1. Spirit Fanfics >
  2. Lust (EM PAUSA) >
  3. Track 03

História Lust (EM PAUSA) - Track 03


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Perdão pela GIGANTESCA demora. Espero que gostem. Boa leitura. MWAH!

● Capítulo sem uma revisão mais profunda, perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 4 - Track 03


Fanfic / Fanfiction Lust (EM PAUSA) - Track 03

J U S T I N

 Crazy Train — Ozzy Osbourne

Sentia-me cansado, quase esgotado. Odiava dias da semana, simplesmente por não ter tempo para colocar o meu traseiro em um sofá e relaxar. Passei todo o dia trancado em uma sala com os caras, ouvindo o monólogo incessante de Daniel sobre a nossa turnê mundial. Eu parei de ouvi-lo depois que nos disse bom dia. Ele era o nosso agente, cuidaria dos problemas e nos encontraria soluções, isso era tudo. Nós tínhamos apenas que compor mais algumas músicas que façam sucesso, fazer a plateia gritar por nossos nomes, e deixar a nossa marca por todos os palcos pelos quais passarmos.

Isso era moleza. Fazíamos isso em todos os shows.

Não voltei para casa, e não atendi a ligações do meu irmão. Sabia o que iria me perguntar e não estava a fim de ser a babá particular da sua cunhada. Dei a ela um teto, uma cama confortável e liberdade para fazer o que quiser desde que não invada ou interfira em minha privacidade. É tudo o que ela terá de mim. Não irei tentar ser educado novamente, pois a gatinha tinha garras afiadas, e mesmo que eu goste de ter algumas marcas em minhas costas, não acho que seria desse modo com ela.

— Esse não é o nosso tipo de música. — balbucio após ouvir a letra da música composta por Finley, irmão mais novo de Daniel. — Descarte isso.

— O garoto leva jeito, J. — Max interfere, tendo a mão apoiada debaixo de seu queixo. — Se mudarmos a melodia...

— Não somos a versão atual de Tool, cara. — desdenho e raspo meu polegar pela pedra do isqueiro, acendendo a ponta do filtro do cigarro que prendia entre meus lábios.

— Tenho que concordar com Justin. — Jasper intervém, soltando seu corpo no sofá ao lado de Evan. — Temos nossa própria essência e isso não é o que tocamos.

Puxo a fumaça e solto-a, em seguida. Lanço o isqueiro em cima da mesa, e apanho minha garrafa de cerveja. Estávamos a algum tempo debatendo sobre as canções que colocaríamos em nossa lista de apresentações da turnê, e precisávamos de algo novo. Jasper costumava ser o responsável por nossas letras mais melódicas, o ajudávamos também, mas não tínhamos toda a sua sensibilidade natural. Era algo dele; ter facilidade com as palavras, sendo o mais quieto e centrado de todos nós.

Blake reinventava as canções com sua melodia feroz. Bastava ouvir a letra uma única vez, e ele sabia o que fazer. Max e Evan o acompanhavam, e tudo parecia fluir mais rápido que se fizéssemos tudo individualmente. Eu, por outro lado, apenas cantava e aprovava o que íamos levar adiante ou não. Se não fosse por minha voz, não teríamos a banda, mas sem os caras, não conseguiria fazer nada além de soar como um músico a capela. Por isso éramos melhores juntos. Fazíamos o que tínhamos que fazer e nos conectávamos com o público que amavam nossas canções de amor, as de liberdade, as que tratavam de amizade. Eles apenas nos amavam, e nós os amávamos também. Porque foram eles que nos deram a chance de sermos, verdadeiramente, livres.

— Onde está a dona do meu coração ferido? — Evan alcança alguns petiscos na tigela a sua frente e os coloca em sua boca enquanto mastiga e sorri de canto, olhando para mim. — Ela é, de longe, a única coisa boa que já passou por sua maldita casa. Sem me esquecer, é claro, que Amélia também é um anjo.

— A garota deve desprezá-lo depois de ter aberto sua boca. — Blake torce os lábios.

— Este é um dom natural do nosso amigo. — murmurando em tom zombeteiro, Jasper bagunça o seu cabelo. — Mas, ela está em casa, Justin?

— Não sei. — sopro a fumaça para cima, deitando a cabeça no encosto do sofá. — Porque querem saber disso? Ela tem dado mole para algum de vocês?

