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História Mais uma Maria - Perdas


Escrita por: PequenaMaria

Notas do Autor


"Para ela era um sonho, acordar seria um crime"

Capítulo 1 - Perdas


  Fazia muito frio para a época do ano, Maria não queria levantar pois seu quarto parecia mais confortável. O termômetro marcava 17°C , mesmo sendo início de primavera, um outro detalhe não menos importante que fazia Maria não querer ir à escola, é o fato de ser seu 8° aniversário. A menina estava certa de que haveria uma festa, não queria perder nada.
  Depois de um grande diálogo com sua madrasta Verônica, finalmente aceitou ter assistir aula. Seu pai não se pronunciava em relação a nada disso, a bebida e drogas sigilosas o consumiam aos poucos.
Ao chegar em casa, a menina sentiu o cheiro de bolo no ar, e suas expectativas apenas aumentavam. Sim! Estava tudo preparado, em sua cama, um vestido azul e uma coroa ao lado; ficou sem palavras alguns segundos e logo em seguida, todo o Recife podia ouvir seu grito de euforia

-TIA?! ESSA COISA LINDA E AZUL É MINHA??

-Sim, Ma. Por favor, não grite, não quero a polícia curiando na nossa porta.

  No quintal, seu pai já estava embriagado, certamente não participaria da festa.

- Fernando? Sério que tu já está bêbado? Ao menos finge que se importa com ela!

-Ela está feliz, tá bom demais, Vera...

-Vai se tratar, seu imbecil! 

A relação entre Verônica e Fernando já havia se desfeito há muito tempo. Ela ainda o suportava pois sabia que ele não tinha          condições de criar Maria sozinho, já que sua mãe havera falecido em um acidente de carro há três anos.
   Verônica não vinha se sentindo bem há alguns dias, tossia tanto, que já sentia uma forte inflamação na garganta. 
  O telefone tocou, a mãe de Fernando estava na porta.

-Maria, sua avó chegou, vai abrir a porta pra ela.

-Vó!  Você veio!

- Oi, Maria. Como está linda! uma princesa! aqui está o seu presente, agora vá brincar com seus amiguinhos.

-Sim, vó!

Maria não conseguia conter a alegria. Estava estampado um sorriso quase completo em sua boca, não fosse pelo dente de leite que havia caído. Seus cachos pareciam molas, de tanto que saltava. Pra ela, era um sonho, acordar seria um crime.

- Vera, você não me parece nada bem, o que está havendo?

- Ah, dona Suzi, fiz exames e estou com tuberculose, terei de me internar ainda esta semana

- o Fernando sabe?

- Achei melhor não contar.

- e quanto a Maria?

- num sei não...deixa o tempo passar.

- Oxe, menina! Tenha calma, vai ficar tudo certo.

Finalmente a noite chegara e Verônica poderia descansar, ao se despedir de todos na porta, tomou calmantes na tentativa de dormir mais rápido, mas antes, precisava ver outra vez, o sorriso de Maria.

-Acho que está na hora de uma princesa descansar...

-Ah... não, por favor, me deixa olhar mais um pouco os presentes?

-Tá bem. Eu vou subir, estou muito cansada, mas não me demore em Maria?

-CERTO!

Da cozinha, Fernando apenas ouvia o diálogo, mas logo foi até a sala, falar com a menina.

- O que achou da festa?

-Papai, você mal esteve aqui, tava lindo

-Eu tava cansado...mas ainda te vi de princesa, muito linda, parece uma moça.

- Vou guardar o vestido pra não rasgar.

- Muito bom que você veio morar aqui, seremos muito felizes, Maria

- Eu estou muito feliz

-Deixa eu desabotoar  esse vestido, vem aqui.

Fernando ficou alguns segundos olhando para a menina e aos poucos deslizou os dedos sobre suas costas delicadamente.
- Suas costas são tão macias ...

-para, tá fazendo cócegas haha

-não vai tomar banho?

- tá muito frio, tomo na hora de ir pra escola.

-mas, cadê a higiene? tem que tomar banho, menina! Vamos, eu levo você no ombro.

-não, papai, por favor, não quero.

A menina acirrou os olhos e bateu o pé. Fernando se deu por vencido.

-Tá bom, porquinho.

Sabendo do estado de saúde da nora, Suzi achou melhor não ir para casa. 
  Sentindo fortes dores, Verônica levanta na madrugada, cambaleando.  Fernando que dorme em cama separada, desperta com o barulho, acende o abajur e questiona " o que você tem?"

- Eu preciso ir ao hospital !

Aos poucos, junto a tosse, aparecem gotas de sangue. Suzi aparece na porta e ao ver a cena, leva a mão a cabeça desesperada.

- Ai, meu Deus! Leva ela pra o hospital agora, meu filho!

Fernando calçou os sapatos, vestiu uma camisa e caminhou com Verônica até o carro. Tentaram não fazer barulho, pois não gostariam que Maria acordasse. Ao chegar na emergência, Verônica começou a vomitar sangue, foi rapidamente levada a UTI, e ao ser colocada na maca com grande esforço, falou:

-Por... Favor, cuida. bem da minha princesa...

Na manhã seguinte, Suzi acordou Maria, e buscou alguma forma de camuflar toda a tragédia

-Bom dia, princesa, alguém tem que ir pra escola

-Só mais um pouquinho, vó...

- Mas já fazem 30 minutos que você me pede esse pouquinho. E você precisa mostrar seu caderno novo ao seus amiguinhos

-Ah! É mesmo, Alice tem uma bota igual a minha, me deixa ir com ela hoje, por favooor?!

-tudo bem, agora levante. Antes que eu me esqueça, ah... A Verônica teve de... Fazer uma viagem de ultima hora. Vou ficar com você esta semana, tudo bem?

-Mas ela nem se despediu de mim...

-Ela te deu um beijo antes de sair, você que dorme demais

-Eu sou uma bela adormecida

- Não tenho dúvidas

Suzi aproveitou a ausência da
menina, para saber de Verônica. Na emergência, as notícias não foram nada boas; 
O quadro havia se agravado, não restava esperança. 
Depois de uma semana de muitas desculpas esfarrapadas, Maria começou a entender o que estava acontecendo. Ela já havia passado pela mesma coisa antes, não se dava ao desespero de perder mais uma pessoa amada. 
    Fernando resolveu ficar a semana na casa de sua mãe, para não ter que passar pelo interrogatório de Maria. No café da manhã, a menina não se conteve;

- vó... Não me faz de besta, sei que está escondendo algo. Por que a tia Vera não liga? Você vive triste, disse várias coisas, eu passei por isso antes, não faz mais isso, por favor.

A menina não conteu a vontade de chorar, enquanto sua avó coçava a cabeça buscando a melhor forma de explicar a situação. Depois de pensar um pouco, Suzi resolveu não esconder mais nada, Maria saberia da verdade de alguma maneira, cedo ou tarde. 
Entre choros a menina perguntou:

- Vó... Você também vai morrer?

-todos vamos, querida. Mas ainda não é minha hora, ainda vou te ver crescer e ficar velhinha feito eu.

Maria sabia que sua avó estava mentindo, mas se aliviou por saber que ainda a tinha por perto. Nunca foi apegada com o avô, pois ele era tão repulsivo e covarde, quanto Fernando. 
  Ao menos agora, ela aprendera a lidar com perdas.



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