História Destinos Entrelaçados - JIKOOK - Capitolo XIII

O som agudo e suave do talher batendo contra a mesa de vidro soava baixinho. Jungkook encarava o vão do restaurante em um estado abstrato, uma seriedade serena em seu rosto enquanto pensamentos giravam em sua cabeça, sem sequer se importar com o som do estabelecimento lotado. 

Havia tanto a ser feito que sua mente parecia um tanto desligada, porém havia algo que estava martelando sua cabeça desde que deitou-a no travesseiro durante a madrugada após uma conversa com seu amigo, Park Jimin.

Ele era alguém que se importava bastante com seus amigos no geral, sempre se perguntando se eles estavam bem ou se havia algo de errado, e, bem, se ele pudesse ajudá-los era melhor ainda. Talvez tenha sido algo que se desenvolveu quando ele não conseguiu fazer nada para ajudar Chaemin, quando apenas conseguiu seguir os mais velhos por lugares e mais lugares para tentar encontrá-lo, quando não conseguiu agir rápido o suficiente ao ouvir Chaemin gritando antes de desaparecer. 

Jimin, na noite passada, parecia estar mal. E não era para menos, seu ex-namorado realmente o magoou de verdade. Contudo, havia dúvidas na cabeça de Jungkook que não o deixavam em paz.

Ele ficou se perguntando porque eles dois não se resolviam sendo que claramente ainda sentiam algo um pelo outro; Jimin mencionou que seu ex havia ficado enciumado ao ouvi-lo mencionar um amigo alfa, então ele ainda gostava de Jimin também.

Poderia ser ignorância sua, afinal ele nunca teve esse tipo de problema antes, mas na sua visão, parecia ser fácil resolver essa questão; o ex-namorado de Jimin admitia que estava errado, ambos pediam desculpas pela briga desnecessária e voltavam a ser namorados, ou noivos como Jimin estava planejando.

Mas, na realidade, aparentava ser algo realmente difícil de consertar, o que deixou Jungkook confuso.

Um pouco resignado, ele levou sua taça de vinho aos lábios antes de pegar seu garfo no prato. O silêncio na mesa, embora um pouco incomum, estava deixando sua mente turbulenta, girando em torno de assuntos que pareciam não ter fim.

Em poucos instantes os dilemas da empresa vieram à mente e não só isso, a ceia de natal daquela noite. Ele suspirava enquanto pensava em terminar seu almoço e voltar para casa, ou ter que dar meia volta e ir para a empresa pegar os últimos currículos que precisavam de análise. 

Talvez ele pudesse…

— Amore mio, o que há contigo?

Despertando, Jungkook olhou para sua noiva que o fitava com preocupação em seus olhos claros, fazendo o alfa suspirar de insatisfação. Ele disse, — Me desculpe, dolcezza, eu acho que estou um pouco sobrecarregado.

Roseanne franziu a testa e largou o garfo em cima de seu prato, — Você poderia dar um tempo.

O alfa soltou uma baixa risada, — Eu não vou conseguir, pelo menos não durante esses dias. Sei que Magnólia e a sua mãe conseguem lidar com as preparações, mas ainda é função minha abdicar da situação. Além de que também sou necessário na empresa e…

— Talvez você devesse parar por um momento.

O alfa bufou, — Como se isso fosse possível. Minha secretária se aposentou, agora preciso encontrar uma nova pessoa para assumir o cargo, mas também preciso me preocupar com a ceia, com o desfile e com o…

A mais nova sorriu, — Você está se colocando em mais coisas do que consegue resolver, amore mio. Vá com calma, Roma não foi construída em um dia*.

Escutando as palavras, Jungkook riu antes de direcionar um sorriso para sua futura esposa. Ele disse, — Você tem razão, Chae, mas é que são tantas coisas que estou ficando louco. Estamos em época de contratação de novos funcionários, há muitos currículos para ver. E mesmo que seja véspera de natal, preciso manter as coisas na linha, e mais, Taehyung e Jimin chegam em poucos dias. 

Ao ouvi-lo mencionar os dois ômegas, Roseanne sorriu com animação, — Mal posso esperar para conhecê-los! Uma pena que não estarei aqui quando eles chegarem, mas prometo voltar rápido para Milão.

Jungkook comentou, sem ânimo, — Eu queria passar o réveillon com você.

