História Main Character - Jikook - Chapter 9

  O filme era bom, e a companhia era ótima. Fazia tempo que eu não tinha a companhia de alguém dessa forma, meus amigos sempre estavam muito ocupados. Faculdade, trabalho, dramas para gravar... era a parte ruim de ser amigo de pessoas que visavam a fama, todos sempre pareciam muito ocupados. 

  Assistimos comendo pipoca e tomando metade do vinho. Em certo momento, meu corpo deu arrepios e ferveu por causa do álcool. Mas nada que eu não conhecesse, só existia um fator que estava me intrigando bastante, e esse era; naquela noite, não sei como, eu me encontrei deitado do peito do Jungkook, quase dormindo, só me dei conta quando os créditos subiam pela tela e ele soltou um suspiro pesado. 

  -Hyung, você está acordado? -Jungkook perguntou, com a voz um pouco lenta. De sono ou vinho, eu não sabia. 

  Balancei a cabeça e virei o rosto para ele.

  -Estou. 

  -Você está cheirando a vinho. -comentou, se inclinando e me puxando para mais perto. Estávamos cara a cara. -Hyung...

  -Ei! -ergui um dedo e o coloquei na frente dos seus lábios como se o pedisse silêncio. -Distância, mocinho. 

  Ele riu e se afastou um pouco, quase nada. 

  -Você sabe que me intriga, e fica me provocando. Seu idiota. -ele resmungou, jogando a cabeça para trás nos travesseiros e fazendo beicinho. -Devia me tratar bem.

  -Eu te trato muito bem. -olhei para o quarto, tudo parecia ter dobrado de tamanho. Por que aquela mesa estava ondulando? -Jungkookie, você me deixou bebado. 

  -Eu? Você bebeu por sua conta. Se está com vontade de me beijar agora, não é problema meu. 

  Franzi a testa. 

  -Não quero te beijar. 

  -Mesmo?

  Ele esticou o braço e pegou a taça de vinho sobre o criado mudo. Ele bebeu da taça,  creio que sabendo que meus olhos estavam fixados nele, para ser específico, nos seus lábios molhados... e eu  estava começando a duvidar da minha resposta. 

  -Pode provar. -Jungkook disse, arqueando uma sobrancelha. Sentando-se, ele inclinou para frente, até perto do meu rosto. -Eu não conto para ninguém.

  O hálito alcoólico tocou meu rosto.  Em outra circunstancia eu teria o beijado, mas o medo me impedia de avançar. Eu não gosto de ser usado, quem gosta? 

  Me inclinei para perto e roubei a taça das suas mãos, voltando a me afastar. Ele me olhou incrédulo. 

  -O que... -disse Jungkook. -Você deveria me beijar!

  -Você já bebeu demais. -tomei um gole. -Afinal, você nem deveria beber. Tem trabalho amanhã. 

  -Você também. 

  Eu ri. Terminei o vinho, com os olhos dele cravados em mim, não que fosse ruim, mas não era confortável. 

  -Vamos fazer um jogo. -ele disse, se sentando. -Temos que nos conhecer mais, já que vamos trabalhar juntos por muito tempo. 

  -Continue. 

  -Cada um tem direito a uma pergunta. Cada uma que não for respondida, menos uma peça de roupa. 

  Olhei com atenção para ele, tentando encontrar um sinal de que não era sério, mas não existia nenhum. Me endireitei na cama e o devolvi a taça, Jungkook a colocou no móvel e voltamos a ficar frente a frente. 

  Ele ergueu a mão. 

  -Eu vou primeiro. -ele estava animado com a possibilidade de eu não responder alguma pergunta. -O que te fez recuar agora a pouco? 

  -Não quero ser só um boneco seu. -dei de ombros diante a expressão chocada dele. -Desculpa, mas sua fama é péssima.

  -Eu sei. -disse com desanimo. -Sua vez. 

  Olhei ao redor e lembrei da pergunta que me fiz assim que deitei naquela cama. 

  -Você se sente sozinho nessa casa enorme?

  -Sempre.

  Esperei um complemento, mas não veio. Gesticulei para que continuasse.

  -Você sentiu ciúmes da gaveta no meu closet?

  -Fiquei incomodado. 

  -Então ficou com ciúme. 

  Balancei a cabeça negando. 

  -Não. Eu me senti incomodado por você já esperar visitas dessa forma. 

