“A porta se fechou, e ali atrás dela ficou guardado o maior amor que as estrelas e o céu já presenciaram. O amor do Sol e da Lua.”
Matteo Balsano
Ter Luna inteiramente e só para mim foi a melhor sensação já vivida. Eu sabia que ela era virgem, então fui o mais calmo possível, não queria que sua primeira experiência fosse terrível por minha culpa, nunca seria a sua melhor transa, a primeira nunca é. Apenas queria que ela se lembrasse dos momentos, pois eu sei que vou levá-los por toda a minha vida, porque para mim aquela foi sim o melhor sexo. Não estava fazendo apenas por fazer, foi a primeira vez que sentimentos tão fortes estavam envolvidos, que tinha amor.
A respiração de Luna soprando contra o meu pescoço me tranquilizava. Depois do que aconteceu ela se aninhou em meu corpo e adormeceu, eu senti a água salgada que seus olhos liberaram em contato com minha pele e, sua respiração era pesada e irregular. Eu queria enxugar cada uma de suas lágrimas e dizer que tudo ficaria bem, que no final de tudo nós ficaríamos bem, mas, eu não poderia voltar a mentir para ela.
Eu deveria ter parado quando percebi que as coisas estavam esquentando demais, porém a necessidade de sentir o seu corpo colado ao meu era enorme e eu não consegui me controlar. Eu sou muito burro. Isso apenas deixava as coisa entre nós mais complicadas.
Não me arrependia do que aconteceu naquela cama horas atrás porque foi simplesmente maravilhoso. Ainda sou capaz de sentir o sabor doce de sua pele sob meus lábios, a maneira que sua boca ficava semi aberta ou como seus olhos reviravam e suas pestanas tremiam em puro deleite, sem dúvidas essa seria uma imagem que eu guardaria para sempre no meu álbum de memórias inesquecíveis da vida. Eu apenas não desejava magoar mais a Luna, eu sabia que ela não me amava como eu a amo, ela só estava emotivamente abalada com os recentes acontecimentos que deram um giro de trezentos e sessenta graus em sua vida. Quando a vi abraçada com Simón na praia, em um momento tão íntimo e só deles, percebi que ela sentia algo muito forte por ele e entendia que ele iria cuidar dela de uma maneira melhor do que eu fui capaz de fazer. Nossa história não teria o final feliz que todos esperavam, seria apenas mais uma que veio e foi embora.
Certamente quando acordar Luna vai perceber o quão fraca foi ao se entregar para mim tão intimamente, vai se desculpar e dizer que isso foi um erro e que nunca mais vai acontecer. Concordava somente com a última parte, porque o que aconteceu naquele quarto foi tudo, menos um erro.
Eu via pelo vidro embaçado da janela que tinha no quarto as fortes rajadas de água baterem contra a vidraça, o céu lá fora estava nublado, igual aos meus pensamentos e ao meu coração.
Passei longos minutos apenas observando o rosto dela. Sua boca cheia e seus lábios bem desenhados, as bochechas que recebiam uma coloração natural rosada sobre a pele clarinha possuíam poucas pintinhas, perceptíveis apenas de perto, seu nariz levemente achatado apenas com a pontinha arrebitada que dava vontade de apertar. Seus cílios batendo suavemente e deixando suas feições mais serenas. Ela parecia um anjo.
Peguei meu celular para conferir a hora e vi que já passava das duas da tarde. Aproveitei a oportunidade e capturei a imagem da Luna dormindo com a câmera do celular, nunca queria correr o risco de esquecer essa cena. Segundos depois, o corpo dela mexeu-se sobre o meu e percebi que ela acordava.
Olhei para o seu rosto calmo. Apesar de continuar com os olhos fechados, sabia que ela já estava acordada porque sentia sua respiração mais acelerada contra o meu pescoço e seus batimentos mais fortes. Ela abriu a boca em um bocejo sonolento e os olhos dela abriram-se preguiçosamente. Essa era outra imagem que guardarei eternamente em minha memória.
Já vou me preparando para o surto dela, não queria que ficasse magoada nem mais desolada do que já se encontrava, nem que ao final ela me odiasse. Respirei fundo e contei até dez mentalmente, o que não surtiu bosta de efeito nenhum. Devia ter ação e dizer de uma vez por todas a ela que eu não queria me aproveitar de seu momento de fragilidade onde estava com suas emoções a mil. Não desejava ser mais um a abalar seus sentimentos.
— Luna... Eu não queria... — A dificuldade para falar era enorme, e antes que eu terminasse de dizer tudo que eu queria ela interrompeu.
— Você se arrependeu. — Aquilo não foi uma pergunta, a certeza com a qual ela disse aquilo me espantou. Eu seria louco em estar arrependido do que aconteceu entre nós, não sei de onde ela tirou isso.
