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História Maçã Ruim - Borboleta, não


Escrita por: HeyMaxi

Notas do Autor


Boa leitura <3

| E não é terça né? kkkk....desisto de mim |
*eu tava triste*

Capítulo 7 - Borboleta, não


Fanfic / Fanfiction Maçã Ruim - Borboleta, não

Chanyeol acordou cedo, com uma coceira chata no nariz e muita vontade de fazer xixi.

A luz que entra através do vidro fechado da janela é de um azul dissolvido, mostrando que começa a amanhecer aos poucos.

Deslizou as pernas para fora do saco de dormir arrastando o corpo pelo chão, ainda acordando, como uma borboleta  saindo do casulo.

De pé, notou a TV ligada, exibindo quase sem volume o noticiário das seis no canal dez. Pelo visto, os dois amigos esqueceram de desligá-la ontem a noite. Os dois garantiram que iriam assistir a sequência de um filme de terror legendado com áudio em francês,  após ficarem espantados com o primeiro; Chanyeol tinha razão em duvidar,  quando olhou a cama viu que  Baekhyun estava deitado de bruços, e Seulgi escalando suas costas, dormindo pesadamente, abraçada a ele e misturando os pares de pernas. Talvez só assim para alguém ficar tanto tempo grudado em Baekhyun. Devem ter dormido na metade do filme.

A bexiga gritava por alívio e parecia um balão cheio d’água prestes a explodir, ele andou até o banheiro sentindo o chão frio e um peso líquido em cada passo.

Finalmente urinou.

E de porta aberta, a casa já é sua.

Os olhos revirando.

Mirando bem no meio da privada, onde tem água e faz barulho. Nunca disse a ninguém o quanto gosta de barulho de xixi pela manhã, e se disser, no outro dia essa informação vai estar na televisão numa matéria sobre celebridades e suas peculiaridades.

“Park Chanyeol assume gostar do barulho de Xixi pela manhã, ‘Me acalma’  diz o Idol”

E isso nem é piada de gente famosa.

 

Fez o máximo que o sono permitia, o banheiro já tem uma escova de dentes sua, uma toalha de rosto que ele mesmo colocou ali, seus cremes para pele; o desodorante é de Baekhyun mesmo, e não irá comprar um exclusivo tão cedo. Voltou para o quarto e enrolou o saco rosa onde dormiu, além de confortável, era fácil de arrumar. Diferente da cama onde Seulgi se remexeu nos lençóis a noite toda até estar em cima de Baekhyun e os dois quase atados por cobertas brancas.

Parou no meio do quarto, encarou o vidro da janela fechada, e ficou bons minutos pensando a respeito de seus fantasmas internos, e seus dilemas pessoais, e  na festa que vai comparecer ainda hoje. Nesse meio tempo o garoto começou a acordar, por consequência, acordando a amiga também.

Não devia, mas Baekhyun despertando afugentou seus fantasmas, e capturou sua atenção.

Não devia, mas seus olhos fechados, rosto amassado, murcho, e cabelo despenteado, o manteve ali, de pé, observando.

Não devia. Mas achava fofa as linhas do forro de cama impressas na pele de sua bochecha, em marcas vermelhas.

“Park Chanyeol confessa que acha bonito o rosto mal humorado de Baekhyun acordando. ‘Fico olhando parecendo um idiota’ diz o Idol.”

E o garoto abre os olhos e boceja, lhe mostrando mesmo sem querer, mais uma vez, a ponta dos dentes da frente.

E ele diz a primeira frase do dia, com sono, rosto amassado, a voz grossa e arrastada.

“Seulgi, sai de cima que eu não tenho cara de andaime”.

Só aí Chanyeol desperta.

E assim os três acordam.

 

— Caramba -Seulgi colocou a mão na barriga, com cara de dor- Tô com cólica.

Chanyeol achou curioso a forma como ela se jogou no travesseiro, e olhou o teto de jeito lamentoso, suspirando, como se aquilo já fosse uma notícia ruim no começo do dia, afinal, é só seu corpo lidando com essa coisa de hormônios e a falta de um bebê, não é? — Quem vai fazer o café? - ele quis saber.

— Ai, por mim a gente vai comer na padaria porque eu tô com com preguiça. - respondeu Baekhyun ainda com os olhos fechados.

— Caralho, que cólica.

— Eu não posso ir comer na padaria.

— Por que? Lá tem comida até pra Seulgi.

— Eu vou morrer de cólica...

— Por que eu sou famoso ué - disse Chanyeol.

— Então faz você a comida.

— Mas eu também tô com preguiça - ele se deitou na cama entre os dois, no mesmo tempo que Seulgi se levantou, e começou a cavar a gaveta de Baekhyun, e esse se perguntou o que tanto ela procurava ali entre suas meias e bolinhas de textura, até ela puxar do fundo um saco de absorventes, e pro  seu azar, vazio. Ela deitou a cabeça na cômoda, derrotada a ponto de quase começar a chorar a qualquer momento.

Baekhyun se espantou com o elemento surpresa em sua gaveta.

— A quanto tempo isso tá ai?

— Baekhyun... - ela levantou o olhar para julgá-lo. - Uma garota teria um pacote desses em  qualquer lugar do mundo se possível, no lugar de máquinas com doce nas ruas eles deviam colocar máquinas onde você põe umas moedinhas e tira um absorvente. Isso aqui salva vidas. Baek, vai comprar pra mim?

— O Chanyeol vai - apontou o cantor lhe dando um tapa no ombro e passando para ele a tarefa. - Aproveita e traz pão.

— Eu? Baekhyun ninguém pode me ver andando por aqui - se remexeu na cama, apoiando o peso da cabeça no cotovelo.

— E daí? Tá pensando que vai morar aqui e viver só de sofá e cafézinho é? Tem que ajudar também, vai sair pra comprar pão, sim. Bota uma máscara, tu não vive de máscara? Pronto, cobre metade da cara e vai embora.

— Largue de ser preguiçoso e vá comprar isso logo - Baekhyun cobriu os ouvidos com o travesseiro e enfiou a cara no edredom,  e soltou um grito fino e estridente do fundo da garganta, sufocado pelo pano pro alívio dos vizinhos que ainda dormissem, uma vez que não se livrou do martírio de ter que esticar os ossos e sair na rua, começou a se debater na cama como um peixe recém pescado, fazendo Chanyeol encolher o corpo pra não ser atingido por suas pernas em fúria. Contra a própria vontade, e depois da birra, Baekhyun se levantou, pegou a carteira dentro de suas roupas, pôs os pés no chinelo, e desceu a escada rumo ao andar de baixo e além da porta, rua a fora.

Agora sozinhos no quarto, Chanyeol chamou por Seulgi:

— Ei, eu sei fazer uma massagem muito boa nas costas, se servir pra aliviar a dor.

Ela não pensou duas vezes antes de se sentar a frente dele, com as pernas igualmente cruzadas no colchão.

— Não alivia. Mas eu tô em período menstrual e preciso ser mimada…

Chanyeol soltou um riso do que disse, e começou a  usar suas mãos para lhe apertar os músculos das costas e massageá-los, como um bom amigo, e o trabalho durou até Baekhyun voltar com um pacote de absorventes, outro de pão e a mesma cara de quem não queria ter levantado. Se jogou de volta pro colchão.






 

 

 

“Por que garota de calendário? Não sei.Talvez porque os rapazes não consigam assobiar quando eu passo.” 
-MARILYN MONROE

 

 

 

Diferente dos dias comuns onde Seulgi parece estar radiante como um girassol diante do calor da manhã, nos dias da famosa menstruação ela é só nuvens escuras e trovões. Quando saiu do banheiro depois de uma hora inteira trancada lá dentro,  ainda tinha o cabelo desarrumado, usava um conjunto de roupas de Baekhyun ao invés das suas, e naquele momento, em tal estado, não se importava com mais nada, não dava atenção a mais nada além da ideia de fazer aquela maldita dor ir embora, doía como se dessem uma volta com uma corda ao redor de seu abdômen e puxassem de cada lado, um espartilho mortal, simplesmente indescritível.

O café da manhã foi o que Baekhyun chamou de Sanduíche de qualquer coisa. Consistia em iogurte (no caso de Seulgi, suco.) Com o pão que comprara e literalmente qualquer coisa que tivesse na geladeira e quisessem pôr dentro pra comer. Feito. E logo após isso, Chanyeol começou a enviar suas mensagens, e dar seus telefonemas. Andando pela casa arrastando os pés de meias coloridas.

Enquanto Baekhyun brincava com uma das bolinhas de sua coleção, uma com pontas de borracha maleáveis que lhe fazia cócegas entre os dedos, a campainha tocou. Finalmente, alguém sensato que não grita e nem esmurra a porta.

Sem fazer ideia de quem se tratava, abriu apenas uma fresta mínima, por onde espiou com metade do rosto,  e deu de cara com uma mulher de olhar duro. A quem só deu passagem quando Chanyeol confirmou que ele a havia convidado.

Abriu completamente a porta, e todos, por meio segundo, observaram a mulher trancar o carro apertando um botão na chave, ela usava um terno, e uma calça social da mesma cor, andava sobre um salto agulha, tinha o cabelo preso num coque perfeito e apertado atrás da cabeça, todo um ar de gente importante, e um olhar hostil, duro, a testa curvada como se já de cara estranhasse tudo,  ou estudasse tudo com desconfiança. Chanyeol havia contratado uma assassina de aluguel, pra que?

 

— É minha maquiadora - ele disse. E a mulher entrou desfilando para dentro como se estivesse em um quartel militar e fosse ela uma líder superior ou algo assim. Carregava uma aura tão autoritária que Baekhyun esperava ela gritar seu nome para bater continência.

— Maquiadora? - Ele quis saber.

— É, é ela quem faz as minhas melhores maquiagens quando estou em solo nacional, às vezes, ela viaja comigo, mas, na maioria das vezes, trabalha pra mim quando não estou fazendo algo da agenda da empresa.

A mulher que devia ter entre vinte e cinco e trinta anos o cumprimentou educada e formalmente, de forma profissional, e Baekhyun pediu que se sentasse. Só depois notou a maleta de mão que carregava, quando ela a colocou em cima da mesinha de centro. Ele a imaginava em muitas outras profissões, segurança, chefe de um esquadrão antibombas, atiradora de elite - pelo olhar concentrado - tudo, menos maquiadora.

— Que tipo de maquiagem você gosta? - ela perguntou - como quer parecer hoje?

— Eu, não costumo usar maquiagem… - Baekhyun respondeu sem graça.

E ela iniciou um questionário sem fim enquanto estudava seu rosto, sobre coisas que ele não via sentido, desconexas, quase como uma entrevista de emprego ou mesmo uma consulta com um psicólogo, até ele citar seu gosto pelas câmeras e ela dizer saber perfeitamente o que faria.

