu também, porque eles eram tão fofos que o fazia sentir uma pontada de inveja.

 

Pelo caminho todo Minhyuk cantarolava alguma música sobre jacaré e Soobin catava flores, sendo sempre repreendido por Seokjin, que dizia para ele deixar as pobrezinhas em paz.

 

Jinyoung ia na frente, como se fosse o líder deles. Vestindo a jaqueta bomber vermelha e dourada do time, com uma rosa atrás e o nome dos Daegu Venus. A lanchonete era pequena, ficava a poucas quadras do colégio e era sempre frequentada pelos alunos. Era como um ponto de encontro deles. E a senhora Gong e seu marido sempre os recebiam de bom humor.

 

— Senhora Gong, nós estamos com fome! — Bambam e Minhyuk gritaram.

 

Seokjin pediu para que eles fizessem silêncio e logo se sentaram na última mesa próximo à entrada da cozinha bem ao fundo da lanchonete.

 

Minhyuk e Soobin se sentaram nas pontas enquanto Jinyoung e Seokjin se sentaram lado à lado, e Bambam e Mark fizeram o mesmo do lado oposto e de frente para o Park e o Kim. Não demorou muito para que a senhora de idade pouco avançada chegasse até a mesa com seus pedidos. Dois sanduíches naturais para Bambam e Minhyuk, um ramyeon para Jinyoung, jajamyeong para Seokjin e Mark, e bibimbap para Soobin. Todos pediram sucos.

 

— E então, estão ansiosos? — Bambam perguntou para o Lee e o Choi.

 

— Estou nervoso, não imaginava que o treinador nos colocaria na próxima partida. — Soobin disse levando um dos bibimbap à boca.

 

— Eu achei que ele nunca faria isso, ele nunca mudou a formação. — o Lee contou.

 

Mark concordou com um resmungo e Bambam limpou o molho preto que havia melado toda a sua boca. Não sendo notado pelos outros, pois estavam ocupados demais devorando seus lanches.

 

— É uma situação complicada, será meu primeiro jogo também. — disse o Kim, também melado de Jajamyeong — Vou precisar ficar de olho em cada movimento de vocês e gravar tudo para analisar os 3Racha de perto.

 

— Péssima hora que o Samgwoo decidiu sair. — Mark disse, sua voz soando amarga.

 

— Ele não era isso tudo. — Jinyoung resmungou. Seokjin olhou de Mark para Jinyoung, sentindo a tensão palpável criada entre eles, mas que foi percebida apenas por si.

 

Abriu a boca para falar algo, mas o som do sino da lanchonete o fez virar com tudo em expectativa. Mas quando seus olhos miraram na entrada, não fora Namjoon que passou pela porta. Três garotos altos, de boa aparência e uniforme escolar cinza adentraram a lanchonete. E logo Seokjin notou a movimentação de seus colegas quando Mark, Jinyoung e Bambam se levantaram.

 

— O que estão fazendo aqui? Gangnam fica pra lá. — disse Jinyoung apontando para fora.

 

Um dos garotos olhou para onde ele apontava e riu com desdém. Suas maos estavam no bolso da calça social e suas sobrancelhas se arquearam.

 

— Esse lugar não pertence a você, Park. — ele deu um passo se aproximando de Jinyoung — Podemos vir aqui quando quisermos.

 

O Park rosnou e ameaçou avançar, mas teve o braço puxado por Seokjin que o olhou e negou com a cabeça, num pedido silencioso para que não fizesse nada. Mark parou ao lado de Jinyoung e analisou o outro garoto várias vezes. Assumindo uma postura desdenhosa e debochada como a sua.

 

— Acha que pode mesmo vir ao nosso território sem nos notificar, Youngjae? — ele perguntou — Aqui ainda é território dos Daegu Venus, você sabe que não deveria estar aqui, muito menos acompanhado. — apontou o queixo para os outros dois garotos.

 

Por mais que não fossem gangsters ou algo do tipo, as duas maiores instituições de ensino médio de Seul tinham suas richas e isso refletia em seus alunos. 3Racha e Daegu Venus eram rivais clássicos a pelo menos 30 anos. Desde quando os dois colégios aderiram aos esportes.

 

Principalmente ao basquete. Choi Youngjae, 17 anos, cabelos negros e pele leitosa. Era o capitão do time e vivia desafiando Namjoon, mas sendo sempre ignorado por este. Mas isso não significava que suas provocações passavam despercebidas. Jinyoung era o que mais as sentia.

 

Sempre perdia o controle quando o Choi abria a boca para falar de seu time e isso já lhe causou algumas expulsões durante os jogos.

 

— A lanchonete da Senhora Gong não está inclusa nessa demarcação, Tuan. Acho que você sabe bem disso. — ele disse, com toda a sua pose.

 

O outro riu anasalado passando a língua pelo lábio inferior. Olhou para o moreno e para os outros dois. Sem perder o deboche. Olhou por sobre o ombro para os outros garotos na mesa que observavam tudo. Olhou para Bambam, que tinha o inferior preso entre os dentes.

 

— A lanchonete continua sendo em Cheongdam, bem longe da área de vocês. — ele disse e viu o outro rir. Suas sobrancelhas arquearam sem entender o que Youngjae havia achado de tão engraçado.

 

— Está nervosinho, Tuan? — sua voz saiu desdenhosa — Soube que Sojin andou rondando por Gangnam esses dias.

 

Mark trincou o maxilar, apertando as mãos em punhos ao lado do corpo. Respirou fundo tentando se manter pleno.

 

— O que ela faz não é da minha conta. — podia sentir a raiva em sua voz.

 

Youngjae riu mais uma vez e se aproximou do outro, apertando—lhe o ombro.

 

— Não parece, já que estava ligando como um louco para ela ontem. — riu — Acho que você ainda não quer dar um fim nisso.

 

Ao ouvir o que o moreno tinha dito, seu olhar automaticamente foi para o de fios brancos que estava sentado a mesa. Olhava fixamente para o pedaço de sanduíche natural que havia pedido. Quando notou o olhar do americano queimando sobre si, Bambam se mexeu desconfortável.

 

Pegou no pulso de Jin que estava aflito, lhe chamando a atenção.

 

— Jinnie, vamos indo, sim? — pediu e o Kim pode notar uma alteração na sua voz — Namjoon hyung já deve estar vindo, vamos encontrá-lo pelo caminho.

 

Seokjin não questionou quando percebeu a agitação do outro. Olhava para cada um ali presente sem entender muito, mas se levantou, pegando a sua bolsa.

 

Aquela era a vez de Soobin pagar, então ele não se importou em pegar sua carteira. Bambam se levantou logo após, evitando olhar para Mark. Este que estava parado ainda o encarando, sem saber o que fazer.

 

Abriu e fechou a boca tentando dizer algo, mas que nunca diria, pois não sabia o que diria à Bambam.

 

Ele não sabia o que fazer, então quando o tailandês passou por si sem nem mesmo o olhar, Mark apenas abaixou a cabeça e voltou a se sentar. Escondendo o seu rosto entre as mãos enquanto tinha a testa encostada nelas.

 

Youngjae não entendeu o que havia acabado de acontecer, mas agradecia por não ter mais nenhum deles tentando o impedir de lanchar onde bem entendesse. Minhyuk olhou para Soobin e logo depois para Jinyoung.

 

O Choi tinha os lábios comprimidos como um sinal de constrangimento e o Park ainda não havia tirado a carranca. Mark em silêncio.

 

— Só tem louco nessa merda. [

 

•••

 

— Bambam, me espera! — Seokjin gritava enquanto tentava alcançar o mais novo.

 

Corria aos tropeços pela calçada e parecia que o outro se distanciava ainda mais. Sua respiração estava bastante ofegante e sua testa já brilhava numa camada fina de suor.

 

— Kunpimook! — gritou e segurou o braço alheio quando conseguiu alcançá-lo.

 

— O que é?! — gritou, sua voz saindo embargada e seus olhos brilhavam pelas lágrimas acumuladas.

 

Seokjin engoliu em seco. Não sabia como reagir a aquilo, ele nunca tinha visto o mais novo chorar ou demonstrar qualquer outro tipo de emoção que não fosse alegria ou por poucas vezes, irritação.

