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História Lunária - Fria e Pálida


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Notas finais.
Boa leitura.

Capítulo 13 - Fria e Pálida


— Mas é muito fina! — Olhei surpresa a calcinha fio dental que Agnes havia comprado para mim.

— Jimin vai adorar. — Sorriu orgulhosa da escolha.

— Ele não vai querer usar isso... — digo fazendo uma careta ao imaginá-lo com aquilo.

— É 'pra você! — Riu alto. — Aí você põe com esse sutiã... — disse me mostrando a peça de renda azul escura, como a calcinha. — E deixa ele tirar... — sussurrou mordendo o lábio inferior.

— Agnes, 'tá me assustando... — resmunguei me afastando um pouco, ela estava me olhando estranho.

— Ele vem hoje, não é? — perguntou se jogando na cama, eu e ela havíamos pedido para dividir um quarto e Taehyung permitiu, passando Helena para o quarto da frente.

— Sim, ele avisou que viria depois do trabalho e como é meio longe... Ele só deve chegar de noite... — digo um pouco chateada, ainda faltava algumas horas para ele poder sair da empresa.

— Então eu vou dormir no quarto da Helena e vocês vão aproveitar a noite inteira sozinhos — diz com um sorriso sugestivo no rosto.

— É errado fazermos isso... Nem casamos ainda... — Me deitei ao lado da morena.

— Que errado o quê? Vocês se amam! — disse apertando minhas bochechas.— Viu como ele cuida de você? É tão fofo... — Fez um biquinho, Agnes era uma boba.

— Eu gosto muito dele. — Afundei o dedo na coberta, um pouco constrangida.

— Você ama ele, Diana, admite — disse puxando minha bochecha, resmunguei fazendo-q rir. — Vamos sair, você 'tá muito desanimada para quem vai ter a melhor noite da vida. — Se levantou, puxando-me pelos pés para fora da cama.

— Eu quero esperar Jimin aqui — resmungo sendo arrastada pelo carpete.

— Temos que comprar velas e... Chantilly e chocolates... Morangos! — disse soltando minhas pernas e olhando o armário. Havíamos comprado várias roupas novas e Agnes tinha escolhido alguns vestidos e shorts um tanto que... Reveladores para mim. No templo eu nunca havia me importado com a transparência dos tecidos, sempre usava roupas leves e finas, mas no mundo humano as pessoas costumam te julgar muito pelo o que veste e em quais ocasiões. Jimin achava estranho quando eu queria usar o vestido branco de lantejoulas que Taehyung me deu para ir tomar sorvete logo na esquina.

— Eu gosto de chantilly — digo sentando-me no chão.

— Vai gostar mais de onde você vai chupar ele. — Sorriu sugestiva.

— Não se chupa bolo. — Engatinhei até ela para escolher uma roupa para sair.

— Jimin não te ensinou a usar a boca? — perguntou um pouco surpresa. — Ele nunca... Na sua boca? — reformulou ao ver que eu não havia entendido, gesticulando por algo entre os lábios e empurrando a bochecha com a língua.

— Aquilo é de pôr na boca também? — Fiz uma careta. — Eca... — murmurei voltando a mexer na roupa.

— Ah, querida, é de pôr onde você quiser. — Riu fraco.

Agnes estava tentando me corromper, eu sentia isso nos risos malignos dela e nas roupas sensuais que escolhia para mim ou nos incentivos leves a fazer coisas não tão corretas porém não tão erradas, mas estava sendo divertido.

É assim que muita gente acaba no inferno e eu nem sabia.

Estávamos testando quantas calcinhas dava para pôr de uma vez quando alguém bateu na porta e eu tirei as quatorze peças íntimas de meu corpo e corri para pôr meu vestido rapidamente. Agnes foi até a porta e atendeu, falando algumas coisas aleatórias para dar tempo de eu me vestir. Ela soava nervosa e eu entendi o motivo após ela abrir mais a porta para que Jungkook pudesse entrar, enrijeci a postura e ergui o queixo por impulso, Jungkook era desagradável apenas por existir.

