E o tempo vai passando e ninguém aparece. Estou aqui, nesta sala, a horas e nada.
Finalmente a porta se abre.
- Olá, boa noite. Deve ser a Maria - Olho para aquela mulher ruiva, ela é linda com os olhos azuis grandes e alegres, ela percebe que não vou responder - Eu sou Barbara Bittencourt, a assistente social responsável pelo seu caso.
Fico la parada que nem uma idiota enquanto ela fala e fala, parece que não vai parar nunca. Quer saber se tenho algum parente ou alguém que possa ficar comigo(eu até pensei em dizer que sim, tinha o Higor, somos amigos desde sempre, mas aí lembrei que ficar na casa dele também seria complicado, pois o padrasto dele era um bêbado violento), então eu disse que não. E ela me explica que caso não haja alguém, eu vou ter que ir para um abrigo.
- Eu não vou para um abrigo.
- Infelizmente, não é você quem decide isso - Ela me diz serena, eu ponho as mãos no meu rosto e baixo a cabeça (lembrando das coisas ruins que me aconteceu no abrigo). Ela tenta me explicar, mas eu não escuto nada. Passa um tempinho e eu decido olhar pra ela.
- A vida é tão injusta
- Eu sei - diz olhando para mim com pena.
- Não, você não sabe. Eu sou uma boa menina, tiro boas notas, ajudo em casa, trabalho. Cuido de mim, sabe. E tentei cuidar dela também. Para não passar por isso de novo. Mas aqui estamos, porque ela escolheu ele, aquele monstro. E mais uma vez ele sumiu, fez toda a merda e nós que pagamos. E vocês querem me mandar de volta para aquele inferno, como se não bastasse o inferno que eu vivo. - Baixo a cabeça e começo a chorar, depois de um tempo ela vem e me alisa os cabelos.
Depois que eu me acalmo, olho para ela.
- Você não pode fazer nada? Eu posso morar sozinha, eu sei me cuidar. Eu trabalho.
- Não. Você não deveria nem trabalhar, você deveria aproveitar a adolescência, não assumir tanta responsabilidades tão cedo.
- Você diz isso porque não sabe como as coisas funcionam. O abrigo não é esse paraíso que a senhora pensa, lá é outro inferno. Eu sou capaz de me cuidar sozinha.
- Não menina, não pode. - Baixo a cabeça, e escuto quando ela sai da sala. Escuto quando ela fala ao telefone com alguém, fico a observando e vejo quando ela começa a se altera, fica bastante agitada, isso dura um bom tempo, depois ela vai na sala do delegado. É Maria, pelo visto as coisas vão ficar preta pro seu lado, mais uma vez.
Depois de um tempo, ela volta. com uma cara não tão boa.
- Infelizmente, não tenho boas noticias. - olho para ela - Não tem mais vaga no abrigo.
- Essa é a noticia ruim? - pergunto para ela, sorrindo.
- você não entende? Não tem para onde você ir.
- Eu posso ficar em casa, eu sei me cuidar.
- Você não pode, criança.
- Porque?
- A lei não permite.
- A lei não serve para nada, um bando de politico corrupto no poder, vários bandidos soltos, e a justiça preocupada comigo. - Ela sorrir - Mas o fato é que não tem vaga, então o jeito é eu ficar na minha casa.
- Não. Por enquanto você vai para a minha casa. - Olho pra ela sem acreditar.
- Você vai por uma estranha na sua casa? - Ela me sorrir
- Você não é uma estranha. - Ela balança uma pasta na minha frente - Eu tenho uma pasta que me fala muito de você.
- Você é louca.
- Você não deveria dizer isso com a pessoa que vai te levar pra casa - diz rindo
- Desculpa
- Sem problema. Vamos Passar na sua casa para pegar algumas coisas.
- Ta bom.
Vou mostrando para ela como chegar a minha casa, chegando lá vou no meu quarto pego minha mochila da escola e jogo todas as minhas roupas dentro junto dos meus materiais, jogo também meu desodorante e meu coturno surrado(que ganhei do exército da salvação). Volto as pressas para o carro onde a Barbara ta me esperando. Ela me olha ao entrar no carro.