Mas antes de começar qualquer coisa, disse que o cabelo dele precisava ser arrumado primeiro. O plano de Baekhyun era ir na cabeleireira do bairro, mas ficaram esperando algumas horas, com Chanyeol botando o assunto em dia com a maquiadora, até a campainha ser tocada de novo.

O garoto, novamente, foi quem atendeu. E pela porta entrou mais uma mulher, mais nova que a anterior,  com cabelos curtos, negros, lisos, e muitos piercings, mascando um chiclete sem parar e que aquela altura já nem devia mais ter gosto algum, e entrando com uma mala grande e pesada sem dizer quase nada a ninguém. A cabeleireira.

Enquanto Chanyeol cumprimentava as convidadas, Baekhyun olhava Seulgi desentendido, esperando que ela igualmente estranhasse o movimento na sala, mas esta só jogava a cabeça no encosto do sofá e gemia das dores que a acometiam de minuto em minuto.

De três pessoas que entram pela primeira vez nesse bairro tão escondido, pelo menos uma tem que se perder. O cantor passou bons minutos no telefone dando instruções a mais alguém que faltava chegar, dava pontos de referência que nem mesmo ele sabia estarem corretos, e repetia “direita” e “esquerda” fazendo movimentos com a  mão como se a pessoa do outro lado da ligação pudesse ver e tomar como coordenada. Uma voz nasalada e hiperativa começou a se aproximar da casa,  as pessoas na sala voltaram sua atenção para a porta da frente fechada e viram esta ser invadida, uma vez que alguém girou a maçaneta, e empurrou a porta com o pé, fazendo ela bater contra a parede.

Baekhyun murmurou que a residência estava virando a casa da mãe joana, quando mais uma mulher entrou. Esta tinha cabelos longos, óculos de lentes grandes e redondas no rosto, e um celular ainda na orelha, mantendo a chamada com Chanyeol. Mas o que realmente chamava a atenção, eram os conjuntos de ternos de gala que ela tentava equilibrar nos braços, uma mistura de tecidos embalados em plásticos, uma bagunça tão grande nas mãos que não dava para contar quantos trajes segurava ao todo, estes escorregavam de seus braços e ela, desajeitada, tentava colocá-los no lugar, isso a tornava uma figura cômica, estabanada, que colecionava olhares de estranhamento de todos no ambiente.

Em pouco tempo, conforme as mulheres preparavam seus materiais de trabalho, a sala foi ficando sem espaço. Chanyeol tratou de explicar que aquelas eram funcionárias de sua empresa, e trabalhavam direta e exclusivamente para ele. E agora, estavam aos serviços de Baekhyun. A moça das roupas ajudou-o a escolher o melhor terno, enquanto as outras duas discutiam qual estilo de cabelo combinar com a maquiagem, até entrarem em um consenso, já que Baekhyun não tinha muita opinião para dar. Quando assimilou as coisas, foram estas três figuras que Baekhyun chamou de “as três espiãs demais”, o que deveria fazer Seulgi rir junto a ele, no sofá, se ela estivesse com ânimo para isso. Em um momento a maquiadora, a do olhar sério e penetrante, perguntou a Seulgi o que podia fazer por ela, “Me dar um tiro.” foi o que a menina respondeu, jogada no móvel como se realmente esperasse pela morte. “O que aconteceu com ela?” a mulher perguntou a Baekhyun,  e ele lhe explicou; “Ela tá menstruada”. Neste momento a mulher desfez num piscar de olhos a pose tão séria e centrada, e fez um carinho no braço da menina, se compadecendo dela como uma amiga, dizendo “Eita, eu sei como é isso, na sua idade era horrível pra mim.” Ninguém estava olhando diretamente para Chanyeol, então não puderam ver o quanto ele estranhou aquilo, em sua cabeça, começava a pensar que cólica é um assunto que reúne todas as mulheres em uma só causa, algo universal, um fator comum do qual ele não entende a dimensão. Foi depois disso que, pela primeira vez, viu as três funcionárias, que o acompanharam ao longo de toda a carreira, trabalharem sem um pingo de postura profissional. A casa de Baekhyun tinha o poder de se tornar o lugar mais acolhedor do mundo todo, e deixar todas as pessoas a vontade com pouca conversa. A maquiadora havia desfeito o coque, seus cabelos tocavam os ombros, seu blazer jazia em cima do outro sofá que foi empurrado para o canto da sala na busca por mais espaço, e ela não quis mais saber do salto agulha esquecido no canto de uma das paredes, a cabeleireira foi mais longe, e tirou sua blusa preta pra driblar o calor da manhã, fazendo seu trabalho de sutiã rendado e pés igualmente descalços. Cuidava dos fios de Baekhyun de forma improvisada, na ausência de uma cadeira com lavatório, o garoto tinha que tirar o resto de produto químico enfiando a cabeça num balde. A sala era uma bagunça de risos e fios de eletricidade, extensões e tomadas, que se pareciam com os preparos para um dos shows de Chanyeol, com gente andando entre um enrolado de cabos de força. Barulho de secador e conversa alta, cheiro de produto químico, o cantor escorregou duas vezes em base líquida que respingou no chão, a casa mais parecia um salão de beleza clandestino e improvisado. Quando terminaram, as duas estavam despidas, sujas, aos farrapos, felizes, e Baekhyun estava bonito como nunca estivera antes.

E foi Chanyeol quem disse isso…

Foi quando Baekhyun ficou totalmente envergonhado pela forma como aquelas palavras foram ditas, que um clima embaraçoso pesou sobre a cabeça de todo mundo, até Seulgi esqueceu da dor, e encarou o cantor que estava namorando com os próprios olhos a  aparência do falso par romântico.

Por sorte o bule de chá gemeu na cozinha, onde a terceira moça, que trouxe os ternos, preparava uma receita de vó para amenizar as dores de Seulgi. E com o apito do chá pronto, as pessoas na sala desmancharam os vestígios do melodrama daquele já meio de tarde

Ali era, basicamente, casa de todo mundo. Depois do chá de Seulgi,  a moça ainda serviu café, depois de Baekhyun ensiná-la como acendia o fogo. E falaram do trabalho, falaram de seus casamentos, do namoro entre os dois rapazes. Fizeram piada da bagunça, dos gemidos de Seulgi, que resultou em uma crise de risos na coitada, Baekhyun levava bronca quando passava demais a mão no rosto ou no cabelo, e até brincaram que o som de estouro vindo da rua podia ser bala perdida, todo mundo riu, menos Baek e Seulgi porque sabiam que podia ser verdade, se entreolharam, mas não disseram nada, era melhor deixar quieto.

 

O telefone de Chanyeol só voltou a tocar quando a conversa já estava se dissolvendo pelos cantos, os assuntos começaram a ficar mais particulares entre as mulheres, enquanto Seulgi subiu para usar o banheiro de cima, Baekhyun passou a tirar fotos e registrar sua nova aparência, Chanyeol voltou a dar instruções no telefone de como andar no bairro, para a última pessoa que estava prometendo chegar.

“Gente, não é por nada não, mas parou um carrão aqui na porta.” disse a moça dos óculos grandes que estava mais próxima de uma das janelas - que nunca estão totalmente abertas, não se pode confiar na vizinhança quando um astro da música nacional está morando em casa.

A pessoa dona do carrão bateu na porta, já começou errado, gente boa não havia de ser, pensou Baekhyun. Dessa vez, Chanyeol foi pessoalmente recebê-la.

A porta foi aberta, um homem baixinho e calvo ficou parado em cima do tapete, as mulheres o reconheceram, e um clima pesado entrou na casa junto com a brisa da rua.

Roupa social, relógio caro, carrão, caneta no bolso, pasta na mão, Baekhyun não teve dúvidas.

 

Era o chefe.

O rapaz já parecia ser mal encarado por natureza. Era baixinho, chegava a ser ridículo perto de Chanyeol. O silêncio era de dar nos nervos, os olhos dos dois pareciam se fuzilarem, raio laser se confrontando, Baekhyun já pensava em toda a carga de autoridade que o homem tinha na postura, devia possuir uma mente brilhante por trás daquela testa enorme (teve medo de ele poder ler pensamentos nessa hora). A cena era a mesma de Star Wars, onde a princesa Leia é levada por stormtroopers e colocada diante do terrível e temido Darth Vader, ela também o encarou com olhos afiados, igual Chanyeol, e quem assistiu a cena, também deve ter engolido seco, igual as moças no sofá.

‘Darth Vader, only you could be so Bold.’

 

De repente Chanyeol abriu os braços, e um sorriso vindo do nada, de orelha à orelha.

— Cabeção! - Quase cantou, cumprimentando o seu agente. Andou até ele e tirou o homem do chão com um abraço, que se mantinha de cara fechada enquanto era sacudido de um lado para o outro. Lá de cima veio um barulho de descarga, e Baekhyun pôde imaginar perfeitamente todo o respeito que achou que Chanyeol tinha pelo seu superior descendo pelo cano.

— A gente precisa ter uma conversa muito séria, garoto - disse o agente. De fato, não dava mesmo para respeitá-lo, além da altura quase infantil, o cara tinha uma voz tosca, daquelas que a gargalhada deve ser uma piada de escandalosa.

Simplesmente não dava pra respeitar.

Estranho foi ele ter chamado o idol de garoto, afinal, Chanyeol já é um homem. Mas isso fez Baekhyun - que ainda só assistia a tudo - se perguntar que tipo de relação teriam os dois...

— Trouxe o que eu pedi? - perguntou Chanyeol.

— Trouxe - o homem respondeu e apontou a pasta -, Mas antes, eu e você, na cozinha, agora.

Ele não sabia onde ficava a cozinha, por isso rodou igual uma barata tonta. Quando Chanyeol o guiou, deixaram para trás um Baekhyun cheio de perguntas e as três mulheres se questionando o motivo da presença do chefe.

Iniciaram uma conversa na cozinha, com Chanyeol sentado do lado contrário da cadeira, e o cabeção em pé.

— … Olha aqui, Chanyeol,  eu sou seu chefe, mas eu também tenho um chefe, e esse chefe tem um chefe, que tem um chefe maior ainda. E esse último chefe não tá nada feliz com a forma como você tá agindo esses últimos dias.

— Eu tô de férias - deu de ombros.

— Não se faça de besta, não é porque você não tem o mínimo respeito por mim que vai me fazer de trouxa. E esse garoto aí, hein? - sussurrou o último assunto - , o que foi essa declaração de namoro que ninguém tava sabendo? O que você pretende com tudo isso?

— Olha, até onde eu sei, já faz muito tempo que a minha proibição de namoro foi revogada - Chanyeol dava aquelas mesmas respostas vazias, cheio de rodeios, respondia o óbvio, e o rapaz baixinho já começava a rodar pela cozinha, impaciente.