— Descansar, soldado — disse me olhando com desdém.

— O que você quer? — perguntei relaxando um pouco.

— Agnes, poderia nos dar licença, por favor? — pediu fitando-a e meneando a cabeça na direção da porta. Ela olhou um pouco confusa para Jungkook, mas saiu em passos lentos do cômodo. — Taehyung me disse que você tem pouca experiência em desfiles, vou te levar para ver o palco e tudo antes das outras. Se você tropeçar ou der um passo errado, eu posso perder um contrato — disse me estendendo a mão.

— Eu posso ir ver com as meninas amanhã, não tem problema, darei meu melhor. — Ignorei sua mão e tentei seguir para a porta, conseguia ver os pés de Agnes pela brecha próxima do chão.

— Você vai hoje. — Me segurou pelo pulso. — Já tem pessoas lá te esperando para assistir e eu disse que você iria, então você vai — disse sério, suspirei fundo tentando soltar meu pulso. — Eu vou te machucar, estou te avisando — sussurrou quando cravei as unhas em seus dedos.

— Por que eu não posso ir amanhã? — Desisti de me soltar.

— Para de birra e anda logo. — Me puxou até a porta, ele a abriu empurrando levemente Agnes do caminho para passar comigo. — Se Jimin chegar antes de voltarmos, diga que levei Diana para aprender a andar feito gente — disse para a morena confusa antes de sair me arrastando em passos largos pelo corredor.

— Vai demorar tanto assim?! Mas eu quero estar aqui quando Jimin chegar! — reclamei tentando resistir, mas parei ao senti-lo puxar forte meu pulso. Meu corpo paralisou quando sua mão segurou os cabelos de minha nuca e ele me virou para si, quase encostando seu rosto no meu.

— Olha para a minha cara e vê se eu tenho paciência 'pra suas frescuras — disse em tom calmo e baixo, senti sua respiração se chocar em minha pele e apenas consegui engolir em seco. Ele me assustava às vezes, quase todas as vezes. — Vai ter o tempo que quiser para ficar com Jimin, apenas não me aborreça — murmurou me empurrando para dentro do elevador. Abaixei o rosto passando a mão onde ele havia apertado meus cabelos, não havia doído, mas ainda sentia a pressão de seu aperto. — Está doendo? — perguntou me olhando afagar o local por onde me pegou, recuei assustada quando ele ergueu sua mão novamente até mim. — Calma... — sussurrou suspirando fundo, pegando-me pelos ombros e me afastando da parede do elevador para acariciar minha nuca com a mesma mão pela qual quase me ergueu pelos cabelos.

— Me solta — pedi baixo, incomodada com a forma como estava me acariciando, mesmo que parecesse estar tentando me acalmar.

— Você me estressa, mas isso não quer dizer que eu goste de te machucar — disse beijando o topo de minha cabeça. — Talvez eu goste, mas agora não foi o caso — diz dando de ombros e me soltando quando as portas se abriram novamente.

O caminho de carro até o local onde seria o desfile não demorava tanto, era cerca de uma hora do hotel, mas com o silêncio de Jungkook, pareceu uma eternidade. Ele gostava de música e de cantar, mas não ligou o rádio dessa vez ou disse uma palavra sequer até chegarmos.

O moreno estacionou o carro e veio até meu lado abrir a porta ao notar que eu não pretendia descer também, arqueando as sobrancelhas e perguntando devagar de forma muda, se eu sairia por bem ou por mal. Desci do carro suspirando fundo e o seguindo para dentro do lugar, parecia um teatro antigo e era bem espaçoso. As paredes envelhecidas, porém bem conservadas, eram repletas de esculturas em gesso, pareciam tão delicadas quanto as pinturas em seu teto.

Era uma antiga catedral, mas que acabou virando um teatro ao passar do tempo, agora era um local para organização de eventos.

A passarela havia sido feita um pouco mais alta que as poltronas onde os convidados ficariam sentados, já haviam algumas pessoas por ali, estavam me encarando de forma desagradável. A iluminação seria focada apenas sobre a passarela, o tapete preto já havia sido forrado e algumas equipes ainda arrumavam e decoravam o local para o evento que seria logo amanhã.

