História Love U Down - Epílogo: Sobreviventes

-Naomi’s POV-

Mais uma vez eu me rendia ao amor.

Tropecei em uma armadilha criada por sei lá quem e olha só o resultado: estava presa sem poder de fuga.

Hwang Chansung era assim. Um tipo de armadilha a qual eu não fazia esforço algum para escapar. Um tipo de abismo ilusório onde minha realidade sem ele não fazia sentido.

Pude perceber isso quando ele estava prestes a desistir de tudo por mim. O desespero e o medo se somaram à uma crise de abstinência por ele e eu simplesmente não pude me conter. Olhar em seus olhos naquele momento trouxe uma mensagem óbvia que a minha teimosia tentava ocultar com todas as forças: Eu precisava dele.

Chansung era imaturo, arrogante, cabeça-dura, impulsivo, explosivo, mas também podia ser carinhoso, divertido, sedutor e tantos adjetivos mais. Conseguia ser perfeito a sua maneira, com todos os defeitos e qualidades que o tornavam único. Mas devo dizer que sua loucura nos garantira uma boa dor de cabeça.

Depois da conferência de imprensa, ambos levamos uma baita bronca do Sr. Park e, de quebra, Chansung quase foi morto pelos meninos –deixou cicatrizes. Até Nichkhun que era um garoto da paz havia participado da coisa toda. Foi assustador.

Mas tudo se acertou, afinal. Chan não desistiu da carreira, as fãs aceitaram nosso relacionamento e vivíamos em um mundo cor de rosa e cheio de unicórnios! Ok, é mentira a parte dos unicórnios.

É estranho lembrar disso depois desses 6 anos que se passaram. Parece um passado tão distante e tão próximo ao mesmo tempo.

Ao decorrer dos anos, 2PM retornou com tudo e Woo se recuperara totalmente. Guk, Zelo e aqueles garotos loucos também estavam fazendo um sucesso tremendo com os novos álbuns de B.A.P e haviam boatos de que Guk lançaria um álbum solo. Mesmo com a rotina corrida, ainda nos falávamos e nossa amizade estava intacta. Sem contar que Zelo havia se tornado um homem maravilhoso e encantador.

Todos os meninos estavam envolvidos em algum tipo de relacionamento- uns apenas tinham casos, outros namoravam, e Nick, inclusive, estava noivo da namorada “iô-iô” que ele havia comentado quando nos conhecemos.

Taec e Lot continuavam juntos e ela até havia se mudado pra Coreia após completar seus estudos de psicologia no Brasil. Ter a minha melhor amiga bem pertinho de novo foi uma das melhores coisas que aconteceram. Segundo ela, se mudara pra ajudar Nick a me vigiar. Pois é, mais uma pra ficar no meu pé... Mereço, né?

Em meio a tantas coisas boas, sempre acontece algo ruim. Na verdade, não sei dizer se é bom ou mau de fato. Algum tempo depois daquela baderna, veio a noticia de que Hyuna cometera suicídio enquanto estava presa por não aguentar a pressão da mídia, dos fãs e as cobranças.

Confesso que fiquei aliviada por saber que não correria o perigo de ela voltar querendo vingança, entretanto, me entristece pensar que alguém com uma vida pela frente tenha se autodestruído por pura cobiça.

Quanto a mim e Chansung... bom... ele conheceu meus pais depois de um tempo e, então, estávamos casados a pouco mais de um ano. Mas parecia bem menos já que ele não parava em casa. Embora o 2PM continuasse a todo vapor, os meninos estavam mais focados em suas carreiras como ator e modelo. Inclusive Chan, que estava gravando um filme no Japão há quase 4 meses. E desde então, apenas nos falávamos por telefone ou skype quando dava tempo.

E eu também tinha minha vida, afinal.

Havia terminado meu curso numa faculdade de Seul e, além de continuar na JYP produzindo para os meninos e um grupo novo, GOT7, ocupei o cargo de designer na empresa a qual Taec era CEO. Resumindo, a correria que eu tinha em São Paulo só se transferiu pra cá. E eu adorava!

- Ele ainda não chegou?!  COMO ASSIM ELE AINDA NÃO CHEGOU?!- o manager só faltava se descabelar enquanto andava de um lado pro outro.

