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História Lunária - Uma "Grande" Benção


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 6 - Uma "Grande" Benção


Fanfic / Fanfiction Lunária - Uma "Grande" Benção

Quando acordei Jimin já estava de pé, andei sonolenta até a cozinha e me sentei na cadeira assistindo-o fazer meu café da manhã. Ele afagou meus cabelos e disse que eu precisava pentear aquilo antes que criasse vida própria.

Lembrei curiosa de quando ouvi, na empresa onde Jimin trabalhava, um homem comentar que um tal de Richard tinha cabelo de esquilo morto.

Não queria que meu cabelo virasse um esquilo... Muito menos um morto.

— Você não vai 'pra empresa hoje? — perguntei olhando a camisa branca amarrotada em seu corpo e os cabelos bagunçados, não parecia ter acordado muito antes de mim.

— Hoje eu trabalho de casa — respondeu mexendo no celular enquanto tomava seu café, dirigindo a xícara com cuidado aos lábios por não tirar os olhos da pequena tela brilhante.

— Por que você nunca solta isso? — Apontei o aparelho em sua mão direita.

— Eu preciso usar isso para falar com as pessoas — disse sem me fitar.

— Jimin eu ‘tô entediada — reclamei descendo da cadeira e andando até o loiro, recebendo um afagar de cabelos novamente, notando que ele fazia aquilo automático às vezes.

— Vai ver TV. — Deu um peteleco fraco em minha testa.

Resmunguei indo até a sala e me sentando no sofá, Jimin já havia me ensinado a ligar a TV, mas ainda não entendia muito sobre como mudar o que passava na tela. Ele me deixava vendo desenhos chatos de uma porca que parecia desenhada por um demônio com Parkinson ou uma galinha azul que me fazia sentir demente. 

Coloquei num canal em que pontos brancos, cinzas e pretos se moviam de forma desgovernada pela tela enquanto um chiado horrível era reproduzido, mas parecia melhor que tentar achar o Senhor Raposo ou assistir o noticiário local, que era muito assustador aliás. Então deixei no canal e fiquei olhando o granulado cinzento se movendo, pensando se a casa para onde Jimin me mandaria teriam pessoas legais.

Jimin não era tão legal assim, mas eu gostava dele, não queria conhecer pessoas que além de chatas, eu não gostasse.

Fiquei chateada ao olhar o anel de plastico prateado em meu dedo, tanto por Jimin não ter me dado porque gostava de mim, tanto pelo doce já ter acabado. Talvez aquele anel não significasse nada para Jimin e ele me deu apenas por dar. Hoseok explicou errado, então a culpa era dele.

Após algum tempo, Jimin veio até a sala e me viu deitada no sofá olhando de forma desinteressada o canal de interferência, perguntando o motivo de eu não estava assistindo nada. Entreguei o controle para ele e o próprio me ensinou a abrir o YouTube. Era algum tipo de plataforma que guardava os vídeos dos humanos, com certeza foi uma benção de Namjoon, pois aquilo era muito melhor que o granulado guerreando com as formigas.

Mas Jimin pareceu se arrepender de ter me ensinado a mexer na TV quando encontrei uma música incrível, mas que para ele pareceu começar a ficar irritante quando botei para tocar pela décima quinta vez. Jimin pegou o controle da minha mão e desligou a TV, mas para azaro dele, eu já havia aprendido a letra.

— ... Green or blue, show off your natural hue... — cantarolei andando à volta de Jimin que estava mexendo no computador em seu escritório, ignorando-me como podia. — Flamingo! Oh, oh, wooh... — Ele segurou minha cabeça quando abri os braços numa perna só, feito como um flamingo faria, mas bati em seu rosto sem querer.

— Se você não parar, eu vou tirar a semente do vasinho — ameaçou em tom baixo e me fitando sério, fazendo-me ficar quieta e talvez um pouco assustada.

A forma como ele me olhou me fez sentir um pouco de medo, então voltei para a sala e tentei achar o controle remoto quando voltei a estar entediada, encontrei-o no armário da cozinha, mas estava muito alto e não conseguia alcançar sozinha. Tentei puxar uma cadeira para subir, mas caí para trás quando me estiquei muito na ponta dos pés e perdi o equilíbrio.

