História Maleficus - Prologue

Jungkook gostava da companhia dos amigos, mas estimava muito os momentos em que estava só. Saboreava o silêncio, relaxava-se. Gostava de observar a natureza, pensar sobre ela e sobre muitas coisas mais. Por isso decidiu neste fim de semana ir acampar sozinho. Só ele, a barraca e o silêncio da natureza.

Esse era um dos motivos de estar solteiro: poder curtir sua própria companhia sem ter que dar satisfações a um parceiro ou levá-lo sempre consigo. Todos os seus amigos namoravam e o garoto observava as crises de ciúmes, as brigas de casal e suspirava aliviado por ser o único a não passar por isso.

Na tarde de sexta-feira já estava com tudo arrumado dentro do carro. Jungkook era um garoto prevenido. Estava levando um estoque de comida que dava para o dobro de tempo que passaria acampado, afinal imprevistos acontecem. Levava também agasalhos, roupas de banho, cobertores e uma barraca extra. Estava, claro, munido de um spray de pimenta, nunca se sabe...

— Não sabia que você ia se mudar pra cachoeirinha. — caçoou Namjoon, ao ver o carro de Kookie abarrotado de coisas.

— Vou me mudar pra lá durante o final de semana todo e quero toda a segurança que puder ter. — afirmou Jungkook.

— Olhando assim até parece que você vai levar um monte de puto. — riu Jackson, fazendo o garoto imitá-lo de forma infantil.

— A gente se vê no domingo à tarde. — despediu-se já dentro do carro e então deu partida no veículo.

Namjoon e Jackson ficaram rindo.

— Cara, ele é mais novo que todo mundo da turma e parece o meu avô às vezes. — caçoou Jackson.

O destino de Jungkook era um local muito conhecido entre os jovens, chamado “Cachoeirinha”, por se tratar de uma floresta com uma bela cachoeira. Era um lugar lindo e um grande número de pessoas ia até lá para se conectar com a natureza e se desestressar. Claro, vários casais faziam da Cachoeirinha um destino romântico e muitas juras de amor eram feitas ali, muitas vezes sob a luz da lua que parecia muito mais brilhante que no meio da poluição urbana.

O garoto foi o caminho todo dirigindo calmamente e ouvindo música, algumas vezes cantando junto. Apesar dele já ter 17 anos e um corpo bem malhado, seu rosto ainda parecia o de um bebê e por este motivo chamava a atenção dos outros motoristas que, ao verem um garoto aparentemente bem novo dirigindo sozinho um carro e agindo como se isso fosse algo normal, se espantavam.

Jungkook, claro, sequer prestava atenção nisso. Estava concentrado em cantar e cantava muito bem, diga-se de passagem. Por fim começou a pensar se teria muita gente lá, torcia para que não. Outra coisa que o preocupava era o fato de que o tempo estava ficando cada vez mais fechado, anunciando chuva. Torceu para que ela não caísse antes dele chegar e montar sua barraca, ou teria de montá-la debaixo de chuva mesmo, já que carregava consigo remédios para resfriado. Em suma, nada poderia dar errado em seu primeiro acampamento sozinho.

Finalmente chegou e viu que, muito provavelmente devido à chuva que cairia, a Cachoeirinha estava deserta. Suspirou de alívio. Estacionou o carro o mais dentro da floresta que conseguiu, visto que havia ali muitas árvores, e desceu, respirando o ar puro da natureza. Fechou os olhos por um instante e concentrou-se em ouvir o canto dos pássaros, não eram muitos que cantavam, mas, ainda assim, podia-se ouvir o belo som. Sorriu.

Após um tempo contemplando a paisagem, Jungkook retirou a mochila do carro e começou a montar a barraca, que era azul marinho, impermeável e de três lugares. Colocou o teto amarelo, inflou seu colchão e, após colocar dentro tudo o que precisava, fechou-a. Deitou-se e ficou esperando os primeiros pingos de chuva ficar intensos.

Isso não tardou a acontecer.

A chuva estava um pouco mais forte do que Jungkook esperava e vez ou outra assustava-se com os trovões mas, fora isso, estava se divertindo.

Mais tarde, quando ficou com fome, comeu todo o saco tamanho família de marshmallows coloridos da Fini e, depois disso, desligou a lanterna.

Não pôde enxergar mais nada.

Essa era provavelmente a maior escuridão que Jungkook já vira e isso o fez ficar com um pouco de medo.

Mas bem pouco, ele não era o tipo medroso de garoto.

Claro que poderia haver ali por perto centenas de animais selvagens famintos...

Mas ele tinha spray de pimenta, então estava tudo bem.

Ficou apreciando o som da chuva por algum tempo até que pegou no sono.

***

No dia seguinte acordou sentindo-se leve, viu que não chovia mais e pelo jeito estava de sol. Espreguiçou-se e abriu a barraca, entrando assim os raios solares.

— Ai, fecha esse zíper! — disse alguém ali dentro, todo coberto pelos cobertores.

O garoto levou tanto susto que caiu para fora da barraca.

A pessoa lá dentro descobriu o rosto e Jungkook pode perceber que se tratava de um belo garoto ruivo, que parecia estar meio aborrecido.

— Jungkook, o que você tá fazendo? — perguntou com sua voz fina.

O garoto não sabia o que fazer, por um momento sentiu seu corpo paralisar e seu coração bater muito forte.

O garoto ruivo sentou-se, estava todo descabelado e exibia marcas de chupões no pescoço.

— Para de graça, Jungkook! — exigiu.

— Mas que diabos você tá fazendo na minha barraca?! — o garoto conseguiu perguntar e sua voz soou como um berro.

O ruivo pareceu não entender.

— Como assim?

— Quem é você?! — Jungkook começava a se desesperar.

— Sou a sua avó! — exclamou o garoto desconhecido e voltou a se deitar. — Entra logo na barraca.

Jungkook sabia que não se tratava de sua avó, o garoto estava tirando onda com sua cara. Beliscou-se para ver se não era sonho e constatou, dolorosamente, que não era. Agora estava ali caído no chão enlameado, suas roupas estavam sujas e tinha um garoto que ele nunca viu na vida mandando-o entrar na barraca como se fossem conhecidos. Pior, o garoto sabia seu nome.

— Eu não conheço você! — esbravejou.

O garoto sentou-se novamente e dessa vez parecia magoado.

— Então é assim? Não conhece mais o próprio namorado? — disse com voz chorosa.

Namorado?

Ele disse namorado?

Agora era oficial, Jungkook não estava entendendo bulhufas do que estava acontecendo.

— Eu não tenho namorado nenhum!

— O quê? Está terminando comigo? — o garoto começava a se desesperar.

— Você é louco! — exclamou Jungkook, levantando-se e indo em direção ao carro.

O garoto ruivo levantou-se da barraca e foi atrás de Jungkook, não se importando em sujar seu delicado pijama de cetim azul.

— Kookinho, vamos conversar. — o ruivo implorava.

— Me deixa em paz!

Jungkook já estava entrando no carro.

— Vai me deixar aqui?! — o baixinho estava incrédulo.

O garoto nada disse, apenas deu partida em seu veículo e começou a se afastar, deixando para trás o garoto ruivo que não parava de gritar, com voz chorosa:

— Jungkook, volta aqui! Seu cachorro! Volta! Seu filho da...

À medida que se afastava, a voz do garoto ia ficando baixa até que não a pudesse ouvir mais.