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História Maçã Ruim - O que acontece no Backstage


Escrita por: HeyMaxi

Capítulo 2 - O que acontece no Backstage


Fanfic / Fanfiction Maçã Ruim - O que acontece no Backstage

 

 

 

— Eu tenho uma arma, uma pá, e um álibi. É o plano perfeito!

Ele triscava os dedos das mãos uns nos outros com um olhar maníaco, como um daqueles cientistas do mal prestes a dar vida a sua criação medonha. O quarto de Baekhyun era o covil onde tramava um plano maligno. Só faltava mesmo parecer um covil, tinha poucos metros quadrados onde sua cama ocupava oitenta por cento do espaço, uma cômoda sustentando a televisão, seu guarda-roupas, uma estante de livros e qualquer outra coisa que ele deixe largada em cima dela. Seu próprio banheiro, uma janela grande na parede iluminando os tons de azul do forro de cama e das paredes, e seu toque preguiçoso de pôsteres de jogos de vídeo-game e de duas ou três bandas indie, que hoje ele já nem gosta tanto assim, e se arrepende deles amargamente porque aquilo vai estragar o papel de parede.

Seulgi repassou a ideia pela terceira vez, e logo Baekhyun já estava com preguiça de explicar tudo de novo até que ela deixasse de errar o passo a passo do seu plano pra se tornar famoso, deitado com o peito no encosto da cadeira giratória, rodando com a ponta dos pés no chão, o queixo largado em cima do braço, ele já não aguentava mais esperar por uma consideração dela. Que aparentemente adotou o pato do vizinho, o bicho não saia do colo dela por nada, e parecia nem um pouco intimidado com os toques, igual a um cão doméstico recebendo carinho na barriga.

— Deixa eu ver se entendi, a gente vai estar trabalhando no show, como quem não quer nada. Até a hora em que Park Chanyeol aparecer, daí você vai se aproximar, dar um jeito de ficar perto dele o suficiente pra eu tirar uma foto comprometedora e fazer vocês parecerem um casal. E depois?

— Depois a gente joga tudo na internet e o mundo vai saber quem sou eu, Byun Baekhyun, o namorado secreto do cantor Park Chanyeol, e aí eu serei famoso! – ele girou na cadeira com um sorriso no rosto, já contando vitória do seu plano infalível.

Ela ponderou muito, coçando a cabeça do pato ao invés da sua.

— Esse plano tem tantos furos que eu nem sei por onde começar... Você realmente acha que do nada vai ter coragem de agarrar alguém? Logo tu, cheio de “Não me toque”.

— Eu não sou cheio de “Não me toque”, eu sou sensível, só isso.

— Tá, senhor sensível, digamos que você tenha coragem, como você vai se aproximar dele?

Era algo a se pensar, seu rosto amoleceu derrotado. Baekhyun olhava na direção da porta, tricotando alguma ideia que tapasse as lacunas do seu plano infalível não tão infalível assim. Com aquela cara única de Byun Baekhyun no mundo da lua, porque quando seu rosto relaxa, sua boca fica entre aberta, mostrando a ponta de seus dois dentes da frente, como um coelho, viajando na maionese.

E ele acorda do transe ralhando:

— Ah, qual é? Eu não preciso ter tudo tão detalhado. É só improvisar. Seulgi, essa é a minha chance, eu não vou deixar isso passar de jeito nenhum. Imagina só? Eu vou virar notícia.

Ela suspirou, sabia que no fim aquele plano só dependia de sua aprovação, porque Baekhyun pode ser louco, e o parafuso que falta na cabeça dele é justamente no lado da noção, que o faz ter toda essa crise de estrelismo, mas apesar disso ele não faria tudo sozinho.

— Eu não tô levando muita fé nisso, essa ideia me parece muito imoral, e antiética, além de ir contra todo o meu ideal de paz e boas ações entre todas as pessoas, fora que isso tá com cara de encrenca. Gostei, vamo tentar!

Ele se levantou, animado, os pés sambando no tapete felpudo e uma animação que formigava da ponta dos dedos até a do nariz.

— Partiu? – ele esperou por uma confirmação pra poder pular de entusiasmo.

— Partiu! – respondeu Seulgi.

Quack” fez o pato.

 

O quarto ficou pequeno para o seu entusiasmo, porque o quarto é pequeno mesmo. E Nayeon entrou nele no momento em que Baekhyun fazia uma dancinha de comemoração.

 

 — Dá pra ouvir seus pés lá embaixo, você quer quebrar o piso? Baek, você deixou o pato do vizinho entrar?

O irmão saltitou em sua direção, vibrando de tão empolgado. Empalmou suas duas bochechas, espremendo a cara da menina e deixando sua boca como um bico de peixinho. Fofo, igual suas presilhas no cabelo, mas não combinava com o olhar de pânico que ela lançava pra Seulgi num claro pedido de socorro.

— Eu vou ficar famoso, maninha, famoso! – seus pés não paravam como se o chão fervesse, ele estava explodindo como fogos de artifício.

Então, tá, né... – respondeu, espremida. E lhe mostrou um cartão de crédito azul que trazia nas mãos e que ele não havia percebido antes. – A mãe mandou você ir fazer compras.

 

 

“Que porra é Justin Bieber?”

-OZZY OSBOURNE

 

 

 

Demorou três vezes mais que o normal chegar ao supermercado. Isso porque não era todo táxi que aceitava bichos dentro do carro.

Porque, sim, Seulgi levou o pato consigo.

