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História Mais do que eu deveria - Rachaduras.


Escrita por: romana_66

Capítulo 41 - Rachaduras.


Fanfic / Fanfiction Mais do que eu deveria - Rachaduras.

**POV Renata**

Um clima hostil recaia sobre o Rio de Janeiro, densas nuvens carregadas de água pairavam no céu deixando o dia cinza, um vento gelado assoviava lá fora. Renata como sempre se levantou cedo, andou pelo apartamento de Hadassa procurando algo para se ocupar enquanto a menina ainda dormia, parou em frente o janelão de vidro da sala, observou como o mar tinha perdido a sua beleza naquela manhã, estava escuro e sem vida, dava medo só de olhar. Aqueles últimos dias haviam sido muito intensos, ela só queria paz, ter um pouco de sossego para sua mente e calma no coração, mas algo pesava como uma pedra pressionando seu peito, no fundo ela sabia que ventos fortes estavam prestes a chegar.

Renata sempre foi muito sensível e calma, nunca deu problemas para sua mãe na escola, sempre foi muito centrada, estudiosa e gentil, quem a observava por vezes poderia toma-la como frágil por conta de sua doçura, mas por dentro ela era forte como um rocha sólida. Demorava para tomar decisões, mas quando finalmente tomava, raramente voltava atrás, Hadassa tinha sido a única pessoa em anos a conseguir provocar rachaduras e bagunçar a vida tão bem planejada dela.

— Bom dia, meu amor. -Disse Hadassa com voz de sono, descendo as escadas.

— Bom dia, meu bem. -Renata não se virou para olha-la apenas continuou encarando as nuvens a sua frente.

Hadassa lhe abraçou pelas costas.

— Posso saber o que você tanto olha? -Sorriu.

— Estou vendo como o tempo está sombrio hoje. — Apontou para as nuvens — Você não acha?

— É, parece que vai dar uma chuva daquelas e eu vou ter que ir trabalhar. -Hadassa abraçou a mulher ainda mais forte.

— Boa sorte pois eu só vou depois das 14h. -Riu.

— Dona e proprietária do jornal é assim mesmo. -Deu uma mordida carinhosa no ombro de Renata.

— Quem me dera. -Sorriu.

Era tão bom ter aquele abraço carinhoso, gostava de sentir a temperatura do corpo da menina, era sempre tão quente, principalmente quando ela tocava cada parte dele, parecia estar em brasas. Renata ainda não tinha certeza sobre o que em Hadassa tinha lhe cativado tanto, talvez fosse aquele jeito meigo e petulante ao mesmo tempo, junto ao fato das duas serem tão diferentes uma da outra, aquela frase que diz que os opostos se atraem nunca fez tanto sentido na sua vida como agora.

— Meu bem, vamos para a minha casa essa noite, estou com saudades de lá.

— Está com saudades das suas plantinhas. -Riu.

Renata imediatamente se virou para a menina.

— A Lanza está sendo uma má influência para você. -Encarou a menina com uma falsa feição de braveza, Hadassa gargalhou.

— Vai dizer que é mentira? -A menina tinha um olhar sapeca.

— É parcialmente verdade. -Renata riu.

Depois de tomarem café da manhã juntas, Hadassa foi trabalhar e Renata resolveu vir para casa, porém no meio do caminho resolveu mudar o trajeto, decidiu que já era hora de contar aos filhos. Uma ansiedade tomou conta de seu corpo, ela não pôde controlar, queria falar logo e se livrar daquilo, ligou para Antônio e avisou que estava chegando e queria ter uma conversa séria, disse também que ele devia chamar o irmão. Antes de tocar a campainha, esfregou os olhos impacientemente, nunca se imaginou numa situação dessas, tentou afastar de seu coração a hipótese que lhe assombrava na qual seus filhos reagiram mal a notícia, lembrou-se de Lanza falando que os meninos já estavam desconfiados e que provavelmente não se importariam com o fato da mãe estar amando outra mulher, esse pensamento lhe deu força para tocar a campainha.

