1. Spirit Fanfics >
  2. Main Character - Jikook >
  3. Chapter 6

História Main Character - Jikook - Chapter 6


Escrita por: AP_Moura

Notas do Autor


Demorei, mas cheguei.



Feliz ano novo atrasadíssimo!

Capítulo 6 - Chapter 6


Fanfic / Fanfiction Main Character - Jikook - Chapter 6

   A van era escura e silenciosa, tão angustiante que a minha única fonte de distração era olhar os borrões correndo pela janela; verde, azul e marrom. 
  Já bem cedo, aquela van fora me buscar na porta do edifício. Eu estava pronto quando chegou, esperando na varanda. Foi quando vi o veículo preto se aproximando na esquina, na lateral da porta tinha o nome BigHit em letras imensas. Assim que parou, esperei um pouco para saber quem sairia pela porta quando ela deslizou. Inicialmente pensei que fosse Taehyung, aliás, ele viera me buscar da outra vez. Mas não, quem saiu foi Jungkook, com os cabelos escuros fazendo uma curva sobre a testa. As mãos enfiadas nos bolsos do sobretudo preto. Parecia confuso se aquele era o meu prédio, mas então me viu, eu acenei e corri para pegar minhas coisas e descer. 
  Então aqui estávamos nós. Já havia se passado meia hora de viagem, rumo ao estúdio de gravação. Ao meu lado ia Jungkook, aparentemente adormecido, com o fone branco se destacando entre os cabelos negros. A minha frente, estendia-se um corredor curto, com mais três fileiras de bancos, nelas iam os figurinistas e dois da equipe de apoio. Eu me sentia mal, pois estavam tão calados que eu estava necessitado de trocar ao menos uma palavra. 
  Olhei de lado para Jungkook, ele continuava na mesma posição. Cabeça caída no banco, a boca levemente aberta e um dos fones caídos, deixando escapar um som baixo de uma música do Jay Park. O olhei confuso. Como alguém consegue dormir com a música do Jay Park tocando? Ou dormir sem ter um sonho erótico? 
  Eu coloquei o fone caído. Imediatamente me senti mais disposto a continuar aquela viagem silenciosa. Imaginei que se Taehyung estivesse ali, ele teria começado um assunto idiota, que no final todos estariam envolvidos. Mas Jungkook não era assim, ele era calmo demais às vezes. 
  Lembrei-me então dos noticiários. Das histórias na internet que vazavam sobre ele. Uma até o acusava de abuso, sobre uma cantora. Mas isso só durou alguns dias, logo saiu do ar, e foi publicado uma desculpa da imprensa. 
  Olhei para o garoto adormecido do meu lado. Eu não o suportava até uns dias atrás, Taehyung até me pedira para ser gentil com ele. Mas por que ele agora me pedia para ficar longe? Jungkook parecia inofensivo. 
  Voltei a me entreter com a música. Fechei os olhos e deixei os atos obscenos nas músicas flutuarem no meu cérebro. Não dormi, mas também não percebi quanto tempo passei ali, ouvindo música atrás de música.
  Quando me dei conta, algo cutucava meu braço. Abri os olhos. Jungkook estava finalmente acordado; com um dedo esticado para o meu braço e às sobrancelhas erguidas em surpresa por me ver acordado.
  Tirei o fone do ouvido e me inclinei para perto dele. 
  -Não devia me deixar sozinho e ir dormir. -resmunguei baixinho. 
  Ele riu e esticou o braço. Seus dedos tocaram meu queixo com delicadeza. 
  -Era só me acordar, Jimin-ssi. -sussurrou, depois se afastando. 
  O olhei indignado. Sentia um misto de raiva e curiosidade. Vi o brilho do celular ligado, a música já tinha parado e agora várias mensagens tremeluziam em notificações, devíamos ter chegado numa área com sinal. Desviei o olhar, não queria parecer intrometido. Foram alguns minutos até que ele parasse de mandar mensagens e resmungar baixinho. Eu o vi pousar o celular com um suspiro, e então ele se voltou para mim, dando às costas para a janela. 
  -Hyung. -chamou ele. Sua voz estava suave, por um instante pensei que ele estava chorando.
  Me virei para ele. 
  Jungkook abaixou a cabeça e deu um risinho fraco. 
  -Se… você vir alguma coisa por aí. Por favor, não acredite. -disse tão baixo que eu quase não pude ouvir. 
  Me inclinei na sua direção de novo, me abaixei até poder ver o seu rosto. 
  -O que aconteceu, hum? -perguntei mexendo com o indicador o sinal pequenininho debaixo da boca dele. -Estou aqui para ouvir. 
