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História Mais que uma escolha - Perdida


Escrita por: nanacfabreti

Capítulo 6 - Perdida


 

Ele estava mais magro do que eu me lembrava, os olhos tristes, e, mesmo quando seu sorriso se escancarou para mim, tudo o que transparecia era sofrimento.

Juro que achei que fosse desmaiar, meu corpo entrou em algum tipo de estado de choque e se precisasse explicar como, ou, o que senti naquele momento, eu jamais encontraria as palavras certas.

Era óbvio que cedo ou tarde nós nos esbarraríamos, mesmo eu desejando que não, afinal, estávamos falando de Monte Real.

  Pensava que se não o visse mais, Marcus seria como uma página virada, ou melhor, como um livro terminado, daqueles que você não gosta muito do final, embora a história tenha sido boa. Aí você o guarda, no fundo de uma estante sabendo que não vai pegá-lo novamente, mas não se desfaz dele porque gosta de saber que aquela história existiu. Pois bem, era mais ou menos assim que eu me sentia, e vê-lo parado em minha frente, acabou por me jogar dentro de um enredo confuso e complicado, muito mais do que eu podia imaginar.

 A volta de Marcus foi o inicio de um ciclo bastante complicado em minha vida ,e posso dizer mais, aquela sexta- feira que tinha começado de um jeito normal, acabou por se tornar memorável, mas não de um jeito bom.

—Será que podemos conversar? —Marcus perguntou com a voz baixa e com certa timidez.

 Queria dizer que não, que era melhor deixarmos tudo como estava, mas terminamos por telefone e para um namoro de quatro anos, não era o desfecho mais adequado.

 —Lucia, vou estar na estufa — desviei meus olhos para ela —, qualquer coisa pode me chamar.

 Sem dizer mais nada e sentindo minhas pernas bambas, cambaleei para os fundos da floricultura. Marcus me seguiu, ele conhecia aquele lugar tão bem quanto eu e não fez cerimonias.

 Fiquei em pé, os braços cruzados contra meu peito e um nó crescendo em minha garganta.

 Marcus parou bem em minha frente, ele era alto e me encarando como estava fazendo, parecia ainda maior.

— Lia...eu voltei —ele começou a falar —, transferi meu curso para a faculdade em Nova Esperança. Começo na segunda-feira.

 Fechei meus olhos e me sentei no chão, do contrário minhas pernas não seriam capazes de me sustentar.

 —Você está querendo me dizer, que voltou de vez para Monte Real? — questionei, percebendo que adoraria ter ouvido aquilo há quinze dias, mas ali, naquele momento, foi como se Marcus estivesse comunicando-me a pior das notícias.

Ele se abaixou e ficou em minha frente, seus olhos encheram-se de lágrimas.

—Lia, eu tentei seguir em frente e sinceramente, eu pensava que conseguiria. —Ele começou a chorar. —Só que você é tão importante pra mim...Mais que a faculdade, mais que a opinião dos meus pais...

Sério, eu tive um princípio de infarto, o lado direito do meu corpo começou a formigar e meu coração batia como se eu tivesse acabado de participar da corrida de São Silvestre.

Encolhi minhas pernas e escondi o rosto dentro dos meus braços. Eu também comecei a chorar e era algo que vinha de um lugar profundo, eram tantos os sentimentos misturados; Dor, raiva, decepção, culpa, medo e caramba! Eu realmente estava encrencada de uma forma irremediável.

Marcus em meio á soluços, debruçou-se sobre mim, ele buscava um abraço, mas eu estava tão travada que não conseguia, eu não podia dar nada de mim a ele.

—Vai ficar tudo bem meu amor, vamos retomar de onde paramos e vamos voltar a ser felizes... —ele repetia enquanto suas lágrimas encharcavam as costas da minha blusa.

 As palavras dele entravam em minha mente de forma ordenada, até que cruzavam com os meus pensamentos... Alex, era tudo o que tinha lá dentro.