Jimin cuidou de mim, me dando bronca, mas cuidou.

— Jimin... — resmunguei ainda sentindo minhas costas doerem um pouco.

— Eu não vou te dar o controle, Diana — disse sério, parecia irritado. — Eu preciso trabalhar e não posso tirar o olho de você por quinze minutos que você se machuca. — Engoli em seco, abaixando o rosto e comprimindo um pouco os lábios. — Você pode, por favor, ficar quieta e não se machucar apenas por meia hora? — pediu sem me fitar. Senti um nó se formar em minha garganta, mas apenas engoli a vontade de bater nele junto com o choro e fui para o quarto de hóspedes, me jogando na cama e afundando o rosto no travesseiro.

Eu nem ia pedir o controle, queria apenas pedir desculpas por fazer ele cuidar tanto de mim, me sentia patética naquele corpo pequeno e frágil, era injusto, era estressante. Eu queria sair e Jimin não deixava porque “— Crianças não podem sair sozinhas, é muito perigoso... Lembra do que aconteceu quando estava sozinha?”, ele também não me deixava beber o suco de uva dele porque “— O quê?! Eu não vou te dar vinho!”, eu também não podia sentar no parapeito da janela porque “— Você quer morrer?! Nunca mais faz isso! Sabe o quanto isso é perigoso?!”.

Tudo é perigoso para uma criança, tudo, crianças deveriam viver em bolhas então, Jimin, talvez se eu estivesse numa bolha você pudesse me soprar para longe ao invés de precisar se estressar tanto comigo.

Me virei de barriga para cima, debatendo-me na cama em frustração, ficando ainda mais irritada quando senti a lágrima descer lentamente pela lateral de meu rosto.

Talvez eu devesse realmente ir para a casa de outras pessoas, talvez nem eles fossem me querer mais quando vissem o quanto sou desastrada e eu viveria sozinha. Queria crescer logo e não precisar ficar andando de mãos dadas com algum adulto enquanto ele me ensinava as coisas.

— Diana, eu vou... — Me escondi embaixo da coberta ao ouvi-lo abrir a porta. — O que houve? — perguntou preocupado, vindo até meu lado e tentando puxar a coberta, mas a segurei com força, apertando o tecido contra meu rosto. Jimin me deixava mais calma quando estava comigo, mas agora tê-lo ali me fazia querer chorar ainda mais.

— Vai embora — resmunguei tapando meu rosto com as mãos quando ele conseguiu puxar o lençol.

— Por que você ‘tá chorando? —Perguntou se agachando ao meu lado, limpando as lágrimas que molhava a pele entre meus dedos, que apertavam meu rosto.

— Sai daqui, Jimin, eu já ‘tô quieta! — gritei me sentando e empurrando seu rosto, o loiro caiu sentado, olhando-me surpreso com minha atitude repentina.

— É por que eu briguei contigo? — perguntou se levantando e se sentando na cama ao meu lado.

— Não... — sussurrei abraçando minhas pernas, resmungando quando Jimin me pegou encolhida feito uma cápsula e me pôs sobre seu colo.

— Desculpa, eu não queria te magoar — disse afagando meus cabelos e pressionando seus lábios contra minha testa, mantive-me quieta, sentindo seu calor próximo ao meu. — Você me perdoa? — perguntou afastando-se um pouco, ainda podia sentir seus lábios em minha pele mesmo após se distanciar. Ou talvez fosse só saliva.

— Por que você não gosta de mim? — indaguei com mais medo de ouvir aquela resposta do que senti enquanto corria desesperadamente pelas ruas daquele homem mau.

— Como assim? — Me pegou por baixo dos braços, me endireitando em seu colo quando comecei a escorregar de suas pernas. — Eu gosto de você — diz me dando um sorriso meigo.

— Mas você grita comigo e fica me dando bronca... — resmunguei fitando o chão, não queria olhar em seus olhos.