— Você será a primeira a entrar amanhã — disse pegando minha mão e andando comigo até os degraus para o palco, levando-me para atrás das cortinas. — Aqui que vocês irão se arrumar. — Acendeu a luz, exibindo a área grande, já com a maquiagem, sapatos e figurinos arrumados. Estava tudo já pronto para começarmos.

— Ninguém mais vai fazer hoje? — Olhei as roupas, que estavam mais elaboradas dessa vez. Eram excêntricas, coloridas ou enfeitadas demais para se usar no dia a dia.

— Apenas você, as outras já sabem o que fazer — diz apontando a cadeira para que eu me sentasse. — Vou chamar uma maquiadora — disse fazendo menção de deixar o cômodo.

— Mas hoje eu não vim apenas treinar? — perguntei um pouco confusa.

— As pessoas que estão ali querem te ver arrumada, apenas me obedeça. — Saiu por entre as cortinas pesadas.

Respirei fundo olhando o espelho à minha frente, estava nervosa para o dia de amanhã, ainda mais sabendo que Jimin também me assistiria. Não queria parecer incompetente na frente de tantas pessoas, principalmente à frente dele.

Enquanto a maquiadora me arrumava, meu celular tocou e eu pedi uma pausa para atender, Agnes estava preocupada sobre já estar anoitecendo e nada de Helena voltar da casa do namorado, o celular dela estava desligado e ninguém sabia onde ela estava, nem o namorado dela sabia. Tentei acalmar a morena, mas Jungkook brigou comigo por estar no celular e eu tive de desligar.

Helena vivia saindo sem avisar, devia ser nada demais, talvez o celular tivesse descarregado ou ela mesma desligou, ela sempre reclamava que nós ligávamos demais para ela, principalmente quando estava ocupada.

Fechei os olhos e respirei devagar antes de empurrar a cortina e seguir em passas medidos até à frente, trajando um vestido de pele de lobo com enfeites naturais no cabelo e maquiagem imitando neve no corpo. Parecia que já estava desfilando de fato e não um simples ensaio pela forma como Jungkook me analisava. As pessoas presentes me observavam avidamente e o que Taehyung havia me aconselhado, olhar por cima e não para eles, era o suficiente para não paralisar de nervosismo, mas não ainda para conseguir evitar sorrir.

Foram seis figurinos de inverno detalhadíssimos e arrojados até que Jungkook me permitisse parar e pedisse que eu ficasse quieta e sentada até que ele me chamasse. Ele foi conversar com as pessoas sentadas na primeira fileira, havia sido cansativo, ainda mais eu tendo que me arrumar mais rápido por não haver outras desfilando comigo para cobrir o intervalo de tempo.

— Você foi ótima. — Jungkook disse alegre, bagunçando meus cabelos num cafuné enquanto voltávamos para o carro.

— Se aquilo foi o treinamento, amanhã será uma tortura! — digo surpresa com o quanto estava cansada após um desfile tão curto tempo.

— Ah, não foi um treinamento... Eles vieram ter uma prévia e eu escolhi você 'pra isso — diz sorrindo largo ao me ver indignada.

O restante do caminho de volta foi até que rápido, comigo reclamando e Jungkook rindo de mim. Até que a risada dele era fofa para quem havia sido banido dos céus, mas ao chegarmos eu não consegui mais sorrir ou sequer implicar com Jungkook mais. Taehyung estava berrando com alguns policiais e apontando uma das garotas, parecia querer esganá-la e as outras modelos pareciam assustadas. Não entendi bem o que estava acontecendo até chegar ao meu quarto e ver o rosto de Helena inchado e manchado em vermelho e roxo. A loira chorava enquanto Agnes tentava acalmá-la, mas ela parou por um instante e pareceu surpresa ao me ver.