  Ele levantou a cabeça, e eu o acompanhei, ficando igualmente de lado, frente a frente com ele. Jungkook ergueu os olhos para mim, e suspirou mais uma vez. Atrás dele, através da janela, eu podia ver os cumes cinza de neblina, e os borrões de árvores passando rapidamente. O carro continuava silencioso, mas eu suspeitei que ele não se importava com eles. 
  -Saiu uma matéria minha na internet. -disse cabisbaixo. -Dizendo que… eu bati em alguém, alguma coisa assim. Foi enviado anônimo por um e-mail segundo o meu agente. 
  -E foi mentira. -afirmei ainda em duvida.
  -Não pode ter sido eu, mas pelas fotos parece. -ele me encarou fixamente por um momento. Piscou devagar e balançou a cabeça. -Não sei quem pode querer tanto que eu me de mal. 
  -Por que não pode ter sido você? -perguntei relutante. Afinal, não queria que ele pensasse que eu estava o acusando, mesmo assim eu não entendia o porquê de ele não poder ter feito aquilo. 
  -Porque eu estava conversando com você ontem, na hora que a pessoa disse que aquilo aconteceu. Disse que foi ontem à noite, atrás de uma boate. -ele deu de ombros, mas parecia abalado. -Mas eu estava reclamando por você não ter ido comer. 
  Estiquei o braço e afaguei seus cabelos. Escorregaram, macios, nos meus dedos. Ele fechou os olhos e respirou fundo. 
  -Hyung, eu não bati em ninguém. -Jungkook sussurrou. 
  Senti um aperto, como se algo pressionasse meu peito com força. Meu coração estava pulsando nos meus ouvidos. Como alguém podia fazer isso com alguém que parecia tão frágil? Foi então que eu me dei conta, a algumas semanas atrás eu não pensaria assim, Jungkook não parecia frágil diante das câmeras. Ele parecia simpático e distante, como se não quisesse estar ali, mas estivesse se esforçando. Ele nunca parecia querer falar com ninguém. 
  Eu o via como frágil, porque eu estava ali com ele, mesmo que a quase só um dia, ele tinha se demonstrado ser muito caloroso e tímido ao mesmo tempo. Ele era doce quando queria, e amargo quando era necessário. 
  Ele abriu os olhos e me encarou. Seus olhos faiscavam alguma coisa que eu não conhecia, parecia estar fascinado com alguma coisa em mim. Tateei o rosto com a mão livre, procurando alguma coisa de errado. 
  -Você é mesmo tão compreensivo assim? Sempre? -me perguntou segurando minha outra mão. 
  Seus dedos ficaram leves no meu pulso, eu podia livrar o braço, mas me decidi por permanecer preso a ele. 
  -Eu tento entender o lado das pessoas em tudo, é assim que se faz personagens, não é? 
  -Sou um personagem para você? -ele afastou a minha mão dos seus cabelos sem ser bruto. 
  -Todos são. -respondi com um sorriso. Ele pareceu gostar da resposta, seus lábios se curvaram e balançou a cabeça. Ele soltou meus braços. 
  -Taehyung me disse para ter cuidado com você. -disse ele. Então se inclinou mais para perto e sua voz abaixou. -Disse que você podia ser agressivo comigo, caso eu falasse algo errado. Por isso te provoco tanto, quero saber até onde você se segura. 
   -Eu não gostava de você. Sério, eu não te suportava. -eu disse com sinceridade. 
  Jungkook ergueu uma sobrancelha, surpreso. 
  -Quase neguei o emprego quando soube que era você. -emendei. Pensei ter visto um olhar triste atravessar o seu rosto, os ombros dele pareciam ter se curvado. -Mas aí você se mostrou uma pessoa bem legal de conversar e nem é tão difícil cuidar de você.
  Ele pareceu resplandecer. Às bochechas se tingiram de vermelho, e ele abriu um sorriso que fez meu coração aquecer. Ele me olhou feliz e balançou a cabeça. 
  -Você também me surpreendeu. 
  -Não mude. -sussurrei perto dele. 
  Eu tinha que admitir. Eu tinha gostado de deixá-lo feliz. O jeito dele era sincero, em tudo que fazia, parecia não conseguir mentir, mas eu sabia que ele conseguia. Era isso que as empresas faziam com pessoas normais, transformavam-nas em robôs mentirosos, programados para serem de certa forma. Eu nunca gostei disso, tanto que até fiquei com medo de Taehyung mudar. Me surpreendi  quando o vi sem nenhuma mudança drástica.
  Jungkook voltou para sua posição inicial, virando de frente e pegando o celular. Havia mais uma última notificação, ele abriu o celular e rolou para a última mensagem. Eu não vi oque era de novo. Me virei para frente e alcancei minha mochila deitada nos meus pés. 
  -Jimin-ssi. -chamou de novo. Ainda inclinado sobre a mochila, virei o rosto para ele. -Você tem alguma coisa muito importante para fazer essa semana?