— Infelizmente, não. — Max beberica sua cerveja. — Ela é pequena, mas parece um furacão. Eu juro que não me importaria de...

— Cale a boca! — Jasper o repreende, olhando para o topo da escada e, seguindo seu olhar, tenho a sua mesma visão. — Você pode ser um músico de sucesso, mas, cara, esse tipo de coisa não funciona com garotas como Rhea.

— E como sabe disso? — ergo a sobrancelha esquerda, realmente interessado em sua resposta. — Conheceu a garota a, o que, menos de vinte e quatro horas?

— Não precisa ser um gênio ou conhecê-la há anos para saber que não é uma groupie. — dá de ombros e desvia sua atenção para o cigarro de maconha que Blake o oferece. — Ela nem mesmo parece se importar com quem somos.

— Estou completamente disposto em mostrar a ela quem eu sou. — Max, como de costume, usa um tom que, em sua mente soa sedutoramente, mas para todo o resto, era apenas uma entre tantas falas estúpidas que ele soltava sem filtrá-las.

— Eu desisto. — Jasper solta a fumaça para cima e, empurrando o cigarro para Evan, levanta-se e caminha até a porta.

Assim que a abre, conseguimos ouvir a música alta que soa do lado de fora do bar. Eight Sin era, de longe, o lugar que mais frequentávamos em nossos dias descompromissados. Não ganhávamos muito, pois era mais por amizade que um contrato de apresentações frequentes. Gostávamos de cantar e não nos importávamos em dar um pouco de música para as pessoas que iam, particularmente para nos assistir. Éramos a atração preferida de muitas garotas que, mesmo acompanhadas por seus namorados ou encontros, não perdiam a oportunidade de escolherem mesas próximas ao palco para ter uma melhor visão de nós. Sabíamos suas intenções e, os caras que as acompanhavam sabiam também.

Após tragar um cigarro que terminou comigo, lanço-o no cinzeiro e encaminho-me para o lado de fora do escritório de Morales. O homem de pouco mais de sessenta anos era uma figura e cuidava de cada um de nós como se fôssemos parte de sua família. Eu teria escolhido o antigo roqueiro, facilmente, como meu avô. Amava ouvir as histórias de sua adolescência alucinante e como conheceu a mulher da sua vida. Era algo bonito, intenso e trágico. Algo que me inspirou em criar uma canção que ainda não tinha um nome. Nunca havia cantado-a em um show ou gravado a versão estúdio, porque nunca soube como terminá-la. Era sobre as dores de um coração partido. O velho e sábio homem sabia como era ter o seu em pedaços, mas eu não. Porque ninguém, jamais, chegou tão fundo. E, não fui tolo o bastante para deixar uma mulher cruzar a linha.

Minha sanidade valia mais que toda essa merda.

Dobrando para o lado do balcão do bar, aceno para algumas garotas que, sem nenhuma discrição, fazem uma rasa análise das minhas vestimentas, tatuagens e aparência. Um sorriso de canto e um aceno de cabeça era o suficiente para aguardar pelas estratégias de flertes que usariam dentro alguns minutos. Conhecia todas elas, no entanto.

Números de telefone anotados com batom vermelho em guardanapos. Aproximações sorrateiras, decotes ousados e perguntas batidas para atrair meu olhar para os seios que poderiam saltar em meu rosto. Frases como ‘eu te conheço de algum lugar’, ou ‘seu rosto não me é estranho’, mesmo elas sabendo exatamente quem eu era. Convites subliminares para os fundos do bar, banheiro ou ida ao meu carro.

Nada mais me surpreendia, e isso, às vezes, era chato.

Nunca lidei com as fases desastrosas da adolescência. Pelo contrário, a popularidade, simplesmente, caiu em minha mesa, logo no meu primeiro dia de aula em um colégio novo, com pessoas categóricas que, jamais me convidariam para sentar do melhor lado do refeitório se usasse roupas fora da moda, óculos de armação escura e lentes grossas, ou tivesse um monte de espinhas no rosto. Eu era comum. Mas, para eles, era perfeito para me tornar um astro do futebol, o mais cobiçado do colégio e logo o rei do baile de inverno. Tudo isso aconteceu, por isso, deletei todos os contatos do meu aparelho celular quando me formei e, decidi que iria lutar por mais.