— Não me tira do sério,  Chanyeol! Então é isso o que você quer? Morar nesse fim de mundo, numa casa dessas sem luxo nenhum, com tanto dinheiro que você tem? Você tá passando fome, hein? - o homem, já meio exaltado, abriu os armários avaliando a despensa de alimentos - Pão sem lactose? Você virou vegano? Só tem coisa natureba aqui, é isso o que você tá comendo?

— Não, quer dizer, sim. Ai, é uma história complexa - coçou atrás da cabeça - mas ó, relaxa cabeção… - se levantou e jogou um dos braços ao redor do pescoço do chefe. -  Vai ficar tudo numa boa, eu só preciso que você me entregue o que eu pedi.

— Eu espero não me arrepender amargamente disso - o chefe soprou com pesar, e lhe passou a pasta. - A mídia tá louca atrás de você, farejando qualquer sombra de informação, e enquanto isso nós estamos a ponto de fechar contratos milionários no seu nome. Portanto, fique longe dos jornalistas.

Chanyeol lhe mostrava um sorriso amarelo de despedida que dizia “Vou tentar, porém não prometo nada”. Assim o homem de roupa social saiu da cozinha, passou pela sala sem dizer nada a ninguém, se meteu dentro de seu carrão, e deu o fora rua abaixo.

 

Chanyeol saiu da cozinha passando a mão na testa e puxando os cabelos para trás enquanto soprava de alívio pelo chefe ter ido embora, as mulheres estavam igualmente desconcertadas, apenas os quatro entendiam aquele sistema de hierarquia que funcionava à base de medo mascarado. Ele atirou folhas de papéis, grampeadas juntas em uma ponta só, no colo de Baekhyun, que ainda se admirava na câmera do celular.

— O que é isso? – perguntou, tirando a atenção de sua própria imagem na tela e desfazendo o ângulo da foto que estava prestes a tirar. Tocou as folhas com a ponta do dedo, testando, como alguém cutuca uma comida ruim que não pretende comer.

— Um ensaio da série que a gente vai tentar te colocar, você precisa ler com atenção, aí está a sua passagem pra um papel na tevê.

— Esse monte de rabiscos? – segurava as folhas pela pontinha com os dedos, olhando distante.

— Isso é material bruto, direto do próprio diretor, e foi muito difícil de conseguir. Isso é todo o pré-planejamento da película principal e se você souber interpretar isso e mostrar pra ele que entende a ideia, ele vai te garantir um papel com toda certeza, ou eu não me chamo Park Chanyeol.

— Acho que tô entendendo... – Baekhyun começou a ler com mais afinco, eram poucos paragráfos, coisas escritas a lápis, desenhos, frases soltas, como se o diretor tivesse tido um lampejo de ideia e desaguado tudo naqueles papéis no mesmo instante, e de alguma forma, Chanyeol conseguiu aquilo em primeira mão.

— Eu sei que é difícil compreender tanta coisa técnica, mas eu já dei uma olhada na cozinha e vou tentar resumir pra você – o cantor começou a andar pela sala e dar a todos uma aula com as mãos sobre conceitos de séries de comédia. – No começo, a ideia da série parece ser só mais do mesmo, com conflitos inusitados e situações improváveis, cheia de graça forçada e risadas falsas de fundo, mas... o tema central parece ser sério, e tratar de coisas profundas com comédia limpa e’

— É tipo how i met your mother com um pouco de friends.

Chanyeol parou perto da escada, engolindo todo o discurso.

— O que disse?

Baekhyun ainda tinha toda a atenção nas páginas, ignorando todo o  falatório, e as garotas pareciam querer ouvir o que ele tinha a dizer ao invés das aulas do professor Chanyeol.

— Que a série é tipo friends e how i met your mother.

— Não, Baek, você não tá entendendo, é uma coisa nova...

— Eu tô entendendo, sim. Entendi o que você disse sobre parecer ser mais do mesmo, a estrutura é toda de séries estadunidenses, a diferença é que eles não medem esforços na hora de detalharem assuntos complexos,  como coisas sexuais por exemplo, tipo Física o Química, é uma parada nada Family friendly, mas sem exageros, nudez e palavrões. Saquei, achei meio genial até.

— Você tem que olhar pelo lado técnico da coisa.

— Pra quê?

— Só escuta o que eu tô falando, eu já fiz filmes...

— E eu assisto os filmes. Chanyeol, metade do meu dia com a Seulgi era assistindo série, eu conheço o lado técnico, mas vai por mim, o resultado é o que importa. Quem melhor que o público pra opinar nessas coisas? – dizia sentado na poltrona, seguro de sí.

— Mano, como você é teimoso. – disse impaciente. – Eu vou te explicar de novo o’

— Eu acho que o Baek devia fazer do jeito dele – Seulgi disse levantando a mão, entrando no assunto, claramente indisposta a ouvir as aulas de Chanyeol mais uma vez.

 Ele se rendeu.

— Mais alguém acha isso? – perguntou.

E as outras moças também levantaram a mão. Indispostas.

— Viu só... – Baekhyun pontuou.

 

Chanyeol se deixou arrumar o cabelo e maquiagem com um gosto de discussão perdida na boca.

 

 

...

 

 

Foi a primeira vez que um carro tão grande entrou por aquela rua, mas ninguém estava do lado de fora pra ver. O motorista do evento chegou para buscá-los juntinho da noite, buzinou antes para os cães saírem da frente do que para os futuros passageiros ouvirem sua chegada, não é todo dia que os vira-latas vêem uma limusine, teve que espantá-los pra não urinarem no seu pneu, e ainda teria de esperar uns bons minutinhos, pobre homem.

No banheiro de seu quarto, no andar de cima, Baekhyun estava trajado, e com um dilema a se resolver, gravata comprida ou borboleta?

Escolheu a borboleta.

— Borboleta não. – disse Chanyeol, entrando, ajudando a preencher o pouco espaço.

Baekhyun o olhou no reflexo, não era o Chanyeol que cozinha, que joga damas e baralho, que graciosamente serve copos de leite, que ler, que cai, grita e fala palavrão. Usava um terno preto, abotoado apenas pelo  meio, o cabelo brilhante, a pele perfeita, uma postura de homem importante. Ele era aquele Chanyeol que canta, que dança, que é bonito, inaceitavelmente bonito, formalmente bonito. Bonito de perder a fala, bonito de irreconhecível. Bonito de uma forma que o fez perceber que nesta noite serão tiradas fotos de capas de revista e isso é bom; bonito como uma casca, bonito de mentira. Bonitos como namorados de mentira.

— Baekhyun! – Chanyeol chamou, seu reflexo balançando a mão.

— Oi! - percebeu estar distraído.

— Eu disse que borboleta não combina com esse evento.

— Você acha?

— Na verdade, não importa muito desde que usemos o mesmo tipo de gravata, se você quiser borboleta eu troco a minha.

— O que você acha?

— Que nem importa, tipo – coçou a nuca, tentando peneirar as palavras – Eu acho que... Qualquer coisa... vai combinar.

 Olhava Baekhyun, ali, tão perto, e ele estava bonito, de penteado bonito, de costas ereta e ombros destacados  no terno de um jeito bonito, de contorno nos olhos bonitos, de pele bonita, de verdade. Só que essa palavra não ia sair casual de sua boca, não limpa, não sem notas de admiração, não lhe tirando mais ar que o necessário, talvez, não sozinha, não sem terminar a frase como se perdesse as palavras mas ainda precisasse descrever sua beleza naquele momento.

Era melhor não dizer nada.

— O que você tá querendo dizer?

— Que você tá bonito! Muito bonito, meu deus, você tá lindo, eu sinto como se eu estivesse prestes a me casar e eu ainda me acho muito novo pra casar tipo é só um evento, mas meu deus eu acho que quero estar bonito assim no dia do meu casamento e se meus pais vissem isso eu tenho certeza que eles iam, err, nossa... arrr – suspirou – ... eu não sabia que você também podia ser tão... tão... – percebeu que já não olhava mais o reflexo dele, mirava a frente, mas não enxergava nada, era como se as palavras de tão sinceras ganhassem cores e invadissem sua vista, inundassem o banheiro e o impedissem de enxergá-lo. Olhou Baekhyun, afastando as cores, ele estava sem saber o que dizer, no mais provável, a um pé de soltar uma frase super corta-clima. Cuspiu de uma vez – Borboleta, Baekhyun, vamos usar borboleta.

Deu as costas e segurou a maçaneta.

Sentiu seus dedos serem segurados de uma forma tão tímida quanto um dó menor sussurrado. Olhou para a mão abaixada, e seguiu a trilha dos dedos grandes, finos, tímidos e invasores que lhe seguravam, do punho, por todo o cumprimento do braço coberto pelo terno negro, até seus olhos indecifráveis. Baekhyun o estava tocando, por que quis, era a mão dele, nua, quente. Forte, quando o trouxe para perto, de volta para o espelho. Olhos nos reflexos. Lado a lado, mas as mãos, entrelaçadas, surgiram no meio dos dois, ligando-os como um elo de corrente.

Baekhyun olhava sério.

Chanyeol teve medo de tremer.

— Acho que somos um belo falso casal – o garoto disse.

— Somos.

— Vão olhar pra nós.

— Vão...

— Vão olhar pra mim – ele sorriu.

— Qual pose acha que devemos fazer? – Chanyeol aproveitou do seu sorriso pra puxar uma graça.

“Assim?” disse colocando os dedos no queixo no formato de um L, imitando uma pose marginal do tempo do rádio, “ou assim?” virou de lado e cruzou os braços, “E assim?” sinal de surfista, já não exibem mais filmes onde se veem essas poses de forma legal, mas Baekhyun estava rindo muito de todas elas.

— Acho que prefiro você cantando que tentando fazer graça – mas disse rindo.

Contradições, penteados e ternos escuros.

— Ah, eu tento vai...

— É sério, nem é engraçado parece o meu avô no natal.

— Se você disser isso eu vou ligar essa torneira’ – ele ligou a torneira, e encheu a concha da mão d’água – e vou tirar toda a sua maquiagem.

— NÃO! – Baekhyun gritou, rindo largo, e tentou se defender com um desentupidor.

— Ah, eu vou!

— Não, sai daqui!

—  ó, Ó... ÁGUA!

— ME DEIXA, SEULGI, SOCORRO!

 

O banheiro era pequeno demais pruma luta, Seulgi estava sorrindo demais lá embaixo, comendo pipoca demais pra acabar com a graça, o motorista talvez não tivesse paciência demais pra não fumar um cigarro enquanto esperava, ouvindo as risadas lá em cima e se perguntando quão mais a brincadeira ia durar.

A festa da noite começou cedo, no andar de cima.