  Balancei a cabeça negando. Ele abriu um sorriso enorme e respondeu quem quer que fosse no celular. 
  -Ótimo. -disse baixinho. 
  Eu voltei a me erguer, trazendo em mãos o celular e os fones. Demorei um pouco a perceber algo estranho. Virei de lado e Jungkook me encarava fixamente, com um sorriso brincando nos lábios. Os olhos apertados de modo encantador. 
  -Obrigado. -disse ele. Se inclinou para perto, perigosamente perto, então desviou do meu rosto e beijou minha bochecha. Senti o coração pulando no peito, como se quisesse quebrar minhas costelas. Respirei fundo e relaxei os ombros, numa tentativa falha de aliviar a pressão do rosto e não corar. 
  Quando seus lábios se afastaram do meu rosto, senti aquela região esquentando. E ele sorria triunfante. 
  -Você tem muita vergonha de mim, não tem? -perguntou baixinho. Seus olhos escuros, cravados no meu rosto, me fizeram definhar de vergonha. Enfiei o rosto nas mãos e respirei bem fundo. 
  Não o respondi nos seguintes vinte minutos, quando tirei as mãos do rosto, enfiei os fones nos ouvidos e ouvi qualquer música para não prestar atenção nele. Ficamos em silêncio um longo trajeto da viagem. Eu não entendia porque um estúdio de gravação tinha que ser tão longe, quase na divisa para outro estado. 
  Eu tinha ligado o Google maps, e a bolinha ia se agitando a medida que avançávamos para o estúdio. Aquilo me enchia o peito de esperança. Porém, em um trecho da estrada, o carro foi desacelerando, e a bolinha não tinha chegado ainda ao ponto final. Olhei desesperado para a janela, vendo as árvores e os cumes deixando de serem borrões, mas agora uma forma perfeita. Me inclinei sobre as pernas do Jungkook e encostei o rosto na janela, tentando ver oque acontecia lá fora. A porta do motorista estava aberta, e ele estava parado, com as mãos na cintura e observando os arredores. Logo depois ouvi a nossa porta fazer um click e deslizar, me sentei na cadeira novamente e olhei quem estava saindo. Era a ajudante da HyeMi que viera conosco, ela pulou da van e fechou a porta de novo. Pela primeira vez o carro se encheu de vozes curiosas. 
  Eu olhei novamente pela janela, mas dessa vez, senti aquele olhar incômodo. Virei o rosto de lado e Jungkook me e encarava com um sorrisinho. 
  -Qual o problema? -perguntei. 
  -Pensei que ia sentar no meu colo. Fiquei decepcionado. 
  Ele não perdia uma de me envergonhar ou irritar. 
  Revirei os olhos e me larguei na cadeira de novo. Afundando até minha coluna quaes fazer um C.
  -Você devia cuidar de mim. -ele disse com um suspiro. -Você só resmunga e reclama comigo. 
   -E você vive com segunda intenções para mim. -retruquei. -Não pense que eu estou bem com isso. E olhe que eu fui legal com você mais cedo. 
  -Não posso ser legal todo o tempo, Jimin. -ele disse com um sorriso largo. -Em alguma hora eu tenho que ser chato. 
  Eu não pude responder. No mesmo instante, a porta se abriu e deslizou. Parado à da porta, estava Taehyung, com um sorriso quadrado triunfante. Ele varreu os demais com os olhos, até pará-los em mim. Do meu lado, senti Jungkook ficar tenso, seu braço estava encostado no meu sobre o apoio entre os bancos e pude sentir seus ombros ficando rígidos. 
  Ignorando o sentimento ruim que se instalara no meu peito, eu abri um sorriso para Taehyung e o segui para fora da van. Assim que saímos, a porta voltou a se fechar. Taehyung estava vestido com algo que parecia um pijama; calças largas e camisa de botões e mangas compridas, as duas peças listradas verticalmente em azul e dourado. 
  Ele andou até a beirada da pista, onde o motorista e mais um grupo se reunia, até mesmo PD-Nim, discutindo calorosamente. Além do meio fio a relva verde se estendia à nossa frente, tão alta que batia nos meus joelhos. Aquecendo-se ao sol, a grama ia até os pés das montanhas, que se agigantavam sobre nós, erguendo-se do chão como setas apontadas para o céu. Mais adiante, quase no encontro das montanhas com o chão, numa parte mais elevada, uma casinha de estuque amarelo se destacava; trancada com tábuas nas portas e janelas, o telhado se despedaçando e sendo invadido pelos ramos de uma árvore próxima.
  Taehyung parou pouco depois da pista, onde a grama pareceu engolir suas pernas. Não me atrevi a ir para dentro daquilo, fiquei sobre o meio fio, a parte branca entre a estrada e o campo. 