 

Bambam era sempre um garoto alegre, sorridente e piadista. Estava sempre zoando seus amigos, dançando pelos corredores e atazanando professores.

 

Vê-lo daquela forma machocou Seokjin mais do que ele imaginou que fosse possível acontecer. Porque eles não eram próximos, talvez pudessem ser chamados de amigos, companheiros.

 

Era uma relação pacífica e confortável, mas com pouca interação. Mas que mesmo assim não fazia com que o Kim se importasse menos com ele.

 

Eles eram um time e eram uma família. Família se importa e vem em primeiro lugar. E Bambam o ajudou a ficar mais próximo de Namjoon, devolveu sua carta e sempre o tratou bem. Jamais deixaria-o naquele estado.

 

Queria ajudá-lo.

 

— Bam... Me conte o que aconteceu. — disse e sua voz soou mansa e baixa, tentando não o assustar e transmitindo confiança.

 

Ele negou com a cabeça e os lábios comprimidos segurando o choro. Fungou. Seokjin suspiru calmo, mas sem desistir ainda.

 

— Por favor, Kunpi... Eu só quero te ouvir e saber o que aconteceu. Você não precisa passar por isso sozinho.

 

Ele suspirou e abaixou a cabeça, rendido. Sabia que uma hora ou outra precisaria de alguém. Estava guardando tantas coisas para si que se sentia sufocado. E ele não queria mais se sentir assim.

 

— Hyung... Podemos ir para outro lugar? — disse num fio de voz e só então Seokjin percebeu que estavam na calçada em plena avenida de um bairro nobre.

 

— Tudo bem, quer tomar algo? — perguntou soltando o braço que nem mesmo se lembrava que ainda o mantinha ao seu aperto.

 

Ele assentiu e então os dois caminhavam até uma cafeteria próxima. Seokjin quase engasgou com os preços caros dos cafés, mas Bambam fez questão de pagar o seu.

 

Decidiram não se sentar no café, procurariam um local ainda mais reservado. Bambam se sentia inseguro e meio paranóico num lugar cheio e sabia que mesmo que falassem baixo, alguém os ouviria e isso era a última coisa que queria.

 

Caminharam por um doa vários parques de Seul e Seokjin se perguntava se os prefeitos dali tinham algum fetiche com parque para fazer tantos deles, sem contar com os restaurantes de frango frito e as cafeteria. Sempre tinha uma a cada esquina.

 

Mas apesar de ter sido criado numa cidadezinha rural nos seus primeiros anos de vida, Seokjin gostava da capital, mesmo que às vezes, assim como Bambam ele se sentisse sufocado.

 

Talvez morar num bairro humilde do subúrbio com pouca agitação o fazia respirar melhor. E ter Yugyeom e Jimin consigo sempre que precisava era um alívio.

 

Não conseguia se imaginar longe deles. Nem gostava de pensar que dali a um ano eles,talvez, não estivessem mais juntos. Estudando no mesmo lugar.

 

Pararam num banquinho bem afastado, quase escondido por uma cerejeira enorme. Ela estava repleta de flores e aquilo de alguma forma deixava o Kim calmo.

 

Bambam se sentouao seu lado, segurando o copo de café com as duas mãos enquanto fitava a fumaça sair peto tapo.

 

Não sabia como começaria a contar tudo para o moreno. Sabia que ele era confiável, mas seu instinto de proteção sempre o fazia desconfiar de qualquer pessoa que fosse. Às vezes até de sua mãe.

 

Ele não queria ser tão desconfiado. Mas não poderia ser menos que isso. As pessoas tendem a serem mentirosas, crueis e insensíveis. Bambam só queria se proteger.

 

Então, como uma armadura bem montada, ele demoraria até retirá-la por completo. Demoraria até que alguém o visse como ele de fato era. Porque por mais que se aceitasse, ainda tinha medo da rejeição.

 

Medo de ser julgado, medo de ser deixado. O medo o fazia vestir uma máscara diária, uma outra peça de sua armadura que era a mais fácil de ser retirada. Pois assim que a porta de seu quarto fechava, era apenas ele. Apenas Kunpimook Bhuwakul.

 

Um garoto de quase 17 anos que ninguém conhecia. O garoto que gostava de filmes antigos, livros de romances clichês, batata mergulhada no milkshake de baunilha, roupas néon e música tradicional.

 

Bambam e Kunpimook eram pessoas diferentes vivendo no mesmo corpo. Dividindo os mesmos olhos, boca, nariz, mãos, pés, pulmão e coração. Que batiam igualmente para ambas as personalidades distintas de sua dualidade. Cada batimento era dedicada a uma única pessoa. 

 

E isso doía em dobro. Porque ele sentia muito, mais do que deveria sentir. E quando seu coração se apertava angustiado em seu peito, a dor vinha duplicada. Porque Bambam e Kunpimook amavam a mesma pessoa.

 

E essa pessoa não parecia lhe amar na mesma intensidade. Na verdade amor era algo demais para eles. Mark não demonstrava resquícios desse sentimento, não olhava para Bambam da mesma forma que era olhado todas as vezes e isso feria tanto o pequeno que apenas engolia tudo em silêncio.

 

Não era necessário fazer caso disso, você é quem está apaixonado, não ele.

 

Dizia a si mesmo numa forma desesperada de se acalmar e não se desmanchar em lágrimas. Porque ele era frágil. Por mais brincalhão e irritadiço que fosse, Bambam era frágil. Como uma criança recém nascida. Precisava ser cuidado.

 

— Hyung, eu... — tentou começar sentindo o bolo de lágrimas e palavras sufocadas lhe impedir de concluir a frase.

 

Seokjin se virou para ele, prestando atenção. Estava pronto para ouvi-lo e quem sabe lhe aconselhar. Não iria deixar Bambam sofrer com aquilo sozinho.

 

— Se acalme Bam, tome o tempo que precisar para começar. — acariciou suas costas tentando lhe confortar.

 

Ele respirou fundo, abaixando a cabeça. Sentiu uma lágrima grossa escorrer por sua bochecha e cair em sua mão apoiada ao joelho.

 

Seokjin chegou mais perto lhe abraçando e tendo o rosto dele na curvatura de seu pescoço. O ouviu fungar mais uma vez, mais alto. Sentiu seus ombros tremerem.

 

— Hyung, eu o amo tanto. — sua voz quase não podia ser ouvida de tão embargada e chorosa.

 

Ele estava começando a por para fora, mesmo que de uma maneira confusa e Seokjin lhe agradecia por isso. Por confiar.

 

— Quem, Bam? — acaricou mais uma vez suas costas, levando sua outra mão à nuca lhe acariciando os fios com cuidado.

 

— M-mark. — disse num fio de voz e o moreno arregalou os olhos surpreso.

 

Ele era bem desatento quando se tratava de notar o sentimento alheio. Apenas Yugyeom e Jimin eram facilmente lidos por ele.

 

Suspirou e apertou mais o abraço. Sua mente trabalhava atrás do motivo do choro do amigo. Não queria lhe perguntar diretamente porque não se sentiria confortável de lhe fazer lembrar.

 

Soube que Sojin andou rondando por Gangnam esses dias.

 

Não parece, já que estava ligando como um louco para ela ontem.

 

Acho que você ainda não quer dar um fim nisso.

 

O tom desdenhoso de Youngjae lhe veio a mente. Lembrando-se do que acabara de acontecer na lanchonete dos Gong.

 

— Bam... — começou com cuidado — Você está chateado com o que Youngjae disse?

 

Viu ele assentir e um choro se tornar audível, mesmo que baixo. Ele não conseguia falar. Estava triste.

 

— Olha, eu não sou a melhor pessoa pra te aconselhar sobre romance, mas... — se afastou dele e o olhou nos olhos — Converse com ele, deixe que ele se explique, tá bom?

 

— Mas hyung, nós não temos nada. — disse e voltou a chorar, preocupando o Kim.

 

— Oh... Então tente não pensar muito nisso, Ok? Ele não disse o motivo das ligações, não sabemos sobre o que era e Mark é um cara legal demais pra te usar, Bam. Você sabe.