Por isso era chato ter tudo com tamanha facilidade. Não existia mais a conquista por um olhar, um sorriso, um beijo ou um namoro. Se eu quisesse todas essas coisas, bastava estalar os dedos e, mulheres deslumbrantes diriam que me amavam depois da primeira transa ou amasso. Isso era fodidamente chato.

Eu ainda queria mais. Contudo, acostumei-me com os meios fáceis de conseguir sexo passageiro. Talvez fosse porque não iria a lugar algum, pois não estava procurando por sentimento.

Ergo o indicador direito para Roxanne que, em seu porte despojado e agitado, se aproxima, retirando um pirulito de sua boca.

— O de sempre? — pergunta e eu assinto. — Aguarde um pouco, pois meu cliente preferido está chamando. — rola os olhos e olha para Evan que se inclinava no balcão.

Rox e Evan tinham uma história inacabada, e isso era o inferno de tão irritante. Eles se conheceram quando ainda estávamos no começo da nossa carreira profissional e, a garota colorida fascinou os olhos pidões do meu amigo que não pensou duas vezes antes de enfiar sua língua desesperada e quase virgem na boca experiente dela. Não tardou para que assumissem o sexo casual e, logo, mergulharam fundo em uma amizade muito pigmentada por cores. Nossos primeiros shows em cidades diferentes e lugares grandiosos aconteceram e, experimentamos uma dose da fama. Nos tornamos viciados nisso. Ev passou por merdas pesadas em sua adolescência e se privou de várias coisas normais para ser responsável, então, quando teve a chance de desfrutar do sucesso, escolheu segui-lo ao invés de consolidar algo com Rox. O tempo passou e, mesmo que entre eles tudo tenha mudado, era como se o sentimento que soterraram por orgulho e sonhos que gritaram mais alto, ainda estivesse ali, lutando para renascer.

Era cafona pensar assim, mas eles tinham conexão. Eles tinham algo que eu nunca tive com alguém. E, pensando bem, graças a Lennon, porra!

Seus olhares se encontram e faíscam, e, dando de ombros com indiferença, ela se vira para buscar a bebida do roqueiro que suspira e coça sua nuca.

Balançando a cabeça, olho ao redor. Meus olhos serpenteiam pelas pessoas que bebiam, conversavam, flertavam e dançavam. Cada uma delas com algo que chamava minha atenção, mas não tanto quanto um corpo pequeno que estava de costas, a alguns passos de distância. Seu cabelo escuro estava preso em um rabo firme no alto de sua cabeça. Seu corpo, inclinado sobre a mesa que limpava, possuía curvas generosas e, ficavam ainda mais evidentes e graciosas pela calça justa que usava.

Intriga-me olhá-la e sentir que a conhecia, de alguma maneira, mas também por não me lembrar de alguém tão pequena como ela estar entre os contratados de Morales. Tinha certeza de que, se ela não era uma visitante do bar que apenas limpava a mesa, se tratava de uma novata. Entretanto, meus dedos coçam para fazê-la se virar depressa, mas também, queria que se mantivesse de costas, porque o seu quadril movia-se lentamente conforme fazia força ao arrastar o pano sobre a mesa.

Meu corpo aquece com a simples visão, como se não tivesse sexo há dias.

Seu rosto ergue-se para cima e, ela parece sorrir ao sentir a fumaça e luzes coloridas caírem sobre ela e, é nesse instante que tenho a chance de analisar o seu rosto. Meus olhos estreitam e, mentalmente, luto contra uma ponta óbvia de razão que me faz compreender porque senti atração por ela e acreditar que a conhecia. Era porque se tratava da morena que estava vivendo sob meu teto.

Como se pudesse sentir algo fulminando sua pele, seu olhar inquiridor encontra o meu.

Pessoas caminham entre todo o espaço que nos separavam, mas isso não quebra a nossa conexão. Estávamos conectados por algo que, não sabia como descrever.

Estaria mentindo se dissesse que ela não me atraiu desde a primeira vez que coloquei meus olhos em seu maldito e esculpido corpo. Em seu rosto de traços fortes e bem desenhado. Ou que não derrapei na cobiça por seus lábios rosados, carnudos e convidativos. Estaria mentindo como um cretino que não me senti excitado como um adolescente virgem ao vê-la de toalha. E que não foi difícil dormir sabendo que ela estava no quarto próximo ao meu.

