História Magnetic - Six

Jackson

De uma maneira nem um pouco delicada, o chinês foi despertado por mãos geladas tocando em suas costas por baixo de sua camisa. Jackson pulou de susto, sua mente entrando em alerta por mais que seu cérebro ainda estivesse anuviado pelo delicioso sonho que estava tendo, olhando para os lados procurando o responsável.

Sua expressão se transformou em desagrado ao ver seu primo de segundo grau, Wang Gao Li, com um sorriso estupido de divertimento estampado no rosto e aquele olhar de quem iria aprontar ainda mais.

Jackson não podia acreditar em si mesmo que um dia chegou a ser intimo com tal “demônio”, levem o demônio no pior sentido mesmo.

Veja bem, a primeira experiencia homoafetiva de Jackson depois de perceber que gostava de homens no sentido romântico foi com Gao Li. Muitos beijos – que não foram lá tão bons –, depois veio os toques mais ousados cheios de mãos bobas – que trouxe algumas descobertas reveladoras – e progrediu, claro, aos finalmente – apesar do sexo ter sido confuso cumpriu o papel de pelo menos aliviar.

Naquela época os dois se davam bem, a cima de tudo eram amigos, mas tudo mudou quando Jackson foi para o exterior estudar. Dois anos depois, quando o chinês voltou para visitar a família, o primo já tinha mudado. Estava mais arrogante e esnobe, alguns familiares culpavam um ex-namorado dele.

Jackson e Gao Li tiveram alguns desentendimentos, mas que foram acertados com o passar do tempo, porém, a antipatia de Jackson pelo primo voltou quando há três anos o chinês levou Mark para conhecer sua família pela primeira vez.

Tudo ficaria bem mesmo se Gao Li fosse esnobe e arrogante como estava sendo, mas o filho de uma mãe boa (Jackson não xingaria sua tia-avó pelos problemas do primo) resolveu dar em cima de Mark mesmo sabendo que ele era namorado de Jackson.

Claro que as coisas esquentaram e talvez um soco tenha voado na cara de Gao Li quando Jackson perdeu completamente a paciência, o que era algo bem difícil de fazer.

Os dois acabaram passando mais de dois anos sem se falarem, contudo, por causa de um pedido da tia-avó de Jackson é que os dois se acertaram com Gao Li pedindo desculpas, apesar disso, as coisas não foram mais as mesmas.

Sempre que Jackson visitava a família, havia algumas alfinetadas e Gao Li não perdia a oportunidade de tentar flertar com Mark, apesar de deixar claro que era brincadeira, Jackson sempre ficava incomodado e na ultima visita foi o americano que elevou um pouco a voz.

Mark tinha sido incisivo antes, negando todos os flertes que recebia e pedindo educadamente que Gao Li parasse. Ele não parou, então perdendo a cabeça, Mark falou poucas e boas ao primo de segundo grau de Jackson.

O resto dos dias que passaram em Hong Kong foram mais tranquilos, algo haver com o primo ter ficado de castigo mesmo tendo quase trinta anos nas costas, mas agora vendo o sorrisinho metido de Gao Li, Jackson não acreditava que seria tranquilo sua estendia na casa dos pais.

Geralmente quando conversava com algum parente por telefone e o nome de Gao Li as vezes surgia não demostrava que ele havia mudado seu jeito de ser, na verdade estava causando ainda mais problemas – algo que envolvia um homem casado e o filho adolescente desse homem.

– O que está fazendo aqui? – perguntou Jackson soltando um longo suspiro desanimado e se controlando para não ser rude e começar algo que não estava afim. Brigar entre família era horrível.

– Oi, priminho. – falou Gao Li levantando as mãos em forma de rendição, o sorriso debochado ainda presente, Jackson já estava começando a achar que aquele sorriso era permanente. – Relaxa que só vim ver como estava, não avisou que estava vindo.

– Somente avisei para quem eu queria ver. – disparou a verdade Jackson. E ele ainda havia pedido para ninguém contar a seu primo que ele estava indo.

– Ai, essa doeu. – disse Gao Li dramaticamente levando suas mãos sob o coração. – Eu...

– Eu estou bem, obrigado, agora pode ir. – falou Jackson rapidamente interrompendo o primo.

– Você está sendo muito rude. – as sobrancelhas de Gao Li franziram em descontentamento, mas o sorriso não vacilou. – Não pode...