 

Desceram sorrindo as escadas até embaixo, de um jeito elegante no começo, mas Baekhyun quase vacilou no degrau. Pararam na frente da menina. Ela estava com uma tigela de pipoca num braço, abastecendo as bochechas com a outra mão, uma por uma, mastigando, balançando a cabeça vendo graça em alguma coisa, sorrindo pra eles.

— Vocês estão bonitos demais, tenho que tirar uma foto! – ela largou a tigela na mesa de jantar ali perto, bateu as mãos e correu buscar a câmera, voltou cutucando pelezinha de milho presa no dente. Parou bem em frente a eles, um olho atrás da lente, o outro fechado, mirando, calculando, tirou a foto. Mas a câmera não conseguiu captar o ar de gala que via neles e saíram iguais a duas debutantes prestes a ir ao baile, palavras dela.

— Amiga, me deseja sorte.

— Sorte.

Os dois andaram até a porta, e lá fora estava o carro enorme, maior que na TV, maior que nos filmes, não dava pra saber se estava parado mais na frente de sua casa que na do vizinho. O motorista cheirou a roupa e as mãos, e abriu a porta, Baekhyun entrou primeiro, e Chanyeol direcionou um último olhar a Seulgi que se despedia da porta, comendo pipoca.

— Voltamos à meia noite – ele disse.

— Tragam comida pelo amor de Deus!

 

Noite de luxo para uns, pipoca, tevê, roupa masculina, mau humor e cólica pra outros.

 

 

 

...

“Nós somos os únicos dois Beatles vivos, embora ele goste de pensar que é o único.”

-RINGO STARR

 

 

 

Era como andar de táxi, ter alguém dirigindo pra você. A diferença é que todos usavam roupa formal, havia uma janela interna que separava o motorista dos passageiros, no lugar de balinhas serviam três tipos de champanhe, o banco era confortável e grande demais para duas pessoas, o ar perfumado, a frente deles uma tela acoplada sintonizada no oito transmitia as primeiras impressões e a faixada do evento.

Era aniversário de cinquenta anos de um canal da televisão, onde também aconteceriam premiações importantes, Chanyeol quem disse.

A noite estava mesmo com clima de festa, pela janela de vidro escuro via muitos lugares ainda em funcionamento e pessoas andando pelas ruas, muita gente bem vestida parada e distraída nas esquinas. A cada semáforo, Baekhyun esfregava os próprios dedos uns nos outros, e começava um tique ansioso no joelho. Se aproximavam cada vez mais da parte da cidade onde os edifícios ficam gradativamente mais altos e bonitos, em vinte minutos, chegavam a nível de arranha-céu. O cheiro de perfume caro no ar, as roupas bonitas, um carro digno de empresa milionária fazendo o favor de busca-los, já se sentava ereto e  assumia uma postura formal antes mesmo de chegar na metade do percurso. Chanyeol olhava as horas no relógio caro, desabotoava e abotoava de novo o terno caro, batia o pico dos sapatos caros um no outro, Baekhyun sentia o luxo entrar por suas narinas junto do sopro gélido do ar condicionado do veículo.

Eles chegaram ao destino, o carro foi diminuindo de velocidade na medida em que tomava uma rota cheia de curvas, a rua atrás do prédio do evento estava fechada, havia grades, homens de preto com escutas nos ouvidos fazendo a segurança, afastando fotógrafos  da área não autorizada, paparazzi intrusos e fansites, tinha  pessoas com crachás, formiguinhas operárias correndo de um lado para o outro se certificando de que tudo estava indo bem. Baekhyun olhou a janela, e questionou quem eram aquelas pessoas com microfones correndo tanto e tentando driblar os seguranças, quando era óbvio que as investidas para furar as grades eram em vão, e Chanyeol respondeu que eram repórteres pequenos, que devia ter cuidado com eles, provavelmente estavam farejando informações como ordem de chegada dos artistas e tentando tirar fotos em área não autorizada.

Alguns homens suspenderam as grades e arrastaram para o acostamento, abrindo passagem para o veículo, o motorista estacionou na ultima posição de uma fileira com mais limusines paradas. Podiam ver os faróis correndo nas nuvens, as luzes na parte da frente eram fortes, e o barulho era de cidade e festival, afogado pelo vidro temperado do carro. O motorista abriu a janela interior que os dividia.

— Nós vamos descer aqui? – perguntou Baekhyun a Chanyeol. – Nos fundos?

— Não, a gente não vai descer agora – o garoto não entendia. – A gente fica aqui, esperando uns vinte minutos, mais ou menos. Os carros sempre vão de um em um, provavelmente o nosso carro chegou por último, mas vai sair primeiro, é que, nem sempre dá tempo de televisionar a chegada de todo mundo então eles precisam... como vou dizer?... dar lugar para os favoritos.  

— Nós somos favoritos?

Alguém lá na frente bateu no vidro do motorista, um homem de prancheta na mão e fones de ouvido gordos ao redor do pescoço curvou as costas para dar instruções a ele, e saiu.

— Pelo visto, somos os principais.

Baekhyun soprou.

— Nervoso? – perguntou Chanyeol.

— Não sei, eu só vi essas coisas pela televisão do meu quarto.

 O carro começou a manobrar e se deslizar para fora da fila, deixando uma lacuna entre as outras luxuosas e negras carruagens metálicas, devagar, dava a volta no quarteirão, e mais barulho entrava pela fina fresta microscópica do vidro da janela a medida que se aproximavam da fachada. E mais um corredor de grades, atrás delas, fãs, com cartazes, com celulares, e com câmeras altamente profissionais subindo em banquinhos de madeira para romper a parede alta de costas e cabeças. O carro passava muito próximo, as lentes tentavam fotografar o interior do veículo, era difícil, quase dava pra ver o flash que vinha em sua direção sendo barrado pelo cristal preto ofuscado. O movimento das rodas parou mais uma vez, se aproximava da entrada de maneira arrastada, atrasando o tão esperado momento, tão devagar que a ansiedade crescia como uma bola de neve gelada em seu estômago, a fachada estava a pouco mais de dez metros. O veículo da frente finalmente saiu de sua posição e o cumprimento do seu começou a se alinhar perfeitamente a entrada do prédio.  Chanyeol deitou sua mão no banco, entre os dois, com a palma para cima, e abriu os dedos, como uma flor desabrochando. — Está pronto?

— Eu sempre estive. – Baekhyun deitou sua mão sobre a dele, as palmas colaram, os dedos se abraçaram. A porta do lado de Chanyeol foi aberta por outra pessoa lá fora, e juntos de mãos dadas, desceram da limusine.

Pôs o pé direito no tapete vermelho, e fora da cúpula confortável do automóvel, o som da glória se intensificou como destampar a panela de pressão. Gritos, berros altos, raspando a garganta, histeria, e uma onda de flashes em seu corpo. Foi quando percebeu a paisagem a sua frente. Era real, pisava um tecido que de tão sublime não parecia estar forrado no chão, dos dois lados, grades, atrás, fãs histéricos, na frente, os jornais, a televisão, os sites, as revistas, cameramans, fotógrafos, repórteres. Olhavam para ele, apontavam lentes em sua direção, capturavam sua imagem, aquilo era por ele, era para vê-lo, ele era o evento, era parte do show, naquele momento, era como se o simples fato de ser Byun Baekhyun fosse uma sorte única, um triunfo de um só, glória de poucos, ele era ele, e isso valia gritos e luzes. Olhou Chanyeol, ainda parados no lugar, e começou a entender o que era a roupa cara, a maquiagem, a postura, as poses, a ciência do sorrir e acenar; Baekhyun começou a sentir aquela mesma casca se formar por cima de sua pele, e era divino.

O carro saiu de vista, entregando-os ao evento, e os dois começaram a desfilar pelo tapete vermelho. Baekhyun sorria levemente, simpático, gentil, dizendo apenas com os olhos um olá amigável para aqueles que o viam pela primeira vez, se apresentando sem palavras, seu andar dizia que era Byun Baekhyun, prazer, a forma como se segurava em Chanyeol dizia que aquele era seu namorado. Entre acenos e sorrisos, barulho e luzes, tendo os movimentos acompanhados por um câmera andando de costas filmando a frente, foram parados pela primeira repórter, a oficial do evento, que trajava um vestido roxo de gala, brincos de argola elegantes, um colar com pedras pequenas e brilhantes, uma aura de quem ama o luxo do ofício.

— E vocês acompanham exclusivamente a chegada do casal mais comentado e aguardado do momento, estou aqui com Park Chanyeol e seu namorado Byun Baekhyun, sejam bem vindos e que honra recebê-los aqui hoje. O que acharam da recepção calorosa do público? Que pelo barulho, parecem apoiar demais esse novo casal.

Fãs gritavam o nome de Chanyeol.

— Estou feliz em tê-lo comigo hoje, depois de cinco anos de carreira é bom vir a um evento acompanhado pela primeira vez – fez uma piada, polida como diamante, a moça sorriu.

— Mas que felicidade é poder ouvir isso – ela, com uma onda de animação, se deu a Baekhyun. – E deixa eu falar com ele, a pessoa que todo mundo tanto quer conhecer, como é estar ao lado de um dos cantores mais premiados dessa geração?

— Boa noite, é uma honra estar aqui e poder ser tão bem recepcionado, pra mim tudo isso é uma grande novidade mas esse grandão aqui consegue fazer parecer um passeio no parque – disse outro diamante.

— Que romântico! Vocês dois formam um casal espetacular e não sou só eu quem está dizendo, é a internet inteira.

— Obrigado, obrigado. – Chanyeol fez uma curta reverência.

— Bom, tenham uma ótima noite e foi um prazer.

— O prazer é todo meu – disse Baekhyun.

Assim voltaram a desfilar, com um funcionário raspando a barra das grades para apontá-los o caminho em frente sem interromper as filmagens. Foram parados por mais um repórter. Um homem que pela roupa extravagante era do ramo da moda e das colunas de revistas.

—... E eles estão aqui, bem na minha frente, Chanyeol e Baekhyun, gente, vocês são assunto fortíssimo, como está sendo essa convivência que já está caminhando para os seis meses? – Baekhyun se inclinou para o microfone antes de qualquer movimento.

— Estamos muito felizes e o apoio vindo dos fãs dele é o que mais me aquece no momento, é gratificante, me sinto acolhido, e isso cresce cada vez mais junto com o meu amor por ele – Chanyeol não conseguiu conter o olhar de desacreditado quase se fincando como presas na figura baixinha ao seu lado, disfarçou com um sorriso, mas estava pasmo de verdade, tanto que mal soube o que responder quando as perguntas foram direcionadas a si, não sabia se mais tarde da sua boca sairia um elogio pela atuação de Baekhyun ou xingamento pela cara de pau.