- Ele deve estar a caminho.- Jun K. respondeu usando high notes conforme aquecia a voz.

- Temos 20 minutos!- berrou irritado.- Naomi, faça alguma coisa!

- E o que quer que eu faça?!- retruquei na defensiva, prestando atenção no meu trabalho. GOT7 abriria o show e,  por sinal, já estavam no palco a algum tempo.

- Não sei! O marido é seu!- arqueei uma sobrancelha  como se o questionasse. O que uma coisa  tinha a ver com a outra?

O show começaria em instantes e o infeliz não aparecia! Será que o vôo tinha atrasado? Não demorava tanto, demorava? O Japão era quase aqui do lado.

- Hyung, ela não pode passar nervoso.- Nick alertou de imediato, ganhando uma carranca como resposta.

- Então faça os meninos enrolarem até que ele chegue!

- Eles já cantaram metade do álbum.- Woo interveio, tão irritado quanto.

- Que cantem o resto então!

Eles continuaram nessa discussão enquanto eu tentei me abster do assunto e focar no jogo de luzes do palco. Teria que improvisar caso eles apresentassem as musicas restantes. Respirei fundo numa tentativa de me acalmar. Estava proibida de ficar nervosa, estressada ou qualquer coisa do tipo desde aquela descoberta há meses atrás.

Minutos depois ouvi um falatório e a voz de Chansung entre as demais. Uma onda de alivio percorreu meu corpo ao mesmo tempo em que este ficou tenso. Deveria contar agora? Não, melhor não...

A apresentação dos meninos do GOT7 acabou e tínhamos um intervalo de 5 minutos até o inicio de 2PM. A tensão pré-show pairava no ar que trazia consigo gritinhos histéricos das fãs.

Sai da cabine de controle e acabei encontrando um Chansung esbaforido e cansado. Já estava vestido com uma roupa especifica para o show, a maquiagem leve estava feita, assim como os cabelos modelados em um topete descontraído, jogado levemente para o lado. Estava lindo como sempre. Ele abriu um sorriso de orelha a orelha quando me viu e logo nos abraçamos.

- Ta atrasado.- o repreendi ao pé do ouvido e ele riu.

- Pensei que ia apanhar do manager.- confessou entre um riso sapeca.- O trânsito estava ruim. Tive que vir correndo.

- Isso me lembra algo.- comentei sugestiva e ele concordou, apertando-me mais contra seu corpo. Acho que nunca esqueceríamos daquele show em São Paulo, quando o alvo de atraso fui eu. E agora ele havia adotado meu cargo.

- Senti sua falta, sabia?- disse, roubando-me uma sequência de selinhos em meio as palavras proferidas.

- Eu também.- murmurei, não conseguindo conter a felicidade e a saudade que explodiam em meu peito.

Ele sorriu com a resposta e grudou os lábios aos meus num beijo lento e carinhoso como se tentasse gravar cada segundo, cada movimento. As mãos pousadas em minhas costas escorregaram para a cintura cautelosamente. E isso bastou para ele se afastar em um rompante e olhar para o local  que suas mãos tocavam. Seus olhos se arregalaram de imediato e então ele voltou a me fitar, aflito.

- V-você...- engoliu em seco, tentando conectar os fatos.

- Acho que vamos ter que comprar uma cama maior. Jeong e Paco são espaçosos. Acho que não vai ter lugar pra mais um.- comentei entre um sorriso tímido e inseguro. Aquela reação dele só me deixava ainda mais apreensiva, mas ansiosa por sua resposta.

- M-mas... ai meu deus.- ele deslizou as mãos pela barriguinha proeminente pra ter certeza do que estava vendo. Os olhos cintilavam a cada segundo, deixando a voz embargada e falha.- V-você está...

- Estou.- confirmei, nervosa. E isso bastou pra ele sair correndo em disparada pelo corredor, chamando a atenção de todos e gritando aos quatro ventos que seria pai. Bom... todos já sabiam, então não se abalaram com a noticia.

Chan voltou até mim e me abraçou, tirando-me do chão e rodopiando-me no ar. Sua felicidade era contagiante, afinal, um de seus sonhos estava se realizando.

Meus pés tocaram o chão e novamente nossos lábios se encontraram em um beijo cúmplice, traduzindo tudo o que sentíamos e que não poderia ser expresso em palavras.