Era o espelho de uma criança que achou um balão na rua e não soltou por nada no mundo, daquelas que ficam com ele o dia inteiro, fazem qualquer coisa com ele, e se estourar elas têm um ataque de pânico e acabou o mundo. Seulgi é essa criança, e aquele bicho era mais inanimado que um balão.

Enquanto anda com ela, Baekhyun tem seus minutos de fama. Porque todo mundo olha a garota que caminha ao seu lado, com uma saia longa, uma blusa curta, tudo em cores marrons areentas, óculos redondos no rosto, uma flor no cabelo, e um pato embaixo do braço. Não é sempre que se veste dessa forma, mas pra ir ao supermercado ela estava montada em seu melhor personagem, era como sua roupa de batalha. Seulgi é uma drag queen hippie.

Baekhyun não tinha nem sombra de vergonha, o medo mesmo era de serem expulsos por não permitirem animais no supermercado, mas já haviam entrado e passeado duas vezes pelo setor de cereais, então estava tudo bem.  Muito provavelmente ele chamava ainda mais atenção por usar uma camisa escrita “Me sigam no instagram: BaByun”, que foi um dos presentes de aniversário que a melhor amiga lhe deu. No fim das contas, um era mais estranho que o outro, e alguns clientes curiosos no supermercado observavam aquela símile de coisa d’outro mundo:

O garoto com sonhos de ser mundialmente conhecido, que coloca revistas com abdomens trincados na capa na frente do seu corpo, como quem experimenta uma camisa nova antes de vestir, a menina das flores, um pato e o plano de agarrar um cantor famoso.

— Eu preciso ter uma barriguinha sarada antes de começarem a colocar outdoors com a minha foto nas ruas – ponderava seriamente enquanto enchiam o carrinho de compras.

— Imagina só, você vai ser a pessoa na revista que nós riscamos o rosto e fazemos bigodinho e dente sujo.

— Mas eu vou ser bonito. Não importa.

— E eu? Diz aí, eu sou bonita? – ela parou no meio do corredor e fez uma pose de saia longa, corpo magro e cabelos soltos, porém, sem o vento pra lhe dar o charme dos filmes na TV.

 E ele parou pra analisá-la como quem não pretende dizer muita coisa.

—Assim... No geral, pra quem te olha assim. É bonita... O que mata é o pato.

—Não fala “Mata” e “Pato” na mesma frase, é cruel. Ele é muito lindinho pra virar janta – ela apertou nos braços aquele ser semivivo que só movimenta o pescoço, fazendo um bico fingindo beijá-lo, um clássico dos contos de fadas no corredor do supermercado, “A princesa e o pato”, ou algo assim.

E falando na ave a tiracolo que ela carregou pra todo lado nas últimas horas, um segurança começou a se aproximar por trás de Seulgi, desconfiado com o que ela segurava contra o corpo. Graças à capacidade dos dois de se comunicarem perfeitamente com o olhar nervoso e leitura labial, Baekhyun tirou o bicho das mãos dela, jogou sem cuidado nenhum dentro do carrinho e o enterrou com um monte de embalagem de nuggets. Os dois tinham uma atuação perfeita de “nada de errado está acontecendo e não tem um pato deprimido embaixo da comida”, discutindo sobre quantas caixas de leite levar em mais uma segunda-feira comum de compras desinteressantes, enquanto o segurança passava, analisando os dois e andando devagar, desconfiado. O pobre animal estava tão empenhado em seu papel de embalagem sem vida que se esqueceram dele ali quando o segurança foi embora.

Já não faltava mais nada da lista e ainda assim Baekhyun andava nos corredores tentando tirar proveito de ter sido ele a fazer as compras, e como se agradar um pouquinho não é pecado, ele e Seulgi fecharam um acordo de comprar um pote de sorvete a mais e tomarem sozinhos escondidos no quarto, já que a mãe nunca lê a notinha. Alguns salgadinhos a mais e uma pizza pronta entraram na brincadeira, junto a um DVD da continuação de V/H/S, um dos sucessos das noites de filmes de terror entre os dois.  A garota lia a sinopse do filme, mesmo o conteúdo não sendo nenhum segredo: as mesmas cenas gravadas com a intenção de parecerem filmagens amadoras e que parecem tão reais a ponto do Baek prometer que “Nunca vai sair com garotas depois de uma festa”. Perdia-se nas letras minúsculas quando Baekhyun freou o carrinho ao lado da prateleira de cadernos escolares. Uma fileira inteira deles com o rosto do dito cujo, Park Chanyeol, estampado na capa. Pegou um deles na mão e um detalhe de seu plano veio à tona:

 — Ei, Seulgi – dizia com a atenção no caderno, e ela no DVD. – Todo mundo sabe tudo sobre Park Chanyeol, não é? Tipo... O cara virou modinha até pra galera que se acha “cult”. É óbvio que todas as pessoas no mundo conhecem Park Chanyeol, tipo, é impossível não saber nada sobre ele.

Falava como se fosse uma afronta não saber todas as músicas e todos os detalhes da carreira do cantor. E Seulgi só acenava com a cabeça, quanto mais Baekhyun se confirmava um entendedor, mais ela se confirmava junto. Só que no fim...

— Seulgi, tu também não sabe nada de Park Chanyeol, né?

— Não.

— Merda…— ele atirou o caderno na prateleira novamente, decepcionado com a dupla dinâmica mais desastrosa da história dos vilões.

