História Love Me - Selected - The Beginning

Aquela era a noite mais esperada de anos, talvez séculos. A Seleção, um costume tão velho daqueles países, finalmente voltara a ser realizado. Enquanto a população fervia na rua, comemorando com fogos de artifício e placas mostrando imagens de antigas Seleções, a tensão reinava atrás das cortinas, onde a família real esperava o tão esperado Jornal de Illea da noite começar.

— Garotos, deixem seu pai orgulhoso — o sério homem, com cabelos pouco ralos para  idade de quase meio século, rei Alexander, pronunciou, como se soletrasse letra por letra, palavra por palavra, enquanto encarava, por poucos segundos, cada um dos rostos amedrontados de seus filhos. Algo que deveria ter melhorado o baixo humor que reinava na situação acabou atrapalhando-a ainda mais.

— Alexander, tenho certeza que os garotos darão os seus melhores — Elizabeth, a rainha, retrocedeu, levando um tanto de alívio, como sempre fazia, a seus filhos, quando falou cada palavra com sua doçura na voz. — Eles sempre dão.

Seu marido, vestido com um terno aveludado azul-escuro e uma gravata vermelha (escolhida a dedo pelas estilistas, que queriam representá-lo como uma pessoa bem mais alegre do que realmente é), Beth, como preferia ser chamada, deu de ombros, ao ver o homem dar as costas a sua família, indo até um dos diretores para falar sobre sei lá o quê a respeito do programa.

— Mamãe, você está deslumbrante! — Alexander comentou, desviando sua atenção de seu pai até a mulher alta e loira que permanecia em sua frente.

Elizabeth sempre fora considerada uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos, aparecendo em todas as revistas como um exemplo de boa aparência atualmente, com todo seu toque francês. As mexas, bem douradas, estavam presas  num alto coque, sobrando apenas duas delas, pouco mais ondulados, com ajuda da química, do que o normal, soltas, uma de cada lado. O vestido longo e liso, sem praticamente nenhum detalhe, ia até quase cobrir seus pés, os quais, utilizando uma sandália de salto dourada, mostravam suas unhas dos pés que, assim como a das mãos, tinham sido coloridas de uma cor nude. Para completar, Elizabeth sustentava um conjunto de jóias douradas do mesmo tom de seus sapatos, também sem nenhum enfeite ou extra.

— Vocês realmente acham? — ela perguntou, colocando a mão na cintura, enquanto um sorriso se abria, de canto a canto, a cada palavra, generalizando o que apenas Alex havia falado aos outros filhos.

Andrew, automaticamente, concordou com o que havia sido dito, mesmo que, lá no fundo, não tinha prestando atenção na mãe e apenas o fez por saber que ela, quase sempre, estava certa. Richard, tentando não transparecer toda a ansiedade que passava em sua mente, brincou:

— Na realidade, você está tão bonita que, se não fosse minha mãe, certeza que eu já teria te cantado... — sorriu de uma maneira sarcástica e, enquanto muitas pessoas fora da família achavam que Rick fosse o mais sem noção e que, também, muitas vezes podia ofender as pessoas, sua mãe simplesmente o abraçou, como se aquilo fosse tudo o que ela sempre quisesse ouvir dele.

— Por favor, não deixe que uma garota qualquer tire isso de você. — ela sussurrou, e, instantaneamente, Richard fechou os olhos. Era estranho ver sua mãe se preocupar com algo a ponto de ter de falar particularmente com ele, mas, ao mesmo tempo, aquelas palavras foram como uma força de moral a ele.

— Ou melhor — agora, a rainha falava para que todos os outros dois ouvissem. — Nenhum de vocês pode deixar que alguma coisa os mudem, muito menos uma garota. Ouviram?

— Sim, mamãe — os três responderam em coro, como se tivessem combinado. A mulher os encarou com cara fechada, mas olhar de apoio. Virou as costas segundos depois, quando o relógio marcava pouco mais de dois minutos para o programa começar.

— Eu estou com medo — Andrew, o caçula, confessou, dando alguns passos e virando-se logo em seguida, para poder ficar a frente dos irmãos, ver cada uma de suas reações.

— Não, And — Rick comentou, limpando algo inexistente no ombro de seu terno, com uma voz sarcástica que sempre utilizava em seu dia-a-dia. — Você já se borrou de tanto medo.

Andrew, já acostumado, sorriu, desviando seu olhar para o chão, sem mostrar o pouco de vergonha que passou por seu olhar. Quase no mesmo instante, ao fundo, Shelley, uma mulher que iria ajudar as selecionadas, chamava os três.

— Isso não é hora para piadas — Alex, um pouco carrancudo, opinou, travando o queixo logo em seguida. Não gostava de falar tanto, muito menos em momentos sérios quanto esse. Então, piadas com palavras de baixo calão como aquelas o irritavam tanto quanto qualquer coisa: Como seu irmão conseguia estar tão insuportavelmente calmo numa horas dessa?

