História Malfeito, feito - Capítulo Único

Nada podia se igualar àquela dor.

Talvez aquela fosse a pior dor que qualquer ser humano pudesse sentir.

Jorge estava sem chão. Era incapaz de respirar corretamente, pensar com coerência ou até mesmo firmar-se de pé. Sua cabeça girava, e ele não fazia ideia do que mais pensar.

Provavelmente, nem mesmo a Maldição Cruciatus lhe causaria tanta dor quanto aquela perda lhe causava.

Não tinha forças para correr ou gritar; tudo o que conseguia fazer era deixar lágrimas silenciosas descerem por seu rosto, marcando suas bochechas sardentas que normalmente costumavam possuir um sorriso bonito e contagiante de ponta a ponta.

Sem pensar duas vezes, Jorge aparatou.

Sem nem mesmo se dar conta direito, estava na sala de sua casa. Tentou se apoiar em qualquer coisa pela frente, mas sem sucesso algum, caiu de joelhos no chão, em seguida apoiando suas mãos. Não era capaz de enxergar as coisas de forma correta, tampouco capaz de achar algo para se apoiar firmemente.

Ele precisava de ajuda, mas não havia ninguém ali. Quando precisava de ajuda, a primeira coisa que sempre fizera e acreditava que sempre faria era clamar por Fred, e vice-versa. Este fato fez o corpo do ruivo ser atingido por tremores; seu peito doía, sentia náuseas e estava hiperventilando.

Jorge agora se via em meio a um ataque de pânico.

Tudo o que ele esperava agora era um abraço. Um abraço específico. Mas este nunca veio, e nunca viria outra vez.

Da melhor maneira que pôde, o jovem levantou-se e começou a correr em direção ao seu quarto, que um dia também fora o de seu gêmeo. Vacilava a cada passo, mas tentava ir rápido da maneira que podia. Tropeçava nos degraus enquanto subia as escadas, ou as vezes até mesmo em seus próprios pés.

Assim que chegou ao cômodo, a única coisa que lhe passou à cabeça foi pegar tudo aquilo que fora da pessoa que mais lhe importava na vida. Abriu o armário de Fred, e começou a jogar todas as vestimentas do irmão no chão, ora as abraçando, ora simplesmente a jogando no chão formando uma pilha ao seu lado.

Ajoelhou-se ao lado da pilha e segurou o máximo de peças que conseguiu, as abraçando com força, marcando-as com lágrimas incessáveis. O perfume natural de seu irmão ainda estava impregnado no tecido.

Ele pegou tudo; desde presentes que ele havia ganhado até materiais velhos de escola que nem ao menos faziam sentido estarem ali já que ambos nem haviam se formado. Estava tudo ao seu lado; ele havia sentado no chão, encostando-se a parede. Por vezes, batia a parte de trás da cabeça na mesma, culpando-se pela morte de seu irmão, ou então começando a murmurar coisas que nem ele mesmo estava entendendo, ou até mesmo gritar o mais alto que podia, perguntando por qual motivo seu irmão havia lhe deixado, se eles haviam tantos planos para concluir.

E ele ficara ali. Era capaz de ficar daquela maneira por horas, ou talvez até dias. Ele não se importava. A única coisa que ele queria era o que ele sabia que jamais poderia ter de volta.

A Guerra Bruxa estava finalizada, mas Jorge não a vencera.

Passara muito longe de vencer.

O ruivo se levantou e olhou para o espelho à sua frente. Especialmente para seu reflexo. Era capaz de ver um jovem alto, com cabelos ruivos e olhos castanhos claros.

Mas aquele não era ele.

Pegou sua varinha e a apontou para o espelho.

Malfeito, feito.