— Mas que diferença isso faz?

— A diferença é que nós precisamos conhecer a vítima, igual um serial killer. Eles estudam as pessoas antes de irem lá e dar um “créu” na galera. Se eu vou ficar famoso nas custas desse cara, eu tenho que saber quem ele é.

O carrinho já nem saia do canto, assim como as ideias de Baekhyun que empacavam em algum detalhe, estava igualmente estagnado com as falhas em seu plano.

— E o que você acha que a gente deve fazer?

O pseudo-famoso olhou seus pés, olhou suas calças rasgadas no joelho, parou sua inspeção do próprio corpo quando chegou nos bolsos, onde via a pontinha de um plástico azul. Mais um plano.

— Gi...

— Não me chama assim, eu pareço um garoto – ela reclamou, com um bico triste nos lábios. O olhar do amigo era decidido, afiado, prestes a lançar raio laser de pura determinação. Ele tirou o cartão de crédito do bolso, segurou na pontinha entre o polegar e o indicador, poderia gritar “pelos poderes de grayskull” a qualquer momento por conta da pose vitoriosa.

— Ou eu fico famoso, ou a minha mãe vai me matar no fim do mês.

— Ah, não, Baek. Isso é demais. Tu tem certeza?

— É só tu dizer que sim...

Segue aquele momento de olhares dramáticos, música de tensão e clímax de filme. Onde os dois pensam a respeito, ao mesmo tempo em que tentam avisar um ao outro sobre os riscos e perigos de uma ideia impensada.

— Baek...

— Seulgi...

— Baek.

— Seulgi.

— Byun Baekhyun...

— Kang Seulgi... Vamo?

— Mano...

— Vamo?

— Mano do céu – ela levou a mão até a testa, aflita.

— E, aí?

— Ai, vamo, se der merda a gente vende a nossa virgindade pra alguém rico e paga o prejuízo.

 

...

 

“Eu tenho um cartão de crédito e não tenho medo de usar”

Foi desafiado a dizer isso para o dono da loja quando fosse passar o cartão na máquina. A decisão que os dois tomaram com a condição silenciosa de dividirem a culpa, foi de pararem numa loja de artigos de fandom e comprar qualquer coisa que tivesse a cara de Park Chanyeol, inclusive seus quatro álbuns completos, dois mini álbuns e três DVDs de show. Cada um com o preço mais salgado que o outro. Combinaram de não olhar a nota fiscal e escondê-la a todo custo antes da fatura chegar às mãos da mãe. Pra não correr o risco de morrerem antes do tempo.

Isso tudo, fora o preço que pagariam a mais ao taxista. Por que além de levar um animal dentro do veículo, ainda lotaram o carro de sacolas, compraram quase todas as revistas sobre o cantor daquele lugar. A sessão de Goods do cara estava escassa. Tudo se encontrava no interior do táxi. Mal conseguiam olhar o motorista pelo retrovisor, de tão constrangidos. Como se já não bastasse a vergonha e o vexame que passaram no supermercado: Deveria ser só mais dia normal para a moça do caixa, que passava as compras dos dois, tão distraída. Ela está lá, desmontando a pilha de produtos quando, de repente, um pato pula do fundo do carrinho de compras pra cima do balcão. Ela deu um grito tão alto que todo mundo daquela área parou pra olhar a cena, enquanto Seulgi tentava pegar o bicho numa confusão de mãos e penas pra guardá-lo embaixo do braço novamente.

Foi só o taxista tentar quebrar o gelo e dizer alguma coisa pra afugentar o silêncio, que Baekhyun começou a contar e lamentar toda a situação, desde seu sonho em ser famoso até a parte da vergonha que passaram em saírem escoltados pelos seguranças.

— ... E é por isso, senhor Kim, que a gente já desistiu da vida, somos um fracasso total, eu nem sei o que eu tô fazendo mais da minha vida, essa menina, aqui agora, tá agarrada com esse pato e não solta mais e provavelmente a minha irmã vai ter um futuro mais promissor que o meu. O que eu posso fazer? Nada. Agora é só rezar pra eu não ter esquecido o cartão da minha mãe na loja.

 

...

 

Pagaram o táxi em dinheiro, mas o cartão estava no bolso, não encontrara antes porque não dava pra se mover direito no interior do carro com tantas sacolas nas pernas.

Depois do mico, nada de animais pelo resto do dia, passaram na casa de Seulgi pra apresentar o mais novo mascote a família dela, e largar a criatura por lá. Chega de vergonha alheia por hoje.

Já estava ficando de noite, e o gato comeu a língua dos dois quando entraram na casa de Baekhyun. Amontoaram as sacolas em cima da mesa, e o que lhes convinha carregaram escada à cima. Porque ninguém precisa saber do sorvete, dos salgadinhos, do filme, nem da espécie de base militar de operações que montaram no quarto, o que mais parecia o fã clube particular do cantor Park Chanyeol, com luzinhas personalizadas, imagens, revistas, uma bandeira escondendo seus posteres, dois integrantes e muito, mas muito plástico de embalagens. O quarto azul se encheu de preto, da cor oficial do artista.

Deram início a um curso intensivo sobre Park Chanyeol.

Baekhyun se deu o trabalho de empurrar do porão até o andar de cima, um baú de brinquedos esquecido por ele e a irmã. Desta forma, o quarto ficou ainda com menos espaço, mas assim ele tinha um capacete de plástico do saint seya na cabeça e uma varinha de condão na mão, marchando de um lado para o outro e dando ordens de glitter e cheiro artificial de morango, de nada adiantava a voz imponente se ele apontava pra Seulgi uma estrela rosa que acende e pisca.