Não demorou muito e Miguel seu filho mais velho atendeu a porta, deu um abraço apertado na mãe e de propósito no final apertou mais do que deveria para provoca-la.

— Miguel, para! Isso machuca, engraçadinho. -Não pôde evitar rir.

Em seguida Antônio lhe deu um abraço mais leve, porém muito carinhoso.

— Minhas notas estão excelentes, então essa bomba não vai estourar comigo. -Brincou Antônio.

— Em curso de humanas e fácil mesmo. -Retrucou Miguel.

— Em qualquer coisa eu me daria bem, eu sou inteligente, diferente de você. -Provocou.

— Parou os dois. -Falou Renata em tom firme — Vocês dois parecem que não crescem, eu não vim aqui para falar de notas, apesar de que o Miguel não vai se escapar dessa conversa.

Antônio riu debochando do irmão, que lhe jogou uma almofada.

— Sentem os dois. -Mandou Renata arqueando as sobrancelhas.

Os rapazes deram uma trégua e sentara-me no sofá. olhando atentamente para a mãe que estava em pé em sua frente.

— Tenho uma coisa para falar para vocês e não quero ninguém me interrompendo enquanto eu tiver falando. -Suspirou fundo.

Os irmãos se entreolharam.

— Mãe a gente...

Renata interrompeu — Miguel depois você fala.

— Enfim, tem uma coisa que eu nunca deixei faltar para os dois, e eu nem estou falando, de bens materiais, eu falo de amor e carinho, eu sempre fui muito paciente e protegi vocês com todas as minhas forças e protejo até hoje porque vocês são as coisa mais importante da minha vida. — Fez silêncio por alguns segundos encarando os rapazes — Mas assim como vocês tem vida pessoal eu também tenho, e antes de tudo, eu não sou perfeita e nunca fui, além de ser mãe eu também sou mulher.

Renata agora tinha os olhos cheios de lágrimas e coração disparado no peito.

— Eu não vim pedir permissão aos dois, eu só vim avisar, e espero que pela educação e amor que eu dei aos dois, vocês respeitem a minha decisão, não precisa aceitar, eu só quero respeito, porque pode passar o tempo que for eu sempre serei a mãe de vocês, o fato que vocês nasceram de dentro de mim nunca vai mudar...

— A gente já sabe, mãe. -Disse Miguel interrompendo-a, com medo da mãe começar a chorar.

Renata encarou o rapaz, queria falar, mas sua voz não saía, então voltou seus olhos para Antônio.

— A gente já sabe. -Confirmou o outro rapaz.

— Sabe o que? -Renata tinha a voz trêmula.

— Você mudou muito, em muito tempo a gente nunca te viu assim, estava na cara que se apaixonou e dessa vez de verdade, mas essa pessoa nunca apareceu, e eu ouvi a vó conversando com a tia Lanza outro dia, enfim a Manoela e a Mariana também desconfiaram, a gente só juntou as informações. -Miguel olhava para a mãe atentamente.

Ouve um pequeno silêncio.

— Vocês falaram que sabem, mas eu ainda não ouvi da boca de nenhum dos dois o que realmente é.

— Você está namorando uma mulher. -Falou Antônio sem pensar duas vezes.

Renata ficou um pouco sem jeito, mas logo recuperou as forças.

— Sim, é isso mesmo. Olha, eu não sei o que vocês estão pensando, se estão com raiva, mas só aconteceu... -Sussurrou as últimas palavras.

— Mãe, então, eu não vejo o menor problema, isso é tão comum hoje em dia, eu só não quero que a senhora se machuque, afinal você sempre foi tão reservada e esse é o meu único medo. Sabe frase que você me dizia, para tomar cuidado porque o mundo era cruel? Dessa vez sou eu que estou te pedindo para tomar cuidado. -Miguel segurou a mão da mãe.

— Para mim tanto faz, mãe, desde que você não volte com aquele idiota. Eu sempre te respeitei e não vejo motivo para não fazer isso agora, eu sei que você não foi feliz nos seus casamentos, e se for esse relacionamento que for te fazer feliz, por mim tudo bem, eu gosto da ideia. Tenho amigas que são casadas, tenho amigos que namoram, é uma coisa que você nem deveria ter feito cerimônia para contar, isso é tão normal, e para ser bem sincero eu esperava isso da tia Lanza — Riu Antônio.