- Por que não me contou antes? Aigoo, o vovô precisa saber disso!- exigiu saber depois que a euforia deu uma amenizada.

- Ela queria contar pessoalmente.- Nick disse, vindo acompanhado dos meninos que riam com a reação retardada do mais novo.

- Espera.- estreitou os olhos, parecendo captar algo que deixara passar despercebido.- Então eu fui o ultimo a saber?

Os meninos concordaram diante da resposta óbvia e então ele fechou a cara  com um olhar ameaçador.

- E como fica a consideração, Srª Hwang? Esses patifes cuidaram de você?- perguntou, mas nem sequer tive tempo de responder.

- Claro que sim. Ela teve cinco maridos e, nosso sobrinho, cinco pais enquanto você não esteve aqui.- JunHo revirou os olhos como se fosse evidente.

- Ou sobrinha.- Taec corrigiu, obtendo um olhar fuzilante do outro em troca. Já perdi as contas de quantas vezes haviam discutido por causa do sexo do bebê.

- DA PRA SER OU TA DIFÍCIL?!- o manager gritou, empurrando os meninos em direção a entrada do palco enquanto esses se limitaram a rir do chilique do mais velho.

Chan conseguiu fugir da fúria do manager pra ficar um segundinho a mais comigo.

- Quanto tempo?- questionou após se abaixar e depositar um beijinho singelo no volume sutil que despontava por baixo da blusa. Ele parecia hipnotizado, encantado.

- 16 semanas.- respondi, pousando minha mão em seu ombro.

- O primeiro ultrassom... Perdi uma das partes mais importantes.- resmungou com um biquinho formado nos lábios, fazendo-me sorrir. Logo se levantou e acabei me perdendo em seus olhos.

- Ainda temos muito pela frente... Ainda não sabemos se é um menininho ou uma menininha.- comentei e ele concordou.

- Nem quero imaginar quando chegar a fase dos desejos e da TPM generalizada.- alfinetou.

- Vai ter que me aguentar. Não to nem ai.- cruzei os braços e mantive uma pose convencida.

- Acho que vou ter que fugir de casa. Não vou suportar seu mau-humor.- continuou com uma expressão pensativa.

- Considere-se um homem morto se fizer isso.- ameacei.

- Você não teria coragem.- desafiou com um sorriso astuto levantando-lhe o canto direito dos lábios.

- Quer pagar pra ver?

- Você não conseguiria viver sem mim.- gabou-se, voltando a me abraçar.

- Sai daqui, seu ridículo.- esbravejei fingindo irritação, o que o fez sorrir mais ainda, já que aquilo soava como uma resposta positiva aos ouvidos dele.

- CHANSUNG!- o manager apareceu enfurecido, prestes a voar no pescoço de Chan.

Ele fez uma careta e se apressou em correr na direção do manager,  mas não sem antes selar nossos lábios mais uma vez.

- Eu preciso contar pras fãs!- falou empolgado conforme se afastava. Um calafrio sem tamanho percorreu minha espinha.

- TÁ LOUCO?!- esbravejei em tom alto para que ele me ouvisse.

Por mais que as fãs tivessem aceitado nosso relacionamento, não significava que também nos apoiariam nisso.

Nada garantia que um sucessor de H. não aparecesse querendo causar algum dano a criança ou até mesmo a nós.

- Eu preciso garantir a fandom dele!- rebateu com um sorriso maroto e sumiu pela escuridão.

Ele só podia ter parafusos a menos. Já não chega tudo o que passamos... pra que mexer com o que está quieto? Por mais que eu estivesse com medo, esperava que as fãs nos apoiassem. Bom, por Chansung, elas com certeza o fariam.

O futuro era incerto. Assim como a mar, era incontrolável. E cabia a nós apenas mergulhar e nos deixar levar pelas correntes que o destino reservara.

Foram as mesmas correntes que me levaram a ele e talvez fossem as mesmas que nos uniu de uma forma tão resistente que seria impossível de se partir.

Aquele amor era forte. Independente do que houvesse, eu sabia que ele estaria ao meu lado mesmo a trancos e barrancos, que enfrentaríamos o mundo juntos como já enfrentamos uma vez. Sobreviveríamos a qualquer coisa. Até mesmo a queda.