“Na luz vermelha, a lenda se cumpre. A criatura logo despertará com toda a sua força e poder. Ela clama pelo sangue quente que corre nas veias humanas.”
A noite estava silenciosa. O fogo dos postes de lampião crepitava sedento pelo óleo, e iluminava as simples casas da vila. O céu estava respingado de estrelas e limpo, a não ser por uma grande lua vermelha e brilhante por entre algumas nuvens.
O padre corria pelas ruas distantes de lá, ofegante em suas grossas roupas cor marrom, trazendo junto a si uma jarra cheia de líquido que acreditava ser sagrado. Ele precisava chegar logo, saíra de sua casa na vila vizinha quase às 21h00min... O caminho a percorrer ainda era extenso e seu trabalho extremamente necessário.
Parou por cinco segundos para tomar fôlego, antes de retomar sua maratona. Pensou ter escutado alguma coisa se mexer entre as árvores, mas ignorou e continuou seu caminho.
Alguns passos depois, escutou o barulho das folhas mexendo novamente e dessa vez, tinha certeza que não ficara louco. Apertou o jarro em um abraço e correu mais rápido e sem olhar para trás, começando a ficar assustado. Rezava o Pai Nosso em sussurros, numa tentativa de afastar o mau agouro, até que uma sombra tomou sua visão e o único barulho audível dali em diante foi o do jarro se partindo em mil pedaços no chão de pedra e o líquido salvador sugado pela terra seca.
Um grito ressoou em uma casa na Vila Shalton. As contrações eram fortes, a mulher nunca sentira uma dor tão forte em sua vida. Dar à luz não era um trabalho tão simples quanto ela se lembrava.
— Onde está o maldito padre? — esbravejou o marido, segurando as mãos de sua esposa. Fazia horas que ele deveria ter chegado. — Ernesto! Vá esperá-lo do lado de fora!
O garoto assentiu e se dirigiu porta afora. As demais crianças estavam tensas e com medo, não gostavam de ver sua mãe sofrendo.
A mulher urrou de dor novamente, parecia que seu corpo estava sendo dividido ao meio. Fez força, respirou pesadamente e tornou a forçar, dando grunhidos agoniados. Quando achou que não iria aguentar mais e desmaiar de dor, o choro de um bebê encheu o ambiente. O pai da criança o enrolou em um pano limpo. Ele ficaria encantado com a beleza da linda menina, se não fosse por...
A porta da frente se abriu, mostrando um Ernesto assustado.
— O padre foi encontrado morto. — o menino disse em um sussurro ao mesmo tempo em que o relógio marcava meia noite.
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