As grades ficaram maiores, pessoas o ampararam no final do tapete, e os direcionaram para mais um corredor, dobrando a esquerda e logo a frente tinha um pódio, na mira de uma multidão de fotógrafos. Antes de chegar até lá era só passar raspando por mais uma grade, esta de um lado só e com ainda mais repórteres, que diferente dos outros, se espremiam e se acotovelavam para ficar mais perto dos passantes. Chanyeol trocou Baekhyun de lado, fazendo-o dar a volta em suas costas e o jogando para o canto afastado dos repórteres, estes eram aqueles mesmos que viram correr e serem barrados, e estes davam suas vidas para conseguirem um lugar naquelas barras de ferro. Seguiram em frente, em direção ao pódio, e as pessoas começaram a lançar seus microfones na direção deles como espadas ameaçando espetar os dois, as vozes eram gritadas e uns faziam mais esforço em se impulsionarem para frente e serem vistos e ouvidos que os outros. Estes são os perigosos, os marginais, não medem o quão invasivas serão suas perguntas e não se sabe ao certo o que farão com as informações caso consigam abocanhar alguma resposta. Era como andar na prancha por cima de um rio de piranhas.

Entre as perguntas gritadas no ar, três foram facilmente compreendidas.

 

“Vocês estão juntos a mais tempo do que dizem estar?”

“Se a foto não tivesse vazado em uma página do facebook teriam mantido a relação em segredo?”

“Park Chanyeol, é verdade que você ainda não renovou o contrato anual com sua empresa?”

 

Sem lhes dar o luxo da resposta, Chanyeol continuou andando em frente, até os seguranças empurrarem os repórteres que jogam sujo para mais longe das grades e assim os dois subirem na plataforma.

Ali de cima, qualquer som externo era encoberto pelos cliques das câmeras, agressivos semelhante a disparos de pistolas, não dava para ver ninguém, apenas pontos de luz, milhares, tão rápidos que eram incapazes de serem registrados pela percepção de Baekhyun e estavam por todo seu campo de visão, seu corpo era iluminado de uma forma incandescente, recebia uma chuva de prata, flashes incessantes, piscavam em um ritmo frenético, dezenas de fotos por segundo, centenas de cliques com som de  máquina de datilografar emperrada. Um banho de brilho digno de alguém que acaba de dar boas vindas ao seu ideal de vida. Finalmente, o tão esperado sabor da fama.

Um homem de terno cinza se aproximou, foi facilmente reconhecido, era Simon buena noche, em pessoa, um comediante do programa das nove, amado por Seulgi e Baekhyun. Aproximava-se sorrindo animado, à medida que um camera entrava na frente dos fotógrafos e barrava alguns dos flashs para filmar a recepção, enquanto eles chegavam, outros artistas desciam do pódio.

— E a noite acaba de ficar ainda mais interessante porque eles estão aqui! “Please taste my body in the blue room” – ele cantarolou um trecho de uma das músicas de Chanyeol. –  Que honra ter um casalzão desses bem na minha frente e em primeira mão por que têm que dar audiência, não é mesmo. – fez uma piada – como um grande fã das suas músicas, eu peço de todo coração, me convidem para o casamento de vocês, nem que eu tenha que servir de garçom. Era a vez de eles responderem, mas Chanyeol foi passado para trás por Baekhyun, ele tomou a frente e cara a cara com o buena noche respondeu como se houvesse uma atração magnética entre ele e o microfone:

— Vou pensar a respeito do convite, Simon.

— E olhem só, mas quem é esse rapaz do sorriso tão encantador? Byun Baekhyun?

— Eu mesmo – ele sorriu.

— Eu já tinha medo de perder minha mulher pro Chanyeol, mas olha, é capaz de ela me perder pro namorado dele, é melhor ficar de olho aí em casa, amor. – apontou para as câmeras, os fotógrafos riram. Os flashs disparavam com menos intensidade – me diz, como foi que esse garanhão aqui te fisgou?

— Ah... olha... vou ser bem sincero com você, Simon, não foi muito difícil.

— É compreensível, haha.

— Total, principalmente quando blue room foi composta pra mim, não tem como resistir a isso. – Chanyeol o olhou de canto, cada pedacinho de sua feição gritava que aquela informação não procedia.

— Minha nossa, se essa era a minha música favorita antes agora eu me sinto quase um terceiro integrante dessa relação.

— Nossa cama é pequena, se é que me entende, Simon.

— Olhem só, senhoras e senhores, eu acabei de levar um fora em rede nacional.

— É só sorrir e acenar e fingir que nada aconteceu. – os dois sorriram e acenaram, atuando, e riram um para o outro daquilo.

— Que carisma, você teve muita sorte, Chanyeol.

— É, ele é surpreendente. – finalmente o cantor respondera algo.

— Bom, então, se divirtam hoje e tenham uma boa noite.

— Uma buena noche pra você também, Simon – disse Baekhyun, estalando os dedos e apontando para ele, enquanto saiam pelo outro lado do pódio.

— Haha, eu adorei ele! – foi a ultima coisa que o humorista disse, depois de rir e ser deixado ali, dando seguimento a programação. Ali, em dois minutos, Baekhyun garantiu as manchetes da manhã seguinte; “ Baekhyun diz ter sido facilmente conquistado por Chanyeol ‘Blue room foi composta para mim’ ele revela.”  “Park Chanyeol e o namorado Byun Baekhyun estão possivelmente morando juntos e dormindo na mesma cama, + extra:  dúvidas e especulações sobre a vida sexual do casal” “Simon buena noche leva uma fora ao vivo e já se sente amigo da subcelebridade.”

 

As portas do prédio lhes foram abertas, lá dentro se destacava um mar de mesas redondas cobertas por um pano branco brilhante e reluzente, cadeiras da mesma cor, elegantes, diante de um palco digno de concertos épicos, e seus lugares foram reservados com antecedência. Ainda se situando e buscando seus assentos, Chanyeol passava por pessoas enquanto estas o saudavam e felicitavam os dois. Estranhamente, Baekhyun não conhecia ninguém. A mesa tinha quatro lugares, o garoto se sentou com uma cadeira de distância, mas foi coagido a ocupar o assento bem do lado do cantor. Tinha muitas pessoas ali, mas conhecia poucos rostos e a baixa iluminação não era desculpa.

— Eu achei que ia ter mais gente famosa por aqui, a maioria é gente velha – disse Baekhyun, baixinho, enquanto alguém no palco discursava sobre coisas que ele não entendia  e logomarcas passavam no telão.

Chanyeol riu de sua ingenuidade.

— Vai por mim, você quer muito estar aqui. Aqui estão reunidas todas as pessoas poderosas no ramo do entretenimento, eu tô falando de peixe grande, tem gente aqui que pode alavancar ou destruir a sua carreira em dois meses. Esse tipo de evento é onde se fecham negócios em segredo. É o lugar ideal pra conhecer pessoas e conseguir contatos.

A parte chata, para o Byun, foi ficar quase duas horas ouvindo agradecimentos e vendo vídeos de programas antigos numa retrospectiva de todos os cinquenta anos de televisão do canal aniversariante, a premiação aconteceu, para diretores, atores e coadjuvantes, roteiristas, achava que ninguém estava prestando atenção em si até Chanyeol, inesperadamente, ser anunciado para receber um prêmio por trilha sonora de um filme, um daqueles caras da câmera se juntou a eles na mesa para filmar sua reação, e a imagem do casal surgiu nos telões, as palmas foram maiores que em qualquer outro momento, atrizes de renome ficaram de pé, o cantor era como o filho favorito, e nos agradecimentos, dedicou a pontinha final das últimas falas a Baekhyun, que sentado sozinho, teve toda a atenção dos presentes, em todas as mesas, visto em todas as telas. Estava aí o vídeo de premiação mais curtido e visualizado da manhã seguinte.

As horas se estenderam, na mesa deles tinha taças da servida da noite, e um prêmio dourado de arranjo. Enquanto batia palmas para mais um convidado a subir no palco, Baekhyun foi interrompido e cutucado no ombro, Chanyeol chamou atenção para um homem na mesa atrás deles, os dois olharam atrás, na direção do apontado, os três trocaram um olhar espião, o homem levantou a taça, saudando-os , se endireitaram e voltaram a visão para frente, pra conversar.

— Aquele é o amigo quem te falei, vou apresentar vocês dois.

O rapaz era mais jovem do que Baekhyun imaginara ser, era ruivo de cabelo alto e espetado, e tinha um cavanhaque ralo embaixo do queixo, era um cara bonito, boa pinta, mas aquele pelinho no queixo, bem que ele podia tirar, pensou o Byun, era uma festa de gala, o cavanhaque estava feio, podia tirar, dava tempo de tirar. Ia despejar em Chanyeol quinhentas perguntas sobre o cavanhaque dele, mas foi pego de surpresa quando viu o cantor se levantar.

— Vem, ele tá levantando – disse. Baekhyun olhou atrás mais uma vez e viu que o rapaz já tinha dado as costas e caminhava para uma parte afastada do salão.

— Aonde ele vai?

— Acho que no andar de cima, não tem câmeras lá. Vem.

O garoto o seguiu passando entre as mesas, tomando cuidado com a pouca iluminação pra não tropeçar em público, trauma do degrau de casa. Dessa vez as pessoas o paravam no caminho ao invés de Chanyeol, Tina Rox e a apresentadora Son Chaeyoung até lhe pediram uma foto, ele se inclinou na mesa delas e tiraram uma, os três, a segunda foto mais curtida do instagram no dia seguinte, e ele voltou a andar e acompanhar os passos de Chanyeol, como sua sombra.

Saíram da área das mesas, subiram um lance de escadas, até chegarem ao andar de cima. Era onde aconteceria a festa após o evento ser televisionado, sem câmeras, sem imprensa, sem imagens. Era mais iluminado (pelo menos enquanto o DJ ainda se preparava) e os dois, aparentemente, eram os únicos convidados ali, passaram a vista pelo lugar, até o homem que procuravam tocar Chanyeol no ombro, o assustando de supetão, e cumprimentou os dois.

— Há quanto tempo não vejo essas orelhas grandonas, hein?

— Oi, kevin, ah, Baekhyun, este é o Kevin, o que te falei antes.

— Prazer – o garoto o cumprimentou.

— Kevin, este é o Baekhyun, meu namorado, o que te falei antes.

— O prazer é todo meu.

— Bom... – Chanyeol pigarreou –  tenho que cumprimentar o pessoal da redação, devo deixá-los a sós agora? – com um aceno de confirmação dos dois, ele se retirou, e desceu as escadas de volta para o salão onde a cerimônia ainda se desenrolava.

O rapaz olhou em volta, e viu que o bar onde estava sentado antes era a melhor opção para uma conversa cheia de interesses sem formalidades — Por aqui, eles servem o melhor Martini que eu já provei na vida.

