História Love with lights on - Desculpa?

Quando percebi o que havia acabado de acontecer peguei o pacote e logo notei que era um celular, o meu celular mais precisamente. Ele estava funcionando perfeitamente ao contrário da última vez que verifiquei ainda na casa dos Blake, e Clarke havia vindo aqui me visitar para entregá-lo em forma de agradecimento. Agora com  aparelho ligado em minhas mãos me senti a pessoa mais idiota do mundo, por ter transformado uma simples visita de agradecimento em uma situação desagradável.

Sem querer perder tempo em me desculpar, chutei as cobertas que ainda cobriam minhas pernas e fui atrás de uma muda de roupa. No meio da minha correria para trocar de roupa, não percebi que Anya estava parada novamente na porta do quarto.

- Pensei que Clarke fosse passar mais tempo - Anya comentou chamando minha atenção - Ela não parecia muito feliz quando saiu daqui...então o que você fez?

- Nada.

- Você realmente espera que eu acredite nisso? - Anya questionou cruzando os braços.

- Bem...talvez eu tenha tocado em um assunto delicado - respondi baixo.

- Você perguntou sobre Jake, foi isso? - Anya perguntou ganhando um aceno negativo - O que você disse exatamente?

- Que os mortos se foram e que os vivos estão com fome - respondi encolhendo os ombros enquanto amarrava os cadarços sentada na cama.

A próxima coisa que percebo é um objeto fofo batendo ao lado da minha cabeça e Anya bufando parada a minha frente.

- Como você pode dizer uma coisa dessas para uma garota que perdeu o pai a pouco tempo? - Anya falou irritada.

- E-eu...eu não pensei que ela fosse tomar isso como uma ofensa - falei na defensiva.

- Lexa...olha você não sabe pelo que a Clarke passou para sair falando uma coisa dessas - Anya disse menos irritada - Ninguém sabe o que se passa além dela mesma, então faça um favor a amizade de vocês e guarde essas malditas frases de efeito!

Fiquei encarando Anya com os olhos arregalados pela atitude, não que ela fosse nova, mas minha prima não costumava falar daquele jeito comigo.

- Eu só queria ajudar…

- Ajude sendo a amiga que você sempre foi - Anya aconselhou - Clarke parece ter esquecido como as coisas eram antes do relacionamento com Finn, acho que as consequências dele a marcaram mais do que imaginamos e escutar coisas como as que você disse só devem fazê-la se sentir pior.

- Eu entendo, percebi a besteira que falei no momento em que ela saiu - falei levantando da cama - Por isso estou indo falar com ela, pedir desculpas sabe?

- Melhor se apressar, papai não está muito feliz com os acontecimentos da última noite e provavelmente quer conversar com você depois - Anya comentou.

Acenei em entendimento e antes de sair peguei as chaves do carro de Clarke, que haviam ficado comigo mais cedo, no criado -mudo ao lado da cama e saí apressada. Passei rápido pela sala onde tio Gustus estava e escutei ele me chamando ao longe:

- Lexa!

- Ela só vai devolver as chaves que Clarke esqueceu, pai.

Escutei Anya responder o chamado por mim e no momento que cruzei a garagem em direção a casa dos Griffin consegui avistar as figuras de Clarke e Abby pela janela da sala. Apressei o passo e meio minuto depois eu estava batendo na porta da casa vizinha e sendo recebida pela figura de Abby.

- Lexa! Que surpresa agradável - Abby sorriu um sorriso cansado, mas genuíno - Eu não sabia que você estava visitando.

- Eu cheguei a algumas semanas - comentei tentando não parecer ansiosa - Clarke está em casa?

- Ela acabou de subir para o quarto - Abby respondeu abrindo mais a porta para me dar passagem - Você pode subir, talvez você consiga descobrir o que a está irritando.

- Obrigada - agradeci mesmo sabendo que eu era o motivo da irritação.

Caminhar na casa dos Griffin com as luzes em pleno funcionamento era um pouco angustiante, eu conseguia sentir a presença de Jake a cada passo que dava em direção ao quarto de Clarke e aquilo só piorou a sensação de culpa que habitava meu estômago. Agora parada na frente da porta fechada do quarto de Clarke eu sentia o sangue gelar um pouco em minha veias, ao bater sinalizando minha presença o que acabei ouvido foi:

- Mãe me deixa em paz - a voz abafada de Clarke encheu o ar.

- Ainda bem que não sou sua mãe - comentei abrindo uma pequena fresta na porta que mostrava só o meu rosto - Você se importa se eu entrar?

- O que você quer Lexa? - Clarke perguntou irritada.

- Conversar com você - respondi abrindo a porta completamente, mas não entrando no cômodo.

- Agora você quer conversar? - Clarke debochou - Há alguns minutos atrás você não parecia tão interessada em conversar, você só me...

- Eu sei o que eu fiz, peço desculpas por ter sido tão insensível - interrompi - Eu realmente não queria te chatear com o que disse, eu não sabia...na verdade eu ainda não sei como você está...então me desculpa pelo que eu falei.

Clarke parecia irritada pela minha interrupção, mas quando terminei de falar ela simplesmente me encarava com o rosto em branco. Ficamos nessa situação por algum tempo, quando finalmente eu percebi que não conseguiria falar com ela, não naquela noite.