— É porque você faz muita bagunça... — Apertou de leve meu nariz quanto notou que eu iria começar a chorar novamente. — Já sei, vamos tomar sorvete. — Tentou virar meu rosto para si. — Diana... — chamou em tom infantil. — Olha ‘pra mim... — resmungou manhoso.

— Eu não quero — murmurei tirando sua mão de meu queixo.

— Quer ver TV? — perguntou me segurando com um pouco de força quando tentei fugir de seu abraço.

Gostava quando Jimin falava em tom calmo comigo e me abraçava ou bagunçava meus cabelos, mas agora ele estava fazendo apenas por pena e isso me chateava o tanto que irritava.

— Não — resmunguei birrenta.

— Quer bolo? — Pousou seu queixo em meu ombro. — Podemos ir lá agora e pedir o que você quiser, o que acha? — propôs sorrindo largo.

— Eu quero dormir. — Desisti de tentar me soltar.

— Canta Flamingo 'pra mim? — pediu afrouxando os braços para que eu pudesse me sentar na cama.

— Mas você odeia isso — resmungo lembrando de quando ele gritou comigo na cozinha por eu não parar de cantar o refrão.

— Mas eu quero ouvir agora — disse rindo quando me escondi embaixo da coberta de novo. — Canta comigo, me ensina a letra. — Levantou um pouco a coberta para ver meu rosto. — Black... White... Green or... — cantou esperando que eu continuasse, mas apenas neguei devagar com a cabeça, apertando em minhas mãos uma ponta da coberta. — Quer ficar comigo no escritório? — perguntou suspirando chateado quando me virei para o outro lado. — Tudo bem, então... — sussurrou desanimado.

Jimin deixou o quarto e então eu pude voltar ao meu monólogo interior sobre o quanto eu detestava estar na Terra. Preferia orbitar Mércurio naquele calor infernal que estar passando por isso. Senti alguém sentar na beirada da cama e levantei animada ao pensar que fosse Hoseok, mas meu sorriso se desfez ao ver a feição vazia de Yoongi.

— Estava chorando? — perguntou apontando meu nariz vermelho.

— Não — respondi ríspida, limpando o rosto no cobertor.

— Então tudo bem, tchau — disse abrindo as sombras para se desfazer da presença física.

— Não! — gritei tapando minha boca em seguida, Jimin odiava quando eu gritava. — Fica aqui... — pedi baixo, observando Yoongi me fitar duvidoso. — Por favor... — sussurrei ouvindo-o suspirar fundo.

— Você sempre me expulsa. — Ergueu uma sobrancelha.

— Eu só quero conversar com alguém — digo constrangida, ele resmungou algo, enxotando a névoa negra que havia gerado por prolongar seu tempo em transição e acabar a cancelando.

— Está me pedindo isso apenas pois Hoseok não está aqui, por que não conversa com Namjoon? — questionou levantando da cama e olhando o quarto.

— Por que eu já tenho pedido bastante ajuda d’Ele, seria injusto Ele ficar me ajudando o tempo todo. — Observei-o me olhar de forma estranha, na verdade, Yoongi olhava para todos de maneira estranha.

— Sobre o que quer falar? — perguntou se aproximando de mim.

— Jimin me odeia. — Comprimi levemente os lábios, fitando o chão.

— Ele não te odeia — diz dando um tapinha em minha cabeça. — Pare de ficar chorando por pouca coisa. — Me repreendeu por meus olhos marejarem novamente.

— Odeia sim, ele quer que eu vá embora até. — Ele revirou os olhos. Yoongi tinha um jeito bem parecido com o dos humanos, era irritante.

— Eu posso te provar que não odeia, eu sinto esse tipo de coisa — diz franzindo levemente o cenho ao me ver morder o travesseiro. — Para com isso, sua estranha — reclamou fazendo uma careta.

— Como você sabe? — perguntei esticando os braços para tentar pegar o travesseiro que Yoongi tomou de mim, mas ele o ergueu alto.

— Do que acha que eu surgi? — Jogou o travesseiro no outro canto do quarto.