Deixando um beijo na aliança de noivado no dedo de seu futuro marido, Roseanne disse, — Passamos todos os réveillons juntos, você não vai evaporar se ficar um único Ano Novo sem mim.

O alfa revirou os olhos, — Você é tão insensível.

Roseanne riu. Ela disse, — Não me olhe assim, além do mais, você vai estar com sua família e o Tae e o Jimin na virada de ano. Tenho certeza de que irão se divertir.

Jungkook sorriu para ela com carinho, — Tem razão, mia cara*. Espero que você se divirta também com seus avós em Florença.  

— Eu vou, mas agora é melhor terminarmos nosso almoço antes que esfrie. Eu detesto comida fria. — ela retrucou, fazendo Jungkook rir. 

Ao terminarem a refeição, Jungkook e Roseanne saíram do restaurante e seguiram em direção a casa de Jungkook para dar uma olhada nos preparativos da ceia natalina. Jungkook entrelaçou seus dedos com os de sua noiva, que sorriu para ele, e caminharam sem pressa pelas calçadas da rua Corso Buenos Aires.

O alfa gostava de se lembrar de como era sua vida anos atrás, antes de todas as responsabilidades que tinha caíssem em seu colo. Ele gostava de caminhar com Roseanne pelas calçadas ou parques no fim da tarde e dar uma volta com seus amigos, isso fazia parte de sua rotina, mas ultimamente as coisas não têm sido assim.

Talvez ele só precise organizar melhor seu tempo. Seus pais eram tão ocupados quanto ele e conseguiam administrar suas responsabilidades facilmente, então ele também poderia fazer o mesmo. Contudo, isso não será possível se ele não tiver um novo secretário para organizar sua agenda. 

Suspirando, ele levou seu tempo para admirar a neve branca que caía do céu, os carros passando de um lado para o outro enquanto pessoas caminhavam acompanhadas ou sozinhas. Algumas carregavam diversas sacolas em suas mãos enquanto outras apenas portavam seus celulares ou bolsas, cada uma seguindo adiante com seu caminho. 

— Está tão distraído, caro*. 

Jungkook olhou para sua noiva e sorriu pequeno, como se tentasse aplacar o tom ameno da voz da ômega. Roseanne disse, — Vamos, se anime. Em poucas horas será natal.

O alfa riu em voz baixa e disse, — Novamente, você tem razão. 

Apressando o passo, eles finalmente pararam em frente aos grandes portões que protegiam a casa de Jungkook. Geralmente aqueles portões eram abertos somente quando entravam na propriedade com o carro, mas como eles já estavam ali, não iriam dar a volta para entrar pelo portão menor do outro lado do muro que circulava a mansão. 

Entrando na propriedade, ambos os noivos avançaram até a entrada, vendo alguns empregados colocando guirlandas e luzes de natal para decorar e Jungkook só conseguiu pensar que havia dedo de sua sogra nisso.

E ele estava certo.

Ao entrar na casa, os olhos deles brilharam. Roseanne estava encantada com as decorações de natal, vendo dois empregados a organizar a mesa da ceia com velas, laços, estrelas, louças decoradas, pinhas, papel toalha nas cores vermelha e verde e duas pequenas árvores de natal na grande mesa no centro da sala de jantar, e Jungkook aprovou tudo com um sorriso em seu rosto.

— Ficou bom?

Os dois olharam em direção aos degraus que levavam para o segundo andar e viram Milena sorrindo para eles enquanto se aproximava, carregando um vaso com flores em suas mãos. 

Jungkook sorriu, — Está tudo incrível, muito obrigado pela ajuda. 

Milena sorriu com as palavras do genro, — Ah, meu bem, como eu poderia recusar? Não precisa agradecer a sua sogra aqui, fiz com todo o carinho do mundo.

Roseanne avançou e prendeu a mãe em um abraço. Ao se afastar, ela pergunta, — Zia Leah não veio? 

A mais velha negou com a cabeça, — Ela disse que não queria interromper ou atrapalhar, embora eu tenha dito que era bobagem. 

Leah, em todos esses anos desde que Chaemin desapareceu, raramente comparecia a algum evento em família, preferindo ficar isolada em sua casa. Às vezes, ela aparecia quando seu marido e Milena a convenciam a vir, porém ela gostava mais de ficar em sua própria companhia ou no ateliê de seu pequeno filho. 