— Diana... Obrigada... — disse vindo com certo esforço até mim. Seu corpo inteiro estava machucado e ela mancava quase desabando. — Obrigada... — Sussurrou quase pendendo ao chão, a segurei com a ajuda de Agnes para evitar que caísse. — Obrigada... Obrigada... — Repetia entre os soluços desesperados.

— O que houve? — perguntei assustada com o estado de Helena, o sangue seco em parte de suas mechas longas era seu e os cortes e hematomas cobriam o corpo quase inteiro. — Helena, se senta um pouco, por favor — pedi trazendo-a de volta para a cama, ela estava fraca e não parava de chorar, repetindo incessantemente "— Obrigada..." enquanto mantinha as mãos apertadas e trêmulas em meu corpo.

— Ela chegou assim aqui e disse que você salvou ela. — Agnes disse parecendo tão confusa quanto eu. — Eu não sei o que fazer... Me ajuda a limpar ela antes da ambulância chegar pelo menos... — pediu seguindo para o banheiro após eu assentir.

Agnes colocou a banheira para encher com água morna enquanto Helena, que já havia passado um pouco do estado de choque, já havia soltado minhas roupas e conseguiu se acalmar. Ajudamos Helena e entrar na banheira e a cor vermelha começou a tingir a água rapidamente quando o sangue pisado que coagulou e secou em sua pele começou a dissolver.

Agnes iria descer para falar com Taehyung e pediu que eu ficasse com Helena. A loira, mesmo que não estivesse mais dizendo coisas sem sentido ou tremendo e chorando, ainda parecia perdida em si, olhando fixamente o nada. Os lábios cortados e rachados comprimindo e entreabrindo aleatoriamente em pensamentos dispersos.

— Ele disse que teria piedade de mim apenas por eu ser sua amiga — disse repentinamente enquanto eu lavava com cuidado seus cabelos. Haviam alguns cortes em seu couro cabeludo, não pareciam profundos e nem tão extensos, mas ainda era preocupante. Ela precisava de um hospital, não entendia a demora da ambulância.

— Como assim? — perguntei ainda pensando que ela estivesse alucinando ou dizendo coisas sem nexo.

— O garoto num manto preto... Ele me disse que você foi meu anjo da guarda hoje — diz com um sorriso leve nos lábios feridos. — Você me salvou... Obrigada... — Virou-se com esforço para me abraçar novamente, seus braços úmidos envolveram desajeitadamente meu pescoço e ela apoiou seu queixo em meu ombro. — Eu não queria morrer... Obrigada... — sussurrou com a voz embargada novamente.

Não precisei perguntar do que ela falava, apenas suspirei fundo acariciando com cuidado os cabelos molhados da loira que me molhava em suas lágrimas. Agnes retornou parecendo irritada para o quarto, mas sua irritação se tornou preocupação ao ver que Helena estava novamente chorando.

Peguei o celular e desci para fazer uma ligação para Jimin e Taehyung ainda falava irritado com os policiais, aquilo não poderia ir para a imprensa ou traria mídia negativa para a agência e, pelo visto, o culpado daquilo era alguém da empresa ou até uma das modelos. Seja lá quem fosse, apenas pedi a Namjoon que fosse justo, e fizesse que essa pessoa se arrependesse.

Saí de perto do alvoroço para conseguir ligar e ouvir Jimin, andando até o lado do prédio e olhando o dia começar a virar noite, talvez Jimin já tivesse saído do trabalho. Tentei chamar duas vezes, porém ele não atendeu, iria tentar outra, mas parei ao notar os pássaros congelados ao ar e o som da discussão não ser mais audível. As nuvens que corriam nos céus agora estavam paradas, como tudo à minha volta e essa sensação eu já havia provado antes.

— Yoongi? — chamei aguardando que se pronunciasse, mas ele não veio. Ouvi alguns passos vindo em minha direção, mas era apenas Jungkook. — Foi você? — Olhei confusa o moreno negar com a cabeça.

— Eu preciso te levar num lugar... — disse suspirando fundo e fitando o chão.

— Por que tudo parou? — indaguei seguindo-o até seu carro.