Ela quebra nossa troca de olhares e parece se desculpar com um casal que se aproxima da mesa e, logo quando ela desce o único degrau, sentam-se nas cadeiras e acomodam-se. Acompanho seus passos, e me questiono sobre a razão de ela estar no bar, limpando aquela mesa e passando para a parte de dentro do balcão. Rox encontra-a no caminho e lhe entrega um copo com bebida que, ao apontar para mim, flagro o exato instante em que engole em seco e sua expressão muda entre frustrada e muito irada.

Apoio os cotovelos no balcão e inclino a cabeça para assisti-la caminhar até mim. Ela se mantém longe ao arrastar o copo pela madeira, mesmo que houvesse uma grande barreira entre nós.

— O que faz aqui?

— Minha vida pessoal não lhe diz respeito. — tudo bem, eu havia merecido essa.

— Não, mas, estou curioso.

— Espero que não se engasgue com essa curiosidade. — essa também. Mas, não sabia por que suas garras estavam mais afiadas que na noite em que nos conhecemos.

Solto uma risada fraca e anuo, fracamente.

— Certo, gatinha. — torço os lábios e apanho meu copo.

— Isso é tudo? — ergue seu nariz pequeno. — Porque tenho mais o que fazer.

Sem me dar tempo de resposta, vira-se e desaparece pelas portas da cozinha. Olho para minha bebida gelada no copo e, sem pestanejar, ingiro-a em um único gole. Bato o vidro vazio no balcão e afasto-me, mas, antes que pudesse me esgueirar pelo bar, sou abordado por uma loira trôpega que esbarra em meu corpo e força um sorriso desconcertado que, sabendo ela ou não, pingava segundas intenções. Rodeio sua cintura com meu braço direito, ajudando-a a manter-se de pé e, deixo que ela faça o que gostaria de fazer quando forjou nosso esbarrão.

— Vem comigo? — sussurro em seu ouvido esquerdo e, amolecendo em meus braços, solta uma risada e um aceno em afirmativa com a cabeça.

— Me chamo Cherry. — murmura seu nome em tom alto, como se eu precisasse mesmo saber.

Bem, eu não dava à mínima.

Guiando-a por entre as pessoas e desviando de algumas mesas, saímos do bar e caminhamos até o estacionamento. Charlie tinha esperanças de uma noite gloriosa, enquanto eu só queria uma foda rápida, nicotina e um pouco mais de álcool.

Tudo para apagar o rosto dela da minha mente.

[...]

Cailee me acertou com um tapa no rosto assim que saiu do meu carro, ainda arrumando o seu vestido que estava enrolado no alto de seu estômago. Tentei avisá-la que sua calcinha estava a mostra, mas ela não me deu tempo, pois saiu me praguejando como se quisesse me queimar vivo em praça pública. E toda a tempestade foi causada por um comentário sincero. Disse a ela que não seria tolo o bastante para fodê-la com a camisinha que me ofereceu.

Era uma tática e, me acostumei com isso logo quando subi nos primeiros grandes palcos e me tornei conhecido. Mulheres esbeltas e sedutoras usavam seus charmes, bebiam e aproveitavam cada instante ao lado e quando o clima esquentava, ou tentavam um sexo desprotegido ou com um preservativo que, alegavam carregar em suas bolsas. Dave alertou-me ainda cedo sobre essas situações e deixou claro que se não quisesse colecionar um monte de filhos pelo mundo, ficasse mais atento e cético.

Subindo minhas calças e cueca depois de me limpar com alguns lenços de papel, empurro-os para o fundo do lixo do meu carro e deixo o veículo, travando-o. Torcia para que Charlotte não ousasse em tocá-lo. Sabia como mulheres vingativas podiam ser loucas e elas sabiam como atingir as fraquezas de homem.

Voltando para dentro do bar, meus olhos, automaticamente, varrem o ambiente ainda movimentado procurando por uma única pessoa que, não estava onde minha visão poderia alcança-la, e passo a me questionar se estava sendo um idiota por não ter tido mais que alguns amassos e chupões, ou porque precisava mesmo dos itens que numerei mentalmente fartar-me pelo resto da noite para deleta-la. Completamente.

— Onde estava, cara? — Evan empurra meus ombros e cambaleia em alguns passos para frente. — Temos que subir no palco.

Sua última frase é dita enquanto ele caminha até a parte do palco. Esfrego o rosto e acompanho-o, subindo a escada de poucos degraus e me coloco atrás das cortinas, junto aos outros que afinavam seus instrumentos.