Tentou soar um apito, mas o brinquedo não funcionava.

— Seguinte – ele bateu a porta, fechando-a e revelando as fotos do cantor que estavam presas com fita adesiva na parte de dentro. Apontou, com a varinha brilhante – Esse é o nosso alvo.  O que sabemos sobre ele até agora?

A garota, sentada na cama com um computador nas pernas, pesquisava informações que faltavam nos discos e DVDs, haviam assistido pouca coisa, um show ainda passava na televisão.  Os adesivos que vinham de brinde nas coisas que compraram estavam colados pelo rosto dela, e Baekhyun ficou com as pulseiras, as tinha achado bonitas.

— Ele mede por volta de um e oitenta e três, nasceu aqui mesmo e por algum caralho de motivo as músicas dele são muito boas.

— Tenho que concordar, as músicas são boas. Hmm... – Baekhyun alisava o queixo, pensativo. – Prossiga.

— Tem muita informação de ataque de fãs contra ele na internet, essa gente é doida. Mas também tem muito artigo nada a ver, tipo, aqui diz que a comida do camarim dele é feita por um chef francês e que ele não come nada que não venha de restaurantes estrelados, e que ele faz um tratamento pra pele com pó de rubis. Isso não pode ser verdade, né?

— Seulgi, ele é famoso, se tá na internet é verdade.

— Ele tem recordes de vendas e de show’s lotados, o fã clube dele é gigante, minha nossa, isso é meio descomunal – ela tinha a atenção toda na tela que iluminava seu rosto, não dava pra saber ao certo se ela franzia a testa por dificuldade em ler ou em acreditar no que estava escrito ali. – O cara é meio andrógino, usa todo tipo de roupa, tipo, aqui fala de um concerto que ele fez usando saia jeans, foi a primeira e única vez que ele fez algo do tipo, e por mais estranho que tenha parecido, a galera apoiou e elogiou ele na internet, parece que não importa o que ele faça, todo mundo aplaude. Também tem algumas coisas sobre ele fazer pacto com o diabo pra ter fama, mas todo mundo sabe que se não te acusam de satanismo na internet, então você não é famoso coisa nenhuma.

—Algo sobre namoro?

—Nada, nem no fã clube oficial, nem sites de revista e fofocas. Absolutamente nada. Só essa entrevista em que ele diz que a empresa não permite que ele se relacione amorosamente e que ele não tem tempo pra isso.

— Perfeito... Melhor assim, vai ser um choque pra todo mundo ver a minha carinha sair nos artigos bem pertinho da carinha dele. Vai ser a foto do ano!

— A gente já citou que ele é lindo? Tipo, Baek, o cara é bonitão pra porra. Essas tatuagens e esses piercings, tão Bad Boy. Mas por outro lado tem esse livro de fotos aqui – ela revirava todas as coisas na cama e folheava as imagens que acompanhavam os álbuns – onde ele parece um mocinho de família rica. Baek, não dá pra saber qual o verdadeiro estilo desse cara. Quanto mais a gente olha, mais indecifrável ele parece.

— Ele é um Idol, essa gente tem dinheiro pra comprar roupa, a gente que não.

— Ele compõe a maioria de suas músicas, não tem muitas parcerias com outros artistas, leva a sério essa coisa de solo. E toca muitos instrumentos. Não vou olhar os prêmios que ele ganhou, é muita coisa e eu tô com preguiça.

Por mais que Baekhyun analisasse suas performances, seu jeito de andar, de falar, e lesse suas entrevistas sobre coisas cotidianas e de sua personalidade, tudo parecia muito falso, calculado, respostas cuidadosas, Chanyeol era automático demais. Não era só a aparência que ele tinha de indefinível, também não dava pra traçar um perfil psicológico dele.

As coisas exclusivas de fãs foram bastante úteis, a internet mais ainda. No entanto, no fim do dia, Park Chanyeol continuava sendo uma total incógnita.

Baekhyun sentou-se na cama, ajeitou seu capacete da armadura de Pégaso, e apontou com a varinha de condão para o sorriso falso de comercial de frango frito colado na porta de seu quarto:

— Park...Chanyeol. Perdão pela dor de cabeça que você vai ter, mas eu preciso ser conhecido, por bem... Ou por mal.

 Com olhar maligno, fitava a figura sorridente.

Baekhyun não se importava em ser o vilão da história.

 

...

 

 

 

 

Ninguém lhe havia dito que para ficar famoso e executar um plano do mal, era preciso acordar cedo.