– A culpa é de quem? – perguntou Jackson se levantando da espreguiçadeira da área da entrada da nova casa de seus pais e lançou um olhar perdido para o portão menor de entrada.

Seus pais, Mark e Youngjae devem ter esquecido de trancar quando saíram para fazerem compras enquanto deixaram ele para trás era única explicação para Gao Li estar ali. Jackson bem que queria ter ido com eles se não tivesse passado mal, ele estava amando ver como seus pais estavam lidando bem com os dois homens de sua vida.

Jackson havia combinado com Mark e Youngjae que primeiro contariam aos seus pais e depois, aos poucos, para os outros membros da família, algo que o americano e o coreano também iriam fazer com a família deles.

Seria mentira se Jackson disse que não se sentiu mal e incomodado de ter apresentado Youngjae como um amigo aos poucos parentes que foi visitar nos últimos dois dias, principalmente ao seus avos e padrinho de batismo.

Mas garantiu que na próxima vez iria gritar aos quatro ventos tudo e esperava que todos aceitasse, no seu devido tempo é claro, como seus pais estavam.

O senhor e a senhora Wang já amavam Mark e mesmo que tenham ficado um pouco perdidos quando Jackson apresentou Youngjae como namorado dele e de Mark dois dias atrás, agora eles pareciam estar aceitando tudo numa boa depois de longas conversas e explicações.

Youngjae até estava ajudando a mãe de Jackson a preparar as refeições, mesmo não sendo um cozinheiro de mão cheia – palavras dele, mas Jackson e Mark concordavam em número e grau que o coreano era um ótimo cozinheiro – por ter contato com o restaurante intimamente acabou aprendendo a fazer várias coisas e saber lidar com diferentes tipos de pratos, independente da culinária de um pais.

Ele se deu bem com a culinária chinesa.

O rosto de Gao Li apareceu em frente ao de Jackson e mexia as mãos em seu campo de visão querendo chamar sua atenção, muito perto para o gosto do chinês que se afastou assustado.

– Esta muito perto. – reclamou Jackson batendo nas mãos do primo para faze-lo parar de agir daquele jeito. – Aproposito, o que ainda faz aqui?

– Caramba, não sabia que era rancoroso assim. – soltou Gao Li mordaz. – Estou aqui ainda para dizer que eu entendi, ok? Sou um idiota de primeira não só com você, mas com todos e eu queria pedir perdão a você e a Mark e também juro que não vou agir do mesmo jeito que antes, vou ser alguém mudado.

Jackson não acreditou em nem uma palavra se quer dele, mas ele não teve tempo de revidar. De repente o portão grande principal se abriu e o carro dos pais de Jackson entrou na garagem.

Ao ver seu pai e Mark nos acentos do motorista e passageiro, respectivamente, sorrindo um para o outro como se estivessem tendo uma conversa muito divertida, Jackson se esqueceu completamente do primo ao seu lado.

Ele saltou sobre a espreguiçadeira e foi em direção ao carro abrindo a porta de trás. Como um perfeito cavalheiro ele estendeu a mão e ajudou sua mãe a descer do carro, mesmo que não precisasse.

Ocupando o assento de trás do outro lado, Youngjae falou alguma coisa que Jackson não registrou, mas foi o suficiente para todos rirem, menos o chinês mais novo que olhou confuso para os quatro buscando explicações, mas eles estavam ocupados em sair do veículo e brincarem com a piada interna entre eles do que contar algo a Jackson.

– Oi, família. – o momento descontraído foi cortado com uma lamina fria quando a voz Gao Li chegou até os cinco.

Com todos já fora do carro e já se dirigindo para o porta malas para pegarem as coisas que compraram, eles se viraram para ver Gao Li acenando para eles. Jackson se martirizou por não ter mandado o primo embora mais cedo e seus pais e Mark ficaram rígidos com o convidado não convidado.

Youngjae olhou pensativo para as pessoas em sua volta e a reação delas antes de dirigir seu olhar para o estranho, as engrenagens de seu cérebro já trabalhando em juntar as peças. E uma coisa já ficando clara.

Seja lá quem fosse esse estranho, parte da família ou não, ele não parecia ser alguém muito apreciado por mais que estivesse dando um sorriso acolhedor.