 

Levantou a cabeça e suspirou assentindo. Mesmo que não namorassem ou algo do tipo, ele se sentiu traído. Porque haviam passado a noite juntos, mesmo que não tivessem transado e durante a semana andavam trocando alguns beijos.

 

Ele poderia ao menos lhe informar quando não quisesse mais. Não precisava ficar lingando pra sua ex enquanto lhe fazia carinho em sua cama, em seus lençóis.

 

— Apenas não deixe isso te consumir, você não precisa se martirizar ou sofrer por isso, me chame se quiser sair para espairecer, eu vou te acompanhar.

 

Bambam levantou a cabeça limpando as lágrimas com as pontas dos dedos e as costas das mãos fungando baixinho. Ele não queria admitir, mas as palavras de Seokjin lhe afetaram de alguma forma.

 

Ele não podia deixar aquilo tudo lhe consumir. Ele só tinha 16 anos, tinha uma vida, responsabilidades com o time e o colégio. Não tinha tempo pra sofrer por alguém que não era uma certeza na sua vida.

 

Olhou para o moreno, lhe dando um sorriso pequeno e encostando sua cabeça no ombro coberto pela jaqueta. Fungou mais uma vez, mas agora o sorriso estava nos seus lábios.

 

Sentia-se melhor, mesmo que pouco. Desabafar com o Kim lhe tirou uma parte do peso que carregava. Mas sabia que ainda tinha muito o que fazer. Aquilo não mudaria do dia para noite, seus sentimentos não mudariam e ele sabia. Se mudassem, demoraria, porque era intenso demais.

 

— Obrigado, hyung. — ele disse e abraçou o tronco do mais velho.

 

— Quer... — antes de propor algo ao mais novo, o celular de Seokjin começou a tocar e só então ele se lembrou: precisava tomar conta de Jongin.

 

Pegou o aparelho às pressas, desastrado e quase o derrubando. Bambam observava a sua euforia e achava fofo como ele ficava vermelho só de receber uma ligação.

 

— Alô? Namjoon sunbae? — sua voz saiu baixa pela timidez e o mais novo segurou o riso — Estou no parque, perto da cafeteria que fica perto da lanchonete.

 

Ele começou a olhar para os lado, procurando algo. Se levantou para poder ver melhor e Bambam o copiou, procurando algo que nem mesmo sabia o que era. Ou quem era.

 

— Hyung! — Bambam gritou ao ver a silhueta de Namjoon ao longe, assustando Seokjin que quase derrubou o aparelho outra vez e se virou para ver quem o menor estava chamando.

 

Namjoon tinha o pequeno Jongin nos braços. E a sua mochila do Pororo nas costas, a sua estava na mão direita. O garotinho tinha sua cabeça encostada no ombro do irmão enquanto observava curioso as flores de cerejeira.

 

Ele usava seu uniforme da escolinha, em tons pasteis de azul e amarelo com um chapeuzinho da mesma cor. Uma graça.

 

O tom amorenado de sua pele era igual de Namjoon e seus lábios grossos e olhos ônix também eram idênticos. Ele era como uma versão menor do atleta, mas com suas singularidades, como seus olhos grandes e redondos, que Namjoon não tinha, já que eram menores e mais puxados.

 

— Estão aqui a muito tempo? Passei na lanchonete e ninguém estava lá além do Soobin. — perguntou assim que se aproximou, olhando do Kim para o tailandês.

 

— Viemos tomar um ar hyung, Jin hyung estava triste sabe, porque você não est...

 

— Viemos tomar café! — Seokjin exclamou enquanto tampava a boca de Bambam que resmungava coisas inaudíveis.

 

— Oh, entendo. Jongin está um pouco manhoso hoje, ele tomou vacina. — contou e ouviu a criança suspirar cansada — E com sono também.

 

Seokjin sorriu, mesmo não precebendo que o estava fazendo. Porque achava Jongin a criança mais fofa do mundo.

 

— Tudo bem sunbae, posso fazer ele dormir quando chegarmos na casa de Jimin. — ele dizia contente.

 

Bambam podia jurar que via corações no lugar dos olhos do Kim e um certo brilho emanar de si. Estava tão radiante.

 

— Bam. — Namjoon chamou a atenção do menor — Vai pra casa? Quer uma carona? Eu sei que a casa dos Park fica na mesma direção da sua.

 

Seokjin olhou do atleta para o outro, esperando uma resposta de Bambam. Ele esperava pacientemente que Namjoon entregasse Jongin para si, para que pudessem ir pra casa de Jimin.

 

— Claro, acha que eu perderia essa oportunidade? — sorriu sapeca pegando sua mochila — Jin hyung, vamos!

 

— Hã? Vamos? Pra onde? — perguntou confuso.

 

— Pra casa de Park Jimin, não é? — Namjoon perguntou, trocando o garoto de braço.

 

Sua boca abriu e fechou tentando dizer algo. Não havia entendido que a oferta da carona fora direcionada a si também.

 

Na verdade Namjoon fora até ali apenas para buscá-lo e não o fazer andar até outro bairro com Jongin no colo. Seria cansativo demais e seu irmão estava dengoso, podia dar trabalho ao Kim.

 

— Tudo bem... Vamos. — disse um pouco envergonhado enquanto pegava suas coisas e jogava os copos de café no lixo. O de Bambam pela metade.

 

Andaram pela calçada até chegar no carro do atleta, fazendo o moreno resfolegar surpreso. Era um SUV, na cor preta. Um carro grande pra alguém grande.

 

— Entre. — Namjoon lhe abriu a porta de trás, onde ficava a cadeirinha de Jongin — Preciso que vá com ele, pra ele se acostumar melhor com sua presença.

 

Então ele entrou e se sentou no meio, ao lado de Jongin que lhe fitava curioso, agora bebendo um suco que Namjoon lhe havia comprado na lanchonete. Seus pequenos olhos vasculhavam todo o rosto de Seokjin, depois passou para o seu corpo, deixando o Kim um pouco constrangido pelo olhar bastante intenso para uma criança.

 

Ele estava curioso para saber quem era aquele moço que estava sentado ao seu lado. Já o havia visto antes, mas a sua memória infantil não ajudava muito, ele sempre se esquecia de quem havia acabado de conhecer e se encontrou com Seokjin no máximo duas vezes antes desta.

 

Seokjin observou como seus pezinhos balançavam de um lado para o outro cobertos pelo sapatinho preto e meia branca. Seus cabelos estavam um pouco despenteados por causa do vento e seu queixo sujinho de suco.

 

— Você está se sujando. — ele disse manso, levando a mão lentamente até o queixo da criança tentando não assustá-lo.

 

Se surpreendeu quando Jongin levantou seu queixo para deixar Seokjin o limpar. Enquanto permanecia o fitando, com o olhar menos julgador desta vez.

 

Ele voltou a tomar o seu suco e encostou a cabecinha no encosto da cadeirinha. Olhando pela janela a paisagem que passava consideravelmente rápida. O sol se pondo fazia uma luz alaranjada bater contra o seu rosto e Seokjin o achou gracioso.

 

Uma criança abençoada. Era o que o Kim pensava. Tão tranquilo, curioso e sapeca. Por mais que agora estivesse quietinho, toda vez que ia para os treinos com Namjoon, bagunçava todas as bolas e às vezes desdobrava os uniformes, jogando alguns no chão.

 

Ter quatro anos não o fazia meno bebê na concepção do Kim. Jongin sabia ser independente sobre algumas coisas bastante simples, como escovar os próprios dentes ou comer de hashi.

 

— Você é tão fofo. — acariciou a bochecha dele, recebendo um sorrisinho pequeno e lhe retribuindo.

 

— Ele realmente gosta de você. — Namjoon falou enquanto sorria, mostrando suas covinhas.

 

Isso fez Seokjin corar violentamente enquanto comprimia os lábios. Bambam observava tudo pelo retrovisor sentado no banco ao lado do mais velho.

 

— Uau, hyung. Você está tão vermelho. — Bambam disse malicioso.

 

— Culpa do sol. — Seokjin lhe respondeu apressado.

