História Manual de uma vida - 10. E me arriscaria de novo...

P.O.V Mike

Acordei cedo e acordei eles, menos Chaz que já estava na sala quando eu desci.

Agora estamos na cozinha terminando de comer. A Tali falava com o Chaz, ela estava tentando animar ele mas no máximo arrancava um meio sorriso.

Brad e eu estamos calados, apenas observando, coisa de psicólogo.

Chester sai da cozinha pouco antes de terminamos de comer.

Terminamos e ajeitamos a cozinha.

-Peguem o que quiserem pra levar e comer no caminho, é um pouco longe.-aviso

-A gente passa no mercado e compra.-Brad fala e eu reviro os olhos.

-Larga de frescura e pega na minha dispensa ou geladeira.-falo e ele dá de ombros.

Saio da cozinha e vou para a sala, Chester estava sentado no sofá e olhava para as mãos.

-Chester?!-chamo e ele me olha.-Nao quer levar nada?-pergunto e ele nega.-Gosta de chocolate?-ele nega.-Marshmallow?-ele assente.

Volto para a cozinha e pego dois pacotes de marshmallow que estavam no armário.

Volto para a sala e entrego para ele.

-Nao precisava.-ele fala baixinho

-Nao é tão perto assim. Se quiser algo é só me falar.-falo

-Obrigado.-ele fala e eu sorrio, me virando -Mike?!

-Oi?!-me viro de volta para ele.

-Vou precisar de água.-ele fala e eu sorrio.

Vou para a cozinha e procuro garrafas térmicas.

Os outros dois estavam colocando comida na mochila.

Coloco água gelada em 5 garrafinhas térmicas e ajeito em outra mochila.

-Pronto?-pergunto e eles assentem.

Saímos da cozinha com as mochilas e fomos até Chester.

-Vamos, Chaz?!-Tali chama e ele assente se levantando.

Saímos do meu apartamento e fomos para o elevador.

***×***

Chester está no banco de trás com a Talinda e Brad está do meu lado na frente.

Estamos na estrada faz meia hora. Vez ou outra alguém puxava assunto e vez ou outra eu olhava para o Chester. Ele acompanhava as árvores que passavam pela janela rapidamente, enquanto comia marshmallow.

-Olha borboletas.-Chester fala, baixinho.

Acho que ele não queria ter dito porque se cala logo após.

-Quer ver elas?-pergunto, calmo o olhando pelo retrovisor.

Ele assente e eu paro o carro perto do acostamento.

Descemos do carro e eu fiquei observando ele ir até uma árvore onde haviam várias borboletas coloridas.

Me encosto do carro e cruzo os braços, olhando atentamente para ele.

É incrível, ele parece estar redescobrindo o mundo e parece encantado com essas descobertas. A gente estava apenas observando ele.

Em um momento uma borboleta pousa na mão dele e ele fica olhando para ela.

A cena é tão linda, tão amável. Ele é muito adorável e agora está mais. Deus! Eu o amo muito.

A borboleta voa e ele a observa ir para longe. Pude ver uma lágrima escorrer pelo seu rosto e ele a limpa.

-Chaz, precisamos ir.-Tali fala e ele assente.

Voltamos para o carro e agora sim ele parecia pior do que quando entramos mais cedo no carro.

-Brad, me dá meu celular que está no porta luvas.-peço e ele pega.

-Vc não vai dirigir mexendo no celular.-ele fala

-O carro tá desligado, seu lerdo.-falo e ouço uma risada mínima

Olho para trás e era Chester que havia soltado a risadinha.

Sorrio e volto a olhar para Brad. Ele me entrega o celular e eu vejo se tem sinal da operadora.

Ligo a internet e vou para a loja de aplicativos.

Do que será que ele gosta?! Me pergunto enquanto rodava pelos aplicativos.

Acho um joguinho de pintar borboleta e coloco pra baixar. Não demora muito e ele baixa.

Me viro para o banco de trás e entrego meu celular para o Chester.

-Se distrai um pouco.-falo e ele me olha, depois olha para o celular e assente.

Me ajeito de volta e seguimos viagem.

Brad liga o som do carro e começa a cantar baixinho, logo se soltando.

-Brad, quem canta essa música?-pergunto.

-Bon Jovi.-ele responde

-Ele tem a voz linda, então deixa só ele cantar mesmo.-falo e ele me dá um tapa na nuca.

Ele volta a cantar que nem louco e acaba me contagiando. Começo a cantar com ele e tivemos até uma terceira voz, a Tali.

Eu olhava direto para o Chester que estava distraído com o celular na mão.

A música acaba e começa outra, Doo Wah Diddy, do Manfred Mann. Automaticamente eu começo a cantar...

-There she was just walking down the street. Singing...

-Do a diddy diddy dumb diddy do...-a voz que eu menos esperava canta essa parte.

Sorrio e continuo, acompanhado de Chester que parecia começar a se animar com a música. Logo todos estávamos cantando. Mas Chester ainda estava cantando baixinho e não parecia tão animado.

Acho que ele só não queria que a gente ficasse mal pelo fato dele estar mal.