Seus beijos, seu toque, seu sorriso, sua gentileza, e eu, bem...Eu estava começando a me sentir um lixo de pessoa. Sequer conseguia levantar meu rosto e olhar para o meu ex- namorado.

—Marcus, eu... —comecei sem sequer ter ideia do que falaria. —Eu preciso de um tempo pra assimilar tudo isso. Eu preciso pensar. —Tentei me recompor.

 Reuni a pouca força que me restava e me levantei, Marcus fez o mesmo e então me puxou pela cintura. De repente nosso passado veio à tona. Aquele abraço era meu lugar preferido, ali, todas as vezes que eu estivera mal por qualquer motivo, era nele onde eu sentia-me bem, onde sentia-me em casa. Naquele dia não, naquele dia eu não via a hora de sair dali.

—Eu te amo tanto Lia... —Ele se inclinou para me beijar. Eu não pude.

 Desviei meu rosto e me afastei dele.

—Marcus, por favor, eu preciso pensar. —Fui mais firme dessa vez.

Seu olhar demonstrou toda a confusão em que ele se encontrava, era natural, Marcus certamente acreditava que sua volta me alegraria, que e eu correria para seus braços, com juras e promessas de amor eterno... Talvez tivesse sido assim...Se não existisse uma peça chave no meio de tudo isso, o dono dos olhos verdes mais bonitos que eu já vira.

—Lia, eu entendo você —Marcus secou o rosto com as costas das mãos —,mas apesar desse nosso desentendimento, nada mudou, nada muda em quinze dias, certo?

 Aquilo só piorava.

“Desentendimento?” “Nada muda em quinze dias...?”

O certo mesmo era eu ter dado a ele as respostas que se formavam dentro da minha cabeça, eu deveria ter dito que sim, que muita coisa muda em quinze dias, aliás, em uma semana ou em um dia, mas não. Não consegui dizer isso.

  —Marcus, não foi um desentendimento —ponderei. —Nós terminamos —afirmei, mais para que minhas atitudes tivessem uma justificativa.

 A mim, parecia melhor pensar que eu dormira com outro cara, estando separada do meu namorado, do que pensar que eu dormira com outro cara, estando brigada com meu namorado.

—Eu nunca vi como uma separação, eu sabia que nossa história não acabaria assim. —Ele sorriu.

 —Marcus, você sequer me ligou depois da nossa ultima conversa — objetei alterada.

Ele balançou a cabeça.

 —Eu ia ligar e encher você de promessas? Dizer que não ia acontecer mais? Que eu nunca mais faria aquilo com você? Não Lia, eu passei todos esses dias resolvendo as coisas, adiantei provas, organizei tudo por lá, depois avisei aos meus pais que voltaria e não dei á eles chances de  dizerem não, não deixei que eles contestassem minha decisão. Você não merecia nada menos do que isso Lia, atitudes e não promessas.

 Meus Deus! Eu estava mesmo muito ferrada.

                                             *************

—Gabi! S.O.S. — choraminguei assim que ela atendeu ao telefone.

 —Que voz é essa Lia!?

—Por favor, você pode vir até a minha casa?

—Claro! —Ela nem titubeou. —Já estou indo.

 Em menos de dez minutos ela já estava dentro do meu quarto .Gabi além de ser uma boa amiga era extremamente curiosa.

 —Nossa Lia, você está péssima!

 Concordei voltando a chorar.

—Gabi, você não tem ideia de como eu estou? De como a minha vida está? — tentava dizer entre soluços.

Ela franziu a testa e percebeu que as coisas eram mesmo sérias, depois, sentou-se ao meu lado.

—Fica calma e me conta. —Ela realmente estava preocupada. —O que está acontecendo Lia?

—Bom, primeiro que Marcus voltou, transferiu o curso para faculdade de Nova Esperança e veio me contar aqui, pessoalmente —comecei.

 Gabi arregalou os olhos.

—Isso é bom... Ou não é? — Ela estava em dúvida.

 Respirei fundo.

—Deveria ser, se eu não estivesse totalmente envolvida com o Alex.