— Não, claro que não — tentei consertar a burrada que eu fiz, mas eu só piorava tudo.
— Sabe, em um momento quando estávamos fazendo amor nessa cama, porque foi isso que significou para mim, lá no fundo eu nutria esperanças de que você não fosse embora, que você escolhesse ficar aqui por mim. Eu sei que soa extremamente egoísta, mas não posso evitar, eu queria tê-lo completamente, queria recomeçar nossa história. Porém não é o que você quer e eu vou respeitar sua decisão, mesmo que isso termine de acabar com o meu coração. — As palavras de Luna chegaram até mim como um tiro em meio a uma guerra terrível e me encontrasse prestes a perder a vida, porque era isso que ela era para mim, minha vida. E eu estava a perdendo, lenta e dolorosamente.
— Luna, não dificulte as coisas. O melhor para nós dois é ficarmos afastados, esse sentimento que você acha que sente não é real, você está apenas muito abalada emotivamente por tudo que lhe aconteceu. — precisava dizer aquilo, mesmo que naquele momento ela se magoasse, seria melhor para nós dois acabarmos com isso de uma vez, ela por ter feito a escolha errada e eu por um amor não correspondido. — Siga sua vida, você encontrará a felicidade e não precisa de mais ninguém para isso, só de você mesma. Irá perceber que isso aqui não passou de uma paixão passageira. Eu espero que um dia você possa encontrar o seu grande amor como eu encontrei e desejo que você não tenha que carregar o fardo de não ser correspondida, porque pode ter certeza, essa é a pior coisa acarretada por amar demais.
— Você não pode dizer o que eu sinto ou não seu idiota — ela falou, a voz exalando raiva. — Eu me apaixonei por você desde o primeiro momento que te vi lá em Cancún, mesmo você sendo um mauricinho arrogante, sempre tentei mascarar esses sentimentos para mim, pois, eu acreditava que se eu não soubesse nunca existiriam, mas não, eles sempre estiveram aqui em meu coração, a cada dia só aumentava. Quando namorei o Simón eu só tentava esconder o que sentia, entretanto, era apenas você que invadia meus pensamentos e perturbava meus sonhos. Pode falar a merda que quiser, apenas não diga que eu não te amo porque isso é cruel demais, principalmente depois de tudo que vivemos juntos.
— É exatamente pelo que vivemos que eu te digo isso. — Tinha que tirar isso do meu peito de uma vez por todas. — Mesmo depois de tudo que você falou meu coração se nega a acreditar que você me ama de verdade, me pergunto se sequer por um momento você chegou a gostar de mim. Você nunca demonstrou que o fizesse, mas eu era e sou tão apaixonado por você que nunca percebi isso.
— O que você quer que eu faça Matteo? Eu já fiz de tudo para que você não fosse embora, fiz de tudo para que desse certo entre nós. Eu não sei mais o que posso fazer, o que eu sinto não é suficiente? — ela falava enquanto andava pelo quarto, os pés descalços entrando em contato com o piso frio.
— Luna por favor, eu não quero que você faça nada. O tempo que tinha para ser feito já passou. É por você ter feito de tudo para darmos certo que não deu, isso não é uma questão de esforço, é questão de se doar de corpo e alma para a outra pessoa. O amor está presente nas coisas mais simples Luna, é ali que você percebe o quanto uma pessoa gosta de você. Eu só queria o seu apoio, durante todo o período que namoramos isso foi a única coisa que eu desejava de você. Mas não, você sempre estava lá me julgando, tentando me transformar em algo que não sou. Você queria que eu fosse o alguém que você amasse e eu sinto muito por não ser.
O choque em seu rosto era tão nítido quanto a transparência da água. Eu sabia que naquele momento isso doeria, em mim e nela. Mas é melhor machucar agora do que para o resto da vida.
— Eu não te entendo Matteo, enquanto estávamos fazendo amor naquela cama você disse que me amava e que nada mudaria isso. Mas aí está você, jogando esse amor no lixo e indo embora, descontando toda a sua frustração em mim. — a decepção exalava por todos os poros do seu corpo.
— Luna, você pode ter certeza de que se eu pudesse arrancar esse amor do meu peito eu já teria o feito. Porque o que eu menos queria nesse momento era te amar — as palavras saíram de minha boca rapidamente e rasgaram meu peito, não acreditava que havia dito aquilo. Não pensei que seria tão difícil ter essa conversa com a Luna. Na minha cabeça ela apenas iria se desculpar pelo que aconteceu e me mandaria embora. Seria tão mais simples, para ambos.