- Eu trouxe tudo, não sei quanto tempo vou ficar na sua casa.
- Isso é tudo?
- Sim.
- Ta bom, vamos então.
Demoramos um tempão, por causa do transito, e durante esse tempo a Barbara fala e fala. Agora sei que ela é casada com um tal de Marcos, que é medico, e uma filha da minha idade, que se chama Bianca.
- Chegamos. - Olho e vejo uma casa enorme com um lindo jardim. Ela desce do carro - Vamos, vou te mostrar a casa.
E ela mostra, C A D A canto, chegando na cozinha.
- E essa é a Cida, quem manda verdadeiramente nesta casa - Me apresenta uma senhora de baixinha, gordinha, de cabelos grisalhos e seria. - Cida, essa é Maria. Ela vai ficar conosco por um tempo, ela vai ficar no quarto de hospede, você pode prepara-lo para mim?
- Sim, Menina. - e sai da cozinha.
- Menina?
- É, ela trabalhava para os meus pais quando eu era pequena, ai cresci e carreguei ela pra mim.
- Ah.
- O que você gosta de comer? - pergunta, abrindo a geladeira
- Hã?
- COMIDA, você deve está morrendo de fome, sua noite foi longa.
- Nem tou.
- Mas vai comer. Temos suco de laranja, iogurte, salada de frutas, maça, laranja, mamão
- Um café ta bom.
- Café? você não é muito nova para tomar café?
- Mas, eu tomo.
- Mas, não é saudável. - fico olhando pra ela - Ta bom, mas vai ter que comer uma torrada também.
- Ta bom.
- Eu vou fazer pra você.
- Eu posso fazer.
- Aproveita menina, torrada é uma das poucas coisas que a senhora sabe fazer.
- Cida, o que ela vai pensar de mim?
- Que a senhora não sabe cozinhar.
- CIDA
- O quarto está pronto, quando terminar de tomar o café eu te mostro.
- Ta bom, obrigada.
A Cida e a Barbara conversam animadamente, enquanto ela faz minha torrada, depois de me servir a Cida me serve café, e a conversa continua.
- Você é tão quietinha - Cida diz.
- Terminei - Digo me levantando e indo a pia
- O que pensa que vai fazer?- Cida indaga, com um tom reprovador.
- Lavar a Louça.
- Deixe isso ai, isso é trabalho da Ana. - Cida diz, mas fico com a sensação que levei uma bronca
- Não custa nada.
- Custa, você deve ta cansada por ter passado a noite na delegacia, vá dormi. - A Barbada diz - Eu vou para o trabalho, tentar resolver sua situação. - Ela se levanta - Vou te mostrar seu quarto.
Pego minha mochila e a sigo.
- Esse é seu quarto - olho em volta e vejo que o quarto é maior que a sala da minha casa - e aqui - ela abre a ultima porta do guarda roupa - fica o seu banheiro.
- Um banheiro só para mim? - Pergunto impressionada.
- É sim - Ela diz sorrindo.
Ela me deixa sozinha. Pego minhas coisas e guardo dentro do guarda roupa. Vou ao banheiro e encontro sabonete e toalhas limpas, tomo um banho rápido e me deito para dormir. Fico pensando em tudo que aconteceu, por um momento, penso o quanto seria bom viver aqui, e com esse pensamento adormeço. Acordo num sobressalto, alguém batendo na porta.
- Maria?
- Oi - respondo meio atordoada, então uma Cida sorridente entra pela porta carregando uma bandeja.
- Vim trazer seu almoço - Olho pra ela espantada.
- Na cama? Eu poderia ter decido, não quero abusar
- Não é abuso. Depois do que você passou, receber um pouco de mimo é bom - Poe a bandeja no meu colo, vejo que tem arroz, feijão, salada, bife e batatinha e suco de laranja.
- Adoro batatinhas - digo sem pensar
- Imaginei - diz sorrindo
- Obrigada - digo num sussurro e começo a comer
- Vou terminar de organizar la em baixo. - Saindo do quarto.
Termino de comer e desço até a cozinha levando a louça do almoço.