 Ela se ajeitou na cama, parecia ter se interessado ainda mais no assunto.

—Então vocês ainda estão saindo?

 Fiz um sinal de positivo com a cabeça.

—Nos encontramos na segunda, na terça, na quarta...e Gabi, estava tão bom... —Tentei explicar a dimensão do meu problema.

— Que merda ao cubo, Lia! —Ela se levantou. —E eu achei que seria uma aventura boba! Ele já sabe?

—Quem já sabe? —questionei sem entender que diferença fazia.

—O Marcus. —Ela balançou as mãos. —Ele sabe que você acabou se envolvendo com outro cara?

—Não! Claro que eu não disse nada pra ele.

—Então, menos mal, ele provavelmente não vai desconfiar. Você fez tudo certinho, do contrário todos estariam sabendo que você andou balançando outros lençóis por aí.

 —Cala a boca ,Gabi! Que jeito de falar! —recriminei-a com repulsa.

Gabi me olhou como se não me entendesse.

—Lia eu só estou sendo realista, mas se prefere que eu seja mais polida...Ninguém sonha que você andou fazendo amor com outra pessoa, que não Marcus.

Nossa! Eu achava que aquela conversa com a Gabi iria me ajudar, mas especialmente naquele dia, ela só me fazia sentir pior.

—Gabi, apesar de você estar fazendo com que eu me sinta uma vadia, eu vou tentar explicar o que está acontecendo. —Quis recuperar minha calma. —O Marcus largou tudo e voltou, por minha causa, enquanto eu estava feliz conhecendo outra pessoa, e agora, o que quer que eu faça, qualquer que seja meu próximo passo, alguém vai sair machucado.

 Ela ficou séria, me encarava com ar de quem sabia mais do que eu.

—Lia, faça as coisas de forma que, você, não saia machucada. Coloque-se em primeiro lugar, converse com o Alex, veja se você não é pra ele apenas uma curtição, de repente você está aí toda louca e ele...

—Você não conhece o Alex. —Tive que interrompê-la.

—Nem você Lia! Quem conhece alguém em cinco ou seis dias? Mas sério, eu não estou dizendo que você deve voltar para o Marcus, só estou dizendo que você deve pensar bem, antes que acabe sem os dois.

—Essa nem é a questão —senti lágrimas brotando dos meus olhos—, eu não estou colocando os dois na balança e pesando quem tem mais a me oferecer, a situação aqui é outra, bem mais complicada, porque de um jeito ou de outro, sinto como se a vilã de toda a história sou eu.

 Gabi respirou fundo e todo aquele seu jeito irônico desapareceu.

—Olha Lia, sério, eu conheço bem a sua história com Marcus, enquanto a com Alex, não, mas pra você estar assim, nesse estado, é porque a coisa é mesmo séria...Então minha amiga, eu não gostaria de estar na sua pele. —Ela finalmente compreendeu meu martírio e oportunamente me abraçou.

 Não posso dizer que aquela conversa fora de toda ruim, por fim, ela conseguiu me fazer ver coisas que sozinha, talvez eu não conseguisse enxergar.

 Até onde Alex estava envolvido comigo?

Eu não era nenhuma expert em relacionamentos, levando em conta o fato de ter tido apenas um namorado em toda a minha vida, portanto, era óbvio que faltava para mim, um tanto de malícia. Alex era perfeito em todos os aspectos e fazia-me sentir tão especial, que eu sequer pensava se aquilo era genuíno ou se era apenas comigo.

De qualquer forma eu precisava conversar com ele e sabia que seria difícil porque independente de como ele se colocasse, eu estaria ali, como odiava: numa corda bamba.

 Quando meu telefone tocou na sexta á noite, eu sabia que era ele, Alex, e eu não tinha a mínima condição de manter uma conversa com ele, por outro lado, meu cérebro gritava: “Eu preciso ouvir sua voz!”. Não consegui desobedecê-lo.

 —Advinha quem tem uma ótima notícia? —Foi a primeira coisa que ele falou, seu tom era animado.

