História Love Letter - Capítulo Único

As luzes do dormitório estão apagadas por ser tarde, consigo ver apenas uma pequena luz iluminando a cozinha. O que é bom, pois estou tão cansado que era capaz de cair se não conseguisse enxergar um palmo a frente dos meus olhos.

Ando devagar até achar a maçaneta da porta que procuro, a do meu quarto.

O silêncio que me invade é acolhedor e é tudo o que eu preciso nesse momento. Paz. Eu preciso de paz.

Fecho a porta atrás de mim e me sento na cama, apenas para me espreguiçar e deitar-me nela minutos depois. Respiro fundo. O dia fora longo.

Não queria que tudo isso acontecesse assim, tão de repende. Não queria que todos soubessem desse jeito, inesperado. Respiro fundo mais uma vez, não quero chorar de novo. Eu nem tenho certeza de meus sentimentos, não tenho certeza de nada e a verdade já está ai, estampada nas capas de sites pela internet. Todos já sabem.

Ele sabe.

Esse pensamento faz uma lágrima rolar por meus olhos. Sou forte mas não quando o assunto é ele.

Resolvo me levantar, pois lamentar-se agora não é o mais adequado. Já está feito. Todos sabem. Eu gosto dela. Não sei se a amo, mas gosto do que temos.

Ando até o interruptor e acendo a luz, olhando meu quarto lentamente. Tão vazio, tão gelado. Não era assim antes. Não era pra ser assim. Respiro fundo mais uma vez, lentamente agora, tentando recuperar minhas forças. Acabo por trocar de roupa, tentando me entreter com qualquer coisa que apareça na minha frente, até podendo ser uma simples mosquinha que adentrou a janela aberta. Passo na frente da minha mesa, onde percebo meu notebook aberto, exatamente do jeito que deixei ontem. Ou melhor, quase exatamente.

Havia um papel cuidadosamente dobrado em cima do teclado que não estava lá quando sai esta manhã. Não hesitei em pegá-lo, abri-lo e ler o que aquela letra queria me contar. O que aquele coração jogado ali, em forma de tinta e papel, queria me contar.

“Às vezes o sentimento amor é muito mal compreendido. Achamos que ele está sempre relacionado a outros sentimentos felizes apenas. Mas não é bem assim.

Há um grande sentimento que chamamos de amor, ele rege todos os outros, é como se ele fosse o rei comandando tudo em sua volta. Seus súditos, chamaremos assim, estão logo abaixo: a felicidade e a tristeza, em lados opostos ao rei. Existem também vários outros que caminham junto com o três: dor, raiva, encantamento, frustração, paz, compreensão, culpa… A lista é longa. Cada um desses sentimentos secundários vêm acompanhado com o rei. Sempre. Todos eles têm a hora certa de aparecer e ser sentido. Mas eles sempre estarão ali.

Então não pense que amor é um único sentimento, no qual todos sentem de forma e intensidade igual. Não pense que o amor é fácil, pois ele não é. Para sentir o amor do mais puro e verdadeiro você tem que passar por todas as pequenas partículas que o acompanham. Hora você ama e é feliz, outrora você ama e se sente frustrado. A única coisa que não pode mudar, mesmo com os altos e baixos, é o amor em si. O rei nunca pode perder o posto.

Um dia li em um livro que a dor tem que ser sentida.

O amor também é assim. Ele tem que ser sentido. Na alegria e na tristeza. Em todos os tipos de amor.

Isso, Sungmin, é o que eu aprendi com você. Que o amor tem diversas formas, diversos sentimentos. Ele não é solitário, ele sempre vem acompanhado.

E eu aceito sentir todos eles, ao mesmo tempo se preferir, se o amor que me reger for por você.

Sempre seu.”

Meu coração se despedaçara ali, em frente a mim ao terminar de ler a carta. Cada pedacinho do meu ser doía. Cada vez que meus olhos me pregavam uma peça correndo por aquelas letras tão miúdas e escritas apressadamente, um pedaço de mim se dissolvia em lágrimas.

Apressei-me a pegar um papel, uma caneta e meu coração. Era tudo o que eu precisava no momento.

“Eu sei que te amo e sempre te amarei. Eu sinto todos os súditos do rei agora, como você disse que estaria disposto a sentir. Eu sei que você e eu teremos o mesmo rei nos regendo pelo resto da vida, mesmo que ele não tenha a coragem o suficiente de se mostrar para o mundo.

Então, aceite o outro amor que mostro agora para o mundo, sabendo que o nosso estará sempre vivo, lutando contra tudo e todos que nos condena. Aceite também que o que posso mostrar não é esse rei covarde, e sim esse novo rei que irei construir.

Mas tenha a certeza de que ele não virá com tantos súditos quanto o nosso.

Sempre seu.”