POV Cellbit
Nada. É o que eu sou sem o Felipe. Um completo nada. Não consigo mais me expressar, não consigo mais sorrir, não consigo mais viver sem ele. Fazem duas semanas que a gente está namorando. Duas semanas. E pensar que no começo do ano eu achava que ia passar o resto da minha vida sozinho. Bem, no dia que eu me declarei pra ele (a segunda vez, no caso), ele me disse que era bissexual, então isso explica o fato de ele ter aceitado namorar comigo. Depois, a gente foi pra aula. Quando ela acabou, fomos pro parque da cidade, conversar e tentar espairecer. Passamos um bom tempo ali, depois fomos tomar um sorvete. Tudo teria corrido bem se não fosse por um cara de casaco preto com o capuz levantado não tivesse chegado e tentado assaltar a sorveteria. Ele acabou levando duas notas de cinco reais que tinha na minha carteira (ricaço) e o celular do Felps. Antes de sair, o assaltante apontou a arma pra mim, por algum motivo. Tanta gente naquele lugar e ele aponta a arma logo pra mim? Ótimo. Bem, ele não fez nada, mas seu dedo parecia querer apertar o gatilho, só que ele simplesmente largou a arma no chão e foi embora, levando o dinheiro de quase todo mundo e do caixa da sorveteria.
Depois disso a gente foi pra casa. O clima romântico meio que tinha sido estragado, ha. Estávamos dando um beijo no meio do corredor (alerta de homofóbicos chegando aaaaaa) até que a porta do elevador começou a abrir, entao cada um correu pra sua casa. Foi um dia maravilhoso (tirando o assalto). O dia que nossas vindas interligaram-se.
Bem, aqui estou eu, duas semanas depois, sentado na minha cama, escutando The Black Parade, do My Chemical Romance, quando meu pai abre delicadamente (pra não dizer o contrário) a porta do meu quarto para me dizer que vai passar um mês na Noruega, e que eu vou ter que ficar com a namorada dele em casa. Ah, claro.
-Felipe, eu posso morar um mês contigo aqui? - perguntei, depois de ter magicamente me transportado para o apartamento dele e me sentado no sofá (eu só fiz atravessar o corredor).
-Ue, claro, mas porquê? - ele perguntou, enquanto bebia água.
-Meu pai disse que ia passar um mês na Noruega, coisa de trabalho, e falou que quem ia ficar "cuidando" de mim, até por quê eu não tenho mais idade pra que cuidem de mim, seria a namorada tosca dele...
-Mas ela não parecesse ser tão horrível assim - ele deu uma risadinha.
-Sim, meu amô, mas meu lema é: "O decair para o vale dos heterossexuais é do homem, mas o levantar para o vale dos homossexuais é de Britney".
Nós rimos. Seria ótimo passar um mês aqui. Acordar todo dia e olhar pra cara do Felps seria uma bênção. Bem, era sábado, então não tinha um porquê de irmos para a aula. Então, decidimos que seria uma ótima idéia ir ao cinema.
Depois que almoçamos, começamos a nos arrumar. Coloquei um casaco azul, uma camisa branca por baixo, uma calça jeans preta e um tênis branco. Ao sair do quarto que o Felipe tinha me dado, avistei o ser humano mais perfeito do mundo. Ele estava com uma blusa azul, calça jeans branca e tênis preto. Lindo. Estou babando demais? Estou. Me importo? Não. Ele é meu namorado mesmo, ha.
Aproveitando que o Felipe sabia dirigir e que meu pai tinha deixado o carro com a namorada dele, foi fácil pegar a chave em casa, já que a imprestável tava dormindo. Quer dizer, literalmente estava dormindo. Quando eu fechei a porta do quarto, ela acordou.
-Ei ei ei! - ela gritou antes que eu pudesse sair correndo.
-Que foi, ridícula? - ela não merece o meu respeito ne, venhamos e convenhamos.
-Eu vi que você pegou a chave - ela falava como se tivesse feito a coisa mais legal do mundo - me devolve ou eu conto pro seu pai - ela estendeu a mão.
-Ah, conta é? Pois então eu também conto do seu "amiguinho" que veio te visitar aqui mais cedo - sorri.
-Você não teria coragem...
-Me testa, então.
Acenei e saí do apartamento, finalizando assim o meu close lacrador. Mas, antes que eu entrasse no apartamento do Felipe, um policial saiu do elevador e veio falar comigo (?).
-Opa, desculpa incomodar, mas o senhor conhece alguém chamado Rafael Lange? - ele me perguntou.
-Sim, sou eu. - respondi.
-Bem - ele me entregou um papel - compareça, ás 15:30, na delegacia de Porto Alegre - ele me cumprimentou e foi embora.
Que!? Por quê que eu to sendo chamado à delegacia? Entrei no apartamento do Felipe e expliquei tudo pra ele. A sessão do cinema tinha que ficar pra mais tarde. Como já era 15:20 e a delegacia era perto, fomos até lá a pé. Chegando lá, meu nome foi logo chamado para entrar na sala do delegado. O Felps disse que ia ficar me esperando na recepção.
-Então, é o senhor Rafael Lange, certo? - o delegado me perguntou.
-Sim, sou eu - respondi, me sentado na cadeira.
-Você está sendo chamado aqui porquê a sorveteria em que ocorreu o assalto e a qual o senhor estava presente solicitou um exame de digital na arma.
-Sim, prossiga...
-O resultado do exame deu que a arma possuía as suas digitais impressas nela - ele me entregou o exame.
-O quê!? Mas eu estava lá, no dia do assalto! Eu fui assaltado também!
-Exatamente, quando o dono da sorveteria recebeu os exames, ele relatou que você estava entre os assaltados. Então, a pergunta que eu tenho para lhe fazer é: Você pegou na arma quando ela caiu no chão?
E agora!? Se eu responder que não, como explicaria que a arma tinha minhas digitais?
-Sim - tive que inventar uma resposta - o assaltante apontou a arma pra mim, e ameaçou atirar, mas simplesmente largou ela no chão, então eu a peguei para ver se ele só não tinha atirado por quê não tinha balas, mas tinha...
Depois de mais algumas perguntas, ele me liberou. Saí da sala e fui falar com o Felipe:
-Então, o que era? - ele perguntou.
-É sobre o dia do assalto na sorveteria, fizeram um exame de digitais na arma e deu que eram as minhas digitais, sendo que você viu que eu nem toquei na arma...
-Então... como que elas foram parar lá? Tem que haver alguma explicação...
-Olha, eu não quero mais pensar nisso, okay? Vamos pro cinema, depois a gente resolve esse rolo.
Peguei na mão dele e saímos da delegacia. Voltamos pra casa, para pegar o carro, e ir ao cinema. Chegando no shopping, corremos até a fila. Antes que a fila terminasse, o homem chegou. O homem de casaco com o capuz levantado e segurando uma arma chegou. Ele assaltou a bilheteria, e as pessoas que estavam na fila. Olhei para o lado do hall, e os seguranças já estavam correndo em nossa direção. O cara largou a arma e se rendeu aos seguranças. Quando eles abaixaram o capuz do cara, meu sangue gelou. Era basicamente como me olhar no espelho. O homem era igual a mim.
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