Renata não pode evitar soltar um sorriso, seu coração estava aliviado em ouvir aquilo, sentou-se no meio dos dois e os abraçou forte, queria ficar ali o resto da tarde. Miguel sempre foi o mais protetor e cuidadoso, certa vez deu um soco no nariz em seu ex marido pelo simples fato dele ter levantando a voz para Renata, já Antônio sempre foi o mais carinhoso e compreensivo, gostava de ficar o dia todo dando atenção para mãe, cuidava das plantas e da horta dela, fazia carinho no seu cabelo e consolava Renata nos seus prantos quando descobriu que o ex estava realmente lhe traindo.

— É, dona Renata, quem diria que algum dia a gente teria essa conversa. -Falou Miguel beijando a cabeça da mãe.

Por mais que Renata tentasse segurar, algumas lágrimas acabaram escapando de seus olhos, ela as enxugou rapidamente na blusa de Antônio.

— Deixa de ser chorona. -Brincou Antônio.

Depois de um tempo abraçada com seus filhos sentiu suas energias se renovarem, resolveu ficar por ali mesmo e cozinhar para eles, afinal estava um clima tão bom.

— Mas e aí, mãe, quem é a eleita? A Mariana disse que é uma moça lá da cobertura do prédio onde ela mora. -Falou Miguel dando uma garfada na comida.

— É sim, ela mora no mesmo prédio que a tia de vocês.

— Eu só trabalho com nomes. -Brincou Antônio, sentado do outro lado da mesa.

— É Hadassa... Hadassa Werneck, e antes que vocês perguntem, sim ela é filha daquele miliciano.

— Porra mãe, um bolsominion? -Miguel arqueou as sobrancelhas.

— Não, meu filho, ela não é bolsonarista, ela é bem ao contrário do pai dela, aliás ela trabalha lá na redação. -Renata riu da reação do filho.

— Tem os olhos azuis, gata hein. -Falou Antônio olhando para a tela do celular.

Renata sentiu seu rosto queimar, bebeu até um copo de água em seguida. Miguel fez um gesto com os olhos repreendendo o irmão, mais tarde ela daria muita risada contando aquilo a Lanza.

Depois do almoço foi direto para a casa tomar um banho, deu comida a Nina e desceu o mais rápido que pôde até o estacionamento, pois estava atrasada. Os ventos ficaram mais fortes e o tempo cada vez mais escuro, teve que ter o máximo de atenção na pista, mas nem aquele tempo era capaz de tirar o sorriso que estava sem seus lábios. Sentia-se aliviada em ter contado aos filhos e muito grata por ter uma família tão unida, sua preocupação agora era com Hadassa, assim que chegasse na redação iria mandar uma mensagem para a menina ir até sua sala.

A redação estava calma, cumprimentou os colegas como de costume, foi até a sala de William conversar sobre as pautas daquele dia e finalmente foi até sua sala. Pensou em mandar mensagem para Hadassa, mas chegou à conclusão que era melhor terminar seus deveres para não se distrair, não demorou muito e alguém bateu na porta.

— Entre. -Disse ela sem tirar os olhos do computador.

Imaginou que fosse William já que ele disse que iria a sua sala discutir algumas coisas.

— William, parece que o ministro da educação não vai tomar posse, o mestrado dele é falso. -Falou ainda com os olhos no computador.

Houve um breve silêncio e logo a porta se fechou, o salto alto de uma mulher batia no chão, caminhando até ela. Renata imediatamente notou que não era William e voltou seus olhos para quem se aproximava, não era ninguém que trabalhava na redação, era alguém que ela só conhecia por fotos e não tinha a mínima vontade de conhecer pessoalmente. Ester parou na frente de sua mesa, seus olhos azuis eram um pouco mais claros que os da filha, e encararam Renata com uma raiva perceptível. Renata se assustou, sua respiração ficou ofegante, mas ela tentou passar o máximo de calma possível, afinal, não poderia se mostrar intimidada pela mulher.