 —O que aconteceu? — perguntei, tentando disfarçar minha real condição.

 —Maria Cecília... —ele disse meu nome e eu o praguejei internamente por sempre fazê-lo de forma tão sensual. —Consegui acelerar as coisas por aqui e amanhã estou de volta.

 Fechei os meus olhos, eles queimavam, e eu que acreditava ter esgotado minhas lágrimas, descobri que sim, meu corpo parecia ser uma fonte inesgotável daquele líquido agridoce.

—Que bom Alex... — coloquei uma das minhas mãos no falante do telefone para poder fungar, eu não queria que ele percebesse que eu estava chorando. —Você chega a que horas?

 —Se tudo correr bem e o voo não se atrasar, ás cinco da tarde estou em Santo Valle, —ele suspirou—eu queria te fazer uma surpresa mas não sabia se estaria trabalhando, então...

—Não. —Respirei fundo. —Amanhã estarei de folga...

 —Que bom! —Alex reagiu como se acabasse de receber a melhor notícia de sua vida. —Nos vemos amanhã e eu mal posso esperar pra ficar com você...

 Àquela altura eu desabara.

—Até amanhã, Alex. — Esforcei-me para conseguir pronunciar aquelas três miseras palavras.

—Maria Cecília...

—Oi? — Fui monossilábica.

—Estou com muitas saudades —ele avisou antes de desligar.

“Que ótimo!” —pensei, enquanto desejava morrer, ou melhor, eu já estava morta, mais uma vez. Fiquei então entregue ao meu sofrimento, derretendo meus miolos com milhares de suposições e projeções.

 Depois de um tempo fui até a cozinha, minha mãe preparava o jantar.

 —Mãe... —falei e minha voz estava fanha.

—Jesus! —Ela levou as mãos até a boca. —Você está horrível, Lia. — gritou cheia de sinceridade.

 Sorri sarcástica.

—Se o Marcus vier me procurar, não deixe que ele entre. Por favor. —Sabia que se ele fosse até minha casa, seu passe seria livre.

 Ela voltou a mexer nas panelas.

—Eu soube que ele voltou, e Lia, os pais dele estão inconformados pelo que o Marcus fez...

—Que ótimo! —sussurrei a mim mesma. —Acha que sou culpada por isso? —Quis saber, só para ter uma segunda opinião.

 Ela arqueou as sobrancelhas, nem precisava dizer nada. Minha mãe era mais transparente do que água.

—Lia, ele mesmo fez questão de dizer pra todo mundo que voltou por sua causa. —Ela me encarou. — Se quer um conselho, deixe de ser orgulhosa, veja o sacrifício que esse rapaz fez, vocês se gostam e a cidade inteira torce por vocês...Não perca seu tempo, todos sabem que vocês vão ficar juntos!

Respirei fundo e virei-me para voltar a me enfurnar em meu quarto.

—Continua em pé o pedido que acabei de fazer. — reiterei, extremamente arrependida por ter pedido sua opinião.

 Eu me sentia perdida em um labirinto de horror, entrando e saindo sem conseguir chegar a lugar algum. Meu corpo estava tão cansado, que mesmo submersa em tamanha angustia, consegui dormir por horas seguidas. Acordei pela manhã decidida.

Era Alex, eu queria estar com ele, porque do contrário já estaria nos braços de Marcus. Eu só precisava deixar claro para ele que eu não havia pedido por sua volta, e que eu não planejava me envolver com outra pessoa, mas foi algo que simplesmente aconteceu.

Isso, eu precisava fazer isso, só que antes, eu precisava de coragem...

 Pra mim só existia aquela alternativa, eu abriria o jogo com Alex e se ele ficasse do meu lado, que se danasse todo o resto.

 Trabalhei por toda manhã na floricultura, a impressão que tive, foi que todos da cidade decidiram comprar flores.

—Que linda a atitude do Marquinho, não é Lia? —a dona da padaria teve que dizer, assim que entreguei a caixa de violetas para ela.