  -Homens? -perguntou, provavelmente lembrando que na sua "gaveta de visitas" só haviam cuecas. 

  -Quero dizer, é tão comum que pessoas venham na sua casa assim? Sem... compromisso? 

  Ele hesitou. Pensei que tinha ido longe demais nas perguntas, mas aquilo realmente me incomodava. Abaixei a cabeça envergonhado, eu trabalhava para ele, não era para eu me meter tanto na sua vida pessoal. 

  Ouvi ele suspirar. 

  -Hyung, -ele chamou. -Olhe para mim, por favor.

  Levantei a cabeça. Envergonhado ao extremo, senti que ia virar purê só em encara-lo. Quando nossos olhares se encontraram, vi que ele não estava com raiva, nem levemente irritado. 

  Jungkook esticou o braço e tocou meus cabelos, como quem diz: está tudo bem, Hyung. 

  Lembrei da atuação dele mais cedo, em como parecia confiante. Agora ele estava sem máscara, sem o terno caro, sem a maquiagem, era só ele, e não parecia ter aquela calma fria. Parecia nervoso. 

  -Você tem que entender que... -ele começou. -As vezes, atores não podem ter relacionamentos de verdade. Você viu hoje oque aconteceu com você, mesmo sendo meu staff. -ele abaixou a mão. - É incrível oque você está fazendo, ficando aqui comigo. 

  Franzi a testa.

  -O que isso tem a ver com a gaveta? -sussurrei, e ele riu. 

  -Não tenho ninguém com compromisso. As pessoas vêm e vão embora da minha vida rapidamente, uma gaveta daquelas é a maior prova que eu sou sozinho.

  -Você não é sozinho. -retruquei. -O que acha que estou fazendo aqui? Companhia. Quero ser seu amigo. 

  Ele revirou os olhos e sorriu.

  -Quem disse que eu quero a sua amizade? 

  A pergunta parecia grosseira, fiquei tentado a me levantar e sair do quarto. Porém, não era aquilo que ele queria dizer, seus olhos entregavam as entrelinhas. 

  -Quer mais que a minha amizade? -deduzi. 

  -Além de bonito, é inteligente. Existe alguma coisa que falta em você? 

  Suspirei, sem aguentar segurar uma risada. Me ajoelhei na cama e passei as mãos no rosto. 

  -Eu tenho muitos defeitos, Jungkookie.

  -Eu também! Acho que somos almas gêmeas. 

  -Eu ronco. 

  -Eu durmo como uma pedra. 

  Ele ergueu uma sobrancelha. 

  -Eu tenho problemas com meu peso. 

  -Eu te acho gostoso. 

  -Tudo que eu disser você vai replicar? -perguntei. 

  Ele deu de ombros e sorriu. 

  -Não é minha culpa se os opostos se atraem. 

  Era impossível argumentar com ele, parecia disposto a me intrigar. E eu sinceramente não gostava de ser colocado contra a parede dessa forma. Me joguei na cama, desistindo dos argumentos.

  -Tudo bem. -suspirei. -Venha aqui. 

  Ele franziu a testa, mas fez como pedido. Deitou-se de frente para mim, a poucos centímetros do meu rosto. 

  -Você tem uma chance. -eu disse baixinho. 

  -De? 

  -Me prove que você é bom como acha que é. 

  Senti uma formigamento nas palmas das mãos, que subiam até o peito. Eu estava nervoso demais. 

  Jungkook me encarou pasmo, arregalando os olhos. Acho que ele não esperava que eu desistisse tão rápido. 

  -Quer dizer que... vai terminar com o Taehyung? 

  Não o respondi, apenas toquei seus cabelos. Ele fechou os olhos.

  -Isso vai depender de você. -sussurrei. Estávamos tão próximos, nossos lábios quase tocavam.  -Eu não estou aqui para brincar, Jungkookie. Tomara que eu não esteja cometendo um erro. 

  Seus olhos abriram. Lindos e escuros, como se um pingo de tinta preta tivesse caído num meio castanho. Enfiei os dedos entre os seus cabelos e ele me puxou para perto. 

  -Ah, vou me certificar de que não seja.

  -Ótimo. 