Baekhyun o acompanhou até a bancada, onde se sentaram ocupando os bancos com uma distância mínima, “Dois do mesmo, por favor.” ele pediu ao barman, que depois de alguns malabarismos exibicionistas, lhes serviu duas taças de uma bebida transparente, com um espetinho de duas azeitonas mergulhado dentro. Olhando a taça sem a pretensão de tomar um gole sequer, Baekhyun iniciou a conversa — Se conhecem há muito tempo, você e o Chanyeol?

— Há pouco mais de um ano. Ele... – o rapaz buscou as palavras – me deu alguns empurrõezinhos na vida. Entende?

— Ah, claro...

— Ele é bom.

— É um grande cantor.

— Na verdade, digo, em dar empurrõezinhos.

— É por isso que deve um favor a ele? – Baekhyun perguntou.

O rapaz, de nome Kevin e cavanhaque mal feito, tomou um gole de sua bebida, sem se preocupar se o garoto o acompanhava. — É, sim, e agora estou tentando retribuir o favor.

— Soube que pretende dar o tiro certeiro e criar algo de sucesso. Também está tentando aproveitar a chance de fazer algo que impulsione sua carreira, não é?

— Também? – ele quase capturou o sentido daquela palavra.

— Quero me tornar um ator, quero estar na televisão e... assim como você, Chanyeol está me dando um empurrãozinho.

— Somos novatos, chances como estas são preciosas. Foi muito difícil fazer com que comprassem a minha ideia, e seu namorado foi o fator principal pra isso acontecer. Só que, te dar um papel não é tão simples assim...

Baekhyun pegou a taça pela base, e balançou o líquido, de um jeito calmo e ritmado, com os olhos concentrados no rapaz – Continue, Kevin.

— Eu consegui que produzissem uma temporada inteira, com nove episódios e exibição em horário nobre, por isso preciso dos melhores, paguei caro no elenco e sobrou pouca coisa, só preciso saber se não estou colocando nas suas mãos mais do que consegue fazer funcionar. – ele colocou a mão por dentro do terno e tirou do bolso uma folha de papel, desdobrou, e a entregou a Baekhyun – leve o tempo que precisar para analisar a ideia da trama, eu ainda aguento mais umas duas taças disso aqui. – ele terminou de dizer com um riso.

Baekhyun olhou para ele, determinado, e voltou sua atenção para a folha, o ambiente tinha uma iluminação colorida, de verde e azul, mas a folha era amarelada e as letras eram grandes, e pra facilitar ainda mais, já havia lido parte daquilo mais cedo, não precisava contar, mas já tinha estudado bem cada detalhe da ideia principal daquela série de televisão. Conseguir seu primeiro papel em algo grande logo de cara e ter ganhado uma cola antes daquela reunião sabendo perfeitamente o que dizer, era trapacear duas vezes.

O andar da festa começava a ficar cheio, tocaram quatro músicas, um jazz, um rock paulera, uma balada lenta e um pop retro. Baekhyun terminou de ler.

— Então, o que achou? – perguntou Kevin, imerso no assunto, ansioso talvez, tendo esperado pacientemente e atento à leitura do garoto.

— Genial, a trama tem uma estrutura de comédia muito fácil de ser explorada. Os diálogos são piadas básicas, até, tipo friends e how i met your mother.

— O que disse? – Kevin pareceu desgostar, da mesma forma que Chanyeol fizera antes.

— Vamos lá, Kevin, você está tentando acertar, e nós dois sabemos que esse modelo de série estadunidense funciona. Mas você é esperto, e trouxe um diferencial. A graça está nos personagens em si, no jeito de falar, na forma de lidar com assuntos banais, palavrões de graça em qualquer cena, mas sempre com a boa e velha lição de moral no fim dos conflitos, isso é pura água com açúcar. Mas a graça é o humor negro totalmente mascarado, é tipo fingir que a série é bobinha e com piadas limpas, mas de repente, pá! O personagem principal quase perde a virgindade com o irmão que acaba de chegar na cidade e ele não conhece, isso acontece logo no episódio dois, e no três eles vão morar juntos na mesma casa como se nada tivesse acontecido e aquilo tivesse sido só um acidente e tudo segue normalmente. Você é meio doente, mas uma coisa eu te garanto, sua loucura funciona. E o único problema é saber qual classificação indicativa dar a um programa como esse, mas de resto...

— Garoto, você tá detonando a minha série, fazendo minha ideia parecer batida, mas entendeu perfeitamente o que eu quero fazer. Eu só não sei qual lado considerar. – Kevin estava se sentindo totalmente exposto, parecia estar diante de um crítico de filmes profissional, quando na verdade Baekhyun era apenas um consumidor assíduo deste tipo de conteúdo, o cara que passa metade dos dias jogado na cama com a melhor amiga, vendo comédias com risadas de fundo.

— Isso você quem decide Kevin – Baekhyun tirou o palito da sua bebida, e comeu uma das azeitonas.

O rapaz estava meio ofendido, mas pego totalmente de surpresa por ter sido compreendido até a raiz, de forma tão crua. Olhou para os lados, enfiou mais uma vez sua mão no terno, e tirou uma folha dobrada verticalmente uma única vez. Sorrindo, delicadamente a colocou dentro do terno de Baekhyun, ajeitando seu traje, dando toques em sua gravata, colocando a pontinha de seu cabelo no lugar, disse, concertando-o, com mãos demais.

— Garoto, é o seguinte, tenho um único papel principal sobrando, os outros dois já estão preenchidos, aqui tem uma cena pra você... – empurrou no bolso da calça dele um pedacinho quadrado de papel com coisas escritas à caneta. – Esteja neste endereço amanhã, no horário marcado, você vai fazer um teste de seleção para o cast, igual a todo mundo, mas sem inscrições, sem e-mails, sem pré-avaliações nem ninguém exigindo currículo de você e sem burocracia alguma, é tudo o que eu posso conseguir pra você, mas acredite, já é um adiantamento muito grande. Infelizmente, não sou eu quem vou te avaliar no exame, mas vou ser um fantasminha camarada que sussurra para os meus companheiros ficarem de olho em você – o rapaz deslizou o dedo pelo cumprimento da abertura da roupa de Baekhyun, abriu e fechou um dos botões e no fim mordeu os próprios lábios. Aqueles toques, Baekhyun odiava tanto esses toques. – Agora é com você, se souber mesmo atuar, vai ser um prazer trabalhar ao seu lado.

— Isso é ótimo – Baekhyun assentiu, sorrindo. Com uma malicia na forma de mordiscar a outra azeitona no palito.

— Então, já que cuidamos dos interesses, bebemos e nos conhecemos melhor?

— Ah...  – fez uma careta pensativa – não. Eu não bebo. – Baekhyun se levantou, pegou a mão dele para apertá-la mais uma vez, e empurrou sua taça para mais perto do homem – Pode ficar com o meu. Até breve.

Saiu dali mastigando azeitona com gosto de vermouth, pensando no quanto o cavanhaque daquele cara era estranho, ajeitando o terno que ele abotoou errado, e ainda lhe ofereceu uma bebida barata em um lugar que cheira a ouro como aquele. Mas, no fim, tinha uma chance em uma série de horário nobre, um papel que valia muito no bolso, o Martini era perdoável.

Não via Chanyeol em lugar nenhum ali em cima, mas não precisou andar mais que dois metros ali dentro e Son Chaeyoung o puxou e arrastou-o para onde estava sentada, e no cantinho da festa, o ofereceu companhia. A menina era um prodígio, ainda com seus vinte anos ostentava dois filmes estrelados por ela com recordes de bilheteria, oito milhões de seguidores no instagram, um programa de TV com sucesso em audiência, além de ser modelo de marcas famosas, todo o ideal que o Byun sonhava para si. O espaço dela tinha uma bandeja com muitos do doce servido na festa, ele comia dois a cada cinco minutos e tinha uma camada fina e branca de açúcar nos dedos igual pó de giz, sentindo o gosto de mirtilo e satisfação em ter uma conversa com a apresentadora, ouvindo-a falar de todas as suas viagens, onde os países eram meros referenciais, o luxo estava nos detalhes, como ao invés de dormir em hotéis, ela dormira nas propriedades do embaixador da Finlândia, ou que perdeu seu anel de plástico durante um passeio de barco em Dubai, lhe mostrou fotos no celular totalmente bêbada com dois amigos e justin bieber. Ela se mostrava tão intima que batia um papo cheio de gestos e gírias, de tão bom na conversa até descobrira relacionamentos secretos que ela fez questão de contar. Em vinte minutos eram quase íntimos, ele se sentia tão dentro daquele mundo, namorar Park Chanyeol foi uma passagem de ida para o aniversário da garota que aconteceria no final do ano, e ele foi convidado com antecedência, como era bom se sentir importante por tão pouco. Em meio a risos e tapinhas em seu ombro, viu chegar no andar de cima um homem careca, de cenho fechado, elegante, rodeado de pessoas que o colocavam em assuntos intermináveis, o rodeando e lhe fazendo favores como buscar bebidas e ajeitar lugares para que ele pudesse sentar, ele recusava tudo.

— Quem é aquele? – Baekhyun perguntou a Chaeyoung.

— Quem é? – ela riu, e lhe deu um tapinha no joelho – aquele é ninguém menos que Lee Yugyeom, o dono da emissora, ou melhor dizendo, ele é dono de tudo, se tiver um hotel aqui perto, é desse cara, se ver um carrão parado lá fora, ou dois, é dele também. E qualquer um que você possa ver ao redor dele são puxa sacos profissionais...

— Chae, se importa se eu for até lá?

— Amigo, por enquanto desse sofá eu não saio, mas se você demorar demais eu vou dançar sozinha.

— Volto logo.

Baekhyun fez o caminho contrário, indo para o lado oposto da festa ao que disse, retornando ao mesmo bar que esteve antes, pediu um guardanapo e uma caneta, a caneta foi difícil, só tinha gelo álcool e frutas, mas o barman lhe cedeu uma com muito custo e muita busca, ele fez uma anotação com letra apressada, e devolveu a caneta. Saiu andando na medida que concertava seu traje, e lambia o açúcar da ponta dos dedos, indo na direção do – literalmente – dono da porra toda. Se meteu no círculo da conversa manobrando o corpo por entre os ombros das pessoas que mantinham o poderoso chefão entretido.

— Senhor Yugyeom, que prazer. – interrompeu a conversa, todos se calaram, e a atenção se voltou a Baekhyun. – não quero tomar muito do seu tempo, eu, só vim cumprimentá-lo.

O homem ainda de cara fechada, parecendo entediado em sua própria festa, o olhou de cima a baixo — E você é o?

— Ah, claro, que indelicadeza a minha. Byun Baekhyun, prazer. – apertou a mão dele.

— Prazer. Acho que não o conheço senhor Byun.