Saber que talvez ela não viesse a aparecer naquele natal também, o último em que Jungkook e Roseanne ainda estariam em Milão, fez o brilho nos olhos de Roseanne sumir de uma hora para outra, desejando ter toda sua família reunida embora seu irmão mais novo não estivesse ali. 

Vendo o clima ruim e a expressão entristecida de sua preciosa filhinha, Milena sentiu uma decepção dentro de si, porém rapidamente se prontificou a mudar a situação sem pensar duas vezes. 

Ela puxou os mais novos até que estivessem diante de uma parede na sala de jantar, ficando em frente a mesa decorada. Ali, havia um grande quadro coberto por um lençol branco que ocultava seu conteúdo, deixando Jungkook e Roseanne curiosos sobre o que a mais velha planejava. 

Milena disse, empolgada, — Sei que ainda não é hora para isso, mas eu não estou conseguindo me segurar e esperar até o momento da troca. Esse é o meu presente para vocês.

Estalando os dedos, a ômega mais velha chamou um empregado para tirar o lençol que cobria o quadro. O tecido caiu e revelou uma foto belíssima de Jungkook e Roseanne juntos em uma moldura de ouro. 

Essa foto foi tirada naquele mesmo ano, no último aniversário de noivado oficial deles. Roseanne estava vestida com um belíssimo vestido branco caído nos ombros e bainha estilo sereia com jóias douradas, enquanto Jungkook usava um terno branco, combinando com sua noiva na qual tinha a cintura presa em suas mãos. 

Roseanne sorriu largamente com a beleza da foto, os olhos brilhando de encantamento enquanto seu noivo olhava para o quadro ao mesmo tempo que contente, um pouco melancólico. 

Milena falou, — Quando tirei essa foto de vocês naquela festa, não consegui deixá-la guardada. E bem, esse é o último ano de vocês como noivos, então eu decidi transformá-la em um quadro e presenteá-los nessa noite tão especial!

O alfa continuou olhando para a foto antes de se virar para sua sogra, — Onde a senhora colocou o quadro que estava aí antes?

Roseanne olhou para ele, insegura, no entanto também direcionou seu olhar para sua mãe. A mais velha sorriu com gentileza e disse, — Mandei levar para o sótão, eu nunca teria coragem de jogar qualquer coisa dele fora. 

Jungkook sorriu, aliviado, dizendo, — Obrigado, zia.

A ômega mais velha sorriu, — Você não precisa me agradecer, meu bem. 

Vendo que a situação já havia retornado a calmaria de antes, Roseanne agarrou o braço de seu noivo e disse, — A foto ficou tão linda, não ficou, amore mio?

O alfa sorriu para ela, — Sim, ficou incrível. Ainda mais nesse lugar, combinou muito com ela. 

Roseanne fitou sua mãe, — Muito obrigada, mamãe.

Milena sorriu alegre e deixou um beijo maternal na bochecha de cada um dos dois, antes de se virar para continuar ajudando na decoração. Como não havia o que fazer também, os dois se juntaram à mais velha para decorar o resto da casa, em especial a sala de estar onde estava a árvore de natal principal e onde trocariam os presentes com a família e amigos. 

Às sete, todos os preparativos estavam prontos e Jungkook dispensou os empregados para que eles também pudessem ir para casa comemorar com suas famílias. Magnólia também foi, afinal tinha dois filhos em casa que estavam com uma babá, mas deu um abraço em cada um deles, desejando um feliz natal, antes de ir embora. 

Alguns minutos depois, a campainha foi tocada, o que fez Milena e seu segurança se aproximarem do portão. Do lado de fora estava Kangjoon acompanhado de Leah, fazendo um sorriso surgir nos lábios de Milena, abrindo os portões rapidamente para que eles entrassem na propriedade.

A ômega cumprimentou-os, beijando as bochechas de Leah e deixando um selo gentil nos lábios de seu marido. Acompanhando-os até a entrada da mansão, Milena indagou, — O que os trazem aqui, tão cedo? A ceia ainda não começou.

Kangjoon respondeu, — Viemos buscá-la, amore mio. 

Roseanne, que conversava com Jungkook enquanto comiam alguns biscoitos de gengibre, saltou de seu lugar no sofá assim que ouviu a voz de seu pai. Ela correu em direção ao alfa e o envolveu em um abraço, rindo de alegria quando foi retribuída.

Ele disse, rindo, — Por que tanta agitação, principessa? 