Ainda estava babando o travesseiro quando Seulgi sacudiu suas costas usando o pé, e ele voltou à realidade sem saber qual terremoto decidiu atingir a cidade tão cedo. Mas era só uma garota de saia, em pé em cima do seu colchão. O tão esperado show começava no crepúsculo, e terminaria após as dez da noite, mas Baekhyun não esperava ter de chegar tão cedo por lá para realizar um trabalho tão insignificante. E começou a falação, já foi dizendo para procurarem um advogado e processarem a equipe do cantor por abuso contra funcionários de um único dia e sem carteira assinada, e não parou de reclamar por um segundo a partir daí, xingando gente que nem conhece tudo por efeito colateral de ter sido acordado contra sua vontade. O tempo era pouco para se aprontar, ficava ainda mais difícil com ele fazendo birra. Não dava pra comer bem, e metade do tempo ele mastigava, a outra reclamava com Seulgi de que estava se sentindo escravo do proletariado. O banho era rápido, e ele ensaboou o corpo gritando mais alto que o chuveiro sobre ter um primo que ganha muito pra trabalhar pouco. Teve de escovar os dentes enquanto a amiga vestia suas meias e calçava seus sapatos, ela amarrava seus cadarços, ajoelhada no piso do banheiro, e ele ditava por cima da escova que leu na internet uma vez sobre  como a falta de sono afeta a produtividade dos funcionários em seu ambiente de trabalho.  Não pararia de reclamar um minuto sequer até que seu sono perdido fosse vingado, fazia metade das coisas arrastado, a outra metade era Seulgi quem fazia por ele, ou nunca chegariam no horário.

  Baekhyun é capaz de fazer qualquer loucura, desde que tenha dormido muito bem antes. Naquele horário, seu passe livre para a fama nem passava em sua cabeça, sete da manhã e ele só queria ter onde deitar. Dentro do metrô ela atendia uma ligação do tio e escutava atentamente as instruções e com quem devia falar para poder começar o trabalho, enquanto isso o amigo terminava o que não tinha dormido, com a cabeça no seu colo. Dormindo daquele jeito era um garoto totalmente alheio a coisas de metrô, como um rapaz que soube ali dentro o sexo de seu bebê, “é um menino” dizia animado para quem não tinha nada a ver com o assunto, mas foi aplaudido pelos passageiros. E uma senhora, que sentou ao lado dos dois e pediu a Seulgi uma foto, do “menino bonito” deitado nela, perguntou com um sorriso idoso, gentil, se eram namorados, e deixou um comentário sobre a beleza de ser jovem antes de tirar a foto, presenteá-la com o registro, e sair andando difícil.

Baekhyun não pôde ouvir ser chamado de bonito, e não sabia de onde Seulgi havia tirado um polaroid com a foto dos dois. Coisas boas que aconteceram antes de chegarem ao Thunder Dome, um dos ginásios mais famosos da cidade.

Ao contrário do que pensou, aquele quarteirão do centro da cidade não tinha nada de vazio. Os dois não foram os únicos a chegarem cedo. Haviam barracas enfileiradas até o fim da rua, de muitas cores e tamanhos, cada uma com um adereço diferente no lado de fora, seja uma cadeira de praia, um guarda-sol, e até uma churrasqueira, cada uma abrigava pessoas que se mantinham ali como podiam, era quase uma prova de sobrevivência, com fãs que não conseguiram ingressos e precisavam garantir um bom lugar na fila de frente para o stand armado na porta do ginásio, onde fãs habilidosos em compra online vendiam lugares ruins, baratos e aleatórios. Eram pessoas, nas ruas, fazendo todo o esforço para ver um único ser que canta, dança e toca instrumentos, e nem pareciam tristes com isso. As moças negociando entradas tão cedo não recebiam nada para estarem ali, mesmo assim, pareciam animadas e felizes em usarem uma camisa estampada do Park Chanyeol e tirarem fotos umas com as outras, tratando desconhecidas como irmãs.

Baekhyun passou por elas andando bem devagar, estudando tudo, fascinado com o que é ser fã. Por um segundo, se colocou no lugar do cantor famoso, e imaginou como seria, se ele, cantando bem, fazendo shows pelo mundo, aparecesse sorridente, de surpresa, no meio delas. Provavelmente ficariam loucas e histéricas ao seu redor, uma histeria boa. “por que Idols não se dão o gosto de fazerem isso, afinal?” se perguntou. Foi arrancado de seu mundinho paralelo por Seulgi, que puxou seu braço com força, estalando os ossos, pra fazê-lo andar mais depressa. Às vezes, os dois funcionam na base da agressão.

Entrando pelo portão dos fundos, foram recebidos por um rapaz careca de olhar analítico, passando de uma prancheta até seus sapatos, e subindo até seus rostos, como quem avalia modelos num concurso.

—Kang Seulgi e Byun Baekhyun... – ele pediu uma confirmação.

—Isso – ela assentiu.

—Suas identidades, por favor.

Baekhyun levava consigo uma bolsa carteiro no ombro direito, e se desdobrou inteiro procurando seus documentos para que o rapaz não visse a câmera fotográfica que guardava ali. Sem ter certeza se seria ou não um problema, mas era melhor não arriscar, mesmo que estivesse coberta num par de roupas limpas, não levantar suspeitas a respeito de suas más intenções seguia sendo a regra.

Após a confirmação de que os dois eram quem diziam ser, seus documentos foram devolvidos, e ganharam uma espécie de cartão vermelho, com espaços em branco, que deviam ser preenchidos por diferentes assinaturas.

— Guardem bem esses cartões, no fim do show, apresentem a um staff e ele vai assinar e vão receber dele o pagamento.

Por dentro o lugar era cheio de entradas, escadas, e salas, se não tivessem um guia, se perderiam facilmente por lá. Nos corredores haviam cartazes e pôsteres do cantor, além da foto de divulgação oficial da turnê, bem grande, na maior parede daquele lugar, onde eles pararam, bem de frente a imagem do idol, mostrava-o com a boca aberta e olhos fechados, empolgado na guitarra, parecia estar fazendo o solo de sua vida ou que tinha batido o dedinho do pé na quina de algum móvel (Baekhyun até comentou isso com Seulgi entre risos).  Ali, os dois receberam do homem que os recepcionou, cada um, seu crachá, que pelo que entenderam lhes dava o direito de perambular por onde bem quisessem. E foi o que fizeram, por horas.