— Não me faça perguntas difíceis, quem entende disso é Yoongi. — Abriu a porta para mim e seguiu para o outro lado após.

— Viu o que fizeram com a Helena? — perguntei enquanto ele manobrava o carro com certo cuidado para não atropelar as pessoas paralisadas.

— Sim. Yoongi livrou ela por sua causa — disse passando parte por cima das calçadas e transitando entre os carros parados, tudo estava num silêncio ensurdecedor. Era estranho quando o tecido tempo parava de se mover, nada mais se movia.

— Quem fez aquilo? — As coisas pareciam fotografias pela janela.

— O namorado dela — disse fazendo-me suspirar fundo, já era de se imaginar.

— Entendo. — Encostei a cabeça no vidro, observando Jungkook pegar caminhos alternativos pela contramão. Não sabia onde ele estava me levando, mas não queria que demorasse, precisava voltar para cuidar de Helena e esperar Jimin no hotel.

Jungkook virou numa esquina e meu queixo caiu ao ver a colisão do que pareciam seis ou mais veículos no cruzamento de duas ruas, ele estacionou o carro e desceu, mandando-me descer após. Segui-o confusa por entre os carros amassados e fiquei surpresa ao ver Jimin encostado num carro próximo de um caminhão tombado, estava conversando com Yoongi.

Meu sorriso se formou quase instantaneamente e eu corri pulando nele sem me importar se isso me renderia uma bronca, estava com saudades. Ele me segurou forte em seus braços, mas não me girou, nem riu junto comigo, apenas deu-me um sorriso triste e uma sensação ruim me preencheu.

— Diana, eu preciso te mostrar uma coisa... — disse pegando delicadamente minha mão e abrindo a porta do carro onde estava encostado, era o seu e... Ele estava lá dentro. — É estranho, não é? — perguntou rindo fraco, olhando seu corpo físico. Fitei Yoongi no mesmo instante e ele apenas virou o rosto, fazendo um calafrio percorrer meu corpo inteiro e o ar faltar por um segundo.

— Quantas pessoas morreram? — perguntei olhando o acidente.

— Por enquanto apenas uma... —Yoongi disse olhando o caminhão de combustível, estava vazando.

— Então temos que tirar o restante daqui logo — digo olhando um carro capotado, onde uma mulher e uma criança estavam presas de cabeça para baixo nos cintos de segurança, pareciam desacordadas, assim como Jimin no banco do carro amassado. Sua cabeça parecia estar sangrando um pouco.

— Não, é errado mexer no curso das coisas, tem de ser assim e já foi decidido — disse segurando meu braço quando tentei entrar no carro de Jimin.

— Yoongi, me solta — ordenei entre dentes e respirando fundo, tentando normalizar meus batimentos. Já havia entendido o que estava acontecendo, mas eu não queria, isso não podia acontecer. — Yoongi! — gritei puxando meu pulso e o empurrando, mas Jimin pegou meus ombros encostando seu queixo em minha cabeça.

— Já acabou, não precisa ficar assim — disse em tom calmo, soltando meus ombros e me abraçando devagar. — Eu já estou morto... — sussurrou fazendo me engolir em seco e virar devagar para si. — Eu bati a cabeça na janela... Eu já morri, Diana, não adianta — diz segurando meu rosto e forçando um sorriso melancólico de lábios. — Não... Não faz isso... — pediu me apertando em seu peito ao ver meus olhos marejarem.

— Não... Você... Só 'tá desmaiado, a gente pode te levar para o hospital e eles vão te ajudar — digo começando a ficar desesperada. — Yoongi... — sussurrei fitando-o e ele manteve o olhar no chão. Jungkook também não me olhou quando me voltei para si, um nó se formou em minha garganta e eu afundei o rosto no peito de Jimin, abraçando-o forte.

— Eu não posso manter isso por muito tempo. — Yoongi disse nos fitando e eu apertei o tecido do sobretudo de Jimin. Queria rasgar o rosto de Yoongi até que ele mesmo morresse, que calasse a boca e nunca mais a abrisse.