  -Eu estava ansioso para te contar uma coisa. -disse com as bochechas ruborizando. Estranhei o comportamento, não me lembrava do Taehyung tímido. -Eu vou encontrar com… a pessoa que eu te disse que estava saindo. Ele vai para o set me ver e de lá vamos para minha casa. 
  Podia ser reflexo do sol, mas seus olhos estavam incandescentes. Eu nunca tinha o visto tão feliz, e essa felicidade se estendeu até mim, tanto que não consegui segurar o sorriso. 
  -Qual o nome dele? 
  -Como você é meu amigo…-ele olhou em volta e subiu no meio fio também, ficando irritantemente mais alto que eu. Segurou meus ombros com força e abaixou a cabeça. Era uma cena clássica de drama dele, segundo o próprio, era seu modo de dar suspense. Eu ri. -O nome dele é Yoongi. Ele é rapper. 
  Quando levantou o rosto, estava tão sorridente que temi seus lábios rasgarem. 
  Eu não aguentei e comecei a gargalhar. O ataque de riso me dobrou e eu tive que me sentar no chão. 
  -Jimin! -ele exclamou, irritado e confuso. -Qual o seu problema? 
  -Calma. 
  Taehyung cruzou os braços sobre o peito, com ar de poucos amigos. Rezei para que não estivesse realmente bravo, eu conhecia os dramas de Taehyung.
  Eu deixei uma risada escapar dos lábios e respirei fundo.
  -Meu Taehyung, saindo com um rapper. 
  -Se levante, o chão está quente. -disse impaciente. 
  Me levantei. Passando a mão nas calças para tirar a poeira da estrada. 
  -Qual o problema ele ser rapper? -perguntou Taehyung. 
  -Nenhum. 
  Ele olhou para o chão, e então seus lábios se curvaram nas pontas. 
  -Ele disse que eu tenho a voz bonita.  
  -Novidade. -retruquei. Ele me olhou reprovador. -Não está aqui quem falou. 
  -É que… eu não sei. -disse tomando fôlego, o peito inchando e então ele soltou tudo num suspiro violento. -Os elogios dele parecem únicos. 
  -Ah, Tae. -Suspirei. -Esta apaixonado. 
  Ele enfiou as mãos nos bolsos.
  -Infelizmente. -disse ele. Com um sorriso enviesado. -Como está sendo a viagem? 
  -Jungkook não é o monstro que eu pensava. -dei de ombros. -Ele é fofo. 
  Tae revirou os olhos.
  -Não comece. Eu te conheço Jimin, você é idiota. 
  Coloquei a mão no peito, ofendido. Eu não vi ele se mexer, mas senti seus dedos se afundando no tecido da minha camisa, e então meu corpo colidiu com o dele, e meu rosto estava contra o seu peito.
  -Jimin, eu sei que você é confuso se tratando sobre amor.  
  -O que…
  -Ouça bem, -disse ele, com a voz intensa. Apertando as mãos nas minhas costas. -Muitas mentiras foram publicadas sobre ele, mas também existem algumas verdades. Eu sei que você pode se apaixonar fácil por uma pessoa, então… cuidado. 
  Me afastei dele com uma expressão confusa. Porque ele continuava em insistir nisso? Olhei de volta para a van, estavam todos fora, e nesse instante eu entendi o abraço. Não era possível que ele quisesse tanto Jungkook longe de mim. 
  Voltei minha atenção para ele quando ele disse:
  -Volta lá. Você é staff dele, não meu. Também não quero que perca o emprego. 
  -O que é verdade sobre o Jungkook? -insisti. 
  -Não é segredo meu para que eu conte, Jimin. -ele disse de modo ríspido. 
  Abaixei a cabeça e assenti.
  -Ok. Vou voltar para lá. Temos muito tempo de gravação, não é mesmo? Eu posso descobri daqui para lá. 
  Eu ia dar as costas para ele, mas senti sua mão no meu braço. Me virei e ele parecia desapontado. 
  -Eu não posso te impedir de se afastar dele, não é? 
  -Não. 
  Ele pareceu derrotado com minha resposta. Balançou a cabeça e suspirou.
  -Fiz o meu melhor.
  -Agora deixe comigo. Eu sei cuidar disso. 
  -Acha que o conhece, só com um dia de trabalho? 
  -Claro que não. Pretendo o conhecer ainda. -eu olhei de esguelha. Jungkook estava conversando com HyeMi, os dois encostados na van, rindo de alguma coisa. -Se der errado… você me ajuda? 
  Ouvi Taehyung rir. Virei para ele e ele estava assentindo. 
  -Claro, você já me ajudou muito. 
  -Então vamos lá. 
  O peguei pelo pulso e o puxei em direção ao tumulto de funcionários. Jungkook nos acompanhou com um olhar rápido enquanto íamos descobrir oque estava acontecendo. Antes de nos meter entre as pessoas, olhei para ele e pisquei. Seu sorriso foi a última coisa que eu vi antes que o som de uma explosão me atordoasse. 