Ela passou alguns longos minutos sem falar uma única palavra sequer, os olhos verdes estavam levemente arregalados e lágrimas se acumularam ali. Sua boca abriu e fechou algumas vezes na tentativa de dizer alguma coisa, porém ela respirou fundo e engoliu tudo o que tinha para expressar e apenas balançou a cabeça.
— Desculpa por não ser o suficiente para fazer você ficar. — Seu peito subia e descia freneticamente por causa do esforço que fazia para acumular ar nos pulmões.
— Luna não fale isso, você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Eu que não fui o suficiente para você, que procurava em mim algo que não existia — falei, segurando os soluços que queriam ser libertos de minha garganta.
— Eu entendi. Eu já entendi. — Seu olhar era cético e estavam em constante contato com os meus, porém, não conseguia ver nada concreto através deles, talvez estivesse coberto de angústia. Eu realmente sou a pior pessoa do mundo para ela. — Já entendi que não tem mais espaço para mim em sua vida. Eu acho melhor você ir, não quero mais tomar o seu tempo.
Não falei mais nada, apenas concordei, não queria que ficasse mais magoada. Cheguei mais perto dela e toquei seu rosto com minhas mãos, segurando firmemente quando ela tentou esquivar sua pele do meu toque e, depositando um beijo singelo em sua testa quente. Senti suas lágrimas molharem as minhas palmas e limpei o local delicadamente. Afastei-me dela e caminhei em direção a porta, abri e antes que pudesse sair completamente daquele espaço que estava rodeado de mágoa e do amor mais forte e intenso que já cheguei a sentir, virei para trás para olhar o rosto dela e guardar dentro de mim todos os seus detalhes.
— Adeus Chica delivery.
A porta se fechou e atrás dela ficou guardado o maior amor que as estrelas e o céu já presenciaram. O amor do Sol e da Lua.
As férias em Cancún passaram rapidamente comigo na maioria do tempo trancado dentro do quarto, algumas vezes o Gastón me arrastou para dar uma volta pela cidade, o que não resolveu em nada, já que enquanto andava por ali via a Luna e pedaços dela em todos lugares, então, ao final do dia retornava para o quarto e entrava dentro da bolha que eu mesmo criei. Sozinho. Longe dos olhos. Preferindo não saber, não ver e principalmente não sentir. Distante da alma e perdido dos demais, achando só em mim a paz necessário para permanecer vivo e bem.
Desde que eu voltei para Buenos Aires minha rotina vem sendo a mesma. Tentei sair de casa duas vezes, sendo que em ambas que saí foi pior. Em uma delas eu encontrei a Luna no parque onde sempre íamos. Ela andava lentamente, os patins suspensos pelo cadarço em um dos ombros e a cabeça baixa, os ombros caídos mostrando sua frustração e seu cansaço. Eu não queria vê-la assim, triste e abatida, queria vê-la alegre, radiante, a garota que sempre mostrava força mesmo nas situações mais difíceis, que enxergava as coisas boas nas pessoas. Mas eu não poderia exigir isso dela, eu sabia que ela sofria muito e que nada fazia sentido em sua cabeça em coisa nenhuma naquele momento iria animá-la, me doía saber que de alguma maneira eu sou culpado por uma parte da sua tristeza.
Nesse dia enquanto me preparava para sair daquela praça, vi o momento em que o Simón apareceu, ela sorriu minimamente, dava para ver que não era um sorriso feliz e sincero, mas ela tentava, o que já era um grande avanço. Eu sabia que um dia ela iria superar tudo isso, toda essa história sobre o seu passado e seguiria em frente, encontraria sua felicidade, sabia que ela ia conseguir porque ela era valente. Também esperava algum dia superá-la, tentar encontrar minha felicidade, mesmo com o enorme vazio que existia dentro de mim.
Eu só tinha esperanças de que a milhões de quilômetros de distância dela fosse mais fácil seguir em frente e esquecer o que vivemos, já que tudo nessa cidade me remetia à ela.
Agora estava aqui terminando de arrumar minhas coisas para ir ao aeroporto, algumas caixas com pertences importantes e frágeis já foram mandadas e devem ter chegado em meu apartamento, o violão estava sobre a cama dentro da capa de proteção, porque o que eu mais precisava era espairecer minha mente e aquele objeto tem sido o meu melhor e mais fiel companheiro.
Peguei as duas malas de rodinhas que estavam encostadas perto da porta e segui para o andar de baixo da casa, onde eu sei que meus pais me esperavam para irmos.