—Olha, um rapaz desses, é pra casar viu? —outra vizinha opinou.

Daí em diante, minha manhã resumiu-se em vender flores e como pagamento ouvir elogios rasgados á atitude de Marcus, em como formávamos um casal perfeito, como eu era sortuda e mais um monte de outras coisas desse cunho.

É como eu disse anteriormente, quando se vive em uma cidade pequena, sua vida não é apenas sua, todo mundo acredita mesmo que pode participar de tudo. O mais engraçado, é que de forma geral, nós, seres humanos, nos deixamos afetar pela opinião alheia, deixamos os outros fazerem julgamentos sobre nossas atitudes e isso acaba nos moldando, mesmo quando não queremos.

Eu devia ter percebido isso antes, mas não, lá estava eu passando de destemida para indecisa e tudo porque eu via se desenhando bem em minha frente, uma linha tênue que dividia o certo do errado.

 Mas certo ou errado, para quem?

Essa pergunta martelava minha cabeça enquanto eu dirigia até Santo Valle. O relógio do painel do meu carro acusava que eram 16:30, e se Alex chegasse mesmo às cinco, meia hora nos separava de uma conversa difícil.

Estacionei meu o carro em frente a entrada principal de sua casa, nem pensei se ele chegaria sozinho ou acompanhado, eu só precisava de uma conversa. Acabava de soltar o cinto de seguranças, que parecia estar me sufocando, quando vi pelo retrovisor, seu carro parar atrás do meu.

“Por que droga eu tenho que tremer tanto?” —praguejei-me sentindo meus joelhos criando vida própria.

Alex desceu, eu fiz o mesmo.

“Droga ! droga! droga! por que  ele tem que ser tão bonito?” —continuei com meus insanos pensamentos enquanto ele me recebia, com o sorriso de quem acaba de ver a pessoa mais importante de sua vida.

—Caramba! Que surpresa Maria Cecília! —Alex envolveu-me em seu abraço e seu cheiro, seu calor, me dominaram como em todas as outras vezes.

Ele segurou meu rosto para me beijar e eu não pensei em nada ,só retribui. Estava mesmo muito apaixonada.

—Alex, eu preciso ter uma conversa muito seria com você. —Infelizmente tive que começar.

Ele franziu a testa e segurou minha mão para entrarmos em sua casa, lugar onde tudo começou. Caminhamos pelo mesmo corredor onde dias antes, eu seguia sem ideia do quanto aquilo modificaria a minha vida.

—Maria Cecília, está me preocupando... —Alex sentou-se ao meu lado em sua cama.

—Eu nem sei por onde começar —falei antes de encher meus pulmões com ar.

Alex se levantou e puxou uma cadeira que ficava num dos cantos do quarto, colocou--a bem em minha frente e se sentou.

—Só comece. —Ele deu de ombros com uma expressão que eu nunca vira antes em seu rosto.

Olhei para cima, eu não podia desabar a chorar.

—Alex, eu... Uma semana antes de nos conhecermos, eu terminei um namoro. —Senti dificuldade em escolher cada palavra.

No mesmo instante em que terminei aquela frase, ele fechou os olhos como se previsse o que estava por vir.

—Tinha um namorado? —Ele foi seco.

Balancei a cabeça.

—Sim, nós namorávamos desde os dezesseis anos, era tipo... Bom, aí ele foi para a faculdade de medicina há um ano e mudou-se para o outro lado do país, nós vínhamos nos saindo bem com essa coisa de namoro á distância, até que parou de funcionar. —Desembestei a falar, queria deixar tudo muito bem colocado.

 Alex se levantou e ficou de costas para mim.

—Por que não me disse nada? —Ele se virou com braços cruzados contra o peito.

Corri meus olhos pelo quarto, eu estava uma bagunça só.

—Eu não achei necessário, não queria falar sobre ele. —Passei as mãos por meu rosto. —Depois, eu não queria que pensasse que eu estava usando você para esquecê-lo.

Alex me encarou e sorriu com amargor.