***

  Eu sabia que meus sonhos não eram um dos mais comuns do mundo. Mas daquela vez eu me surpreendi.
  Meu sonho começou em um campo. 
  Muito diferente do da estrada para o set. Eu estava parado em meio a relva dourada, não haviam montanhas, era um terreno infinito para todas as direções. Atrás de mim, uma árvore crescia imponente, seus galhos pareciam desenhados, formando molas largas à medida que cresciam. 
  Assustado, eu me recostava nela, prendendo os dedos entre as fissuras na madeira. E foi então, quando o vento açoitava meus cabelos, que eu vi uma tempestade chegando. Pintando o céu azul de cinza escuro, as nuvens eletrizadas deixavam a mostra raios que apareciam e sumiam. Um redemoinho se aproximava logo abaixo, avançando com a tempestade, soprando o chão de relva e deixando um caminho queimado. Eu sentia o cheiro de fumaça invadir meus pulmões, como se estivesse se impregnado na minha garganta e a fuligem estivesse presa na úvula. 
  A medida que se aproximava, o cheiro piorava, e mesmo que eu tentasse tossir não conseguia. Como os sonhos que não conseguimos falar. Eu me abaixava e me encolhia nas raízes altas da árvore. O furacão estava mais perto, e mais perto. Eu sentia a eletricidade da tempestade nas pontas dos dedos. Fechei os olhos com força esperando oque iria acontecer quando aquilo me alcançasse. Foi quando a ventania passou. 
  Braços estavam ao meu redor, eu sentia um corpo quente contra o meu. O peito subindo e descendo com rapidez, finalmente eu conseguia respirar também. Eu abri os olhos, e vi outro par me encarando, eram olhos escuros como grãos de café, curvados e bonitos. Eu sorri, e então tudo virou um novo devaneio. 