— Você, pela primeira vez, errou, irmão — Richard comentou, passando a mão pelo cabelo, quando o mesmo e seus irmãos já começavam a caminhar em direção ao palco. — Mais do que nunca, é hora de fazer piadas.

[...]

42:37

Era isso que o relógio marcava quando Richard, novamente, encarou seus números brilhando a vermelho num lugar onde as câmeras não conseguiam o filmar. Quase 43 minutos de gravações, sendo 45 o tempo de duração normal do Jornal, até que Carter, finalmente, fosse até uma pequena bancada improvisada especialmente para aquele programa e anunciasse, sem tirar o sorriso do rosto:

— Chegou o momento que toda a Illea esperava por! — a plateia urrou, sem nem ao menos precisar ter certeza sobre o que o mesmo falava — Depois de tantos assuntos entediantes sobre a política, falaremos sobre um bem mais interessante... — abaixando a voz no final da frase, se virou a um grande telão que ainda não terminara de descer a frente das cortinas. Neste momento, o coração de Andrew pulou. Richard não parecia ter um coração de verdade para que o mesmo pulasse. Já o de Alexander já tinha explodido de ansiedade durante os longos 40 minutos anteriores.

— E então, Illea. Qual dos príncipes será o primeiro a ver suas garotas? — Carter, apontando seu microfone para a plateia, escolher uma garota de cerca de sete anos, sentada no colo da mulher que agia como sua mãe. A garota, possuindo traços parecidos com o da Rainha (cabelos loiros e olhos claros) sorriu, envergonhada.

— O que você pensa sobre isso, pequena? — Ele perguntou a pequena garota que, agora, estava em praticamente todas as telas de televisão do continente. A garota parecia indecisa, mas ao passar os olhos para os três príncipes pouco a frente, respondeu:

— Andrew. — Aquela única palavra que o garota já ouvira tantas e tantas vezes chegou em seu ouvido como uma metralhadora em seu cérebro. Instantaneamente, uma dor de cabeça forte quanto nunca surgiu em seu cérebro. Por que ele tinha de ser o querido das crianças? Por que ele tinha sido o último a nascer? Por que ele sempre teve de agir como alguém que não era apenas para manter e imagem de “o pequeno de Illea”?

— A voz do povo é a voz de Deus, meus caros. — Carter pensou alto, voltando a sua patente. And tentou sorriu, mas seus lábios se contraiam automaticamente. Sem apresentações, as imagens das cinco garotas que, agora, seriam chamadas de “suas”.

— Victoria Adelina Verlac Golescu, 18 anos, Leonina natural de Brasov (Romênia)

— Mavs White Cooper, 16 anos, Capricorniana natural da Bruxelas (Bélgica)

— Ophelia Grimaldi, 16 anos, Canceriana natural de George (Illea) 

— Maxine Madeline Catherine Noble, 18 anos, Canceriana natural deSheffield (Inglaterra)

— Fannie Lilian Desirée Beckham, 17 anos, Aquariana natural de Estocolmo (Suécia) 

De certa forma, não ser o primeiro uma vez na vida aliviou por completo Alexander, que já se mostrava confiante e confortável como sem era. Já Rick, acostumado em seu o segundo e, consequentemente o próximo, estudava cada erro do irmão para não cometê-los. Ou pelo menos tentar não o fazer.

— Parabéns as cinco, mas ainda não acabou. Você, que ainda não foi sorteada, pode ser uma das selecionadas do príncipe Rick, nosso palhacinho... — Carter brincou, quando, assim como no caso do irmãos, as fotos já estavam na tela.

— Eveline Kennedy Kaneswaran, 17 anos, Pisciana nascida em Galway (Irlanda)

— Cloe Serafini Martelli, 18 anos, Aquariana nascida em Milão (Itália)

— Annelise Bridget Cabble Damborg, 18 anos, Geminiana nascida em Copenhague (Dinamarca)

— Andromeda Violetta Pavli, 18 anos, Taurina nascida em Tessalônica (Grécia)

— Maia Annien Smeplass, 18 anos, Capricorniana nascida em Rennebu (Noruega)

Desta vez, sem pausas, Alex estava focado em cada rosto que apareceu após as várias palmas da plateia em relação as cinco anteriores. Como se percebesse o quanto o garoto tivesse se preparado e não podia perder esse instante, Carter também citou os nomes das próximas, e últimas, cinco garotas.

— Eloise Seven Schmidt Maslow, 18 anos, Canceriana vinda de Viena (Austria)

— Lindsay Malle Deacons, 18 anos, Sagitariana vinda de Homburg (Alemanha)

— Marilyn Young Morgan, 20 anos, Geminiana vinda de Chamonix (França)

— Anja Berkova, 19 anos, Capricorniana vinda de Novosibirsk (Russia)

— Annabelle Laura Benson Hepburn, 20 anos, Leonina vinda de Londres (Inglaterra)

Não houve tempo suficiente. As 15 garotas passaram, novamente, pela tela, antes que todas as luzes se apagassem, seus nomes subissem, e o hino de Illea começasse a tocar.

Era tudo ou nada. Agora ou nunca.