—Termina um namoro de quatro anos, começa a sair comigo dias depois, e não, não estava me usando para esquecê-lo?

Levantei-me e senti as lágrimas quentes rolando pelo meu rosto.

—Eu juro, sempre que estive com você, foi com você, foi por você, e espero não precisar ficar reafirmando isso. —Coloquei-me em sua frente tentando ser firme.

Ele bufou e mexeu em seus cabelos, depois voltou a se sentar.

—Continua...

—Eu não falava com ele desde então, até que ontem ,Marcus apareceu na floricultura, ele transferiu o curso e voltou a morar em Monte Real.

Não sei explicar qual foi a expressão de Alex ao me ouvir, ele balançou a cabeça em negativa e o branco de seus olhos se fizeram vermelhos em segundos.

—Que grande droga! —ele praguejou. —Veio até aqui pra me dizer que voltou com seu ex- namorado, esse que eu sequer, sabia que existia... —Ele começou a andar pelo quarto.

—Não! —gritei. —Eu não voltei para ele, e é por isso que eu estou aqui, estou me sentindo péssima. —Comecei a chorar, claro.

—E o que é então, Maria Cecília? Veio pedir meu um aval? —Alex estava irritado.

—Claro que não! —gritei de volta. —Eu vim porque estou confusa, perdida, eu não esperava que isso fosse acontecer. —Passei a chorar copiosamente.

—Devia ter me falado, devia ter sido honesta comigo —Sua cobrança, veio em um tom mais brando.

—Eu não vi necessidade e juro... —Estendi minha mão para tocar a sua, ele não me rejeitou. —Quando estava com você Alex, eu não pensava nele.

—Se eu soubesse que tinha acabado de terminar um namoro, eu teria sido mais cauteloso. —Ele me encarou com magoa. Aquilo acabou comigo.

—Alex, entre nós foi tão rápido, tão fora do comum, essa coisa que temos me deixou fora do ar!

Alex ficou por mais de cinco minutos apenas me olhando chorar.

—Sabe o que é pior Maria Cecília? É saber que eu não tenho chances. —Ele se inclinou em minha direção. —Eu não tenho como competir com esse cara, com a história de vocês, não quando o que tenho é apenas uma semana com você.

“A melhor semana da minha vida!” —pensei, mas não falei.

Ele engoliu seco, seus olhos estavam marejados e seu rosto vermelho, ele esticou uma das mãos e tocou minha face, delicadamente.

—Eu não quero que pense... —Segurei sua mão para que ela ficasse ali, onde estava.

—Eu entendo você, de verdade. Faz uma semana que nos conhecemos, eu não tenho como te fazer promessas, nem pedir para que me escolha. —Ele começou a chorar muito discretamente. —Na verdade, eu não quero estar no meio dessa história e não posso cobrar nada de você.

Nossa! Aquilo foi como um golpe direto, Alex estava meio que tomando a decisão por mim, e eu, eu não conseguia falar para ele que não era Marcus quem eu queria, mas sim, ele.

—Maria Cecília, mesmo você partindo meu coração, mesmo assim, eu continuo te desejando só coisas boas, e isso não macula minha impressão sobre você —Alex interrompeu o que falava e apertou com os dedos, o canto dos olhos para impedir que as lágrimas rolassem. —Você ainda é a melhor garota que conheci... Quer saber? Eu não mudaria nada em nossa breve história, no fim você fez bem em não me dizer nada sobre seu ex-namorado, talvez se eu soubesse, nós não teríamos tido tanto um do outro.

Então ele me abraçou, e eu senti que era uma despedida. Aquilo doeu, doeu muito mais do que quando eu terminei com o Marcus.

Eu queria dizer que estava apaixonada, ou melhor, se não fosse loucura, queria dizer que o amava, mas meu medo falou mais alto. Àquela altura não adiantaria falar mais nada, o estrago já estava feito e no final, tinha sobrado para todo mundo.

Assim, sem saber como seria minha vida dali em diante, eu parti deixando Alex, e uma parte de mim para trás. Honestamente, a melhor parte. Tudo o que veio depois, foi vivido por uma Maria Cecília incompleta...