- Acho que você não quer conversar, então eu já vou indo - falei apontando para o corredor atrás de mim - Suas chaves ficaram comigo hoje de manhã, vou colocar elas na sua mesa - apontei para mesa no canto do quarto.

Clarke concordou com um aceno e entrei no quarto para colocar chaves onde havia dito, sentindo durante todo o caminho o olhar dela me acompanhando. Quando voltei a minha posição inicial na entrada do quarto, o olhar de Clarke ainda estava em mim.

- Eu sei que o que eu disse mais cedo foi insensível, eu não estava aqui e não sei pelo que você passou - suspirei passando a mão pelo meu rosto - Hoje, pouco antes de bater na sua porta eu percebi o quanto deve ser difícil para você estar rodeada de memórias...então antes que eu fale mais alguma coisa que te chateia, quero que você saiba que pode falar comigo. Não estou aqui na maior parte do ano, mas isso não significa que eu me importe menos com você Clarke...eu me importo e se você precisar conversar ou de qualquer outra coisa pode contar comigo.

Esperei alguma reação, alguma palavra ou até mesmo um piscar de olhos de reconhecimento, mas nenhuma reação veio de Clarke.

- Acho que isso é tudo...boa noite,Clarke.

Saí apressada da entrada do quarto sem saber se minha desculpas haviam sido aceitas e quando desci as escadas em direção a porta da frente, Abby também estava longe de ser vista e talvez fosse melhor assim.

-

- Será que agora podemos conversar, Lexa?

A voz de tio Gustus me fez saltar surpresa enquanto eu fechava a porta da casa, os poucos minutos que passei na casa dos Griffin me fizeram esquecer que meu tio queria conversar comigo.

- Claro tio - respondi tentando acalmar meu coração que batia acelerado pelo susto.

- Vamos para a cozinha - ele indicou com um aceno - Você passou o dia dormindo, deve estar querendo comer alguma coisa.

- Eu não…

- Você vai jantar alguma coisa Lexa - tio Gus me cortou - Sua mãe deixou você sob os meus cuidados, então por favor faça o que eu digo.

- Certo.

Ao chegar na cozinha, meu tio pediu que eu sentasse enquanto ele preparava um sanduíche. Foram momentos de silêncio, onde eu não fazia ideia do nível de chateação  pelo que havia acontecido na noite anterior.

- Por que você não me conta o que aconteceu ontem? - tio Gustus perguntou ao terminar o sanduíche e colocá-lo na minha frente.

- Depois que Clarke veio me chamar para sair, nós duas fomos a uma lanchonete para ela comer alguma coisa e para colocar o papo em dias - explique sabendo que não adiantaria prolongar a conversa mais do que o necessário - Enquanto estávamos lá recebi uma ligação de Raven, chamando para essa festa que estava acontecendo na casa do Blake. Nós conversamos um pouco e acabei chamando Clarke para me acompanhar.

- Anya estava junto com Raven nessa hora?

- Estava, eu só mudei de ideia depois de falar com ela - suspirei dando minha primeira mordida no sanduíche e percebendo que estava faminta - A festa estava indo bem, até que vi um cara empurrando as pessoas ao redor da piscina para dentro da água.

- E Clarke era uma dessas pessoas - tio Gus comentou.

- Exatamente, o problema é que as pessoas estavam voltando a superfície rapidamente e Clarke não - mordi mais uma vez o sanduíche e senti que ele desceu rasgando minha garganta com a memória daquele momento.

- Então você não pensou duas vezes e foi procurar ela - tio Gus completou coçando a nuca - Foi uma atitude nobre Lexa, mas eu realmente fiquei preocupado quando tentei ligar para falar com você e não tive respostas.

- Meu celular estava no meu bolso quando entrei na água.

- Eu deduzi isso, quando liguei para Anya e ela me contou por alto o que havia acontecido.

- O senhor vai contar para minha mãe o que aconteceu? - perguntei receosa.

- Talvez no feriado de ação de graças, quando isso tudo vai ser só mais uma história engraçada de férias - tio falou com um sorriso tranquilo - O que você fez foi muito bonito Lexa, mas nós dois sabemos que se eu contasse isso para sua mãe, ela daria um jeito de vir te buscar ainda hoje - concluiu com uma risada.

- O senhor tem razão - acompanhei o riso.

- Então vamos fazer um acordo aqui. Eu sei que vai parecer difícil, mas você está voltando para casa em poucos dias...então você tenta não entrar em mais confusões e os eventos de ontem não serão mencionado para sua mãe - tio Gus disse estendendo uma mão para um aperto.

- Eu nem saio mais de casa se for preciso - estendi a mão para apertar a dele.

- Não vai ser preciso e você está de férias, então o que eu peço é só um pouco de cautela nos próximos dias.

- Mais cautela, anotado.

Tio Gustus me fez companhia até que eu terminasse de comer, mas não voltou a tocar no assunto dos acontecimentos da noite anterior e quando voltei para o meu quarto a sensação de que pelo menos um problema havia sido resolvido me deixava mais relaxada. Agora era esperar que Clarke levantasse a bandeira branca antes do meu retorno para casa.