— No que posso ajudar? -Perguntou Renata encarando a mulher.

— Renata Vasconcellos. — Olhou ao redor da sala — Uma das mulheres mais influentes da emissora, bem sucedida, dois filhos, dois casamentos mal sucedidos... E aí resolveu destruir a família dos outros? -Ester tinha um tom suave e perigoso na voz.

Renata engoliu seco.

— Não entendi onde você quer chegar com isso. -Renata manteve o tom firme.

— Eu vim aqui para ter uma conversa de mulher com você.

— Que ótimo, então por favor sente-se. -Renata apontou para a cadeira.

Ester sentou-se e nem por um segundo deixou de fuzilar Renata com o olhar.

— Por favor, pode dizer tudo, vou escutar primeiro. -Renata tirou os óculos, suspirou fundo enquanto ajeitava-se na cadeira.

— Saia imediatamente da vida da minha filha, isso não tem o menor cabimento, é um absurdo, é ridículo, tanto ela como você deveriam se envergonhar disso. A Hadassa depois que te conheceu ficou estranha, abandonou a família e agora o rabino me liga e diz que ela foi até a sinagoga entregar objetos da nossa religião, você tem noção da família que está destruindo? -Ester apontava o dedo para Renata.

— A Hadassa não é mais criança, Ester, ela tem 24 anos, vai fazer 25 daqui alguns dias, é dona da sua própria vida. Se você realmente conhecesse sua filha, saberia que ela é bem difícil de influenciar e que eu jamais teria esse poder, você achou que iria poder mandar nela a vida toda? Acorda para vida! -O tom doce e gentil tinha desaparecido da voz de Renata, mas em momento algum  alterou o tom.

— Eu é que tenho que acordar para vida? Renata, você é uma mulher feita, tem 48 anos, tem idade para ser mãe dela, aliás eu acho que você deve estar me substituindo. -Ester cuspia as palavras de forma rude.

— Eu posso ter 50 ou até 60, isso é uma decisão que cabe a ela e não a você, porque pais não são donos dos filhos. Outra coisa, eu não estou te substituindo, porque sua filha não precisa mais de uma mãe, ela já é uma mulher e não esse bebê que você insiste em ver, e você pode espernear, gritar, falar mal de mim e tentar me desmoralizar, eu repito, não vai mudar nada. -Deu de ombros.

— Saia da vida minha filha, Renata, eu estou avisando. Eu estou disposta a contar para o meu marido se isso for para o bem da Hadassa. -Ester tinha uma expressão agressiva no rosto.

— E ele vai fazer o que, Ester? Mandar me matar? Isso é uma ameaça? Porque saindo daqui eu vou até meus advogados deixar um testemunho sobre essa nossa conversa. Respeite a decisão da sua filha, essa sua atitude só vai fazê-la se afastar de vocês.

— Matar não, mas gostaria de saber o que o Brasil tem a dizer sobre esse relacionamento da âncora do jornal com a estagiária. -Ameaçou.

Renata sentiu seu estômago afundar, mas não podia recuar, não agora.

— Ótimo, vai em frente, você já deve conhecer a política da emissora, isso seria a última coisa pelo o que eles iriam me demitir, isso chega soar ridículo. Agora... Eu não sei como seria a reação no ambiente de trabalho do seu marido. -Renata forçou um sorriso para a mulher.

Ao ouvir sobre o que os companheiros de trabalho de seu marido pensariam, Ester não conseguiu evitar a expressão de susto no rosto. Levantou-se rapidamente da cadeira, olhou bem nos olhos de Renata e disparou:

— Renata, isso não vai ficar assim, eu sou mãe, não vou deixar você estragar a vida da minha filha, aliás da minha única filha. -Saiu da sala sem olhar para trás.

— Meu Deus. -Renata fechou os olhos por alguns segundos.

Um trovão forte cortou o silêncio da sala, assustando-a, as nuvens estavam começando a derramar água, por enquanto apenas pequenos pingos, mas em breve um temporal surgiria.


*Fim POV Renata*



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