História Lover - Ponny - Capítulo 28

Ponto de Vista de Anahí

A Sra. Romero deslizava o apagador lentamente sobre o quadro branco da sala.

— Faltam apenas dez minutos para o fim da aula, mas acho que dá certo começar o nosso próximo assunto... — ela disse ainda de costas para a turma.

Alguns colegas meus suspiraram, outros resmungaram, mas a Sra. Romero preferiu aparentemente fingir que não ouviu e começou a anotar os tópicos de sua fala no quadro. A maioria dos alunos da turma possivelmente já tinha “desligado” a mente nesse momento e apenas aguardava o intervalo após duas aulas do Sr. Hernandez e uma aula da Sra. Romero. Com certeza, segunda-feira era um péssimo dia.

Ao meu lado, Poncho parecia alheia a movimentação e indignação ao nosso redor. Ele digitava algo em seu celular novamente, tinha sido assim a manhã toda.

— Poncho, vocês ainda não conseguiram resolver? — perguntei enquanto me inclinava um pouco em sua direção.

— Não totalmente, mas acho que está quase... Estamos falando com outra pessoa. — respondeu e depois me encarou.

— Christian está mais calmo?

— Ele só ficará calmo quando o episódio estiver gravado e editado.

— Boa sorte então.

Poncho apenas sorriu em sinal de agradecimento e depois voltou suas atenções para o seu celular novamente. Levantei-me e caminhei até a professora pedindo licença para ir ao banheiro. Eu nem estava com tanta vontade assim, mas já estava entediada de ficar naquela sala.

— É urgente? Já já vai tocar para o intervalo. — disse.

— É urgente, professora, não sei se consigo esperar.

A Sra. Romero me olhou de cima a baixo, mas, no fim, disse que eu poderia ir.

Fiz o caminho até o banheiro vagarosamente. Quando estava dobrando o corredor que dava acesso aos banheiros, vi Valeria entrando no banheiro feminino. Parei por alguns segundos cogitando se devia entrar ou não, mas, no fim, acabei decidindo entrar e enfrentar o que fosse. Estudávamos na mesma escola, eu não poderia evita-la para sempre. Além disso, ela estava sozinha, e eu era maior que ela, o que ela poderia fazer? Eu não poderia deixar com que ela continuasse me intimidando.

Ajeitei minha postura e caminhei firme até o banheiro. Quando estava prestes a abrir a porta, ouvi vozes femininas. Não pareciam muito felizes, uma delas com certeza estava irada. Empurrei a porta devagar e me deparei com três garotas.

— Dulce... — chamei, fazendo com que a morena me encarasse. Ela estava com as mãos na cintura e uma expressão de irritação em seu rosto.

— Oi, Annie... É bom que você esteja aqui também, preciso da sua opinião — Dulce se aproximou de mim enquanto passava a mão pelos fios de cabelo de um modo totalmente impaciente. — Como você acha que eu deveria matar o Juan?

— Dul, o que aconteceu?

— Ele aconteceu, Annie, ele nem deveria existir. Babaca, hipócrita do caralho. — Dulce me deu as costas e começou a andar aparentemente sem rumo, possivelmente tentando controlar a vontade de gritar ainda mais alto ou até de ir atrás do Juan realmente.

— Fala isso, mas quando ele te chama de volta, tu sempre volta pra ele. — Valeria retrucou. Olhei na direção dela, mas ela encarava apenas a Dulce.

— Valeria, você com certeza não pode questionar o meu gosto para homem, namorava aquele idiota lá até um dia desses. — Dulce esbravejou enquanto encarava a garota mais baixa ao seu lado.

— Pode parar as duas! — exclamou a loira que até agora estava em silêncio. — Valeria, chamei você aqui para ajudar a controlar a situação, não piorar. E, Dulce, calma lá, não faça nada que vá te prejudicar. Uma suspensão nesse momento pode te tirar da torcida do primeiro jogo da temporada.

— Eu queria apenas voar no pescoço daquele idiota e esfregar aquele sorrisinho debochado dele no asfalto... Meu sonho. — Dulce respondeu.

— Olha, isso é uma coisa que até eu gostaria de fazer. — Valeria falou.

— Vocês e metade do Elite Way. — falei, trazendo a atenção para mim. Valeria me olhou por uns dois segundos e logo desviou suas atenções para a Dulce novamente.

— Eu estou tão cansada dele... — Dulce confessou em um tom mais calmo do que antes e depois sentou no banco de madeira que havia em uma das paredes do banheiro, o qual geralmente usávamos para deixar nossas mochilas. — Brigar com ele é tão cansativo... Odeio quando ele faz com que eu me sinta assim... tão... tão pequena, tão vulnerável, como se seu fosse apenas mais um brinquedinho dele.