A primeira pessoa que procurei foi a Gabi, em seus ombros chorei por horas seguidas. Eu estava arrebentada por dentro.

—Nossa Lia, eu queria poder dizer alguma coisa que fizesse você se sentir melhor. —ela sussurrou enquanto afagava meus cabelos.

—Precisava ver a cara dele, Gabi. —Balancei a cabeça imaginando que jamais esqueceria a expressão de Alex antes de eu partir de sua casa.

—Meu Deus Lia, se é assim, se vocês dois se gostam tanto, joga tudo pro alto e fica com ele! —Ela me encarou enquanto eu voltava a chorar.

—Não é tão simples, além do mais, eu estraguei tudo, errei com ele, errei com Marcus... Errei comigo mesma.

Gabi me segurou pelos ombros e seu rosto se fechou com raiva.

—Pare, Maria Cecília, chega! —ela gritou. —Chega de ficar se autoflagelando, nessa merda toda não têm culpados, essas coisas simplesmente acontecem... Bem vinda à vida!

Talvez ela estivesse certa, eu precisava parar de me martirizar, mas quando se está aos pedaços, nem sempre é fácil reunir os cacos. Por um certo período eu sofri por prazer, era como se a dor tornasse viva as lembranças dos dias com Alex, afinal, era tudo o que eu tinha, era o que nos mantinha ligados.

 Masoquismo, era exatamente isso o que eu exercitava, dia após dia, e quanto mais doía, melhor parecia ser.

Meus pais não entendiam nada, me viam pelos cantos ou ouviam-me chorar e para eles, eu estava sendo orgulhosa por não ter voltado com Marcus.

—Olha como essa menina emagreceu! —ela falou à Lucia, as duas estavam fazendo mudanças na vitrine da floricultura.

Lucia me olhou com pena e eu ignorei, fingi que não era comigo.

—Esses dois se gostam, essa menina fica aí sofrendo e eles não resolvem essa coisa... Não sei por que perder tempo assim. —Ela continuou resmungando e eu, depois de um tempo, bloqueei minha audição.

Arrumava uma caixa de etiquetas, quando a tia da Gabi apareceu na floricultura com uma revista nas mãos.

—Mas vocês são chiques mesmo! Já estão saindo em revista importante e tudo mais...

—Do que está falando, Marli? —minha mãe questionou tomando a revista para si.

—Olha aí, vocês estão na reportagem do casamento que fizeram mês passado, lá em Santo Valle. Que luxo foi aquilo, hein?

Aquela foi a única coisa que me animou nas últimas três semanas, levantei-me com tanta rapidez que em dois segundos já estava ao lado da minha mãe.

—Deixa eu ver? —pedi, tirando a revista de suas mãos.

—Nossa Lia, que falta de educação! —ela ainda resmungou enquanto eu voltava para o balcão.

Comecei a folhear a revista em busca da bendita matéria. Algumas páginas depois, lá estavam eles, Alex e sua família, numa foto que ocupava uma página inteira, do outro lado uma imagem dele com a irmã. Corri os olhos pelas letras, nunca antes lera algo com tanta rapidez.

“Primogênita da família Collerman, celebra suas bodas na luxuosa mansão da família”. Era o título da reportagem, mas isso não me interessava, eu queria mesmo era saber o que falava sobre ele. Em meio á muito blá, blá, blá, a reportagem citava:

“Alexandre Collerman, 23, foi um dos padrinhos.” Era pouco, uma migalha na verdade, mas poder ter revisto seu rosto, mesmo que por uma foto, e saber finalmente que ele tinha vinte e três anos, me pareceu tão significativo que cheguei a me emocionar.

—Anda filha, o que fala sobre nós? —A voz da minha mãe me trouxe para a realidade.

—Espera, estou lendo a reportagem toda... —Tentei disfarçar sem conseguir tirar meus olhos daquelas fotos, e sem conseguir me livrar das tantas boas memórias que aquele dia me trazia.