Primeira parada: Amostra de itens da coleção oficial do show. Seulgi encheu os braços de pulseiras e Baekhyun circundou seus cabelos com uma faixa contendo o nome do cantor, que ele tratou de virar do avesso para esconder. Havia brinquedos com luzes e bastões brilhantes, caixas cheias deles, esquecidas em cima de uma mesa no meio do corredor vazio, na falta do que fazer, eles brincaram de Harry potter. No andar de cima tinha alguns petiscos destinados unicamente à produção, durante três minutos eles debateram sobre fazer ou não parte da produção do evento, mas como as letras miúdas do cartão no pescoço dos dois diziam “Equipe de produção exclusiva de: Park Chanyeol”, no fim, ele encheu as bochechas e bolsos de doces, Seulgi levou um copo grande de suco natural em cada mão, e sumiram dali, afinal, ninguém falou que não podia.

 A todo o momento, o garoto pensava que seria finalmente apresentado a estrela da noite, porém era sempre mais um subordinado da empresa dele lhes dando instruções. Em um determinado instante que fizeram silêncio, os dois amigos ouviram uma gritaria e baderna dos fãs lá fora, que no que se assemelhava a uma cena de filmes com zumbis, cercavam uma vã preta e se jogavam na frente do carro correndo o risco de serem pisadas pelas rodas. “Park Chanyeol acabou de chegar?” perguntou a uma das responsáveis pelo cantor, e como se ele tivesse feito uma pergunta idiota, ela lhe cedeu a informação de que “São só alguns repórteres, ele está aqui dentro desde a madrugada, jamais arriscaríamos que ele passasse perto dos fãs.” Pacientemente, ela pediu que a acompanhassem.

 Os dois foram levados ao lado de fora, na parte mais alta da arquibancada, tendo visão da complexidade do palco montado ao longe, e do mar de cadeiras vazias que em algumas horas seriam preenchidas de pessoas barulhentas. Já era de tarde, e o movimento dentro do ginásio começava a aumentar. Tinha gente correndo por todos os lados, carregando metros de fios, instrumentos e containers pretos. Testavam o som, as luzes, equipamentos, e quando os dois sentaram para esperar as primeiras ordens, Park Chanyeol entrou no palco.  Presenciaram seu último ensaio, onde ele treinou sua entrada e alguns solos de guitarra. Cobria os cabelos com uma touca e roupas tão simples quanto as suas, era uma formiguinha quando visto tão de longe. Naquele momento não era o centro das atenções, tinha muita gente ao seu redor fazendo muita coisa, seja tirando fotos dele ou checando todos os equipamentos dispersos no espaço. Mesmo assim, para Baekhyun, parecia ter um holofote brilhando sobre ele, em plena luz do meio da tarde, pois, enquanto Seulgi mexia no celular, desatenta, ele focava em cada passo que o cantor dava lá embaixo, andando descontraído pelo palco e tirando um acorde ou outro da guitarra, que podia ser ouvida em cada canto do ginásio. Não o admirava em nada, mas estava fascinado em cada processo e cada pessoa que trabalhava em favor de um idol.

 Os telões foram testados, e Baekhyun pôde ver, de cima, o rosto escondido e despreocupado do guitarrista, não dizia uma palavra, não conversava com ninguém, respondia as perguntas apenas com um movimento de cabeça, sem abrir a boca e nem olhar para as pessoas. Para o pseudo famoso ciente da parte técnica da coisa toda, não era nenhuma surpresa que ele fosse um cara arrogante e antipático, tal como o telão lhe mostrava. Mas ele podia, era um astro. Baekhyun pensava assim.   

— Baek – A menina, entediada, chamou por ele, fazendo-o tirar a atenção da imagem do cantor. – Você tá quase babando, sabia?

  

...

 Tiveram tempo de ficar sentados até a bunda doer. E por achar que nunca chegariam perto do cantor, já haviam desistido do plano. Os dois só queriam terminar o que tinham de fazer e ir embora. Desejaram o sorvete que estava na geladeira de casa.

Outra moça, totalmente diferente, porém, com um mesmo crachá e a mesma camisa da produção, anunciou a eles que o trabalho ia começar.

Baekhyun não se lembrava do nome difícil que Seulgi dera ao cargo que exerciam, mas por ele seria resumido em duas palavras: ¹Faz ²tudo.  Os dois cumpriam a tarefa de carregar muita coisa pra todo lado, fios, papéis, os óculos do produtor, e ainda voltar pra buscar uma caneta pra ele assinar os papéis (E nunca pensou que fosse ser tão difícil encontrar uma caneta num lugar daqueles). Arrumar isso e aquilo, chamar pessoas, levar uma remessa de CD’s para o idol autografar no pós-show, ajudar a figurinista a organizar as roupas dele em ordem de apresentações, esperava que a qualquer momento o mandassem varrer o chão.  Disse a Seulgi que no fim das contas os grandes responsáveis pelo show eram eles dois, porque fizeram de tudo um pouco. Enquanto a estrelinha recebia uma massagem profissional para relaxar antes do concerto.