— Luna, não é culpa dele. — Jungkook disse ao notar meu pensamento.

— Como não?! — gritei empurrando com força a Jimin por impulso, pondo o dedo quase no rosto de Yoongi. — Você não consegue ver ninguém feliz! — vociferei empurrando o peito do próprio, fazendo-o recuar um passo. — Isso é culpa sua! Você fez isso, Yoongi! — Minha voz ecoou pelo labirinto de edifícios até se perder. — Você... Fez isso... — murmuro tentando respirar decentemente, mas não estava conseguindo muito bem.

— Ah... Eu estou começando a esfriar... — Jimin disse movendo um poucos os dedos. — Acho que eu não vou poder te ver desfilar, desculpa — diz rindo fraco, como ele conseguia ser assim num momento desses?

— Isso é injusto, me leva no lugar dele — digo me voltando séria para Yoongi e ele arregalou os olhos.

— O quê? Eu não posso fazer isso! — disse parecendo surpreso.

— Diana, por favor, para — Jimin pediu suspirando fundo.

— É por minha causa? Não é justo, eu devia estar morta e não ele. Eu nem devia estar aqui — digo secando minhas lágrimas e tentando me recompor.

— Isso já estava decidido desde que ele nasceu... — Yoongi disse baixo, endireitei a postura tentando digerir o que ele disse.

— Desde que ele nasceu... — sussurrei apertando os dentes em seguida e engolindo em seco. Namjoon sabia, e ele me pôs ali para ver Jimin morrer, ele me pôs na vida de Jimin para vê-la acabar. Estava me segurando para não blasfemar e descontar minha raiva em algo superior, seria banida dos céus se o fizesse. Ri fraco pendendo a cabeça e passando as mãos pelo rosto. — Ótimo... Parabéns, o Senhor deve estar bem satisfeito agora — murmuro ciente de que Deus me ouvia.

— Diana, acho que... Eu preciso falar rápido... — disse olhando seu corpo começar a ficar pálido, tanto o já morto no carro quanto sua espiritualidade. — Olha, eu quero que você se cuide, okay? Eu não vou mais poder fazer isso — diz segurando meu rosto e se abaixando um pouco para ficar em minha altura, suas mãos estavam geladas, como as de Yoongi.

— Jimin... Eu não quero ficar sozinha... — resmunguei chorosa, sentindo-o encostar sua testa em mim. Ele estava gelado, seu toque não tinha mais o calor que eu sentia junto ao meu quando ele me abraçava.

— Você não vai ficar sozinha... Tem a Agnes... a Helena, Hoseok, eu não sei por quê caralhos o Jungkook está aqui, mas eu já parei de tentar entender esse mundo — disse estendendo a mão na direção do moreno de pé ainda próximo ao carro em que viemos. — Você não vai ficar sozinha, Diana, Jin vai cuidar  de você... Até Taehyung... — Acariciou levemente minha bochecha.

— Mas você vai embora, você prometeu, Jimin... Você não pode... — digo com a voz embargada, minha garganta estava ardendo.

— Eu não vou poder cumprir, me perdoa — disse notando algo envolver seus pés, o manto negro estava começando a se enroscar aos pés de Jimin. — Que bizarro... Me promete que vai ficar bem sem mim — pediu se voltando rapidamente para mim, olhei-o confusa. — Só promete, me diz que vai ficar bem — diz me olhando fixamente os olhos, o manto começava a se enroscar em suas pernas, subindo por seu corpo, estava o apressando.

— Mas eu não vou... — Ele suspirou fundo.

— Você tem que aprender a mentir, Diana... — resmungou sorrindo largo, mesmo que seus olhos estivessem marejados. — Merda... Eu não queria chorar... — reclamou abaixando o rosto um pouco. — Hey... — chamou comprimindo levemente os lábios e se voltando para mim. — Me dá um beijo antes de eu ir — pediu endireitando sua postura e soltando meu rosto.