—Deixa que eu vejo! —Ela veio em minha direção querendo reaver a bendita revista. —O luxuoso evento teve a decoração assinada pela próspera floricultura A Florista, que fica no município vizinho de Santo Valle, na graciosa cidade de Monte Real.

—Que propaganda! —Lucia comemorou. —Agora se preparem, A Florista vai decolar de vez!

—Se Deus quiser! —Marli, ergueu as mãos e as três ficaram ali, comentando cada foto que viam.

Eu saí sem dizer nada, caminhei desenfreadamente até a banca de revistas, a única da cidade.

—Vou levar essa Seu Mário. —Entreguei o dinheiro e nem peguei o troco.

  O campinho de futebol vazio, pareceu-me o lugar perfeito para me afugentar, era meio de tarde e ninguém o usava naquele horário. Sentei-me em um dos bancos de madeira e fui direto para a página que estampava a foto de Alex.

Eu estava morta de saudades dele; da voz, do cheiro e do jeito que ficava me encarando. Olhar as fotos e saber que fiz parte daquele cenário, que bebi daquele champanhe, parecia-me tão surreal, que não fosse a dor que ainda latejava dentro de mim, não fosse ela, eu chegaria a duvidar que aquilo acontecera mesmo.

Ao menos eu tinha uma foto dele, agora não precisaria mais ter medo de esquecer o seu rosto, ainda que para mim, fosse algo impossível.

Estava prestes á voltar para casa, quando o vi, dobrando a esquina, Marcus.

O que seria aquilo? O destino querendo me mandar sinais? Se fosse, eu pouco me importava, enfiei a revista embaixo do meu braço e desejei que ele não viesse falar comigo.

—Eu venho sempre aqui para pensar em nós dois. —Ele parou em minha frente como se quisesse bloquear minha passagem.

Desde o dia em que conversamos na floricultura, Marcus e eu não tivemos um novo encontro, ele até ligava e passava em frente A Florista, mas eu sempre deixei claro que não estava bem e que não queria cobranças.

—Na verdade eu... —enrolei, perdida no que falar. —Eu tenho que voltar.

Marcus respirou fundo, estava na cara que ele não me entendia. Ele segurou em uma das minhas mãos, pensei em repeli-lo, no entanto me senti cruel.

Não sei dizer se foi pela circunstância, já que eu acabava de ser inundada por lembranças de Alex, mas o fato foi que não senti nada quando ele me tocou. Nada mesmo.

—Lia, vamos parar com isso... Está na sua cara que você está sofrendo tanto quanto eu estou. —Marcus acariciou os meus cabelos.

Ele estava certo mesmo, eu sofria, mas não era por ele, e aí entrava aquela questão. O que era pior? Mentir para não magoá-lo, ou despejar sobre ele uma verdade que certamente o destruiria?

—Marcus, tenho que voltar para a floricultura, a gente se fala outra hora. —Voltei a caminhar.

Ele me seguiu, veio atrás de mim até me acompanhar. Reduzi os meus passos.

—Lia, não dá mais para adiar essa conversa, faz quase um mês que voltei e você mal consegue olhar para mim.

—E você acha que aqui na rua, agora, é uma boa hora? —Irritei-me, ao notar que todos nos observavam.

—Então hoje à noite vou até sua casa, podemos ir para Santo Valle.

Pronto, ele acabava de piorar ainda mais as coisas, eu jamais voltaria á Santo Valle com ele.

—Marcus, hoje nem pensar. —Fui rude, mas no fundo sabia que ele estava certo, eu não podia postergar mais aquela conversa. —Amanhã vamos ter uma conversa definitiva, amanhã.

Seu semblante mudou instantaneamente, covinhas se formaram com seu tímido sorriso.

—Então, até amanhã Lia. —Ele se inclinou para beijar meu rosto.


Notas Finais


E agora? Será que a Lia vai ter coragem de contar toda a verdade para o Marcus? Eu não queria estar na pele de dessa garota...
Beijos e até breve!!!


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