Enquanto levava uma remessa enorme de toalhas e garrafas de água, deixando tudo a postos para os dançarinos, andando como se desfilasse numa corda bamba pra não deixar nada cair, o show começou.  Tinha a ideia de que os funcionários ficavam sentados atrás do palco esperando o músico fazer todo o trabalho, mas a coisa é bem diferente na realidade. É um verdadeiro armagedom, gente correndo, gritando, suando, checando isso e aquilo. Cada vez que o cantor voltava para o backstage, era cercado por um aglomerado de mãos, secadores invadindo suas roupas, toalhas secando sua pele, pentes no cabelo, maquiagem, eram tantos dedos tocando o rapaz que Baekhyun sentiu náusea assistindo de longe. Tinha os momentos de rir, quando Seulgi se assustava com o som das explosões de fogos de artifício no palco, do início ao fim do show, ela não se acostumou com os estouros.

Aquele mundo de artista era surreal, quando pôde parar o serviço, ficou de pé admirando tudo a volta, as imagens, os seguranças, os responsáveis pela carreira do idol preocupados com que ele não se machucasse e não errasse nenhum passo de dança. As fãs sortudas, que abriram mão de assistirem as últimas performances, para verem-no dentro do camarim. Chanyeol era o centro de tudo aquilo, de toda aquela atenção, as paredes tinham ele, o povo ali dentro suava por ele.

 Dava pra ouvi-lo falar e se despedir dos fãs dali de dentro, e por uma brechinha no fim do corredor, Baekhyun viu as luzes. Quase inconsciente, ele caminhou na direção do brilho, como se estivesse em uma caverna escura e visse o sol pela primeira vez. Eram muitos pontos brilhantes, de dia os assentos eram coloridos, a noite, no desenrolar do show, era como se um pano negro forrasse tudo, a imagem era o ápice de todo seu ideal de vida: um astro, se despedindo e reverenciando seus fãs, embaixo dele, o chão era uma cópia do céu noturno estrelado, milhares de pontos brilhantes no escuro, cada um, era alguém que admirava e faria qualquer coisa para estar perto do cantor, e ele estava acima, no palco, como se estivesse muito além do céu.  

E a multidão começou a gritar, um coro, um peso, aclamando um único nome com todo o fôlego que tinham nos pulmões. Arrepiando os pelos em seu braço:

Park Chanyeol, Park Chanyeol, Park Chanyeol”

Baekhyun já estava beirando a entrada do palco, quando fechou os olhos, e imaginou que chamavam por ele, que todo aquele prestígio era em seu favor, respirando o ar da adoração pela primeira vez, e por um momento, parou de sentir o chão embaixo dos pés. De tão inerte, mergulhado em seu fascínio por tal poder, não percebeu quando os holofotes se apagaram, e o cantor passou por si, rápido, um vulto alto e ofegante, de cabelos grudados no suor da testa, direcionando seu corpo cansado para os fundos do Backstage, prestes a trocar de roupa antes da última apresentação.

Os pés do Byun voltaram ao chão, o sangue começou a correr depressa, uma adrenalina energizou começando de seus pés e se espalhando pelo corpo. Ele estava ali, tão perto, Chanyeol, o alvo. Pensou no clamor, nas regalias, no prestígio, no luxo e na arrogância de sentir-se acima de todo mundo. Virou-se depressa, vendo Seulgi descansando num canto encostada à parede, após o fim do serviço; na distância entre os dois, seu plano andando em duas pernas e de roupa preta colada no corpo coberta por uma jaqueta brilhante. O poder de se comunicar entre olhares no meio do nervosismo se fez útil, não tinha mais o que decidir, era agora ou nunca:

— Park Chanyeol! – gritou por ele. O cantor parou seus passos, e deu atenção ao estranho só por ele ter um crachá no pescoço. Baekhyun teceu uma desculpa em segundos. – Eu preciso checar o seu retorno.

— Ele está funcionando, sem problemas – foi a primeira vez que ouviu a voz grave do idol, seco de notas musicais.

Antes que ele pudesse voltar a andar, Baekhyun prendeu-o com os braços e o empurrou contra a parede. Sem pensar em toques, em espaço pessoal, desejava tudo o que vira hoje para si, como um mantra. Fama, sucesso, fãs.

Jogou as mãos por cima do pescoço tão alto, ficando na ponta dos pés para aproximar os rostos, fingindo tentar tirar o ponto eletrônico do seu ouvido. As respirações tão próximas e a troca de olhares era assunto para se torturar depois. Fama, sucesso, fãs.  E no mais descarado dos movimentos, fingiu tropeçar, em absolutamente, nada.

Seu corpo grudou ao do Park, ele segurou com força o cantor e puxou seu rosto para baixo, os olhos fixando um no outro, Chanyeol sem muito espaço para respirar contra o peito de um estranho.

Fama, sucesso, fãs.

Um flash...

Chanyeol olhou na direção de onde veio a luz, encontrando uma garota que nunca vira antes trabalhando entre a sua equipe, com uma câmera fotográfica nas mãos. Depois encarou aquele baixinho, notando todas as más intenções naquela ação. E o que antes lhe parecia ser um rosto admirado, assustado por cair nos braços de um idol famoso, a mocinha inocente do filme que está no lugar certo na hora certa, se moldou em uma careta apavorada, e gritou lhe trazendo dor aos ouvidos.

— CORRE!

Sua turnê havia encerrado com uma das situações mais estranhas em um pós-show, talvez um dos fãs malucos dono de algum fansite famoso? Por que mais alguém de pernas tão curtas sairia correndo do backstage com uma câmera e tão rápido daquele jeito, porque, em sua vida de quem lida com muitas pessoas diariamente, nunca vira ninguém tomar uma câmera fotográfica das mãos de uma garota e fugir com passadas tão velozes daquela forma antes.

