História Love U Down - Arrogante

Era manhã de quarta-feira e o sol tímido já dizia “Olá!” entre as nuvens. Pude ficar um pouco mais na cama já que não teria aula, mas, do mesmo jeito, teria que ir para o trabalho e me apresentar à equipe sul-coreana.

Reuni o pouco de disposição que me restava e aproveitei para limpar a casa. Digamos que eu tenha virado-a de cabeça pra baixo, mas pelo menos ficou brilhando e cheirosinha. Enquanto meu estado se encontrava completamente o oposto da casa.

Almocei, fui tomar banho e me arrumei para o trabalho. Vesti jeans e uma blusinha larga que deixava um dos ombros a mostra, sapatilhas nos pés e deixei os cabelos presos em um coque frouxo. Peguei minha bolsa e saí.

Percebi vários olhares em minha direção na rua e, sinceramente, eu não entendia o porquê. Eu estava tão bonita assim? Não usava nada fora do convencional.. Ou seria meu subconsciente e intuição tentando me alertar de algo?

Abandonei meus devaneios e tentei ao máximo adiantar o trabalho na editora. Devido à minha reunião com a equipe do show hoje à noite, teria que sair mais cedo, - o que incluía levar o trabalho restante pra casa.

Como eu já havia comunicado à gerente sobre, e ela não viu problemas em me dispensar desde que o trabalho estivesse finalizado e entregue amanhã, liguei para Anderson, que logo enviou um de seus assistentes até a editora onde trabalhava para me pegar e ir para o tal local da reunião: uma das casas de show no centro. Não demorou muito para que chegássemos lá.

Não sei por que estava começando a ficar nervosa no instante que o carro parou. Eu trabalhava com isso a um bom tempo, não haveria diferença alguma entre uma equipe e outra. Talvez o que me afetasse era o fato de ser um grupo coreano desconhecido a meus olhos.

Desci do carro e o assistente – o qual não sei o nome e nunca havia visto na produtora antes- me direcionou até onde a equipe e os membros do grupo estavam. Eu conhecia essa casa de shows como a palma da minha mão. Já perdi as contas de quantas vezes estive aqui. Era um ambiente familiar, e isso que me confortava no momento.

- Pessoal!- disse o assistente, chamando a atenção de todos ali. – Esta será a técnica de iluminação do show. – ele me indicou com um gesto de mãos fazendo com que todos me olhassem e, sinceramente, me senti um pouco mais nervosa. Tive de esboçar um pequeno sorriso e tomar a palavra. Em inglês, é claro, já que meu coreano não era lá aquelas coisas. Aprendi o idioma com o marido da minha tia, que é descendente de coreanos, por causa do trabalho. Quando se trabalha com pessoas de diferentes nacionalidades, é necessário um conhecimento mínimo sobre a língua.

- Olá! Sou Naomi Bianucci, e é um prazer poder trabalhar com vocês. - na verdade, não era. Só estava ali por obrigação e precisava do dinheiro extra.

A equipe me cumprimentou e começamos a discutir sobre a organização do show. A tensão inicial foi embora e pude me soltar. Todos me tratavam de igual pra igual, sem nenhum pré- conceito formado ou algo do tipo. O que importava ali era o desempenho para produzir o melhor show possível.

Os membros do grupo estavam mais afastados, conversando entre eles e olhando pra mim. Não faço ideia do que falavam, mas pressentia que boa coisa não era.

- Senhorita Bianucci, os detalhes serão escolhidos pelos membros, em especial, por Chansung. Deverá falar com ele. – disse um membro da equipe que cuidava da estrutura do palco. Eu nem mesmo sabia o nome do grupo, o que dirá quem era Chansung.

- Quem é... o responsável?- perguntei sem jeito.

- Vem cá. Apresentarei os meninos a você. – disse, simpático e me levando até onde os rapazes estavam.

Ao verem que nos aproximávamos, eles silenciaram. Todos eles eram altos... até demais. Ou eu que era muito baixinha com meus 1, 60 m de altura.