 — Porque não nos contou que Rhea estava trabalhando aqui? — Blake para em minha frente, balançando os braços. — Não que a surpresa de vê-la me entregando bebidas tenha sido ruim, mas, gostaríamos de saber que agora Rox irá corromper uma boa menina para seu universo colorido e cercado por bêbados galanteadores.

— Eu não sabia. — arrasto o pedestal e procuro pelo microfone. — Não sei se sabem, mas não sou a babá da garota. Ela faz o que quer e eu não preciso ficar sabendo, desde que não se meta em meus assuntos.

— Vocês se odeiam ou algo assim? — Evan bagunça os fios de seu cabelo e se olha no pequeno espelho redondo na parede escura. — Porque eu vi que aquela conversa que tiveram no bar não foi amistosa.

— Ela não passa de uma garota mimada. — puxo fortemente o fio que se desconecta do microfone.

— Não me importo com sua personalidade, mas adoraria fazer mais algumas visitas para Morales. — Max suspira e faz uma bola rápida com a goma de mascar. — Mas pareço não ter o mel que nosso amigo possui. Conte-nos, Jas, como conseguiu fisgá-la tão facilmente?

Franzo o cenho e olho para Jasper que, olha para nosso amigo desconfiado e balança os ombros.

— Nunca irá parar de falar besteiras?

— Max tem razão. — Blake olha para Jas. — Vocês conversaram por alguns minutos essa noite, e ela até mesmo sorriu. Está deixando de ser careta para levar a inquilina do J para a cama?

— Jesus! — olha para cima. — Diferente do que pensam, estou apenas fazendo o que Justin não faz por ela; fazendo-a se sentir em casa. A garota perdeu a mãe e foi deixada para trás, sem poder sofrer da maneira que gostaria. Ela não tem ninguém aqui, por isso, é o mínimo que posso fazer para ajudá-la.

Um silêncio se estende.

Respiro fundo.

Sinto-me a ponto de esmagar o microfone.

Travo meu maxilar.

— Vamos logo com essa merda. — murmuro e me endireito, pronto para fazer o que estava acostumado.

Os caras me acompanham e as cortinas se abrem. Os públicos do bar não eram como os das arenas, festivais e grandes eventos que fazíamos nossos shows, mas ainda assim, as poucas pessoas que se aglomeravam e se aproximavam, faziam com que nossas noites fossem intensas o bastante para dar a eles um pouco de Rock’N Roll.

— Bom, ei, pessoal! Nós somos a LUST. — anuncio no microfone, sendo acompanhado pelas batidas leves nos pratos da bateria de Max. — E, daremos a vocês algumas razões para pecar essa noite. Desliguem-se da razão, do mundo real e de todo o resto. Não tenham moderação, apenas, aproveitem.

Com isso, o som reproduzido pelos dedos ágeis de Blake em sua guitarra explodem em um solo, puxando Jasper e Evan que são seguidos por mim que, inicio com uma boa pedida de Crazy Train do Ozzy Osbourne. Costumávamos variar em nossas músicas de abertura, sempre intercalando entre as mais melodramáticas até as com batidas incessantes para tirar o público do chão.

Gostava de rolar os olhos por todos os rostos, memorizando suas feições. Nem um deles pareciam entediados, apenas entretidos com o nosso som. Contudo, os olhares não eram os mesmos. As mulheres olhavam-nos com extrema malícia, em suas mentes, estávamos nus. Enquanto os homens estreitavam os olhos e procuravam por pontos que justiçassem o poder de enfeitiçar suas companheiras quando subíamos no palco e, principalmente, quando estávamos fora dele. A resposta era visível, palpável e, modéstia parte, tentadora.

Finalizamos nossa apresentação com a décima música e, nos despedimos com um solo de Jasper. Deixei meu microfone cair, propositalmente, na madeira firme e, saltando os fios, atravessei as cortinas e apanhei na caixa térmica uma garrafa de água. Desfiz-me do lacre e beberiquei todo o líquido, molhando minha garganta que havia ficado seca. Os garotos me encontram e fazem o mesmo. Limpo-me em uma toalha e lanço a garrafa na lixeira próxima.

— O que vão fazer agora? — Max pergunta. — Preciso de um pouco mais de álcool e sexo. Avistei uma morena na plateia que, com certeza, irá suprir meus desejos.