***×***

Estamos quase chegando, já são duas da tarde. Depois daquela música o Chester ficou quietinho e voltou ao mundo dele.

Ele ainda está com o meu celular na mão e acho que está pintando.

A Tali entrou em uma conversa com o Mike sobre natureza e eu apenas ouvia.

De longe eu já via a casa da fazenda.

-É aquela ali.-falo apontando e ganhando a atenção deles.

-Parece muito linda.-Tali fala

-É sim. Ela só é de madeira por fora, por dentro eu decorei ela por inteiro e fiz desenhos. A partir daqui é meu...-falo quando entramos na área da minha fazenda.

-É enorme. Psicólogo ganha bem né?!-Tali fala e eu e Brad nos entreolhamos.

-Quem dera!-falamos em uníssimo.

-Eu ganhei de herança dos meus avós.-falo eles fazem um "Ahhhh!"

Chester não parou de olhar para o celular e eu decidi deixar ele quieto.

Já estamos bem evoluídos para voltarmos à estaca zero.

Paro com o carro na frente da porteira e desço com Brad.

-Vc tem certeza que o Chaz vai ficar bem aqui?-Brad pergunta me ajudando à tirar as correntes da porteira.

-Nao tenho. Mas se não fizer tão bem, não vai fazer mal também.-falo e ele assente.

Abrimos a porteira e voltamos para o carro.

Entramos na fazenda e eu estaciono na frente da casa.

Volto com Brad para a porteira e a fechamos.

Voltamos logo para o carro e abrimos o porta malas enquanto Tali e Chester desciam.

Chester finalmente parou de olhar para o celular e agora olhava ao redor com os olhos meio fechados por causa do sol. Me aproximo dele e entrego meus óculos escuros para ele.

-Obrigado.-ele fala e os coloca.

Sorrio e volto para o porta malas.

Tiramos as malas e entramos em casa.

-Izzy?!-chamo

Logo ela aparece e vem até mim.

-Mike?! Que saudades, menino.-ela fala me abraçando

-Também estava com saudades.-falo.

Izzy é a senhorinha que cuida daqui. Tem outras pessoas também mas é a ela que eu sou apegado.

-Deixa eu te apresentar...-falo me virando para o pessoal.-Esse é o Brad e aquela é a Talinda.-falo.

-Oi, crianças.-ela fala se aproximando deles.-Estao com fome?! Parecem com fome.

-Nao, obrigada.-Tali fala sorrindo

-A gente vai dormir primeiro, depois comemos.-Brad fala sorrindo também.

-Vou fazer biscoitos.-ela fala e se vira pra mim.-Filho, vc disse que eram três, falta um.

-É o Chester. Cadê o Chester, Tali?-pergunto

-Ele se sentou ali na frente e se negou a entrar.-ela responde.

-Tudo bem. Izzy, mostra o meu quarto pra eles e pede pra alguém levar essas malas lá pra cima. Depois eu te apresento o Chester, eu vou lá com ele.-falo

-Fala mais devagar, querido.-ela fala sorrindo.

Sorrio e beijo a testa dela antes de sair da casa.

Encontro Chester sentado em um banco na frente de casa.

-Chester, não está cansado?-pergunto e ele nega.

-Cade a Tali?-ele pergunta em tom baixo

-Ela foi dormir com o Brad. Vc quer andar?-pergunto e ele nega.

Ele não havia me olhando ainda. Ele me entrega o celular e o óculos, eu os deixo em cima do banco.

-Eu vou olhar o gado, ok?!-falo e ele assente, ainda de cabeça baixa.-Depois eu vou olhar os cavalos.

Nisso ele levanta a cabeça pra mim.

-Posso ir?!-ele pergunta meio animado.

-Claro que pode. Mas vc não tem tomado muito sol, espera.-falo e entro em casa.

Pego uma touca que estava em cima de uma estante de livros e volto para fora.

Pego o óculos e entrego os objetos para ele.

Ele os coloca e se levanta.

-Agora vamos.-falo sorrindo e ele assente.

Saímos dali e fomos em direção ao pasto, ele olhava ao redor sempre, não tinha um minuto que ele não olhasse ao redor dele.

É tudo limpo aqui, só tem grama, tem árvores mais ao redor da casa mesmo e mais afastado do campo.

Chegamos ao estábulo e entramos. Seguimos por ele. Eu olhava para o gado que estava por ali.

Seguimos até os cavalos e o Chester olhou para um em específico.

-Aquele ali é o Eike, eu ganhei ele quando era criança.-falo do cavalo que ele olhava.-Pode se aproximar.

Ele se aproxima do cavalo e parece meio incerto sobre passar ou não a mão nele.

Me aproximo mais dele e pego em sua mão, levando-a até a cabeça do cavalo e a passando delicadamente sobre a mesma.

Ele parecia encantado e pela primeira vez eu o vi sorrir de verdade. Seu sorriso era encantador, tão que me fez sorrir junto.

Tiro minha mão da dele e ele continua fazendo carinho no animal.