Meu pai estava animado com a ideia de eu ir estudar em Oxford, mesmo não sendo o curso que ele queria, já que vou fazer administração de empresas e ele sonhava que eu fizesse diplomacia como ele, mas por incrível que pareça ele parecia orgulhoso e confiante em mim, o que é uma novidade. Não havia desistido do sonho de ser músico, isso nunca, apenas tinha prometido ao meu pai ter uma segunda opção de carreira para caso a primeira não desse certo, com isso em mente decidi me matricular em algumas matérias de produção musical à noite, o que não seria fácil, porque para isso acontecer eu precisava fazer um teste antes, mesmo que fosse apenas para cursar algumas disciplinas complementares.
Minha mãe ao contrário do meu pai estava apreensiva e nervosa, via em seus olhos que ela não queria que eu fosse, também não queria ficar longe dela, minha mãe sempre foi meu porto seguro.
Entrei no banco traseiro do carro e seguimos rumo ao aeroporto. Gastón também iria comigo, visto que decidimos ir duas semanas antes das aulas começarem para conhecermos os prédios onde teríamos aulas e nossa habitação, que era um apartamento que iríamos dividir e que era localizado perto da faculdade.
Meus pais conversavam no banco da frente, porém, meus pensamentos encontravam-se distantes dali. O carro ia passando rápido e deixando para trás tudo em uma imagem borrada, como se estivesse fugindo, escorrendo de minha vista. Então comecei a listar as coisas mais importantes que eu conquistei e que ao mesmo tempo perdi nos últimos 3 anos: meus amigos, a gravação do meu disco e a pessoa mais importante que já passou por mim, a Luna. Já estava acostumado com mudanças e com perdas, acreditava que eu iria superar e seguir em frente, mesmo esse período que passei em Buenos Aires sendo o mais intenso e o que mais colecionei coisas durante toda a minha vida. Nunca fui um colecionador, sempre deixava passar, são poucos os momentos que tenho guardado e sabia que um dia tudo que vivi aqui não passariam de meros borrões em minha memória.
Esperávamos anunciarem a chamada para o nosso vôo. Não éramos em grande quantidade, apenas meus pais, os do Gastón e a Nina. Nos despedimos do pessoal do Roller dois dias antes, eu detestava despedidas e não queria ficar prolongando isso.
Uma voz soou pelos auto falantes da sala de espera anunciando o próximo voo que sairia em poucos minutos para a Inglaterra. Começamos a nos despedir dos nossos parentes, percebi que minha mãe queria chorar.
— Você tem certeza que vai ficar bem morando sozinho Matteo? — ela perguntou com a voz embargada por causa do choro que estava entalado em sua garganta.
— Mãe não precisa se preocupar, vai ficar tudo bem, okay? — tentei confortá-la da melhor forma que eu pude. Seus braços finos rodearam minha cintura e eu permiti-me ser abraçado.
— Não precisa se preocupar tia, todo mundo sabe que eu sempre fui o mais sensato e não vou deixar Matteo fazer nenhuma besteira — Gastón falou em tom de brincadeira, arrancando um sorriso de minha mãe. Ela concordou com a cabeça e foi se despedir dele.
Despedi-me dos pais de Gastón e também da Nina. Em um movimento rápido de cabeça jurei que tinha visto Luna ali, mas tinha certeza que era apenas uma ilusão da minha mente. Mesmo assim permiti olhar melhor para o lugar atrás de mim e apertei os olhos para ter certeza de que não estava imaginando as coisas. Era ela. Do outro lado da sala, vestindo uma calça rosa claro e uma blusa branca de mangas, seus cabelos presos em um rabo de cavalo, mesmo de longe eu percebi os olhos abatidos e o rosto cansado. Não tão diferente de mim.
Meu nariz e minhas bochechas ardiam pelas lágrimas que queriam serem liberadas e pelo esforço que eu fazia para não deixá-las sair, engoli em seco tudo que eu tinha dentro de mim e respirei fundo. Parecia que não tinha mais ninguém ali além de mim e dela. Dei pequenos passos na direção onde ela estava e ao perceber minha ação deu passos largos para trás e rapidamente limpou algumas lágrimas que saírem de seus olhos, girando sobre os calcanhares e saindo dali rapidamente, para longe da minha vista.
Passei um tempo estático, sem falar nada nem mexer sequer uma musculatura. Senti um toque em meu ombro e olhei para o lado vendo o olhar reconfortante do meu amigo.
— É melhor irmos logo antes que percamos o voo. — Afirmei com a cabeça saindo do transe no qual me encontrava.
Estava já indo embora quando Nina veio me dar outro abraço. Não entendi muito bem até ouvir ela sussurrando "Fica bem Matteo. Eu vou cuidar da Luna, prometo". Senti uma lágrima descer por meu rosto e não me importei, apenas sussurrei um obrigado a ela.
E foi ali naquele aeroporto, sem precisar de palavras ou de aproximação, apenas com um olhar que eu me despedi da Luna para sempre.
Ciao amore mio.
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