 

— Mas, não t...

 

— Jongin olha um passarinho! — ele exclamou apontando para fora da janela e a criança levantou parcialmente o corpo tentando ver o tal passarinho.

 

Bambam riu do desespero de Seokjin ao tentar disfarçar o rubor de seu rosto. Olhou novamente para frente e depois para Namjoon que cantarolava alguma música estrangeira.

 

Ele parecia tão distante e mal percebia a bagunça que estava acontecendo ali. O tailandês deduziu então que era por conta do time. Ultimamente o capitão andava meio aéreo, principalmente depois da saída de Sangwoo e Seunggyo.

 

Parecia que tudo iria desmoronar a qualquer momento, mas ele sabia que Namjoon não deixaria isso acontecer. Por isso o admirava tanto. Ele conseguia ser a calmaria no meio de uma tempestade.

 

[•••]

 

Hoseok ninava Hansung em seus braços sentado em uma das mesas de uma sorveteria de seu bairro. O bebê revirava os olhos de tanto sono e o mais velho não parava de um balançar até que finalmente os fechasse por completo, soltando um suspiro aliviado.

 

Jiwoo estava sentada a sua frente, completamente lambuzada de sorvete de menta e chocolate. Seu vestidinho lilás também estava sujo, mas ela pouco se importava.

 

O clima estava mais frio por ser noite e ele não queria estar ali justamente pelo clima. Mas a garotinha queria tanto o seu sorvetinho de menta e chocolate que ele não resistiu ao seus olhos pidões.

 

— Jiwoo, sua cara tá toda suja. — ele dizia num tom repreendedor, porém manso enquanto limpava pela sexta vez o queixo todo melado da criança.

 

Ela enrugou o nariz, como uma forma de dizer que não se importava e queria apenas comer. Algo que Hoseok reconheceu, porque Hansung também o fazia quando ele tirava a mamadeira da boca do bebê e ele quase berrava querendo mais.

 

A rua da sorveteria era bastante calma, frequentada por famílias ou adolescentes. Era um ponto de encontro dos casaizinhos apaixonados que queriam fazer algum roograminha simples fora e sair um pouco da rotina.

 

Ele fitava calmamente as pessoas andando pela rua, sorrindo, algumas conversando alto, outros bebendo num barzinho tranquilo do outro lado da rua. Calmo.

 

— Volta aqui, desgraçado!

 

Mas nem tanto.

 

Olhou para trás vendo uma movimentação estranha, nada comum para o seu bairro. Um grupo de homens entrando em um dos becos dos pequenos edifícios da rua com expressões nada amigáveis.

 

Seu coração acelerou ao ver um deles com uma barra de ferro em mãos e pelo que pode contar, eram ao menos quatro brutamontes daqueles indo pro beco.

 

Ouviu rosnares e sons de briga vinda dali e logo tratou de pegar os seus irmãos e se esconder dentro da sorveteria com mais alguns adolescentes  que estavam ali.

 

Eram quase 19:40 da noite e ele só estava ali para agradar sua irmã, não para ver uma briga de homens de outro bairro, completamente selvagens.

 

Ouviu alguns gritos, até que um deles saiu correndo de lá, meio ensanguentado e o Jung tapou a boca com as mãos enquanto voltava a ninar Hansung que havia quase acordado. Jiwoo estava curiosa e queria saber o que era, mas Hoseok tampava a sua visão com o próprio corpo e a escondia atrás de si.

 

— Meu Deus! Que coisa horrível. — uma mulher exclama horrozida assim que os outros dois homens saíram de lá.

 

Ainda restam mais dois pelas suas contas e o silêncio que vem depois do último grito faz um arrepio macabro subir pela espinha.

 

Ele está apreensivo e a ponto de chorar de medo. Nunca tinha visto algo assim. Ouviu as pessoas da sorveteria ligando para a polícia e os adultos que estavam no barzinho também foram para dentro.

 

Hoseok não sabia, mas não era tão incomum aquele tipo de coisa acontecer por ali. Já que muitos dos jovens daquele bairro estavam na fase rebelde de se meter em encrenca e isso piorava quando se tratava de brigas com o lado mais humilde de Seul. Onde toda a bagunça acontecia e quem morava em bairros nobres nunca saberia.

 

Viu o último dos brutamontes sair de lá também ensanguentado, mas com uma expressão horrível. Um sorriso cínico tomava os seus lábios e Hoseok sentiu seu estômago embrulhar. O homem correu quando ouviu o som das sirenes da viatura e o Jung se sentiu mais aliviado.

 

Minutos após a polícia interrogar algumas pessoas ali, a rua voltou ao pouco movimento que tinha antes, como se um bando de homens enormes não tivessem brigado logo ali.

 

Respirou fundo ajustando o seu agasalho e o de Jiwoo, segurando a sua mão. Olhou para os dois lados da rua até que não notou carro algum. Atravessou e se pôs a andar de volta para casa, mas parou em frente ao beco ao ouvir uma tosse e um gemido de dor.

 

Ele não queria olhar, estava com medo. Tanto medo que paralisou. A garotinha lhe fitava confusa e ele não sabia o que fazer. Sentiu um incômodo nos olhos ao que algo reluziu contra sua íris, fazendo com que ele instintivamente procurasse pelo o que era.

 

Mas quando olhou para dentro do beco viu apenas uma corrente prateada caída próxima a uma poça de lama e uma silhueta cruzando a esquina e indo para a outra rua.

 

Pensou em chamá-lo para perguntar se aquilo era seu, mas lembrou-se da briga e dos gritos. Apenas pegou o objeto no chão com certa dificuldade por estar com Hansung nos braços e sentiu Jiwoo cutucar sua perna.

 

— O que é issu, oppa? — perguntou curiosa olhando para a corrente e seu pingente.

 

— Uma rosa. — guardou a mesma no bolso e voltou a segurar a mão da garotinha, caminhando de volta para casa.

 

[•••]

 

O quarto estava parcialmente iluminado e a brisa fresca entrava pelas frestas da janela. A televisão estava ligada, mas ninguém a assistia. Uma música ecoava pelo cômodo, mas estava baixa.

 

Deitado sobre a cama, Taehyung divagava sobre algumas coisas. A semana havia sido entediante e por algum motivo não conseguia encontrar Seokjin. Nem mesmo pelos corredores ou em sua sala. Até pensou que ele tivesse se transferido, mas após checar a lista de chamada do 3-C, o nome do Kim ainda estava lá.

 

Suspirou, estava tendo um dia chato. Suas notas estavam boas, mas ele pouco se importava com isso. Seus professores o elogiaram por todas as atividades em dia e como sempre, alguns alunos puxavam o seu saco por ser filho do diretor.

 

— Tannie... — murmurou quando a pequena bola de pelos subiu em seu rosto.

 

O filhotinho latiu, querendo que o dono lhe desse atenção. Taehyung passou os dedos longos pelos pêlos macios do animal que se aconchegava sobre seu peito.

 

Seus olhos castanhos passeavam pelo quarto olhando para cada canto e cada objeto que tinha ali. De repente eles pararam sobre uma fotografia numa das estantes. Era uma foto antiga, sua com seus pais.

 

Sua mãe estava sorridente, vestia um vestido amarelo com uma estampa florida e seu pai uma calça jeans com uma camiseta social. Ele vestia suas roupas de bebê e um chapéu. Estavam em Jeju, sabia disso pelo mar ao fundo.

 

Jungsoo já lhe contara diversas vezes sobre quando sua mãe escorregou numa das pedras se molhando toda e ele ria batendo palminhas achando tudo engraçado.

 

Lim Yoona era uma mulher linda, que fora criada numa fazenda em um dos distritos de Daegu. Sua família era humilde, e ela sempre ajudava seu pai com a barraquinha de verduras na feira da cidade.

 

Em uma de suas saídas para a faculdade que ficava no centro de Daegu, Yoona conheceu o problemático Jungsoo. Mimado e inconsequente, mas que jamais fora agressivo. Ele era apenas um garoto querendo aproveitar sua juventude.

 

Ele era mais novo que si, enquanto ela estava na faculdade, Jungsoo estava no último ano do ensino médio e frequentava a melhor instituições de ensino de Daegu. Que ela posteriormente descobriu ser do pai do Kim.