— Acho que você surgiu de rabanete! — exclamo me assustando quando ele segurou meu rosto com uma mão, tapando minha boca ao segurar meu maxilar. Ele subiu um dedo devagar até os lábios, pedindo silêncio.

— Por que um rabanete? — perguntou curioso.

— Rabanete é ruim — resmunguei passando a mão onde me apertou após ele me soltar, Yoongi sequer estava na forma espiritual e ainda era tão forte.

— Eu nasci do ódio, Lua, quando Caim matou Abel, eu tomei forma e continuo o que comecei naquele dia até hoje — diz suspirando fundo. — Eu sei do que sou feito e Jimin não odeia você. — Pegou minha mão, beijando suave minha pele. — Está melhor? — Sorriu ao me ver assentir.

— Você me odeia? — perguntei ouvindo-o rir fraco.

— Nem um pouco — assegurou beijando minha bochecha antes de ir embora, sem sequer avisar ou se despedir, esse bastardo mal educado.

Fiquei sentada na cama alguns minutos, apertando minha bochecha onde Yoongi havia me beijado. Os lábios dele eram muito frios, mas macios. Não entendi bem o motivo dele ter feito isso, Yoongi sequer tocava nos outros espíritos e quando os fazia, parecia enojado, que se diga demostrar afeto. Isso se ele conseguia sentir algo por alguém, era do tipo que só ia ao Salão Celeste quando Namjoon o obrigava e ainda passava o pouco tempo lá de cara feia e reclamando sobre tudo e todos.

Após algumas horas deitada e olhando o teto branco, saí do quarto para ir pegar algo para comer na cozinha, surpreendendo-me um pouco ao ver Jimin confeitando de forma desajeitada o que deveria supostamente ser ou ao menos parecer um bolo. Ele sorriu constrangido ao me ver.

— Eu... Tentei fazer um bolo para você... Mas eu não sei confeitar, então... — comentou coçando a nuca, olhei o bolo coberto de chantilly com alguns morangos e um deles escorreu da cobertura, caindo na bancada. — Eu tentei, desculpa. — Soltou frustrado o saco de confeitar e apoiou as mãos na bancada em total autodecepção pessoal. Jimin dizia que esse termo não existia e que era até gramaticamente errado, mas se eu criei, então existe agora, faz sentido 'pra mim. Jimin estava autodecepcionado consigo mesmo.

— Jimin, desculpa... — digo indo até o mesmo e abraçando sua cintura, queria poder abraçá-lo direito, mas a diferença nas alturas não permitia, então me contentava em enlaçar sua cintura e encaixar o rosto em seu torso.

— Pelo quê? Você não fez nada — diz me pegando pela cintura e pondo sentada sobre a bancada.

— Por te fazer ficar bravo — sussurrei balançando um pouco as pernas, ele sorriu se apoiando na bancada e aproximando seu rosto do meu.

— Desculpa ter ficado bravo contigo — disse encarando-me firme nos olhos, senti minhas bochechas aquecerem levemente e minha respiração parar por um segundo, mas o homem apenas riu afagando meus cabelos. — Tem chantilly no seu rosto. — Se afastou um pouco, suspirei aliviada ao puxar o ar.

— Mas eu nem comi ainda — reparei confusa, me virando para olhá-lo, fazendo uma cara de tacho ao senti-lo passar o chantilly em minha bochecha. — Engraçadinho... — reclamei tentando limpar meu rosto, acabando por melar quase o rosto todo e minhas mãos quando iria passar a palma e ele acrescentou mais, fazendo Jimin rir alto ao ver a indignação nítida em minha expressão.

Peguei um punhado de chantilly e fiquei de pé na bancada, indo em direção a Jimin, ele iria correr, mas briguei com o próprio no tom mais sério que meu sorriso largo permitia, apontando o chão à frente da bancada. Jimin, de sorriso abobado nos lábios, ergueu o rosto para que me vingasse de forma justa, ou quase, pois passei o doce em seu cabelo.

Ele reclamou me pegando em seus braços e girando comigo pela cozinha, e de repente o bolo não foi a coisa mais doce naquela tarde, foram as risadas trocadas enquanto fazíamos bagunça feito... Crianças.