A ômega fez um beicinho, — Fiquei com medo do senhor não aparecer, assim como no ano passado.

Era verdade. 

No ano passado, Leah havia entrado em uma depressão horrenda que a deixou profundamente mal, isolada de tudo e qualquer coisa. Foi muito difícil ajudá-la a superar, mas graças a Kangjoon, que passou um longo tempo ao lado dela, aquela dor tenebrosa passara, embora ainda estivesse presente, mesmo que em menor quantidade. 

A ômega não saía de casa, nem mesmo nas datas comemorativas, e no natal, ela ficou trancada em seu quarto. Seu marido, sentindo dor em seu peito, decidiu ficar com a esposa em sua mansão. Milena ficou triste com a decisão, mas apoiou seu marido e compareceu a festa de natal que foi na casa dos avós de Jungkook, no Vaticano.

Ouvindo as palavras da ômega mais nova, Leah se pronunciou, — Oh, nocciolina, eu peço perdão por isso. Esse ano será diferente. 

Com um sorriso, Roseanne se aproximou da mais velha e a abraçou, sussurrando, — Apenas se estiver bem, zia, não quero que se sinta obrigada. 

Leah riu em voz baixa e deixou um beijo gentil na testa de Roseanne que sorriu docemente. 

Jungkook convidou os recém-chegados para tomar um chá com biscoitos, coisa que ambos aceitaram na mesma hora, não vendo problema em permanecer na casa por mais alguns instantes antes de partirem para se arrumar. Eles estavam passando pela sala de jantar quando Leah paralisou no lugar, embora os demais não tenham notado de imediato.

Seus olhos azuis se arregalaram em choque e certo pesar enquanto observava o quadro pendurado diante da mesa na sala de jantar, onde todos estariam presentes para a ceia de natal e veriam aquela foto com clareza. 

Não havia nada de errado com ela, pelo contrário, a foto era belíssima, porém o sentimento que ela trouxe, o lugar onde ela estava, cavou um buraco fundo no coração da ômega. 

Ela já havia visitado a casa de Jungkook várias vezes durante os últimos anos, não tanto quanto Milena, mas gostava de passar um tempo com o jovem que poderia ter sido seu genro e com Roseanne. A ômega lembrava bem qual era a foto que estava ali antes e ver que outra tomou conta de seu lugar deixou seu interior em caos.

É claro que, tendo em vista que não havia esperança em encontrá-lo, Jungkook teria que seguir em frente, mas ainda era tão doloroso para ela aceitar que seu precioso filho não fazia mais parte do futuro de sua própria alma gêmea. 

A foto que existia ali anteriormente era uma onde estavam Jungkook e Chaemin, no mesmo dia em que os pais de ambos haviam dito que eles eram almas gêmeas, embora não houvesse muito o que duas crianças de cinco anos pudessem entender.

Mas eles se amavam, era claro em seus olhos e em suas ações, e ao saberem que estariam juntos para sempre, aquele amor puro e inocente que sentiam um pelo outro cresceu mais. 

Ao ver que a foto de Jungkook e Chaemin foi substituída por uma foto de Jungkook com Roseanne, seu coração pesou em seu peito, mas não havia muito o que ela pudesse fazer, embora doesse em si mesma pensar no assunto. 

Saber que a pessoa a quem seu filho tanto amava não o tinha mais em seu próprio futuro, sua própria vida, a deixava devastada. 

Entretanto, era escolha dele, afinal, além de que Leah não desejava que Jungkook continuasse a sofrer pela perda de Chaemin. Ele também merecia ser feliz. 

— Meu bem, o que está fazendo aqui? Nosso marido e as crianças estão perguntando de você.

Leah olhou para trás, vendo Milena se aproximando com um sorriso carinhoso em seu rosto. A ômega mais nova disse, — Me desculpe, apenas me distrai.

Milena se colocou ao lado da outra ômega, olhando para o quadro que ela encarava anteriormente. Na verdade ela já estava ali há algum tempo, vendo Leah paralisada em frente ao foto, o que despertou sua ômega interior diante do sofrimento da outra mulher. 

Ela não demonstrou nada, apenas colocou seu braço ao redor dos ombros da mais nova e começou a afastá-la da sala de jantar. Milena, — Vamos, estão esperando por nós. 

Suspirando, Leah tentou sorrir para a outra e assentiu com a cabeça, acompanhando-a até a sala de estar.