Aproximei-me dela e sentei ao seu lado.

— Nós tivemos uma briga feia esse fim de semana. — ela continuou agora olhando para mim. — Fiquei sabendo que ele pegou geral na festa dele... Eu sei que não devia, mas liguei para ele. A gente mal terminou e ele já estava assim? Fiquei sabendo de no mínimo umas cinco garotas. Ele respondeu totalmente debochado, foi ridículo. Então, como uma mulher solteira que sou, eu decidi fazer o mesmo, decidi que ia sair com o primeiro idiota que aparecesse. Tem um cara, ele é da minha sala e faz parte do time de basquete, que sempre quando eu termino com o Juan, ele dá em cima de mim. Liguei para ele, estava tudo certo sairmos hoje depois da aula, mas ele cancelou tudo por mensagem agora de manhã. Dei uma prensa nele na aula e ele me falou que o Juan simplesmente proibiu qualquer garoto do Elite Way de chegar perto de mim. Com que direito esse babaca faz algo assim? Eu não sou um objeto dele. Mandei mensagem para ele puta da vida, e sabe como ele me respondeu? Com uma figurinha. Sim... com uma F-I-G-U-R-I-N-H-A. O idiota nem se dignou a responder algo decente, só sabe debochar.

— Então, ela surtou e viemos para cá. — completou a garota loira. — Ela saiu da sala na verdade querendo ir até a sala do Juan gritar com ele, mas consegui parar ela aqui.

— Pode parecer uma besteira, principalmente para você, Annie, que não acompanha a droga que é esse nosso namoro, mas eu odeio quando ele faz isso, quando ele tenta me deixar impotente só por diversão. Ele gosta de demonstrar que tem mais poder sobre mim do que eu sobre ele. Ele me coloca chifres, termina comigo e ainda me impede de ficar com mais alguém? Do jeito que os frouxos desse colégio babam  os ovos daquele idiota, nenhum vai arriscar um olho roxo para sair comigo. Eu poderia até pegar uma menina, mas é mais fácil aquele estúpido achar sexy do que se sentir ofendido.

— Não acho que seja besteira, Dulce. Ele não tem o direito de ficar brincando com você assim. — falei.

— Vou ligar para amigas minhas de outros colégios, ele não pode intimidar todos os garotos da cidade. — Valeria disse já pegando o próprio celular.

— Mas será que o problema não é esse? Vocês ficam nesse jogo de cão e rato. Dulce, por que você não deixa a poeira baixar e apenas se concentra em esquecê-lo? — perguntou a loira. Ela sentou ao lado da Dulce e a encarou com um pequeno sorriso, mas Dulce logo negou com a cabeça.

— Esquecer!? Eu quero castrá-lo. — rosnou com raiva.

— Daniela, sei que você gosta desse movimento mais pacifista, mas até parece que você não conhece o Juan. Ele vai provocar a Dulce até decidir que quer voltar com ela. Vou avisar a todas da torcida que é proibido se aproximar do Juan. Se ele quer lutar assim, assim será. 

— Valeria, não. Não podemos deixar a Dulce entrar nesse jogo.

— E você quer o quê? Que esse idiota continue sempre com isso e saía se achando vitorioso? Estou cansada desses idiotas fazerem o que querem com a gente.

— Podíamos tentar um meio termo. — falei novamente atraindo os olhares para mim. — Sabe... Dulce está chateada, acho que ela merece pelo menos fazer algo que o cutuque um pouco, que faça ele sentir que ele não é o centro do universo. Ele já está provocando-a desde o fim do namoro, com indiretas nas redes sociais, organizando aquela festa sem chama-la... Eu concordo que o ideal seria que a Dulce não fizesse nada, que a vingança pudesse ser somente o desprezo por ele, mas, qual é, ele está sendo um idiota, por que não podemos ser um pouco? Por que é um privilegio só dele ser um grande babaca? Além disso, a Dulce conseguiria simplesmente ficar de boa? Pelo pouco tempo que a conheço, duvido. Ela beijar um outro cara na frente dele não vai matar ninguém... Não acho que precisamos entrar nessa de proibir as meninas de chegarem perto dele, até porque acho que ele deve estar esperando algo assim... Ele sabe que a Valeria tem o controle de um grupo limitado de meninas, ela não consegue ameaçar todas as meninas da escola como ele consegue fazer com os meninos, então ele vai continuar fazendo o que quer... Só vai mostrar para ele que você está se importando... Mas, sair com alguém, acho super válido e até talvez te ajude a esquecê-lo um pouco. Não precisa ser o primeiro que aparecer, mas por que a gente não começa tipo instalando o tinder?

— Eu estou com preguiça para paquera de verdade, estou com nojo de todos os meninos nessa terra. Queria algo fácil. — Dulce respondeu.