  Não perguntei como ele faria isso, decidi que aquilo era problema dele. Me arrisquei chegar mais perto, era quase insuportável ficar naquela distância, sentido que ele me puxava cada vez. Me deixei levar, fechei os olhos e permiti que ele me beijasse. Sem culpa nenhuma, senti meu corpo nas mãos dele, me dando a impressão que iria derreter com aquele beijo se fosse possível. Talvez eu estivesse sendo usado, talvez eu fosse mais uma distração daquele mundo de fama irritante. Mas naquele momento, sentindo-o se movimentando contra mim, agarrando minha camisa com os dedos, e sorvendo nossas vontades pela minha boca, eu desejei que não fosse apenas uma ilusão. 

 

***

 

 

 

 

  Beija-lo foi sem dúvida uma experiência incrível. Eu não pensei na hora de me entregar, mas quando nos afastamos, o peso bateu na porta do meu cérebro e perguntou: Como você vai lidar com as consequências desse beijo nesses três meses, princesa? 

 

  Jungkook se afastou devagar. Me olhou com espanto. Creio que ele tinha alcançado a meta do dia. Ele ainda parecia não acreditar que realmente tínhamos nos beijado. Então... ele gargalhou. 

 

  -Você está bem? -perguntei, desconfiado.

  Ele assentiu.

  -Estou. -ele se apoiou com o cotovelo na cama e ficou me encarando. -Só impressionado. 

  Escondi o rosto nos lençóis. O ouvi rir. 

  -Você vai me perturbar para sempre. -resmunguei com a voz abafada pelo lençol. -Não Devia ter feito isso. 

  -Não, Hyung, não diga isso. -disse, alisando minhas costas. -Você devia, sim. 

  Me voltei para cima e ele continuava a me olhar. As bochechas vermelhas.

  -Você também está envergonhado. -notei. -Não de uma de "o grande ator que pega todo mundo". Vou lhe considerar o maior babaca da história se fizer isso.

  -Você tem a memória de um peixinho dourado. -ele me roubou um beijo e se afastou rapidamente. -Eu disse que me certificaria que não fosse um erro, não disse? 

  -Disse. 

  -Confie um pouco.

  Eu sabia que não devia, mas eu queria muito. Tanto que eu estava idiota por ele. 

  -Eu v... 

  Posso dizer que eu fui salvo de novo. 

  Meu celular estava tocando. Me pus de pé e olhei em volta. Minha mochila estava ao lado da porta, em algum momento, Jungkook a trouxera para o quarto. Corri para procurá-lo. Assim que abri o zíper e o peguei, na tela brilhava o nome Taehyung. Não sei porque, mas aquele celular parecia tocar com raiva. O atendi e imediatamente ouvi um grito:

  -PARK JIMIN!

  -Sim...? -respondi, esperando a bronca. 

  Me sentei no chão gelado, dando as costas para o Jungkook. 

  -Olhei o Twitter agora. -ele falou. -Você está na casa dele? Não me diga que vocês... não Jimin. 

  -Ei, respira. É, eu estou aqui. 

  Ouvi Taehyung bufar do outro lado, mas às minhas costas ouvi um risinho contido. Olhei para trás e vi Jungkook deitado de barriga para cima, com um sorriso vitorioso e idiota. Eu era o motivo daquilo? 

  -Um minuto. -pedi. Me levantei e saí do quarto.  Antes de fechar a porta, ouvi um protesto do Jungkook lá dentro, mas eu não podia deixar que ele ouvisse a conversa que eu tinha com o Tae, o qual ele acreditava ser meu namorado ainda. Corri para a sala e me sentei na extremidade do sofá, observando o corredor, caso o Jungkook quisesse espiar. -Tae, estou na casa dele. Não aconteceu nada, só viemos assistir um filme. 

  -Park Jimin, não me faça de idiota. Quem vai para a casa assistir filme?

  -Eu! Eu assisto filmes. 

  Ouvi uma risada além da voz do Tae. 

  -Shiu. -ele resmungou. -Você beijou ele? 

  Eu devia contar. Para o Tae não ficar com uma falsa coroa de corno na imaginação do Jungkook. Porém, se eu contasse eu levaria uma bronca de seis horas. Mas eu devia contar, era a coisa certa a fazer.

  -Não. Só assistimos filme. 

  -Certeza?

  -Sim! Ainda tem a noite toda, se quiser eu vou lá e...

  -Não precisa. -ele interrompeu. -Acredito em você. 

  -Obrigado. -suspirei. -Não vejo qual o seu problema com ele. 

  -Não vamos falar disso, Jimin. Eu gosto dele profissionalmente. 

  -Eu Também.