***

  Quando acordei, estava sentado no banco de uma das vans. No primeiro banco, bem diante da porta, o cheiro ainda queimava minhas narinas. Lá fora o campo verde ainda se estendia, mas eu estava muito confuso. E continuava me perguntando sobre o furacão. 
  Me curvei e senti a garganta seca. Comecei a tossir incontrolavelmente. Como se tentasse tirar a fuligem do sonho. E então finalmente alguém apareceu na porta e subiu na van, tão rápido que mal me deu tempo de processar. 
  -Tome. -disse enfiando um copo nas minhas mãos. 
  Eu bebi sem verificar oque era, podia ser veneno, mas qualquer coisa que lavasse aquela poeira de mim era suficiente. Enfim, era água no copo. O virei com dois goles. Finalmente a garganta parava de doer. 
  Ergui os olhos para o meu salvador e me deparei com Jungkook curvado, pois não conseguia ficar em pé na van. Ele pegou o copo da minha mão e sorriu. 
  -Finalmente acordou. -disse em tom zombeteiro. Sentou-se no banco do meu lado e soltou um suspiro longo. -Sabe como é difícil te carregar? 
  Fechei os olhos. Estava levemente tonto. 
  -Algum problema? -ele perguntou. Sua voz agora já estava mudada, parecia preocupado. 
  -O que aconteceu? 
  -Bem, paramos porque a van da frente, dos funcionários, parecia um pouco defeituosa. Então o motorista parou e mandou todo mundo descer para ele verificar. Você estava indo bem em direção quando o pneu estourou e o motor começou a dar defeito. Então você engoliu fumaça e um pedaço do pneu bateu no seu peito. 
  Arregalei os olhos. Agora meu sonho tinha uma certa explicação. Passei a mão no peito dolorido. Esperava que aquilo não parecesse um sinal de fraqueza, engolir fumaça já era ruim, agora um pedaço de pneu no peito parecia bastante doloroso. 
  -Você está se sentindo melhor? -ele perguntou. 
  -Sim. -respondi com a voz rouca. Encarei seus olhos, eram exatamente os que eu tinha visto no sonho. -Você… viu o Taehyung? 
  Por um momento, vi algo amargo no seu rosto. Ele pareceu desanimar. 
  -Correu. -disse ele. -Entrou em desespero. Péssimo príncipe encantado que você arranjou. -disse com uma risadinha. 
  -Não acredito em Príncipes. -eu disse com uma careta. -E se acreditasse, você seria um sapo, sem duvidas. 
  -Então você teria que me beijar, é isso? -ele provocou. Os olhos brilhando de maneira estranha enquanto encarava minha boca. 
  -Nem pense. -estiquei um dedo e coloquei na frente dos seus lábios. -Estou começando a repensar no que eu disse mais cedo. 
  Antes que ele falasse, foi interrompido por HyeMi chegando animadamente. Ela me viu acordado e correu para me abraçar. 
  -Meu Deus, você é um bolinho mesmo. -disse enquanto me sufocava nos seus braços. -Não quero dizer que gostei do que aconteceu, foi horrível, mas me senti em um drama. -ela se afastou e olhou com malícia para Jungkook. 
  Ele escondeu o rosto nas mãos e suspirou. 
  HyeMi não se importou com a vergonha dele -assim como eu- e continuou. 
  -Você ia caindo, e ao mesmo tempo eu vi o Jungkook correr que nem uma bala e te segurar antes de você cair. Foi lindo! -ela disse com os olhos brilhando. Enquanto eu também sentia meu corpo todo ferver. -Me chamem para assistir o último capítulo disso. 
  Ela mandou um beijo e saiu da van. Nos deixando sozinhos e envergonhados. 
  -Então… -comecei, virando o rosto devagar para ele. Jungkook não me encarava dessa vez. -Você foi o meu herói. 
  -Não amola. 
  Eu ri e agarrei o queixo dele com os dedos, focando-o a olhar para mim. Ele parecia ligeiramente assustado. Eu passei o dedo no canto da boca dele, apenas por instinto e vi ele se retesar, como um gato se vendo no espelho. 
  -Você que devia parar de implicar comigo, Jungkook. -sussurrei. -Temos três meses pela frente, é melhor não me irritar muito. 
  -O que vai fazer? -respondeu. Foi um simples sussurro, poucas palavras, mas algo em mim achou tão provocante que eu não segurei o riso. 
  -Vou devolver todas as provocações que você faz. 
  -Não me deixe ansioso, Hyung. -ele afastou minha mão, segurando meu pulso. Deu um sorriso encantador e se levantou. -Quer saber? -ele disse enquanto saía. -Acho que vou querer que isso aconteça. 
  Ele piscou e sumiu atrás da porta. Me deixando ali, confuso, irritado e arfante. O peito doía, mas não era mais por causa do pneu. 


Notas Finais


Para quem não sabe (não é uma palavra muito usada) úvula é a bolinha da garganta 😁

Obrigado!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...