— Estou cansado. — Jasper informa, balançando o cabelo molhando pela água que derramou sobre os fios. — Irei passar na casa dos meus pais para dar uma olhada na minha irmã e depois vou passar a noite no apartamento.

— Ainda com problemas? — olho para meu amigo que trava o maxilar. — Sabe que pode contar comigo, não é?

— Conosco, Jas. Sempre poderá contar. — Blake corrige e, balanço a cabeça de forma positiva.

— São as mesmas merdas de sempre. — vira-se de costas e ergue as mangas de sua camisa de botões. — Mas não irá durar por muito tempo. Irei tirá-la daquela casa, o quanto antes.

Não dizemos nada, pois sabíamos bem como esse assunto era delicado para Jasper. E ele sabia que seus pais eram dois fodidos que, se me deparasse com eles novamente, não me conteria em acertar o rosto de seu pai com um belo soco em seus dentes brancos e bem alinhados e diria coisas a sua mãe que a fariam me implorar para que parasse. Acompanho o drama de sua família desde que estávamos no colégio, mas tudo piorou quando o filho bastardo resolveu sair de casa e seguir o seu próprio caminho. O acolhi, mesmo não tendo um teto, e resolvemos tudo, juntos. Os caras também estiveram conosco, e isso bastava.

— Eu vou ficar. — anuncio em bom som. — Tenho um assunto para resolver.

Evan estreita os olhos ao me encarar desdenhoso.

— Que tipo de assuntos? — sorri de canto.

— Aqueles que não lhe dizem respeito. — rolando os olhos, ele me mostra o dedo do meio e a ajuda Blake com os instrumentos. — Nos vemos no estúdio.

Dando por encerrada nossa breve conversa, viro-me de costas e rumo até a escada, saltando os degraus. Desvio de alguns caras pelo caminho e, não evito abrir um mínimo sorriso e lançar piscadelas para um trio de garotas loiras e que se pareciam com estrelas Hollywoodianas. Elas se derretem, e mesmo de costas sou capaz de sentir os olhares que, se fosse humanamente possível, teriam me despedido.

Encosto-me uma das pilastras e cruzo os braços, observando a movimentação que ainda se fazia presente no bar. Rhea servia algumas bebidas e, com ajuda de Rox lidava com todos os bêbados que pediam por mais. O tempo passa e, perco a noção do tempo em que passo fitando-a e estudando seus movimentos. Queria descobrir o que escondia por trás de sua acidez, sabendo que havia algo que ela fazia questão de manter trancado por alguma razão pessoal ou simplesmente por gostar de se manter superior. Se eu fosse como um dos caras que, possivelmente lhe lançaram cantadas baratas para levá-la para casa, com certeza, sentiria meu ego ferido. O fato era que gostava de jogos como o que ela fazia.

Há muito tempo eu não tinha que me esforçar para obter algo, e com ela, poderia passar meu tempo de forma divertida. Afinal, não tinha nada a perder e, se teríamos que conviver juntos, que tivéssemos um pouco de emoção.

A garota tatuada carrega os copos sujos empilhados em uma bandeja, adentrando a cozinha, deixando para trás a morena que, secando as mãos em um pano escuro, deixa-o em cima do balcão e, soprando os fios que se desfaziam da trança em seu cabelo, afasta a franja de seus olhos com as pontas dos dedos e suspira. Ela havia esperado o último cliente sair, arrastado por outros dois garotos tão alcoolizados quanto e limpou cada uma das mesas.

Havia descoberto por conta própria que ela tinha conseguido um emprego no bar. Não sabia como ou porque ela quis o trabalho, mas, não importava para mim. Em algum dia da semana Amélia disse que ela tinha saído e que não voltaria para o almoço, estava de ressaca e com muita dor de cabeça, tudo o que fiz foi dar de ombros e procurei por um analgésico. Talvez ela estivesse indo atrás disso. Sua vida não me interessava até então, no entanto, no momento quero saber sobre tudo o que ela esconde sob seu porte miúdo e audacioso. E não iria perguntar a Joe ou a Jasper que parecia receber dela aquilo que jamais viria a me deparar. Iria descobrir tudo, por conta própria.