  -Estou te protegendo, seu idiota. Você não deveria gostar tanto dele assim. E eu sei que gosta, vejo os olhinhos dos dois brilhando quando se veem. 

  Ouvi-lo falar me fazia imaginar como ele estava naquele instante, sentado no sofá, com uma mão no celular e outra na testa, à sua esquerda, o novo namorado rindo da nossa conversa.

  -E oi, namorado do Tae. -eu disse baixinho. 

  -Oi "menino famoso". -ele respondeu, a voz era bonita. -Já ouvi muito de você nesses últimos dez minutos. A maioria das frases incluía a palavra "idiota".

  -Cale a boca. -resmungou Taehyung. -Não me difame. Bem, acho que você tem que ir gostar do Jungkook. Tenho que ir. 

  -Certo, vou mandar um beijo por você. 

  -Não! Você pode levar isso muito a sério, nada de beijo meu. 

  Eu ri. 

  -Certo, sem beijos. Tchau. 

  Desliguei o celular. Quase imediatamente, a porta do final do corredor abriu e o Jungkook saiu do quarto, sem camisa e bagunçado - a minha perdição. Ele entrou na cozinha. Não fui atrás, me acomodei mais naquele sofá enorme. 

  -Sem beijos. -ouvi ele repetir da porta da cozinha. 

   Ergui os olhos, ele me encarava com um sorriso. 

  -Estava me ouvindo? -perguntei nervoso.

  -Só ouvi isso. -ele riu e veio para o meu lado. Sentou e afundou no sofá, me fazendo dar um saltinho. -Era sério? 

  Fingi pensar, corando diante o olhar dele. 

  -Não precisa responder. -ele riu. -Sem pressão. -Jungkook pousou a mão na minha coxa. Puxei o ar forte e coloquei a minha mão sobre a dele.  

  -Você não sabe ainda, ou talvez saiba, mas tem um efeito forte em mim, o qual eu pretendo lutar por muito tempo para manter em controle. -enquanto eu falava, ele arregalava os olhos. -Seu desafio, Jeon, é me fazer perder esse controle. 

  Um sorriso foi subindo suas bochechas, malicioso. 

  -É esse o seu jogo? -perguntou pressionando os dedos na minha perna. Prendi a respiração. -Ótimo. Você vai perder. 

  -Veremos. Talvez você me entedie. 

  Ele riu alto e se aproximou. 

  -Tenha certeza, a última coisa que você vai ficar é entediado.

   Ficamos a nos encarar por uns segundos. O meu estômago dava giros de ansiedade, as palmas das minhas mãos formigavam dando choques ao longo do meu braço. 

  Aquilo soava diferente, não era o Jungkook convencido que eu conhecia. Era suave, quase como se a intenção não fosse dizer que iria me perturbar e sim... não sei, talvez eu estivesse ficando louco, mas poderia ser carinho? 

  Balancei a cabeça e baixei a vista. 

  -Por que quer fazer isso? -perguntei baixo. -Sabe, por que quer “tentar” alguma coisa comigo? Não que eu esteja reclamando, mas eu queria saber. 

  Ele girou a mão que antes estava na minha coxa, agarrando a minha e entrelaçando nossos dedos. 

  -Por que você não tentou se aproveitar de mim ainda? Por que não me trata como uma estrela? 

  -Só foram alguns dias até agora... 

  -Não. -ele me interrompeu. Levantei a cabeça e ele estava sério. -Eu dei em cima de você muitas vezes, podia só ter cedido, tentado me enganar, ganhar fama. E hoje, podia ter saído daqui com raiva para ganhar uma matéria só sobre você.  Você está me entendendo? 

  Fiz que sim e sorri. Foi sem querer, ouvi-lo falar mexia com o meu coração mais do que eu esperava. Eu estava acelerado e radiante por dentro, por fora talvez eu só parecesse satisfeito, pois Jungkook sorriu ao me ver sorrir e suspirou. 

  -Mochi... -ele deslizou os dedos no meu cabelo e parou na nuca. -Seja meu por um tempo. 

  Franzi a testa. 

  -O que quer dizer? 

  -Me deixe cuidar de você. Esqueça o Tae.

  Taehyung estava com o namorado, por que eu deveria me sentir culpado, não é mesmo? Eu não me sentia assim, só meio preocupado com oque ele diria. Era minha felicidade, minha ilusão. 

  -Sou seu.