Éramos como crianças.

Jimin me puxou para perto de si e ergueu seu celular me dizendo para gritar “X”, ele tirou uma foto nossa de rostos pálidos de chantilly, quer dizer, o meu já era pálido... Mas ficou legal mesmo assim. Tinham alguns pedaços de morango no cabelo de Jimin, que havia endurecido de forma engraçada graças à cobertura que eu havia passado em seus fios.

Quase já não havia mais chantilly no bolo ou na tigela quando eu e Jimin nos cansamos e deitamos de barriga para cima no chão da cozinha, um ao lado do outro. O rapaz se surpreendeu quando segurei seu rosto e lambi o chantilly próximo ao canto de seus lábios, deixando seu rosto vermelho feito os morangos cortados que estavam num prato acima da pia.

O sorriso nos lábios de Jimin se desfez no mesmo instante e ele se levantou desnorteado, engolindo em seco e começando a limpar nossa bagunça. Ele não respondeu quando perguntei se eu podia ficar com ele no escritório e precisei chamá-lo três vezes para que me ouvisse, parecia estar disperso.

— Só estou cansado. — Forçou um sorriso. — Pode comer. — Me entregou os morangos que não acabaram sendo usados.

— Será que na minha casa nova terão morangos? — perguntei enfiando metade de um na boca.

— Se não tiver, seus pais poderão comprar para você — diz enquanto passava um pano úmido sobre a bancada melada de doce, suspirando fundo ao sentir seus pés grudando no chão.

— Podiam vender Jimin também — comento o fazendo me fitar.

— Ninguém compraria isso. — Riu fraco.

— Eu compraria todos — afirmei me levantando e entregando o prato vazio a Jimin.

— Diana... — sussurrou me olhando um pouco preocupado.

— Eu gosto de você. — Segurei na pedra de mármore negro da bancada e apoiei o queixo nela.

— De que forma? — perguntou limpando um pouco do doce em minhas sobrancelhas.

— Você é meu amigo — respondi o ouvindo respirar aliviado.

— Você também é minha amiga. — Apertou de leve minha bochecha. — Agora vai tomar um banho — disse me fazendo resmungar e derreter ao chão.

Jimin começou a andar em direção ao vasinho de flores e eu corri para o banheiro, ouvindo-o rir. Tomar banho era chato, além de que eu tinha de fazer isso sozinha. Jimin me ensinou a escovar os dentes e que em hipótese alguma, na minha vida inteira, nunca mesmo, pedir mais uma vez para tomar banho com ele.

Estava começando a anoitecer e Jimin já havia voltado para o escritório ao lado de seu quarto, ele havia me devolvido o controle da TV e eu estava assistindo num volume mais baixo para não atrapalhá-lo.

Haviam alguns canais bloqueados com avisos de "Conteúdo permitido apenas para maiores de 18 anos." e Jimin apenas me respondeu para parar de fuçar os canais adultos ou ele esconderia o controle novamente quando perguntei a senha. Aquilo era ridículo, eu nasci antes mesmo das bactérias presentes no fundo do oceano e tanto Jimin, quanto aqueles canais, estavam me subjugando.

Após cansar de ver vídeos aleatórios e desistir de descobrir a senha dos canais bloqueados, fui até o escritório de Jimin e abri devagar a porta. Ele perguntou se estava tudo bem e eu assenti ficando ao seu lado, assistindo-o mexer num programa estranho em seu computador. Parecia estar desenhando numa foto e pondo letras estranhas.

— O que você ‘tá fazendo? — perguntei segurando no braço de sua cadeira.

— É meu trabalho, quer ver? — Girou um pouco a cadeira e bateu em suas coxas, demorei para entender que era para eu subir em seu colo. Ele me ajeitou sentada sobre suas pernas para que eu pudesse o assistir trabalhar. — Eu sou publicitário, então faço artes para vender as coisas, entendeu? — perguntou mostrando o que algumas ferramentas do programa faziam.

— Esse faz o que? — Apontei um ícone.