 

A história de amor deles era engraçada e Taehyung particularmente gostava muito de saber como seu pai fora parar numa fazenda num feriado e obrigado a fazer kimchi junto de todas as tias e a mãe de Yoona enquanto seu avô materno o avaliava.

 

Lim Jaein era um homem de coração puro e muito bom. Mas quando se tratava de sua filha se tornava um verdadeiro carrasco. Sua esposa tentava amenizar a tensão de Jungsoo falando sobre quando Yoona era criança, e a garota sempre a repreendia por expor algumas vergonhas do passado.

 

Quando chegou a vez da Lim conhecer a família Kim, fora tudo muito tranquilo, tirando o fato de que Kim Jungshin era um homem sério e de poucos sorrisos que a deixava muito intimidada. Por sorte a mãe de Jungsoo era falante e muito escandalosa, e a fazia se sentir em casa.

 

Taehyung sentia falta de sua mãe e de seu abraço acolhedor. Quando ela se foi, uma parte sua foi com ela e Jungsoo estava completamente abatido. Ficando quase um mês sem aparecer na DHS e deixando tudo nas mãos da vice diretora Yang.

 

Ele fechou os olhos, tentando se lembrar de todas as vezes que estivera com sua mãe. Mas já fazia tanto tempo que ela havia partido que não se lembrava de muita coisa.

 

Esforçava-se em boa parte do tempo a se lembrar da voz de sua progenitora, mas a cada ano que se passava isso ficava mais difícil. E Taehyung certamente se sentia frustrado por não se lembrar da voz que cantava para si todas as noites até que dormisse.

 

Não se lembrava da última vez que ouviu Yoona cantar, era muito novo, e apenas lembranças vagas ocupavam sua mente e uma melodia que não lhe abandonava. Era tudo que conseguia se lembrar. Sabia que podia perguntar a Jungsoo sobre sua mãe, mas sua relação com ele havia sido afetada em algum momento após a morte dela. Em algum momento em que a comunicação entre pai e filho quase não existia mais e ele se via perdido em meio a sua melancolia sem coragem de pedir colo, pedir para ser ninado como toda criança merecia e deveria ser.

 

Kim Taehyung foi uma criança reclusa, quieta e um tanto medrosa. Ver seus colegas irem embora com suas mães nos finais de tarde quando as aulas acabavam lhe enchia de uma dor imensa que era cruel demais para uma criança carregá-la dentro de si.

 

Apenas quando seus 12 anos chegaram que seu comportamento mudou drasticamente. De recluso passou a ser um garoto rebelde, irritado e arrogante. Mas o que mais ele poderia fazer quando seu pai estava tão enfiado naquele trabalho que mal se encontravam em casa. Ser praticamente criado por babás e pela governanta não lhe eram o suficiente. Taehyung precisava de Jungsoo, mas ele não teve tempo o suficiente para seu filho.

 

A dor esmagava os dois ao mesmo tempo, criando uma barreira entre sua relação que parecia mais diplomática do que natural. Taehyung achou um modo de fazer seu pai lhe notar mesmo que fosse de uma maneira errônea, eram naqueles minutos dentro da diretoria ouvindo sermões que ele tinha a total atenção de Jungsoo.

 

Em meio aos pensamentos que lhe dominavam todas as noites, Taehyung adormeceu sem que percebesse. Yeontan se aconchegou ao seu lado e também adormeceu.

 

Não notou no meio da noite quando o Kim mais velho chegara em casa. Passou em seu quarto e tirou o filhotinho da cama para por na sua própria no cercadinho que ficava ao lado da de Taehyung. Deixou um beijo casto na testa do filho e se retirou.

 

Na cozinha ele comia a janta feita pela governanta sozinho. Ela já havia se retirado para dormir junto com alguns outros empregados da casa. E era naquela hora que o pensamento que lhe assombrava a dias lhe tomava.

 

O medo absurdo de Taehyung descobri a verdade. Descobri que toda a sua realidade não passou de uma mentira e que aquilo fora surpreendente para si. Lhe matou aos poucos todos os anos e ele nunca sabia como agir na presença do garoto.

 

Porque, quando Yoona faleceu, Jungsoo descobriu não ser pai de Kim Taehyung.

 

[•••]

 

Jongin estava sentado no sofá da sala da casa Park enquanto comia um sanduíche que Seokjin lhe preparou. Seus olhos estavam vidrados na televisão enorme que Hee-Ae havia comprado durante a semana.

 

O pequeno pinguim tentava achar uma maneira de voar enquanto Park Jimin tentava achar uma maneira de se comunicar com a criança sentada ao seu lado.

 

Desde que ele chegou ali, não o viu falar nada e isso lhe deixou inquieto. Seokjin estava no banheiro e Yugyeom havia arrumado um emprego de meio período numa lanchonete. Chanyeol estava com os amigos da faculdade e seus pais ainda estavam na conveniência.

 

Ele observava a criança mastigar lentamente o pão e o recheio enquanto se sujava inteiro e não parecia se importar com aquilo, mas a mania de limpeza do rosado estava quase o fazendo surtar por ver toda aquela migalha em seu sofá.

 

Mas Jongin era apenas uma criança pequena e ele precisava ser paciente. Não estava lidando com seu irmão ou com seus amigos e gritar seria a pior coisa a se fazer, ainda mais o pequeno sendo irmão de alguém tão popular no colégio. A última coisa que o Park queria naquele último ano era uma encrenca com Kim Namjoon e suas fãs.

 

Ouviu a porta do banheiro se abrir e o Kim sair por ela vestindo um pijama branco com desenhos de alpacas e o cabelo úmido colando na testa.

 

— Ei, hyung... — ele chamou o maior.

 

Seokjin se virou para ele após se sentar no meio dele e de Jongin.

 

— O que foi? — perguntou.

 

— Por que essa criança não falou mada desde que chegou? — apontou para o mais novo deles com o queixo enquanto cruzava os braços.

 

— Oh, bem... Jongin é especial e...

 

— Vocês estão ai! — a voz da mãe de Jimin interrompeu a explicação de Seokjin e eles olharam na direção da entrada da sala. Jongin ainda olhava para a TV.

 

— Tia Hee-Ae. — Seokjin sorriu ao ver a mulher passar por eles até a cozinha com algumas sacolas.

 

Seokjin foi atrás da mais velha a fim de ajudá-la, parecia tudo muito pesado e ele sabia de suas reclamações sobre dores na coluna.

 

Jimin os acompanhou com o olhar até que estivessem na cozinha e depois olhou para o garotinho sentado ao seu lado. O sanduíche já havia acabado, mas ele continuava com os olhos colados nos bonequinhos coloridos da TV.

 

O Park passou a mão no cabelo num gesto nervoso enquanto uma de suas pernas balançavam. Toda aquela migalha no sofá estava lhe fazendo gritar por dentro.

 

Fechou os olhos e respirou fundo, inpirando e expirando o ar vagarosamente. Abriu os olhos e o mais novo parecia não o notar ali.

 

— Ei, criança. — chamou, um pouco alto, mas Jongin não se virou. Parecia não ter escutado — Garoto, tô falando com você.

 

Dessa vez cutucou o braço do menor e ele finalmente se virou, lhe fitando confuso. Jimin sorriu por finalmente ter a sua atenção e se aproximou um pouco mais.

 

— Qual é o seu nome? — indagou, mesmo que já soubesse, apenas queria puxar assunto.

 

Mas Jongin não respondeu. Apenas contiuou lhe encarando, piscando os grandes olhos ônix e tombou a cabeça para o lado. Jimin achou que ele estava receoso, não sabia de sua mudez e então se aproximou mais ainda.

 

— Não quer falar? — sua voz era mansa e ele estava tendo todo o cuidado para não assustar o Kim mais novo — Está com vergonha?

 

Jongin se ajeitou no sofá, para se sentar de frente para o Park. Lhe encarou mais um pouco e algumas risadas vindas da cozinha podiam ser ouvidas.