Baekhyun corria erguendo a máquina fotográfica no ar como se fosse sua maior preciosidade, a imagem era semelhante à de um corredor carregando a tocha olímpica acima da cabeça, em fuga. Aquela foto era seu maior triunfo. Corria em clima de perseguição, jurando estar sendo seguido por uma multidão de seguranças e staffs furiosos, porém as únicas coisas que o acompanhava eram os rostos das pessoas curiosas quando a locomotiva Byun cortava os corredores ao meio, e Seulgi, tentando acompanhá-lo a todo custo da sola de seus tênis. Não era algo que se via em todos os dias de trabalho: Primeiro passa um garoto em fuga, rápido como uma bala, erguendo uma câmera fotográfica no alto, e depois uma garota correndo quase na mesma velocidade em uma confusão de cabelos ao vento e com a mesma expressão desesperada. Nenhum funcionário fazia mais que trocar olhares uns com os outros e se perguntarem em mudo se entendiam o que estava acontecendo, e sem respostas, tomavam um gole de suas xícaras de café, e voltavam ao seu ofício e suas andanças, sem dar a mínima.

Mas ninguém avisou isso ao Baekhyun quando deixou o ginásio e parou um táxi na rua.

— Pera aí, Baekhyun, eu não saio sem receber meu pagamento – ela empacou no meio do caminho, tendendo a não entrar no carro e voltar para o interior do ginásio. – Tá pensando que verdura é de graça?

—Tu tá doida?! – foi o desespero que o fez tomar medidas de força, haviam momentos em que os dois funcionavam assim, na base da agressão física mesmo, ele teve de puxar o cabelo dela pra fazê-la entrar no veículo enquanto  reclamava de dor. – A gente tá prestes a ser preso e tu tá pensando em comprar chuchu?

“Rápido, tire a gente daqui!” disse em meio à cena de filme de ação que sua mente com tendências a dramas novelísticos desenrolava. O pobre taxista fez o pneu queimar no asfalto e arrancou com o carro rasgando a pista sem nem saber do que fugia.

 Foi preciso perder o local do show de vista, para ambos relaxarem o corpo no estofado do banco de trás, descansarem os pescoços doloridos e as costas reclamando do trabalho, e suspirarem por terem saído a salvo. Não tinham um pagamento em mãos para compensar o corpo dolorido, mas, pelo menos, tinham um banco confortável, uma música boa rolando na rádio, um motorista já na terceira idade sem muita vontade de puxar assunto ou questionar qualquer coisa, e o plano mais idiota que já tiveram, perfeitamente cumprido.

—Baek, a gente acabou de cumprir com o plano, você já se deu conta disso?

Ela tinha a câmera guardada dentro da bolsa de carteiro, e ele tinha se dado conta, sim. Baekhyun não chegou a respondê-la de imediato, seus ossos foram tomados por um torpor, os olhos petrificaram na janela, incapazes de acompanhar as luzes que passavam como borrões coloridos em alta velocidade. A última gota de adrenalina se foi, e foi hora de repassar toda a situação anterior, e tudo vir à tona: Park Chanyeol era mesmo aquele cara bonito das fotos, durante o ensaio, ele passava a imagem arrogante de alguém alheio aos seus subordinados, cenho fechado no que parecia mal humor. Só agora, depois de tudo, reparou que os óculos escuros que usara naquele momento da tarde escondiam lentes de contato verdes que usou no show esta noite, seus cabelos escuros estavam pontudos na frente quando grudados pelo suor na  curva da testa,  suas orelhas escapavam pelas laterais, e quando passou ao seu lado, ele ofegava, cansado. Era alto, de braços compridos e costas largas. E Baekhyun encostou-se a ele...

— Isso foi uma loucura.

— Como foi chegar tão perto de um idol? – ela quis saber.

— Ele estava todo suado, e pra você saber, o cabelo dele fede – os dois riram do que constatara ao abraçá-lo.

Fingia indiferença, mas seu corpo já apresentava tiques nervosos, nos joelhos que tremiam, nos dedos dos pés que se contorciam, e num gelo assombroso que percorria seu estômago, ao lembrar da pele na nuca do cantor, no suor frio que pingava do cabelo dele e molhou seus braços, da respiração quente em seu rosto. O olhar verde plastificado e centrado que perfurava o seu, nos piercings nas orelhas e a boca, no rosto sério e curioso, que por segundos pareceu estar em expectativa para o que Baekhyun faria. Pensou na forma como seu peito colou ao dele, e Chanyeol respirou contra seu corpo, quase era capaz de sentir novamente os movimentos dele inflando os pulmões, inspirando e expirando contra seu abraço. O jeito como seus braços o envolveram, e as mãos dele tocaram sua cintura discretamente para manter o equilíbrio e sustentá-lo. Repetia cada contato com Park Chanyeol, e aquilo o fazia coçar os próprios dedos e morder os lábios em tensão.  

Seulgi, ao seu lado, soprou um riso para o quão hipnotizado ele estava com o que passava janela a fora, ou em seus próprios pensamentos. – Baekhyun, você iria acreditar, se eu dissesse que você está corando igual uma menina virgem?

A menina virgem queria gritar, de bochechas vermelhas, pensando no corpo que roçou seu corpo esta noite.

 



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