O técnico de palco apontou cada um deles, pronunciando seus nomes. Nichkhun tinha cabelos castanhos claros e, embora fosse musculoso, tinha um rosto fofo daqueles que da vontade de morder; JunHo possuía cabelos curtos e escuros, assim como Junsu, mas este ultimo tinha o rosto mais comprido; Taecyeon tinha um porte atlético, cabelos castanhos não tão curtos e um rosto de traços fortes; Wooyoung, também dono de cabelos castanhos, fazia o tipo “bad boy”; e o tal do Chansung possuía traços quase europeus, o mesmo porte atlético de Taecyeon, porém tinha cabelos maiores que os outros e a franja roçava seus olhos.

Não tive nenhuma opinião formada a partir de suas aparências, mas posso dizer que pareciam simpáticos pelo modo como me cumprimentaram, com exceção de Wooyoung, que ficou me olhando com desdém, e Chansung, que me observava dos pés a cabeça sem esboçar expressão alguma.

Feitas as apresentações, o técnico me largou com eles e foi para algum lugar. Respirei e comecei a falar, afinal, eu teria que fazer meu trabalho, certo?

- Bom... Vocês já tem alguma ideia?

- Sim, temos algumas... mas antes nos fale mais sobre você. – disse Taecyeon, dando um sorriso de canto.

- Isso é mesmo necessário?- brandiu Wooyoung, revirando os olhos. Eu sabia que esse cara não gostava de mim, mas precisava deixar tão claro?

- Acho interessante conhecer melhor com quem trabalhamos.- após falar, Taecyeon piscou pra mim. Corei instantaneamente. Qual era o problema desse cara?

Nichkhun se aproximou, aparentemente se divertindo com a situação, parou ao meu lado e disse em tom baixo:

- Não liga, eles são assim mesmo. – concordei com um movimento de cabeça e ele sorriu.

- Podemos parar com isso?- interveio Chansung na discussão dos dois. Seu tom era autoritário. – Temos um show para produzir, se não se importa, podemos começar agora?- disse se dirigindo a mim. Já vi que arrogância ali não faltava.

- Claro. O que planejam?- perguntei.

Os rapazes começaram a expor suas ideias e eu também dava sugestões depois que eles me mostraram algumas de suas musicas já que eu não as conhecia. Alguns aceitavam, outros não. Houve discussões, mas, no fim, todos entraram em um acordo.

- Okay, garotos. Farei o projeto e demonstrarei amanhã. - eu disse por fim. Já passava das 23 h e eu precisava ir embora pra terminar os layouts que faltavam.

Eles se levantaram prontos para irem. Eu fiz o mesmo, guardando minha pasta de anotações na bolsa, mas apenas um deles permaneceu sentado.

-Poderia fazer a demonstração hoje?

Levantei o rosto para ver quem fora o infeliz que me fez tal pedido. Encontrei aqueles olhos castanhos me encarando desafiadoramente.

- Me desculpe, Chansung. Mas isso não é algo que se faça de uma hora pra outra e exige... - fui interrompida.

- Você é uma ótima profissional. – fez uma pausa. – Conseguiria fazer uma coisa dessas, não é? – um sorriso felino foi desenhado em seus lábios, somado ao mesmo olhar. Ele estava tentando o que? Colocar meu orgulho a prova? Eu não cederia tão fácil, então tentei me controlar e não deixar que minha voz saísse afetada pela provocação.

- Mesmo sendo uma profissional na área, a demonstração requer a maquete digital com a estrutura especifica do palco e... – fui interrompida novamente.

- Serei sincero. Tenho dúvidas quanto a seu trabalho. O show é daqui a dois dias e perfeição é o mínimo que exijo.

Joguei a cabeça pra trás, respirando fundo e clamando por paciência, pois, se tivesse força, o mataria agora mesmo. Já havia aturado pessoas muito chatas, e com certeza ele estaria entre uma delas. Agora faria questão de demonstrar o projeto e esfregá-lo na sua cara.

- Pega leve com a garota, cara. – Taecyeon se aproximou, colocando a mão no ombro dele de modo casual.

- Chan, não tivemos oportunidade de descansar ainda. – disse Junsu. O Sr. Mal-humorado apenas os ouvia, convencido a não mudar de ideia.