 

Então ele moveu os bracinhos e fez alguns sinais com as mãos que significavam "Jongin". Jimin franziu o cenho confuso. Não sabia o que ele queria fazer.

 

— Hã? O que é isso? — ele tentou imitar o que o garoto fazia, de uma maneira um pouco desengonçada.

 

O mais novo parou o que estava fazendo, e encarou ainda mais o rosado que até se sentiu intimidado pela intensidade do olhar daquela criança.

 

Mas logo seus olhos se arregalaram ao que um bico trêmulo se formava nos lábios de Jongin e seus olhos marejaram.

 

Um choro alto, porém fanho ecoou pela sala e Jimin se desesperou olhando para todos os lados em busca de alguma solução. Não sabia o que estava acontecendo e o que tinha feito de errado.

 

Logo Seokjin apareceu na sala, sem saber o que estava acontecendo e Jongin engatinhou pelo sofá até se aninhar em seus braços. A mãe Jimin veio logo depois, preocupada pelo choro da criança.

 

— O que houve? — Jin indagou e Jimin pareceu ter saído de um transe quando lhe encarou.

 

— E-eu não sei, eu... Apenas perguntei o nome dele e ele não me disse, depois ele fez algo com as mãos, mas eu não entendi e aí ele começou a chorar. — sua voz estava falha. Jimin estava assustado com o que havia acontecido, tinha medo de ter feito algo que ofendesse de alguma forma a criança e não saber o motivo daquele choro lhe deixava aflito.

 

Seokjin suspirou ao que o choro de Jongin diminuía, mas ele se agarrava ainda mais a sua camiseta e seu rosto estava escondido no peito do moreno.

 

Hee-Ae se sentou ao lado do filho e lhe encarou confusa, Jimin se limitou a abaixar a cabeça e morder o lábio inferior,confuso.

 

— Ele não fala Minnie... O Jongin, — respirou fundo — ele é mudo. Por isso ele fez sinais com as mãos, mas você não entendeu e ele se sentiu pressionado e assustado.

 

O Park levantou a cabeça e sua expressão era de total surpresa. Como não sabia disso? Todos conheciam Namjoon e seu irmãozinho e comentavam sobre ele. Como nunca lhe contaram sobre Jongin ser mudo?

 

Foi então que Jimin percebeu que, seguir uma pessoa em redes sociais, ouvir sobre ela por terceiros não siginificava conhecê-la. E esse fato tão importante da vida de alguém que achava conhecer, ele não sabia.

 

— Jimminie... Não se culpe, você não sabia. — o Kim tentou lhe acalmar.

 

A mais velha lhe acariciava as costas e ele fitou o garotinho agarrado a Seokjin que agora apenas soluçava.

 

— Venha aqui. — chamou pelo rosado que se arrastou um pouco receoso — Faz carinho nos cabelos dele, o Namjoon disse que ele gosta e se acalma.

 

Os dedinhos gordos da mão pequena do Park tremiam um pouco, ainda tinha medo da criança o repelir e só de imaginar isso lhe deixava triste. Ser ignorado e odiado por caras de sua idade não o abalava, não se importava. Mas Jongin era só uma criança e a sua ignorância sobre algumas coisas no mundo acabou fazendo ele se encolher nos braços de Seokjin.

 

Tocou timidamente os fios negros, e ouviu um suspiro baixinho. Teve um pouco mais de coragem e adentrou os fios até que seus dedos se movessem num carinho um pouco acanhado.

 

Jongin tirou o rosto o peito de Jin e olhou para Jimin que se sentiu apreensivo. Seus olhos e se fecharam e sua cabeça tombou na direção da mão do Park.

 

— Pronto, agora ele sabe que você não é assustador ou um caral mal. — o Kim sorriu.

 

Minutos depois Jongin ressonava baixinho com a cabeça repousada nas pernas de Jimin enquanto Jin ajudava Hee-Ae com o jantar.

 

Uma hora depois o pai de Jimin entrou na casa e caminhou nas pontas dos pés com medo de acordar Jongin. Chanyeol se sentou ao lado do irmão para dar uma olhada na criança desconhecida e logo se retirou. Jimin deixou Jongin na sala com Seokjin e foi ajudar a mãe a lavar a louça. Minutos depois, Namjoon estava do lado de fora, tocando a campainha.

 

Seokjin ajeitou Jongin em seu colo e Hee-Ae lhe entregou a mochila da criança com um pote cheio de frutas fatiadas pedindo para que o desse para comer pela manhã. Jimin deixou um beijinho sobre os cabelos do Kim mais novo que se remexeu ao toque e sorriu pequeno pelo resmungo.

 

Teve a ajuda de Chanyeol para descer as escadas e abrir a porta do andar debaixo e logo quando o Kim saiu, ele retornou.

 

Seokjin sorriu ao ver Namjoon encostado no carro enquanto abraçava o próprio corpo. Ele sorriu de volta para si e suas covinhas ficaram a mostra.

 

Ele achava isso um golpe baixo. Ficava tão fofo toda vez que sorria e o moreno só sabia suspirar ao que se aproximava do maior.

 

— Ele se comportou? — Namjoon quis saber ao acariciar os cabelos do irmão.

 

— Claro, ele ficou assistindo Pororo com Jimin na sala, mas não jantou... — disse receoso — Ele acabou dormindo, mas a mãe de Jimin deixou algumas frutas fatiadas num pote. Eu coloquei dentro da mochila.

 

Namjoon assentiu com a cabeça e sorriu.  Ele fitou Seokjin, que se sentiu um pouco acanhado pelo olhar, até que eles se desviaram para a criança e só então notou o pedido silencioso do mais velho.

 

Ele cuidadosamente tirou o irmão dos braços de Jin e o ajeitou nos seus. Voltou a olhar o menor que agora abraçava o próprio corpo e sorriu.

 

— Obrigado. — foi o que disse, e caminhou até o menor, bagunçando seus cabelos.

 

Seokjin sabia que estava corado pelo calor que havia em seu rosto e prendeu o lábio inferior ao dente. Viu o maos alto se afastar e colocar a criança na cadeirinha. O viu entrar no carro e lhe dar um último aceno antes de ir embora.

 

Seokjin subiu as escada da casa dos Park com um sorriso enorme nos lábios enquanto mantinha as mãos fechadas em punho próximo ao peito.

 

Ao vê-lo Jimin logo estreitou seus olhos na direção do amigo que não deixava o sorriso desmanchar em seus lábios. O rosado negou com a cabeça  e riu.

 

— Você tá tão apaixonadinho... Que fofo. — disse de forma brincalhona e o Kim lhe tacou uma almofada.

 

— Cala a boca! — ele gritou — Tô mesmo. — deu língua para o outro e saiu correndo pelo corredor com Jimin em seu encalço.

 

— E aí? O que ele disse? — Jimin quis saber assim que entraram no quarto.

 

Seokjin se jogou na antiga cama de Chanyeol e afundou o rosto no travesseiro. Jimin se sentou na própria cama e abraçou o seu travesseiro esperando o amigo lhe contar tudo.

 

— Ele agradece por eu ter cuidado do Jongin e só. — suspirou e o Park estreitou os olhos.

 

— Só?

 

— Só.

 

— Eu não acredito nisso. Pode me contar tudo Kim Seokjin! — pulou de uma cama a outra se jogando no moreno.

 

Seokjin resmungou ao que tirava o corpo do rosado de cima do seu e se deitava de lado com a cabeça apoiada na mão.

 

— É sério... Ele só agradeceu, sorriu e foi embora. — um bico surgiu em seus lábios e Jimin estalou a língua.

 

— Que saco, você precisa fazer alguma coisa logo. — ele cruzou os braços.

 

— Não sei Chim... Ele e a Momo estavam rindo e conversando muito durante o treino... — disse baixinho.

 

— Jin! Eu já disse que o Jinyoung me contou que a Momo não gosta de ninguém ,para com isso. — chutou a bunda do moreno que resmungou.

 

— Jinyoung? Você falou com ele? — Jimin assentiu — Quando?

 

— Ontem de manhã, encontrei ele no corredor e o puxei pro terraço. Perguntei sobre a Momo e ele me respondeu, mas depois foi embora sem dizer nada. — o rosado escondeu o rosto nos joelhos dobrados.

