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História Marfim - Khalian


Escrita por: Nocturnall

Notas do Autor


Imagem: Megan

Capítulo 4 - Khalian


Fanfic / Fanfiction Marfim - Khalian

Ele tentou esperar acordado a chegada de Megan, mas o cansaço o venceu. Talvez o efeito da droga posta na sopa tivesse passado após ter comido seu jantar. Daquela vez o prato estava mais nutritivo, com direito a carne, ovos cozidos e alguns legumes.

Quando pegou no sono não sonhou, vagou em uma escuridão sem imagens e sem memórias, e despertou quando alguém insistia em bater na porta. Quando abriu os olhos viu Megan parada na porta, parecia estar ali já algum tempo esperando que ele despertasse. Ele se levantou esfregando os olhos.

-Sinto muito, peguei no sono sem querer.

Megan fez um sinal positivo com a cabeça e só então ele percebeu que Samael estava ali também, mas ele logo saiu, fechando a porta em seguida. Megan caminhou até a escrivaninha e puxou a cadeira, sentou voltada para a cama e fez sinal para que ele se sentasse. Cruzou as pernas e pôs sobre elas uma agenda digital igual a de Samael.

-Acredito que agora que esta alimentado, descansado e decentemente vestido esteja disposto a responder algumas perguntas. Eu sou Megan, trabalho para a Corporação Slayer e estava fazendo uma ronda d rotina quando o encontrei vagando pelo deserto, sendo seguido pelos Tempest, os rebeldes que, logo após você me encontrar, tentaram nos matar. Gostaria de saber quem é você e por que estava no Deserto de Marfim, já que indigentes como você já não são mais vistos nesta região. Por que os Tempest tentaram matá-lo?

Ela ficou em silêncio encarando-o analiticamente. Ele começou a sentir-se incomodado, se mexeu desconfortável, abriu a boca para dizer algo mas desistiu. Percebendo sua insegurança Megan voltou a falar.

-Sabe que não tem como sair do Ninho Norte sem minha permissão. Ou você coopera amigavelmente comigo ou arrancarei as verdades de você sem poupar esforços. Você pode escolher.

Ele engoliu em seco e confirmou com a cabeça, mas sabia que a verdade não iria agradá-la.

-Bem. - Disse ele finalmente - Meu nome é Khalian, pelo menos eu acho.

Megan apenas arqueou a sobrancelha.

-Você "acha"?

Ele a encarou sério.

-Eu não lembro de muita coisa. Para ser sincero não lembro de nada antes de me encontrar no deserto.

Ela continuou parada, olhando para ele como se esperasse ele começar a falar, não acreditando no que acabara de ouvir. Ele suspirou e continuou:

-Desde que cheguei a este quarto venho tentando resgatar algo sobre minhas memórias, mas só consigo lembrar da vastidão do deserto... E de me chamar Khalian.

Ele analisou a reação dela que continuava séria avaliando suas palavras.

-E os Tempest? - disse ela finalmente.

-Até esse momento não sabia que se chamavam Tempest. Lembro que eles me encontraram antes de você, também me fizeram muitas perguntas, de onde vinha e para onde ia, de que lado estava, se eu era um Guardian... Mas eu não entendia o que estavam falando. Eles acabaram por me julgar inútil e me deixaram para trás, com um pouco de comida e uma direção.

Ela se mexeu na cadeira arrumando a agenda no colo.

-Que direção?

-Para a cidade Marfim, foi o que eles disseram apontando uma direção, mas para mim todas as direções eram iguais e levavam a mais areia branca.

Ele olhou para suas próprias mãos, haviam alguns velhos calos, cicatrizes em seu corpo, cada uma delas com uma história esquecida. Megan continuou avaliando-o por algum tempo refletindo sobre suas palavras.

-Não tenho porque mentir para você - continuou ele olhando-a - Você me salvou, devo a você minha vida. Não sabe o quanto é agonizante saber possuir um passado, mas não se lembrar dele, por mais obscuro que seja.

Ela desviou o olhar, aquelas palavras eram estranhas demais para tempos como aqueles, vidas eram dadas para quem pudesse melhor pagar, ou tomadas a força como a Corporação Slayer era acostumada a fazer. Anotou algo na agenda e depois a deixou sobre a escrivaninha.

-Isso é problema. E um problema dos grandes. Pessoas como você são as escolhas preferidas para serem transformadas em Guardians.

Khalian olhou para a porta lembrando-se de Kaiow e Samael, imaginando qual dos dois ela se referia, ou se referia a ambos. Como se lê-se seus pensamentos ela continuou.