— Hello, Dulce, estamos falando de homens, eles são fáceis, ainda mais os desses aplicativos. — Valeria disse.

— Qualquer coisa, o Poncho faz parte do time de futebol do clube que ele frequente. Ele deve conhecer caras de outras escolas... Posso perguntar se ele tem algum legal para apresentar. — falei e Dulce assentiu.

— De preferência, algum musculoso para o Juan ficar com mais medo de peitar... Ele sempre faz isso com os caras que tentei sair durante os nossos términos, ele ameaça bater neles ou até bate.

— Falando em términos... — Daniela começou. — Você não pode aceita-lo novamente, Dulce, ele só te faz mal.

— Dani, dessa vez é sério, eu não volto mais com ele. Não quero vê-lo nem pintado de ouro na minha frente.

— Dul, você sempre fala isso e faz o contrário. É por isso que ele se sente tão confiante de ficar com esses joguinhos. — Valeria disse e se aproximou um pouco mais da gente. Ela se agachou na frente da Dulce e tocou o seu joelho com delicadeza. — Não importa a tática de que ele use, que ele chore, dê presentes, faça grandes declarações de amor, você não pode voltar com ele. Se ele te amasse, ele não te trairia, não se divertiria te deixando mal. Ele não te ama! A única pessoa que ele ama nesse universo é ele mesmo. E, conselho de uma pessoa recém liberta de um relacionamento bosta, é difícil no começo, é difícil se desapegar, mas quando a gente começa a sentir o gostinho da paz e da liberdade, tudo vai melhorando e fazendo mais sentido.

Valeria desviou o olhar para mim por alguns segundos, mas logo depois voltou para a Dulce novamente. Daniela também reforçou que Dulce não poderia ceder novamente ao Juan e a morena apenas afirmava com a cabeça como sinal de que estava entendendo. Quando o sinal para o intervalo soou, nós quatro levantamos. 

— Podemos ficar na arquibancada da quadra B, não precisamos ficar no jardim. Ele com certeza estará por lá. — Daniela sugeriu e Valeria assentiu. 

— Certo... Vou tentar comprar algo para comer antes que a fila fique enorme. Encontro vocês lá. — Dulce disse e se dirigiu em direção a porta. 

— Eu vou com você, não te deixarei sozinha. — Daniela afirmou a seguindo.

Valeria se virou para acompanhar as outras duas, mas eu toquei com delicadeza o seu ombro, fazendo com que a morena parasse e me lançasse um olhar cansado.

— Podemos conversar por um minuto? — perguntei.

Dulce e Daniela, que já estavam na porta, pararam e nos encararam. Talvez estivessem se questionando se deviam ficar, mas Valeria fez um sinal com a mão indicando que elas poderiam ir. Quando me encarou novamente, o seu olhar ainda parecia cansado. Mesmo com toda a maquiagem, ela aparentava estar cansada. Com certeza, ela não estava no seu melhor.

— Valeria, eu sei que nós não nos damos muito bem...

— Nós nem nos conhecemos para nos darmos bem. — ela disse, cortando-me. 

— Sim, não nos conhecemos...

— E, por isso, eu queria te pedir desculpas. — interrompeu-me mais uma vez. Por um segundo, cheguei a duvidar do que tinha escutado, mas então ela continuou. — Sei que fui bem sacana com você nesse começo de ano porque eu estava com raiva da Marichelo, mas eu cansei. Cansei dela, cansei do Sebastian, cansei de você também de certa forma. Preciso me concentrar nesse meu último ano aqui, preciso me concentrar nos meus estudos, em ser capitã das líderes de torcida, vice-diretora do clube de dança, preciso me concentrar na minha vida fora daqui também. Não estava sendo bom para nenhuma de nós aquela situação... Eu sinto muito que a fofoca que eu inventei tenha estimulado que idiotas tenham mexido com você... Eu sinto muito. Não estou dizendo que quero ser sua amiga, até porque você me lembra a vadia da sua irmã e eu realmente ainda a odeio, mas não tentarei mais te atingir para tentar punir a Marichelo, até porque eu duvido que ela se importe com você ou com qualquer outra pessoa.

Ficamos alguns segundos em silêncio, eu não sabia bem o que responder. Tive o impulso de querer defender a Marichelo, mas talvez aquele não fosse o melhor momento. Ela estava baixando a guarda e era minha vez de fazer o mesmo.

— É... bem, acho que isso é um começo. Estamos no mesmo time, não é bom para a gente ficar dessa forma. 

— Sim. E, querendo ou não, você é boa, não posso simplesmente te expulsar do time. — Um elogio? Realmente, um avanço. —  Eu vou atrás das meninas. Estamos ok, então?

— Estamos sim. 

— Pois até alguma hora, Anahí. 

Valeria se virou e saiu do banheiro.