- Cara, eu to precisando de uma cama. Não da pra deixar pra amanhã, assim como a Naomi disse?- JunHo questionou, bocejando.

- Se quiserem, podem ir para o hotel. Vou ficar mais um pouco.- ele se virou para mim com as mãos apoiadas atrás da cabeça e um sorriso debochado no rosto. – Por onde quer começar?

Os garotos suspiraram, balançando a cabeça negativamente. Acenaram e caminharam até a saída. Metade da equipe já havia ido embora. Não demoraria muito para ser apenas eu e ele ali. Já pude perceber que aquele cara era daqueles perfeccionistas e, além de tudo, teimoso.

Voltei a me sentar e tirei algumas folhas da bolsa. Eu estava sem o meu notebook, então precisei improvisar. Fiz o esboço parcial do palco e a direção em que os holofotes convergiam. Comecei explicando como ficaria na apresentação de Take Off, seguida de Electricity e Hands Up, e ele apenas me ouvia com atenção. Nenhuma reação a favor ou contra. Por fim, apenas disse que na intro deveria haver o símbolo de “2PM” nos telões, que se desfaria em mil pedaços quando eles subissem ao palco.

Demos a reunião por finalizada próximo às 2h da manhã. Eu não fazia ideia de como voltaria pra casa, já que todos os ônibus e metrô não estavam funcionando naquele horário. Se não fosse por esse infeliz arrogante que me prendera aqui, há essa hora eu já estaria dormindo. Todos já tinham ido embora. Eu teria sorte se encontrasse um estabelecimento 24h.

- Você vai agora?- ele perguntou, tirando-me de devaneios.

- Sim, já vou. – levantei e peguei minha bolsa. Não bastava isso, ainda se achava no direito de me mandar embora.

- Vou te deixar na sua casa. – pegou as chaves do carro como se a minha resposta não importasse.

- Não precisa... Mas obrigada.- tentei ser educada. Não queria ter que ficar em dívida com aquele homem.

- Não foi uma pergunta.- respondeu simplesmente, segurou meu pulso e praticamente me arrastou até o carro. Não adiantava contestar, pois ele não voltaria atrás. – Entre, por favor.

Ele abriu a porta pra mim. Adentrei ao veiculo, que era lindo por sinal, e coloquei o cinto. Ele fez o mesmo e logo deu a partida. Ensinei o caminho pra ele e, após algum tempo em silencio, resolvi puxar assunto. Não que eu quisesse conversar com ele, mas a ausência de palavras me deixava incomodada.

- É a sua primeira vez no Brasil?

- Não. Já vim pra cá com meus pais, mas eu era bem novo.- ele sorriu.– Não me lembro de muita coisa.

Era a primeira vez que eu via seu sorriso, e era totalmente diferente de tudo o que eu já vira antes. Acho que fiquei com cara de idiota, pois ele olhou pra mim com uma feição esquisita. Tive que disfarçar.

- Hum... entendi.

- Você é estranha.- soltou sem mais nem menos, me surpreendendo.

- Ah! Obrigada pela parte que me toca. – o encarei, descrente do que havia acabado de ouvir.

- Não entenda mal. É que não é todo dia que você encontra alguém que não te conhece ou não tenta te agarrar na primeira oportunidade..

- E eu faço parte dos dois casos.- completei, dando um meio sorriso.- O máximo que conheço do seu grupo é o nome e algumas musicas que ouvi hoje. E quanto a agarrar, deixo essa parte para as suas fãs.

- Claro, mas cuidado. Você pode não resistir a meus encantos. - provocou.

- Vou me certificar de manter distancia. – rimos.

Seguimos o caminho conversando. Ele se tornava diferente quando não se referia a trabalho. Era uma pessoa mais leve e simpática, embora ainda fosse um pouco reservado.

- Mesmo horário amanhã?

- Você quis dizer “hoje” né?- sorri, abrindo a porta do carro quando estacionou em frente a minha casa.- Sim, mesmo horário.

- Bom descanso. – ele esboçou um meio sorriso quando sai do carro e deu a partida.

Entrei em casa e encarei a papelada que me esperava na mesa. Virar a noite seria minha missão.