 

Seokjin se sentou, fitando a figura pequena do amigo enquanto ele se lamentava. Jinyoung sempre prefere manter distância de si e isso lhe machuca.

 

— Sabe que ele ainda não se perdoa Chim... Mas uma hora isso vai passar. — acariciou as costas do Park que assentiu.

 

— Eu sei que as vezes o Chanyeol-hyung vai até o apartamento dele e da noona, mas ele nunca me diz nada... Eu me sinto mal pelo Jinyoung e me sinto ainda pior por não poder fazer nada. — puxou os fios rosados para trás, como sempre fazia quando se estressava ou estava tenso.

 

— Ele ainda deve tá abalado, afinal era o pai dele... — Jin tentou confortá-lo mais uma vez e o menor apenas assentiu.

 

Os acontecimentos após o seu incidente na casa da tia resultaram na personalidade difícil de Jinyoung e no trabalho duro que sua irmã tinha que fazer para ajudá-lo no colégio.

 

Jimin se sentia culpado por não poder ajudar o seu primo e a distância que o mesmo criou entre eles o machucava muito porque ele nunca a quis.

 

Depois de mais alguma conversa jogada fora para distrair o mais novo, ambos dormiram abraçados.

 

Na manhã seguinte ambos foram acordados por Hee-Ae que queria ir à feira do outro lado do bairro.

 

Seokjin não tinha muita disposição, mas nunca negava nada a ela e Jimin não tinha muita escolha. Se ficasse, teria que fazer o café da manhã de Chanyeol e isso ele definitivamente não iria querer.

 

Compraram verduras, frutas e algumas roupas para ficarem em casa. Jin não gastou muito, ainda teria que voltar pra casa e explicar para Taeyeon o motivo de não ter dormido em casa mesmo que ela já soubesse e não se importava.

 

Jimin comprou um short curto e apenas recebeu um aceno negativo da mãe que dizia que ele já tinha vários daqueles em casa e só estava acumulando roupas.

 

Voltaram para a casa dos Park's depois de duas horas rodando pela feira e encontraram o pai de Jimin e Chanyeol que havia acabado de acordar.

 

Depois de comer Seokjin finalmente voltou pra casa, mas não encontrou sua mãe por lá. Já tinha saído pro trabalho.

 

Foi para o quarto e tomou um banho e logo depois foi assistir algo na sala, mas acabou voltando pro quarto.

 

Enquanto perambulava pelo cômodo atrás de seu notebook, notou que sua camisa preta estava pendurada em um cabide atrás da porta.

 

Lavada e sem mancha.

 

Taeyeon havia lhe dito algumas noites antes sobre Jungsoo pedir que ela o mandasse a peça de roupa para que pudesse ser lavada, mas achou que ele só daria um pedido nela.

 

A pegou dali e colocou de volta no armário, se lembrando de que Taehyung estava estranho naquela semana e que mal o tinha visto. Mas isso de devia ao fato dele estar sempre ocupado com a peça e com o time.

 

Isso lhe resultou num final de semana gasto apenas em um sono profundo para recuperar-se da fadiga e do trabalho duplicado. E agora triplicado, já que se ofereceu para cuidar de Jongin quando o time treinava a noite.

 

Seokjin sabia que uma hora iria se sentir sobrecarregado e por isso cogitava a idéia de desistir de ser manager do time e oferecer isso a  quem procurava por alguma ocupação.

 

O fim de semana foi o mesmo de sempre. Sozinho boa parte do tempo, Jimin e Yugyeom infurnados na sua casa ou ele na casa de algum dos dois e maratonar Game Of Thrones antes da estréia da última temporada.

 

Quando a segunda-feira chegou, sentiu seu ânimo aumentar e qualquer um que o conhecesse diria que estava radiante demais.

 

A verdade era que ficar perto de Namjoon aquecia Seokjin. Seu coração batia tão rápido que ele jurava que sairia pela boca a qualquer momento.

 

Então quando saiu de casa, até mesmo Taeyeon, que estava de folga, estranhou tanta empolgação vinda do filho para ir ao colégio. Mas ela estava feliz, afinal Seokjin nai estava com aquela cara de quem está cansado do mundo toda vez que saía pela porta de casa.

 

Ela ficava preocupada por não ter tanto tempo pro filho. Ficava preocupada por ele ter apenas dois amigos, mesmo sabendo que eram suficientes e os melhores que ele poderia ter.

 

Taeyeon queria que seu filho se abrisse mais com ela. Que lhe contasse tudo, que confiasse nela. Sabia que era difícil devido a sua ausência e a falta de Heechul agravou mais a distância entre os dois pelo fato da Kim não saber como agir após o falecimento do marido e nem mesmo conseguir criar o filho sozinha contando com a ajuda da mãe. Esta que passara a maior parte do tempo com Seokjin e quando faleceu, soube que levou um pedaço do filho consigo.

 

[•••]

 

O sol naquela manhã de segunda-feira finalmente resolveu dar as caras depois de um final de semana chuvoso. Ainda haviam algumas poças d'água pelas ruas, mas nada de muito grande.

 

As cerejeiras estavam um pouco molhadas também pelo sereno e por mais que o sol brilhasse, ainda estava fresco.

 

E Seokjin aproveitava aquela brisa leve enquanto caminhava em direção a estação de metrô. Saira um pouco mais cedo de casa e nem mesmo se lembrou de enviar uma mensagem no grupo avisando a Jimin e Yugyeom que havia saído de casa.

 

Mas estranhamente também não recebera mensagem alguma deles. Talvez Yugyeom faltasse devido a sua rotina desgastante no trabalho de meio período e os ensaios. Jimin praticava dança como um louco e até mesmo Chanyeol teve que intervir para que seu irmão não desmaiasse de exaustão.

 

— Devem estar cansados... — disse baixinho quando já estava perto do metrô.

 

Colocou os fones no ouvido e deu play na playlist *especial* que Chanyeol havia feito em seu spotify. Ele dizia que Seokjin precisava de novas músicas e então o Kim apenas lhe entregou o celular.

 

A primeira música a tocar era *Valentine* do *5 Seconds of Summer*. Seokjin havia apreciado a batida da música e a voz do cantor não lhe desagradava.

 

Mas por estar com os fones a último volume, ele não notara quando alguém havia lhe chamado. Apenas percebeu quando teve o ombro tocado.

 

Virou-se de uma vez, dando de cara com alguém que ele nunca imaginaria que iria lhe dirigir uma única palavra. Talvez porque em sua mente essa pessoa não gostava de si, ou era perfeita demais para falar com um *Zé ningém *como ele.

 

— Você é Kim Seokjin, não é? — lhe foi perguntado, mas ele parecia meio aéreo — Ei! — a pessoa lhe sacudiu um pouco.

 

— Hã? Sim, sou eu... Mas porque quer saber? — ele perguntou sem jeito, após tirar os fones do ouvido.

 

— Eu estou indo pro colégio também, não queria ir sozinha. — Momo lhe sorriu gentil — Sabe, hoje aqueles três estrupícios decidiram irem antes de mim. —ela resmungou e o Kim não soube o que dizer.

 

Momo era linda, Seokjin precisava admitir. Seus cabelos longos e loiros estavam bem hidratados e sua pele branca não tinha nenhuma cicatriz, apenas hematomas. Estes devidos aos tombos nos treinos.

 

— Ah, sim... Entendo. — sorriu sem graça.

 

Entraram no vagão que os deixaria na estação próxima ao colégio e sentaram-se lado a lado. Seokjin estava um pouco desconfortável pelo fato de ser Momo ali. A quem ele sempre ouvira pelos corredores ser alguém que Namjoon almejava.

 

A loira não notou o desconforto do Kim pois estava ocupada demais vendo algo em seu celular. Sequer notava os olhares dos outros estudantes ali presentes sobre si. Momo era distraída demais quando se tratava disso. Na verdade não se importava.

 

— Não acredito! Outra vez essa merda. — ela ralhou e choramingou, atraindo a atenção do moreno.

 

Ele a analisou e notou a expressão indignada e exausta, se perguntou sobre o que a Hirai se lamentava, mas não perguntou. Não era da sua conta afinal.