-Ele é lindo.-ele fala, baixinho

-É sim, muito lindo. Vc quer andar com ele?-pergunto e ele assente abrindo mais ainda o sorriso.-Eu vou pedir pra selarem ele e um pra mim, ok?!-falo e ele assente.

***×***

Estamos saindo do estábulo já montados nos cavalos. Ele está montado no Eike e eu estou na Calinne, que aliás eu amo muito também.

Começamos a andar pelo pasto, devagar. Eu estava sempre do lado dele.

Ele estava mais feliz, eu acho. Eu espero que não seja temporário.

Eike começa a andar mais rápido e eu acompanho.

-Por que ele tá mais rápido?-Chester pergunta.

-Eu não sei. Mas eu estou aqui, não vai acontecer nada com vc, ok?!-falo e ele assente pouco antes de Eike arrancar com ele dali.

Arregalo os olhos e corro com Calinne atras deles. Consigo chegar do lado deles e Chester parecia com medo.

A primeira coisa que eu pensei foi em me jogar nele e o levar para o chão. Se eu fiz isso?! Fiz.

Me jogo contra o Chaz e o abraço. Caio de costas no chão e ele por cima de mim.

Demorou uns segundos mas eu gritei de dor nas costas.

-Meu deus!-Chester fala assustado, me olhando.

Sorrio levemente e logo substitui o sorriso por uma careta.

-Chama o Will e pede pra ele pegar os cavalos.-falo baixinho.

Ele pressiona os lábios e eu sorrio, assentindo.

Ele volta para o estábulo e eu fico ali morrendo de dor embaixo do sol quente.

-Podia ter sido na sombra, Eike.-grunho.

Minhas costas doíam muito, mas pelo menos o Chester não se machucou, isso faz a dor valer a pena.

Ele logo volta e me ajuda a levantar.

-Michael, tá tudo bem?-Will, o capataz pergunta

-Tá sim. Vai atrás deles e vê o que o Eike tem por favor.-falo e ele assente saindo.

Chester me olhava com o olhar de culpa.

-Tá tudo bem, ok?!-falo e ele nega.-Vc se machucou?

-Nao...

-Ok então. Quer continuar andando?-pergunto

-Quero voltar.-ele fala baixinho.

-Ok!-concordo

Eu andava mancando mas andava. Chester ficou calado, muito calado o caminho todo.

Entramos em casa e a Izzy levou um susto ao ver como eu estava.

-Querido, o que aconteceu?-ela pergunta vindo até a gente.

-Eu cai do cavalo. Tá tudo bem, não se preocupe.-falo a acalmando.-Izzy, esse é o Chester.

-Olá, Chester.-ela fala sorrindo e ele apenas acena pra ela.-Nao fala muito?!-ela pergunta e ele nega.-Vamos desprender essa língua então.-ela fala e ele sorri

-Izzy, me trás algum chá pra dor.-peço e ela assente.

-Eu já volto.-ela fala e vai para a cozinha.

-Quer descansar, Chester?-pergunto e ele nega.-Entao senta aqui comigo no sofá.

Seguimos para o sofá e nos sentamos lado a lado.

-Vc se sente culpado?-pergunto e ele assente.-Pelo que?

-Vc tá machucado...-ele fala, baixinho

-Nao foi sua culpa, eu que me joguei. Não quero que se culpe por causa disso...-falo e ele me olha atentamente.

-Vc deve gostar muito de mim mesmo...-ele fala, baixinho.

Ele só fala quase sussurrando quase sempre, é estranho mas dá pra acostumar.

-Nao quero que pense nisso. Não se culpe por eu ter te salvado, ok?!-falo e ele assente

Eu não posso confirmar as suspeitas dele assim, pode causar afastamento dele comigo e isso pioraria muita coisa.

***×***

Terminamos de jantar e saímos da cozinha.

-Vcs estão cansados?-pergunto e todos assentem.-Certo, temos dois quartos apenas, aqui. Quem dorme com quem?

-Eu durmo com a Tali.-Chester fala (sussurra) rápido.

-Certo, então eu durmo com o Brad.-falo.-Eu vou mostrar o quarto de vcs. Brad neném, me espera na cama que eu já subo.

Ele me dá dedo e eu rio. Guio Chester e Tali para o quarto que tem no porão. Minhas costas ainda doem um pouco mas é suportável.

Descemos e o Chester olha ao redor impressionado.

-Eu que desenhei.-falo e a Tali me olha.

-Parabens.-ela fala

-Obrigado. Bom, vou deixar vcs descansarem. Boa noite, até amanhã.-falo e ela sorri pra mim.

Subo de volta e vou para o meu quarto. Brad estava deitado mexendo no celular.

-Vc quase se matou, vc tá doido?!-ele começa a falar e guarda o celular.

-Nao estou doido. O cavalo não ia parar de correr e ia acabar derrubando ele.-falo, indo para a cama e me sentando

-Mike, vc se arriscou muito.-ele fala se sentando também.

-E me arriscaria de novo.-falo.

Ele suspira e volta a se deitar. Ele não fala mais nada pois sabia que eu não mudaria de ideia.

Me deito do lado dele e acabo dormindo rápido por conta do cansaço.