— Não conhece, ainda – o corrigiu – mas, aqui está o meu número de telefone – Baekhyun colocou o guardanapo dobrado e secretamente sujo de açúcar dentro do bolso do black tie de meio milhão do homem – mas se eu fosse o senhor guardaria esse número com cuidado, vai precisar um dia, eu garanto. – piscou para ele.

Baekhyun ficou parado, esperando uma resposta, quando Chanyeol o segurou pelo pano do terno, e puxou com força sem se importar com a possibilidade de rasgar, o tirando dali com um braço de distância, sem ousar por um pé perto da conversa, como se tirasse o garoto de uma fornalha, sem ousar aproximar-se do calor, e os olhos dos acionistas puxa saco encaravam os dois, enraivecidos como brasa. Tomaram distância da panelinha milionária, um arrastando o outro pelo braço, e se esconderam em um escurinho no canto da festa.

— Tu tá doido?! – exclamou Chanyeol.

— O que foi? Eu só tava vendendo meu peixe. – Baekhyun encontrou mais uma mesa com bandeja do doce de mirtilo açucarado, e pescou um por um.

— Ah, que ótimo, tá achando que isso aqui é um parque de diversões né? A gente veio pra fazer o que a gente veio fazer. Você conseguiu? – o garoto puxou um pouco do traje para mostrar a folha guardada no bolso interno, salpicando a própria roupa de açúcar refinado – bom, mas já deu, não fala com mais ninguém. Quantos disso aí você comeu?

Baekhyun respondeu de boca cheia e suja — Quatorze.

— Não devia comer tanto, nem falar tanto... Nada de muito faz bem. Não exagera, menos é mais.

— Você diz isso porque já comeu isso aqui até enjoar, pra mim que nunca tive essas coisas mais é mais e pronto. Então não réla ne’mim...

— A gente vai embora. Sinceramente eu não suporto ficar mais um minuto nesse lugar.

Baekhyun engoliu difícil aquele doce e aquelas frases. Estava vivendo o que sempre sonhou, sentia que aquele ar de festa cara com convidados famosos e cercados pela mídia era seu habitat, o problema era ter um Chanyeol a tiracolo, era como carregar uma âncora, era a parte incômoda, o copo meio vazio, o peso, a parte chata, em seu plano que quase deu certo ele era o quase. — Olha, eu não sei se você é introvertido ou o que, mas eu ainda tenho uma conversa pendente com a Son Chaeyoung...

— A Son Chaeyoung?

— É a Son Chaeyoung! Ela me convidou pra festa de aniversário dela no fim do ano. Eu ainda não fui até os fotógrafos, quem sabe eu não consigo sair numa capa de revista ainda hoje. – no meio do falatório, um rapaz da segurança se aproximou deles, e esperou a fala do Byun acabar – na boa, Chanyeol... não seja estraga prazeres, certo?

O segurança pigarreou, tentando não parecer intrometido ou invasivo. Baekhyun calou a discussão e disfarçou a pose de briga, pra não pensarem que o casal do momento estava tendo uma discussão em público tão cedo. Procurou por câmeras, nada. Viu o segurança se aproximar e cochichar algo no ouvido de Chanyeol, que assentiu e respondeu um “certo”.  E rapidamente, quase correndo – quase – o segurança saiu dali e ficou próximo a escadaria, aguardando.

— Sinto muito, mas a minha segurança está em jogo e isso não vale a sua diversão, então eu vou ser estraga prazeres, sim, e a gente vai embora agora mesmo.

— S-segurança? – Baekhyun gaguejou.  E sem escolhas seguiu Chanyeol a caminho da escadaria.

— É, parece que duas garotas suspeitas conseguiram entrar aqui e estavam rodeando a gente o tempo inteiro. Eles acham que são fãs minhas.

— Achei que a segurança daqui fosse boa – disse se aproximando da escada perto de onde o armário em forma de guarda-costas os esperava – sem ofensas...

— A segurança é boa, mas esse é o tipo de gente louca e capaz de qualquer coisa. Quantas são? – perguntou ao segurança.

— Só identificamos as duas até o momento, mas meus homens estão procurando por qualquer um que seja suspeito.

Desciam as escadas com pressa, e Baekhyun no encalço.

— Olha, qual seu nome?

— É Arthur, senhor. – disse o segurança quando chegaram ao último degrau.

— Arthur, por mais que alguma delas demonstre resistência, são minhas fãs e não passam de adolescentes exageradas e obsessivas, por favor, não as machuque.

— Não irei perder a postura, senhor, não se preocupe. O carro está parado na porta esperando por vocês.

— Obrigado, Arthur.

— Pera aí – Baekhyun chamou por cima do ombro dos dois que não paravam de andar depressa. – Esse é aquele momento em que a gente sai da festa cercados por uma muralha de homens de terno? – Ao mesmo tempo em que questionara isso, Arthur assobiou com os dois dedos na boca, e logo oito homens, em pares, se aproximaram e cercaram os dois. – Que demais!

Naquele momento, quase todos os convidados estavam no andar de cima, o salão estava quase vazio, e eles marcharam até a saída. Do lado de fora, algumas fãs persistentes que aguardaram atrás da grade a sua saída de forma pacífica e paciente, se levantaram do chão e começaram a gritar por Chanyeol, não podiam enxergar eles direito, e eles não podiam enxergá-las, os homens de preto impediam, a luz do flash das câmeras era a única coisa que passava pelos brutamontes. A mesma limusine, com o mesmo motorista que os trouxera, esperava com a porta aberta, e outro segurança segurando a abertura, dando visão do interior do veículo. Foram entregues ao motorista, Arthur lhe deu instruções, e a carruagem negra cantou pneu e escapou dali.

Sentindo o movimento do carro, a brisa do ar condicionado, e a paisagem passar correndo, Baekhyun viu Chanyeol suspirar, e ficou em dúvidas se era de alívio, ou se o aborrecimento que pensava ver nele era real; ele parecia aborrecido dali, aborrecido da festa, e abriu o terno até o ultimo botão, quase os arrebentando. Estaria aborrecido deles também?

Era como andar de táxi, voltando tarde da noite por aquelas mesmas ruas, e como o caminho era contrário, os prédios sucediam em forma decrescente, de arranha-céus até bares de primeiro andar.  E no fim meio quilômetro de engarrafamento. Os carros buzinavam em uma orquestra ignorante regida a gritos, era tarde da noite e todo mundo queria estar em casa descansando. Os dois já haviam notado o congestionamento na pista, mas ainda assim o motorista baixou a janela interna para avisar. Os dois estavam distantes, nos extremos opostos do banco, cada um com o olhar em sua janela. Baekhyun viu, do seu lado, garotas com cartazes na calçada, nenhuma com seu nome, mas o de Chanyeol, e elas olhavam na sua direção.

— Olha, suas fãs – o garoto apontou.

— Uma limusine não é difícil de ser notada, é normal elas seguirem a gente, as que estão a pé estão indo pra casa, o problema são as que nos seguem pela pista, é por isso que vamos trocar de carro em algum lugar no meio do caminho, sempre trocamos, pra despistar.

— Tem mais uma ali... e ali também. – Baekhyun apontava com a ponta do dedo, riscando as digitais como se o vidro fosse lousa. – Yeol, tem um montão delas na calçada. – riu.

Chanyeol olhou o relógio, impaciente, e começou a bater o pé e tremer o joelho — Não podemos ficar parados aqui desse jeito. Isso não é bom. Não é bom...

Na calçada as pessoas mal podiam transitar, garotas e garotos congestionavam aquela parte também, e eram muitos, se espremendo na calçada pra não entrar na frente dos carros, com câmeras, com celulares, cartazes, roupa do fandom, gritos do fandom. Baekhyun se impulsionou para frente e pediu que o motorista abrisse o teto solar, antes que Chanyeol pudesse fazer alguma coisa, ele ficou em pé no banco e se esticou na direção da abertura.

— não, não, NÃO. BAEKHYUN, NÃO FAZ ISSO!

— Calma, eu só vou dar um olá pras nossas fãs.

— SAI DAÍ, AGORA! – era em vão, o vento já soprava os cabelos dele e não permitia que ouvisse.

Baekhyun começou a acenar para os fãs na calçada, e os gritos finos deles eram mais alto que as buzinas dos carros congestionados. Ele começou a receber corações feitos com as mãos, e retribuiu, fazendo corações iguais, mandando beijos, sorrindo e acenando, alguém gritava que era lindo, e ele colocava a mão no peito, agradecido. Diziam que ele era um príncipe, e ele escondia o rosto fingindo estar envergonhado. Nem ligava para os puxões nervosos de Chanyeol em sua calça, quando perguntaram pelo cantor, Baekhyun apontou para baixo, e massageou o estômago, dizendo em mimicas que Chanyeol estava com dor de barriga. Os fãs riram. Estava sendo adorado ali de cima, quando, pelo vidro negro da janela, Chanyeol viu a primeira garota por o pé para fora da calçada, e entrar na pista, antes que pudesse registrar toda a ação da primeira, uma segunda já fazia curva entre os carros, indo na direção de Baekhyun. Uma terceira bateu na lataria, e em segundos o garoto percebeu o que estava acontecendo, a limusine estava sendo cercada por fãs. “Chanyeol, acho que deu ruim...” foi o que deu tempo de gritar, antes que uma menina pulasse no capô do carro como um gato, e tal qual um ninja treinado, escalou o teto, o garoto se jogou de volta para dentro e caiu no banco e por pouco não foi segurado pelas mãos da menina que invadiu o interior pelo teto solar, a lataria era sacudida, muitas mãos batendo nos vidros das janelas, ela teria conseguido entrar por ali se mais mãos caçadoras não se espremessem por aquela pequena porta quadrada no teto, de outras fãs que escalaram o veículo. O tumulto era enorme, os pedestres filmavam e corriam assustados, as dezenas de meninas invadindo a pista e sacudindo um carro daquele tamanho, igual uma cena de filmes de zumbis, uma releitura de the walking dead às dez e meia em plena avenida. Baekhyun e Chanyeol gritavam, as janelas eram esmurradas e mãos tentavam alcança-los pelo teto solar, três ou quatro braços parasitas tentando agarrá-los e só não conseguiam porque os dois se deitavam no banco. Como se a passagem fosse pouco a pouco lubrificada uma fã tomava mais espaço que as outras e ameaçava cair para dentro do carro e sabe-se lá de qual forma seriam atacados e de repente como um monstro de filmes de horror uma menina arranhada até o pescoço passou metade do corpo para dentro e agarrou Baekhyun pelas mangas do terno, estavam perdidos, mas como um salvador, o motorista abriu a janela interna como rota de fuga, com muito pesar Chanyeol bateu na mão da criatura louca para que soltasse Baekhyun, e o empurrou pela passagem, fazendo ele se espremer e atravessar a janela para o banco da frente, ele fez o mesmo logo em seguida, e o motorista fechou o vidro impedindo que fossem alcançados, mas as batidas continuavam, junto dos gritos.