-Como a própria palavra já diz, são guardiões, soldados ciborgues. -Ela se levantou e caminhou até a janela. - Hoje não é difícil encontrar pessoas que possuem partes artificiais em seus corpos, de aparelhos auditivos, próteses dentárias até órgãos ou corpo inteiro trocados por máquinas, tudo isso graças a acidentes ou simples deformidades genéticas. Mas, há outras formas de se tornar um ciborgue: acabar com a fome, doenças e pobreza, além de trazer segurança a cidade de Marfim foi o motivo pelo qual a Corporação Slayer pegou todos os indigentes, os submeteu a procedimentos cirúrgicos e os transformou em ciborgues militares. De recém nascidos a idosos. - ela parou e se virou para ele, analisando sua reação.

Ele estava sério, sua atenção completamente voltada para suas palavras, mas ao ouvir sobre a mutilação de pessoas sadias e inocentes somente pelo fato de serem um estorvo para a sociedade o fez sentir repulsa. A encarou rapidamente, não acreditando no que ouvia. Antes que pudesse questionar ela continuou:

-A iniciativa Guardians teve resultados melhores do que esperado. As pessoas deixaram de ser pobres e sem teto para se tornarem ciborgues fortes, com o objetivo de proteger a cidade que os clama como heróis.  Atualmente, os Guardians são órfãos acolhidos pelo Instituto de crianças e jovens perdidos e abandonados. Desde cedo se tornam Guardians, os melhores, incapazes de conhecer piedade diante de inimigos que buscam acabar com a paz de Marfim.

Ela se aproximou parando na frente dele, estava de braços cruzados e um sorriso cínico no rosto.

-E você é o tipo de pessoa perfeita para se tornar um Guardian. Sem lembranças, apenas com um nome, será facilmente manipulado. Mas posso fazer com que você continue inteiro, mesmo que ter partes do corpo artificialmente implantadas não seja de todo o ruim. Você só precisa ser meu aliado. Ficará livre de microchipes  e livre da empresa.

Ele a estudou por um tempo, tentando assimilar o que ela dizia e como aquilo o ajudaria. Estava trocando a liberdade e a miséria por uma vida melhor de escravidão. Por qualquer ângulo que analisasse estaria preso aquelas pessoas. O que Megan pedia era que fosse seu servo, em vez de servo da empresa.

-Você faz parte dos Tempest ou de outro grupo anti a Slayer? -perguntou ele, estranhando a atitude dela.

Megan sorriu, voltou a se sentar ainda de braços cruzados.

-Não. Meu assunto com a empresa é extremamente particular. Se concordar com o que estou te pedindo quem sabe um dia descobrirá. Sobre os Tempest, apesar do discurso dos rebeldes ser comovente, querendo proteger o que resta do mundo, na verdade eles não sabem de nada. Não estão a par de todos os problemas e criticam a forma como tentamos manter a paz e a ordem. Antigamente pessoas como essas criticavam a viagem interestelar, que salvaria pessoas levando-as para outros planetas e agora criticam o que fazemos para tentar melhorar nossa vida neste planeta. Mas a questão não é essa.

Ela descruzou os braços apoiando os cotovelos no joelho, olhando-o mais de perto.

-O que você tem? Absolutamente nada. É claro que você pode recuperar suas memórias, mas isso pode levar dias, meses, anos, quem sabe. Até lá aprenderá a ser um Guardian, sem as regalias e obrigações severas de um, mas terá uma vida confortável. Em troca me servirá quando eu o chamar. Uma troca justa não acha?

-Ainda não entendo como isso me beneficiará além de um teto em minha cabeça e comida em meu prato, mas... -Ele continuou encarando-a, refletindo no que ela havia dito enquanto falava- Como você mesma disse, não tenho nada a perder, e também não garanto que lembrarei sobre alguma coisa e se lembrar, bem, manterei minha palavra mesmo assim, apesar de ainda não entender o que você quer comigo.

-Ótimo. -Ela se colocou rapidamente em pé, pegou a agenda sobre a mesa, digitou alguma coisa antes de se voltar para ele.- É provável que você tenha passado por algo traumática, o que o fez perder a memória já que todos os "estrangeiros" lembram-se perfeitamente de onde vieram.

-Estrangeiros? -Ele se levantou e virou-se para ela.

-É assim que nos referimos aos seres que passaram por vórtices. Bem, é melhor que descanse bem por hoje, amanhã logo cedo Samael virá lhe buscar para tomarmos café juntos, então terá uma aula de história. 



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