 

— Sabe, eles sempre fazem isso. — ela se virou para o Kim — Eu não aguento mais essa gente dizendo que eu e o Namjoon namoramos ou que ele gosta de mim. — disse ela irritada enquanto digitava rapidamente.

 

Seokjin piscou várias vezes até entender o que a loira havia dito. Então ele se viu surpreso por Jimin estar certo. Outra vez.

 

— Não estão? Sério? — perguntou por impulso e logo se xingou por isso.

 

—Ah não... Até você? — ela disse num tom manhoso — Eu gosto de mulher! Quando será que vão entender isso?! — quase gritou e Seokjin arregalou os olhos.

 

E então um sorriso surgiu em sua face.

 

Namjoon não estava interessado em Momo, em ninguém. Viu ali uma chance de agir e foi por isso que uma determinação enorme surgiu em seu peito.

 

Iria se declarar ao capitão.

 

•••

 

Quando saíram do vagão, Seokjin estava bem mais sorridente e Momo ainda olhava para o celular, tropeçando duas vezes por conta disso.

 

O Kim sorria abertamente e cumprimentava todos que via pelo caminho. Cantarolava baixinho e até arriscava uma dancinha vergonhosa que nunca faria se não estivesse tão feliz.

 

Quando passaram pelos portões, Seokjin fez questão de cumprimentar o porteiro ranzinza que apenas resmungou como das outras vezes. Ele era sempre mau humorado.

 

Deixou suas coisas no armário e trocou seu blazer por apenas um suéter de cor vermelha com o emblema do colégio. Passou rapidamente pelo banheiro e ajeitou seus cabelos.

 

Seu coração batia a mil. Ele planejava em sua cabeça diversas formas de ir falar com Namjoon. Pensava nas melhores palavras. Se diria a ele antes ou depois do intervalo. Talvez num outro dia? Ele estava tão animado que chamava a atenção dos outros alunos.

 

Quando ainda estava perdido em seus pensamentos e quase entrando em sua sala. Ouviu uma voz lhe chamando. Olhou para o lado, onde a sala 3-B ficava e viu um dos colegas de Namjoon lhe chamar.

 

Ele tinha um sorriso divertido nos lábios  como se acabasse de ouvir a melhor piada do mundo. Seokjin foi até ele ainda sorrindo.

 

— Venha aqui comigo. — o garoto lhe guiou para dentro da sala.

 

O corpo de Seokjin reteseou um pouco, estava nervoso. Pôde notar alguns olhares sobre si e percebeu que alguns deles riam e outros tentavam conter o riso.

 

Outros lhe olhavam apreensivos e o sorriso deu lugar a uma expressão apreensiva.

 

Não sabia o que estava acontecendo.

 

— Veja. — o garoto lhe fez virar em direção a enorme lousa — É sua não é?

 

O mundo de Seokjin pareceu congelar. Como se apenas ele estivesse ali, olhando para aquele pedaço de papel colado na lousa verde. Com todos os sentimentos que nutria por Kim Namjoon.

 

Tudo a sua volta pareceu girar e um zumbido insuportável inavia seus ouvidos. Era como um pesadelo. Pedia desesperadamente que alguém sacudisse, belicasse ou lhe jogasse um balde de água para que acordasse logo.

 

Seus olhos passaram pela carta diversas vezes enquanto tentava focar em algo que não fosse ela, mas lhe parecia impossível. Pois estava tudo ali.

 

Tudo o que havia cultivado por um bom tempo, tudo o que havia escondido, tudo o que queria dizer a ele pessoalmente.

 

Então, quando saiu de seu grande momentâneo, a primeira reação de Seokjin fora apertar as mãos em punhos e trincar os dentes. Uma raiva latente subindo por seu peito tomando todo o lugar do constrangimento.

 

Fora exposto para todos, da maneira mais suja possível. E lhe pagariam.

 

Kim Taehyung lhe pagaria.

 

Sem dar alguma explicação, saiu correndo em direção a última sala do corredor, onde o filho do diretor estudava.

 

Escancarou a porta sem cuidado algum, assustando quem estivesse lá. Olhou para todos, procurando pelo rosto tão conhecido e desprezado por si. Não o encontrando.

 

Logo se pôs a correr novamente, esbarrando nos outros alunos, sem se importar com isso. Não tinha tempo algum para ser gentil, seu sangue fervia e sua mente estava nublada.

 

Só queria achar aquele garoto de uma vez e o fazer se arrepender de tê-lo exposto.

 

E quando entrou em uma das salas do primeiro ano, para sua surpresa, ele estava lá. Ao lado de Min Yoongi e Jeon Jungkook e mais alguns alunos que faziam parte de seu grupo.

 

O outro Kim lhe olhou quando o viu parado na porta com uma expressão nada convidativa e franziu o cenho. Seokjin não pensou duas vezes em ir até ele a passos pesados.

 

E então, de uma só vez, descontando toda a sua raiva, Seokjin o deu um taoa certeiro no rosto, fazendo o mais novo se virar e os outros ofegarem.

 

— Você é tão sujo Kim Taehyung! — gritou — Eu não posso acreditar que você fez isso.

 

O de fios roxos lhe encarou. Os olhos escuros denunciando a raiva que crescia em si, mas mantendo a expressão serena.

 

— O que fiz, Seokjin? Me diga. — disse de forma séria.

 

O mais velho respirou fundo, passando a mão pelo rosto e puxando os cabelos. Lágrimas se acumulavam em seus olhos e aquilo chamou a atenção de Yoongi.

 

— Você é tão cínico. — riu sem humor — Ainda tem coragem de me perguntar o que fez depois de me expor? Qual é a sua?! — gritou com ainda mais raiva.

 

Jungkook olhou para Taehyung assim que o viu se levantar, conhecia bem o amigo para saber que ele estava muito, muito bravo.

 

Não evitou notar também as lágrimas que Seokjin segurava, tentando não transbordar ali e arqueou uma das sobrancelhas, cruzando os braços.

 

— Expus? Como? — ele estreitou os olhos e se aprixumou do mais velho — Do que caralho você tá falando, Seokjin?! — agora ele também gritava.

 

Jin tentou, mas não conseguiu evitar que a primeira lágrima escorresse por seu rosto. A secando rapidamente com a manga da camisa social do uniforme.

 

— A carta, Taehyung. Você a colou na sala do Namjoon, pra todo mundo ver. — ele fungou — Eu sabia que você era um garoto problema, mas não pensei que fosse tão sujo.

 

O mais novo franziu o cenho outra vez. Olhou para Seokjin e sabia que ele não estava de brincadeira.

 

— Que merda você tá dizendo? A carta tá comigo. — pegou sua mochila encostada próximo a carteira.

 

Começou a vasculha-la de forma apressada enquanto Seokjin o encarava em expectativa, mesmo sabendo que não estaria lá. Então Taehyung paralisou.

 

— Não está aqui... — ele sussurrou, mas Jin o ouviu.

 

— Claro que não está. — sorriu amargo — está colada na maldita lousa para todos verem, Taehyung, você me expôs.

 

Então ambos se encararam por minutos. Um com o olhar acusatório e cheio de dor pela exposição e o outro nervoso, por levar a culpa de algo que não o fez.

 

E enquanto ambos ali se contorciam em mágoa, o verdadeiro culpado sorria.

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Primeiro de tudo, eu queria me desculpar pela demora. O capítulo já tá pronto a meses, mas eu queria postar junto com o sexto...

Alguns avisos:

• Eu NÃO tenho data e nem tempo definido para atualizar.

• O sexto capítulo está em andamento e tende a ser menor que os outros.

• A fanfic NÃO é o meu maior foco, é apenas algo que faço por diversão e quero compartilhar. Então outras coisas virão antes da obra.

• Eu sou mais ativa no Wattpad e no Twitter, então aconselho a me seguirem lá. @/sweetielittlejin no Wattpad e @/hxpejung no Twitter.

• Tenho uma tag para a fic que é a #LoveLettersForJin

Bom, por enquanto é isso. Até a próxima e não se esqueçam de votar e comentar!


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