— Aqui, olha aqui no telefone – o moço apontou o celular fixado ao painel. – eu liguei pra sua empresa, e pra polícia.

Chanyeol naquele momento ouviu a voz do agente do outro lado da linha, segurou o painel do carro e gritou quase engolindo o celular — CABEÇÃO, SOCORRO!

Chanyeol! É você? – disse o agente na chamada – A policia foi acionada, eles estão no começo da avenida, eu tô de moto chego aí em questão de minutos eu vou voando, aguenta!

 

— Começo da avenida... começo? – chanyeol repetiu a si mesmo, entendeu o que “começo” queria dizer, e teve uma ideia – Baek! Quando eu disser ‘vai’ eu vou abrir a porta e empurrar todo mundo, e você sai correndo, entendeu?

— O que? Correr pra onde? Tá maluco?!

— Pro fim da avenida, é direção contrária, a polícia tá no fim da avenida.

— E você?

— Eu vou estar logo atrás.

Baekhyun ofegou, pensou bem, olhou a distância – Certo!

— Ok, lá vai... – gritava, mais alto que os invasores, se espremeram na parte da frente, pra ficarem na mesma porta em posição de fuga – UM, DOIS, VAI!

Abriu a porta com muita força, meninas caíram no asfalto, distribuiu alguns empurrões no meio do aglomerado, Baekhyun passou bem por baixo de seu braço, e correu pelo meio dos carros, em pânico, e no encalço, o seguiu.

— EU PENSEI QUE FOSSE NO TRÊS CACETE!

— EU DISSE QUE ERA NO ‘VAI’!

Corriam, corriam tanto que o vento entrava nos pulmões de forma cortante, o zumbido da corrente gelada nas orelhas quase mascarava o som estridente dos gritos do aglomerado de meninas que os perseguiam, quase, pois eram muitas e muito barulhentas. Os carros buzinavam, e por sorte, um ou dois que entendiam a situação, abriam as portas dos seus carros assim que eles passavam correndo e impediam parte delas de seguir em frente, outras se espalhavam pelo labirinto de veículos para desviar o obstáculo e se reencontravam no calcanhar deles em seguida, Baekhyun xingava internamente aqueles sapatos caros que eram horríveis pra correr, Chanyeol começava a correr ao seu lado se alinhando cada vez mais e o medo de estar sendo devagar e ser alcançado aumentava, quando a primeira moto de policia passou pelos dois, a sirene ligada, as luzes azul e vermelha, na tarefa de parar as fãs enlouquecidas, mas duas motos, policiais a pé, e quando passaram o primeiro carro do aglomerado e chegaram na faixa de pedestres, uma viatura parou quase em seus pés, de porta aberta, eles literalmente se jogaram para dentro, e foram tirados dali em velocidade de fuga.

As pernas tremiam, o peito doía, morreram no banco de trás.

 

A viatura deu carona ao agente no meio do percurso, ele tomou o banco da frente, estava com raiva, e prestes a ralhar, queria muito ralhar, gritar com os dois prováveis culpados até a garganta queimar e só esperava uma palavrinha deles para fazer isso... mas de tão morto Chanyeol só olhava o teto e agradecia por não estar ferido, e Baekhyun, igualmente jogado no banco, só pensava que se um ídolo chega a um aeroporto e passa pelos fãs com cara fechada sem dar um oi sequer, é porque ele está se certificando que elas não vão derrubar o avião.

 

 

A luz vermelha e azul piscando iluminava a janela das casas dos moradores daquela rua do morro do macaco, uma a uma as janelas se fechavam e as pessoas não sairiam de dentro de casa por nada, policia rondando ali às onze da noite não era sinal de coisa boa.

 

Seulgi não entendeu direito quando uma viatura parou na porta de casa e Chanyeol e Baekhyun desceram. Junto de um policial e o agente de hoje cedo. Caiu a ficha, e ela não estava nada surpresa, era de Baekhyun que estavam falando, ela tinha certeza que ia acontecer algo assim, no mínimo. Correu até eles.

— Seu polícia, eu juro que o meu amigo é inocente, é que ele tem problemas mentais a mãe dele deu água sanitária pra ele beber sem querer quando era pequeno tadinho – ela abraçou Baekhyun pela cabeça e o protegeu amparando-o em seu peito.

— Eu não tenho muita certeza disso. – disse o agente, de forma implicante.

— Vem gente, antes que ele comece a reclamar – Chanyeol chamou, passando por eles e indo em direção a entrada da casa, cansado e aborrecido. Foi seguido por Seulgi e Baekhyun.

— Não pense que vai fugir do sermão que eu vou te passar, Park... nós ainda vamos esclarecer muitas coisas – o agente anunciou de longe. Mas não recebeu uma resposta, os três entraram em casa e ele voltou junto do policial resolvendo o que poderia ou não ser dito a imprensa sobre o ocorrido. Quanto mais aquilo ficasse por baixo dos panos melhor, e se pudesse ser considerado um boato ou mal entendido, era perfeito, mas, improvável.

 

...

 

 

Estavam de volta ao lar, o mesmo pouco espaço, os dois andares, o calor aconchegante, casa, com todas as letras e todo conforto que tirar os sapatos e o terno proporcionava. Baekhyun esqueceu totalmente do que aconteceu antes do ataque das fãs, e foi a única coisa que conseguiu contar a Seulgi, só que animado, elétrico, como se aquela fosse a melhor experiência do ano, na versão dele pareceu bem mais exagerado do que realmente foi, uma história digna de sua mente dramática. Sentados no sofá repassando a fuga desde o principio, enquanto Chanyeol andava na sala.

— A gente se salvou graças ao Chanyeol que teve a ideia de sair correndo, não foi, Yeol?

— É... e graças a você a gente quase se fode! – disse irritado.

— O que foi? Tá tudo bem agora, não tá?

— Não, Baekhyun, não tem nada bem aqui. – passou a mão no rosto e puxou os cabelos para trás. – Olha quer saber, acho que isso da gente não vai dar certo.

— Como não? Eu consegui o papel, quer dizer, um teste para o papel.

— Ah, foi? Parabéns! Meus parabéns... – bateu palmas – Só que a gente tá junto nessa porra, e você não pode me largar e sair fazendo o que te der na telha, nem tentar discutir comigo no meio dos convidados, ou, o-ou me passar pra trás nas entrevistas e falar coisas por si só, esse não é o seu momento estrelinha, entendeu? Conseguiu um teste, ótimo, aí, agora já pode viver o seu momento sem dar uma foda sequer pro nosso acordo? – Baekhyun não sabia o que dizer, e se soubesse engoliria cada palavra, Seulgi sequer sabia o que tinha passado entre eles, só assistia a discussão enquanto engolia em seco diante da raiva do cantor – Na boa, se é pra fingir ser meu namorado, pelo menos finja direito. É isso ou eu volto pra minha casa e você pode esquecer nosso acordo de vez.

— Eu...

— Olha, quer saber, que seja. Eu vou tomar banho, e... Dormir. – saiu da sala e apanhou roupas no quarto de cima, desceu e se trancou no banheiro, deixando Baekhyun e Seulgi imersos num clima tenso que pairava sobre a cabeça deles na sala, tomou um banho quente, depois frio, qualquer coisa que tirasse a raiva, mas não adiantou. Ao sair do banheiro, os dois ainda estavam quietos, sem saber o que dizer, nem Seulgi a Baekhyun, nem Baekhyun para si. Bateu a porta do quarto dos pais dele, e decidiu que dormiria ali aquela noite.

O quarto não tinha janelas, então seus pensamentos não tinham para onde escoar, continuavam batendo nas paredes e voltando para sua mente mais uma vez. Vestia uma bermuda de pano fino, e um moletom grosso, se sentia melhor do que engomadinho em um terno. Livre, quase como se a gravata de antes o impedisse de respirar. Sabia perfeitamente o motivo de sua raiva, e a culpa nem era toda de Baekhyun. Se dando conta disso, deitado na cama, cobriu o rosto com as mãos, e bufou esvaziando todo o ar do peito. É que, enquanto Baekhyun amava estar naquele ambiente, cercado por câmeras e status, Chanyeol já não suportava mais. Só que ele mesmo estava entregando aquilo para o garoto, sabia que ele tinha sede de fama e mergulharia nela de cabeça e iria até o fundo, e enquanto Baekhyun queria entrar naquilo, Chanyeol queria sair. Como se estivesse se afogando em seus pensamentos, puxou com força o ar que lhe faltava nos pulmões, pois por segundos, esqueceu-se de respirar.

Podia respirar naquela casa, de moletom e bermuda, mas não podia respirar num terno e gravata, dentro de uma limusine.

Bateram na porta do quarto.

“Chanyeol?” ouviu Baekhyun, abafado pelas paredes “Está acordado?”

Soprou pesado e arrastado. — Estou.

Baekhyun seguiu falando, palavras atrás de palavras, conversando sem parar, sem que entendesse o que dizia.

— Eu não tô te ouvindo.

Ele ainda falava.

— Eu não consigo entender o que você tá dizendo.

Então a porta foi aberta, e Baekhyun passou por ela, apontando a câmera frontal do celular para o rosto e conversando com a tela. —... E este é o segundo quarto da casa, viu, não é tãaao bonito assim.

— O que você tá fazendo?

— E este... – ele subiu de joelhos na cama, e se jogou ao seu lado. – Este é o meu namorado, vocês conhecem ele. não é? Ele é o melhor namorado do mundo. – Baekhyun aninhou em si, e levou o rosto até perto do seu, e lhe deu um beijo na bochecha. Na frente da câmera, e nesse momento percebeu que ele fazia um vídeo ao vivo no instagram. O garoto saiu sem dizer mais nada, além de “Acho que não posso mostrar demais a minha casa, principalmente a rua e...” Mas Chanyeol estava paralisado demais pra dizer alguma coisa. A porta foi novamente fechada, entendeu que aquilo era um pedido de desculpas, e que faria as coisas da forma certa a partir de agora, e o mais importante, lhe beijou no rosto. Chanyeol mordeu os lábios, e tocou a própria bochecha. Ficou dois minutos inteiros olhando a lâmpada no teto e pensando em nada, como uma TV fora de sintonia...

Park Chanyeol estava fora de sintonia.

 

Pegou seu celular embaixo do travesseiro e tentou acompanhar o resto da transmissão, mas viu que ela já havia terminado, pois Baekhyun precisava correr para o seu quarto, corar, tremer, perder o fôlego, ficar nervoso, e passar muito tempo em claro, sem dormir.

 

Baekhyun e Chanyeol passaram horas sem dormir.

 



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