Aguardo o momento em que ela se desfaz do avental que amarrou em sua cintura, empurrando a porta que direcionava até a cozinha. Enquanto aguardava-a, acendo um cigarro, tragando a fumaça e soltando-a para frente. E, se tivesse feito uma contagem mental de seu tempo gasto, poderia dizer que foram mais dois minutos de uma noite perdida, sem sexo e tendo o membro ainda duro contra minha calça por ter fantasiado possuir seu corpo em cima do balcão.

Ela atravessa a porta e deixa o seu lugar no balcão, pisando firme no assoalho e marchando em direção a porta de entrada. Desencosto-me da pilastra e caminho até Rhea que, mira seus olhos perdidos e frios para os meus. De perto, ela era ainda mais bonita e parecia ainda mais deliciosa na roupa justa que vestia. Sua maquiagem suave davam destaque aos seus lábios cheios e coloridos por um batom vermelho intenso.

— O que faz aqui? — olha por cima dos meus ombros, como se procurasse por mais alguém. — A sua banda foi embora há algum tempo.

Sua voz era firme, mas não tão agressiva quanto mais cedo. Isso podia ser bom.

Ergo as sobrancelhas e entorto a cabeça para o lado direito.

— Pensei que fosse precisar de uma carona para casa. — seus olhos estreitam, quase que automaticamente. — Sabe, vivemos no mesmo lugar agora. Você está trabalhando aqui até tarde, e, a menos que tenha um carro para ir, não acredito que seja seguro.

— Não... Nem comece com isso. — agarra as alças de sua mochila e as endireita nos ombros. — Não irei cair nessa. Você me odeia e não me quer vivendo em sua casa. Estou trabalhando para conseguir juntar um pouco de dinheiro para comprar uma passagem de volta para casa.

— Ei, só estou tentando ajudar. — defendo-me depressa. — Joe ou sua irmã sabem sobre essa decisão? Visto que meu irmão a tenha confiado em mim, ele não a deixaria ficar sozinha, em hipótese alguma.

— Agradeço as boas intenções de Joe, mas não preciso que controle minha vida ou mude minhas escolhas. — pisca rapidamente. — Não estive presente no enterro da minha mãe, mas não irei abandonar a minha vida e continuar fugindo. Também, não irei mais ocupar aquele quarto na sua casa.

Com isso, em passadas largas, estava a pouco de alcançar os dois lados da porta, mas, seguro o seu cotovelo esquerdo.

Por algum motivo desconhecido, sentia-me culpado.

Porque eu sabia o que era perder sua família. A minha, ainda estava viva, mas a partir do dia em que passei pelas portas da mansão, prometi a mim mesmo que lidaria com todas as merdas e empecilhos sozinho.

Entretanto, Rhea tinha alguém. Não a mim, mas meu irmão que, era bom e cuidaria dela, eu não tinha dúvidas.

— Começamos com o pé esquerdo, e só estou tentando fazer o que meu irmão queria que fizesse. — ela olha para minha mão em seu braço e, percebendo seu olhar nada amigável, solto-a.

Ela olha-me por cima de seu ombro esquerdo.

— Você não faz o meu tipo. — indaga. — Continuo mantendo minha palavra de não serei mais uma a passar por sua cama ou pelo seu carro.

— Você...

— Tive o desprazer de ouvir e ver o que não devia. — torce seu pequeno nariz. — Não me impressiono com sua bela voz e todas essas tatuagens e piercings.

Eu abro um sorriso. Um sorriso típico de um canalha.

— Tudo bem. — estalo a língua no céu da boca. — Posso lidar com isso. Mas, aceite minha carona.

Ela se mantém em silêncio por alguns segundos.

Fodidos segundos.

Ao ouvir uma buzina, ela olha para a porta e sorri.

Um sorriso tão presunçoso quanto o meu que se desmancha ao fitar seu rosto sereno, mas rodeado por maldade.

— Sinto muito, estrela do rock. Já tenho minha carona. — sobe o degrau de entrada e, com as mãos na porta, olha para trás. — Conheço jogos como os seus e, garanto que não irá querer jogar comigo.

Balançando seu traseiro redondo e muito palpável, deixa-me com um olhar perdido e instinto primitivo aflorado.

Ela era uma pequena megera.

Mas, suas palavras apenas alimentaram o meu anseio por tê-la em minhas mãos. Porque há anos eu a cobiço em segredo, e se quero desvendar os seus, talvez, seja o momento de revelar os meus. Do meu modo. 


Notas Finais




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...