— Ele estica as coisas, mas a melhor utilidade dele é essa — diz puxando o olho da modelo quase para fora da tela, fazendo-me rir.

— E esse? — perguntei quase caindo do colo de Jimin quando ele copiou uma perna da modelo em sua testa.

Apenas paramos quando a modelo estava começando a parecer uma criatura de algum um terror sci-fi, com uma perna na cabeça e pernas nos braços e pernas voando também, então Jimin apertou alguns botões e ela voltou a sua forma original. Ele fechou o programa e desligou o computador, se espreguiçando e perguntando se eu estava com fome. Neguei segurando em seu pescoço quando se levantou, ficando pendurada feito os macaquinhos do documentário que assisti, ou coalas. Jimin seria um ótimo coala.

Jimin seria ótimo em muitas coisas.

Assistimos algumas coisas juntos antes de dormir, uma moça beijou um homem na TV e eu me virei para Jimin apontando meu lábios, ele beijou seu dedo indicador e o encostou em meu lábios. Acho que não era assim que funcionava, mas quando eu reclamei sobre isso, ele apenas disse que era assim sim e que eu devia parar de questioná-lo.

Quando eles foram juntos para o quarto, Jimin trocou rapidamente de canal e pareceu nervoso quando perguntei o motivo de ele ter mudado, dizendo que já havia acabado o episódio. Só que nem havia passado ainda o encerramento e eu queria ouvir a música, porém Jimin não me deixou voltar no canal e disse que era melhor irmos dormir logo, que ele teria de trabalhar na manhã seguinte e mesmo confusa eu o obedeci.

Jimin estava lendo um livro quando entrei em seu quarto com meu cobertor e travesseiro, sorrindo abobado ao me ver ajeitar minha mudança sobre sua cama.

— Por que não quer ficar no seu quarto? — perguntou pousando o livro na cabeceira, próximo ao abajur.

— Quero ficar aqui, senão Yoongi vai me perturbar. — Aconcheguei-me em seus lençóis, apesar de eu ter trazido os meus.

— Amanhã Jin virá aqui para cuidar de você enquanto eu trabalho, quero que conte a ele tudo sobre Yoongi, Hoseok, Namjoon e todos mais que você cisma que vê — diz se deitando virado para mim.

— Mas eu vejo! — reclamei apontando Yoongi, que me deu língua da janela em sinal de provocação.

— Eu sei que vê. — Jogou meu cabelo à frente de meus olhos, se virando para apagar a luz do abajur antes de tornar a deitar e se aprontar para dormir.

— Jimin... — chamei fazendo-o abrir os olhos, apontei meus lábios fazendo um biquinho e ele sorriu, me puxando e beijando minha testa.

Resmunguei emburrada, ouvindo-o rir fraco. Mas Jimin me explicou de forma calma o motivo de eu não poder beijá-lo, que quando adultos tocam crianças, é crime, um dos crimes mais nojentos e hediondos e que eu não deveria, de maneira alguma, jamais, deixar que alguém grande me tocasse nem que parecesse certo, pois é errado.

E ele riu dizendo que eu era uma graça quando contei ter cinco bilhões de anos, então não era uma criança.

Jimin era um ridículo e eu só não dizia isso em voz alta por gostar dele.

Depois de Jimin dormir, andei devagar até a janela e fiquei um pouco conversando com Yoongi. Ele me contou que Hoseok quase desmaiou quando foi acompanhá-lo num serviço que fez num parque de diversões, um carrinho de montanha-russa despencou e Yoongi teve de recolher a alma dos restos amassados das vítimas. Ele contou rindo, não parecia ter muita empatia pelos humanos, na verdade, por nada.

Yoongi se foi após algum tempo, dizendo que Lúcifer estava o chamando, franzi o cenho e ele riu, dizendo que o Diabo não era lá essa criatura horrorosa que todos cantaloravam por aí.

Me ajoelhei para conversar com Namjoon antes de dormir, comentando de modo desajeitado que não queria mais ser criança, que era  muito chato e nem podia comer açúcar de colher. Ele disse que me pôs naquele corpo para fazer minha adaptação mais tranquila, mas eu já estava cansada de ser limitada, queria poder ao menos ouvir uma frase que não terminasse num sermão de algum adulto por eu ser uma criança.