— Jimin... — sussurrei olhando o manto começar a cobrir seu peito devagar, seu corpo estava quase todo escuro na densificação do que antes o mantinha vivo, agora o arrastava para desaparecer. Agora o arrancava de mim.

— O que a quinta regra diz? — perguntou franzindo levemente o cenho, suspirei sorrindo minimamente, segurando em seus ombros para levantar um pouco e tomar seus lábios nos meus. Num beijo suave e gelado, o último que eu sentiria seu.

E quando eu abri meus olhos ele já não estava mais lá, abaixei o rosto engolindo em seco. Não olhei seu corpo gelado no carro amassado da colisão que o atingiu em cheio de lado, não queria que minha última lembrança de Jimin fosse dele pálido e morto, mesmo que essa fosse a única que me viria a cabeça daqui em diante. Morto, Jimin estava morto. Eu não o veria mais.

Quando minha cabeça aceitou o que aconteceu tudo pareceu pesar ao ponto de ameaçar desabar. Eu não o veria mais.

E isso doeu tanto, mas não havia o que pudesse fazer, não havia, simplesmente não havia.

O carro capotado ao lado com a frente amassada onde uma mãe e uma filha logo morreriam estava próximo do carro de Jimin, o caminhão de combustível vazando explodiria poucos minutos depois do tempo voltar a se mover feito ondas sobre a superfície terrestre. Quando a gasolina se esgueirasse o suficiente para chegar em alguma fonte de calor que o permitisse incendiar o local numa explosão estaria feito, Yoongi fazia muito bem seu trabalho, destruir vidas, ele me pareceu ótimo nisso naquele instante.

Lúcifer sorriu abobado quando Yoongi andou até ele para entregar a alma de Jimin, mas Hoseok segurou o peito do moreno dizendo que aquela ele mesmo levaria. Cerrei os punhos ao ouvir a voz de Hoseok, mas não me pronunciei, eu o devia respeito, mesmo que estivesse ao ponto de acabar sendo banida do Templo por tudo o que estava pensando.

Yoongi tentou afagar meus cabelos, mas eu não permiti, dando-o um tapa na mão que dirigia para minha cabeça. Eu não queria mais que ele me tocasse, não queria mais ver seu rosto e nem ouvir sua voz, eu queria me perder num vazio qualquer até aquela sensação estranha em meu peito passar. Queria apenas voltar ao segundo em que aceitei tudo aquilo e simplesmente me calar.

Mas não havia como. Já foi.

Já era, e agora eu estou aqui.

E Jimin já não está.

Hoseok abaixou o rosto quando passei por si ao seguir até Jungkook, o moreno abriu a porta do carro para mim e fitou com desgosto Hoseok antes de entrar no carro e voltar comigo para onde eu deveria estar quando Yoongi devolvesse ao tempo seu movimento. Parei no mesmo lugar onde havia ido para ligar para Jimin, olhando os pássaros ainda parados no mesmo lugar, esperando alguém que não iria chegar, nem hoje à noite, nem amanhã de manhã.

Não mais.

Nunca mais.

Jungkook não saiu do meu lado, apenas encostou na parede próximo a mim e passou um braço por cima de meu ombro, apertando-me levemente, sem dizer nada, fitando o céu nublado junto comigo. Era a forma dele de tentar me fazer sentir melhor, mesmo que ele não fosse muito o ser certo ou possuísse a maneira certa para isso.

Os pássaros voltaram a voar, as luzes azuis e vermelhas da viatura voltaram a girar e Taehyung a discutir com os oficiais, as nuvens escuras tomavam o céu que já estava noturno, e a neve fina finalmente caiu. Pequena, leve e delicada como Hoseok havia dito.

Gelada e branca como a pele de Yoongi.

Fria e pálida como a pele de Jimin.

Yoongi tinha razão, a vida era triste, a morte era triste.

Tudo é triste.


Notas Finais


Eu super recomendo essas músicas para esse momento-q
https://www.youtube.com/watch?v=w3ee2JqASuQ&list=PLy61h2MoDLc5_sw8ediQnfKJagZf1HkWL

Obrigada por ler até aqui.


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