Namjoon suspirou fundo e disse que havia me avisado, portanto eu não teria direito de reclamar depois. Assenti alegre voltando à cama e me deitando ao lado de Jimin, queria ver ele me dar bronca quando eu fosse grande, agora ele teria de me tratar de igual para igual.

Acordei antes de Jimin na manhã seguinte e estranhei sentir minhas roupas mais apertadas que o normal, quase gritando de ânimo ao me ver em meu corpo costumeiro e mesmo estranhando me ver em vestes humanas, sentia-me de fato como eu mesma, como a Lua. Quer dizer, como Diana, Diana Lunária para ser mais específica, aqui eu não sou mais um astro.

Preciso me acostumar logo em ter sobrenome também.

Sacudi Jimin ouvindo-o resmungar e se virar sonolento, recusando-se um pouco a acordar. Sentei-me devagar sobre seu abdômen, segurando seu rosto e esperando sua reação ao abrir os olhos. Esperava um “— Nossa, como você cresceu!”, mas recebi apenas um susto ao ele levantar apressado da cama, me jogando sem delicadeza alguma para o lado.

— Quem... Caralho, o que ‘tá acontecendo?! — perguntou parecendo assustado.

— Tã-dã! — Abri os braços no ar em animação, aguardando alguma comemoração dele também, mas ele se manteve afastado. — Agora eu posso beber suco de uva? — perguntei ansiosa para provar.

— Diana... ? — chamou receoso.

— A própria. — Desci da cama, tentando ir até Jimin, mas ele se afastou apressado, fugindo para o outro lado do cômodo.

— O que aconteceu contigo? — perguntou respirando rápido até demais.

— Eu ‘tô normal — digo confusa. Aquele era meu corpo normal, eu já havia deixado de ser uma criança havia cerca de quatro bilhões e meio de anos, Namjoon apenas havia retornado minha juventude infantil quando me mandou para a Terra.

— Não... Você... Eu devo estar sonhando — diz olhando em volta e dando tapinhas em seu rosto.

— Eu ‘tô no seu sonho?! — perguntei surpresa. — Mas eu já acordei... — sussurrei confusa. Só se sonha dormindo, não é? Me assustei quando Jimin deu um tapa forte até demais no próprio rosto. — Jimin... — chamei preocupada, observando a marca da palma de Jimin na própria face, ele parecia fora de si.

— Eu estou louco... — resmungou curvando os ombros e massageando a lateral vermelha de seu rosto. — Não se mexe! — ordenou quando tentei me mover em sua direção. Ele passou por cima da cama e pegou o celular na cabeceira ao lado em que dormia, olhando algo na tela e se jogando frustrado na cama, passando as mãos pelo próprio rosto repetidas vezes. O celular caiu na cama com a nossa foto juntos aberta, eu ainda estava em forma infantil. — Eu... Não sei o que ‘tá... Eu não... — disse sem conseguir formular a frase inteira. — Devo estar alucinando. — Levantou-se indo até o banheiro, jogando água no rosto várias vezes.

— Jimin, minha blusa diminuiu — resmunguei tentando tirá-la, ficando aliviada ao arrancar a peça apertada de meu corpo. Jimin revirou os olhos quando me livrei da blusa, mas não pareceu ser de deboche dessa vez, pois ele caiu. — Jimin? — chamei andando até si e o sacudindo sem obter reação, parecia estar dormindo. Talvez ainda estivesse cansado, então o cobri com um lençol e fui ver se havia sobrado bolo.

Peguei logo um moletom de Jimin e vesti, se eu estivesse seminua quando ele acordasse, brigaria comigo como se eu fosse uma criança ainda, mas agora eu não sou mais, aliás, deixei de ser faz mais de muitos milênios. Agora ele teria de me levar a sério e tratar com seriedade, de igual para igual.


Notas Finais


Música: Kero Kero Bonito - Flamingo
Obrigada por ler até aqui.


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