- Boa Tarde - digo Chegando na cozinha, vou em direção a pia.
- Nem pense nisso - uma loira baixinha, animadamente, diz para mim - Deixe isso ai que eu lavo
- Ta bom.
- Sou a Ana, você deve ser a Maria
- Sou sim.
Passo um tempinho conversando, no caso fico rindo dela e da Cida conversando. depois subo, pego meu livro de calculo e tento resolver as questões.
Chega a noite.
TOC TOC
- Pode entrar
- Passou o dia todo aqui? - Barbara pergunta, entrando.
- Mais ou menos.
- Esta fazendo o quê?
- Resolvendo umas questões de Calculo.
- Você passou a tarde estudando, e não tem nem prova amanhã? - questiona espantada
- Sim. - digo tranquilamente
- Você é uma menina estranha. Vamos descer, tão todos loucos para te conhecer.
A sigo para a sala de jantar. Chegando lá Barbara me apresenta ao Marcos, um homem alto, de cabelos grisalhos e simpático. A Bianca, Bia como é chamada, é uma ruivinha, baixinha, cheia de sardas e olhos grandes e azuis (parece uma boneca), ela é simpática e meiga(da vontade de apertar), todos dessa família são alegres, na verdade, desta casa. Eles tem problemas. Passo a saber que a Barbara é chamada de Babi.
UM MÊS SE PASSOU
A convivência com os Bittencourt tem sido tranquila, eles são bem animados. Não tou acostumada com pessoas assim, felizes. O Marcos é sério, ai do nada solta uma piada ou faz algo (que na maioria das vezes não tem tanta graça) mas por ser algo inusitado, quase nos mata de tanto rir. A Barbara é aquele tipo de mãe que mais parece uma amiga, fala abertamente sobre tudo, é extrovertida ao extremo, brincalhona, engraçada, meio desastrada, as vezes, mas muito amorosa. A Bia não foge a regra, fofa, animada, ela acorda com uma energia que só Jesus explica, é um doce, meiga, companheira, gostei dela no primeiro momento, ela só parece ser um pouco insegura, mas não entendo porque, ela é linda, inteligente, simpática, é a vida, ela não poderia ser perfeita. Tem a Cida, que é a governanta e a cozinheira, mas ta mais para a mãezona, carinhosa e protetora, tenho um pouco de medo dela, mas acho que todos tem, ela impõe respeito, é alegre também ,mas vive brigando. E por ultimo tem Ana é ligada no 220 w, é imoral, em um momento ela ta do seu lado limpando algo, no outro ja não ta, depois volta, ela ajuda a Cida, é super animada e não consegue não falar, quando se junta a Cida, a Babi, a Ana e a Bia começam a conversar não tem fim.
- Maria, sente-se. - Barbara e o Marcos ficam de pé a minha frente enquanto me sento - tenho duas noticias para te dar. A sua situação é delicada, infelizmente não foi possível arrumar uma vaga para você nos abrigos da cidade.
- E agora?
- Vem a segunda. Em conversa com o Marcos, e decidimos que vamos ficar com sua guarda temporária.
- Serio?
- Serio - Eles dois falam ao mesmo tempo, e Babi continua - e como sabemos que o ensino publico é bem precário, e você é muito nerd, decidimos que você vai para a mesma escola que a Bianca, se você quiser é claro.
- Ta bom.
- Você não é obrigada a nada, a Babi as vezes exagera. Mas fique a vontade pra recusar
- Não, eu quero.
- Ótimo, hoje a tarde vou comprar seu uniforme e seu material.
- Não precisa;
- Claro que precisa. - diz animadamente - Amanhã você começa.
- Ta bom, muito obrigada - e saio para o meu quarto.
A tarde a Babi chega com as compras, ela me comprou três uniformes tradicional, uniforme de educação física, o jaleco de química e o avental de pintura. Comprou Também, tanto material que eu acho que o ano acaba e eu não uso tudo. Me comprou um celular de ultima geração e um notebook também.
- Muito Obrigada, Babi. Não precisava.
- Que bom que gostou, na geração de hoje não conhecia nenhuma garota que não tivesse celular.
- Não tinha condições.
- Desculpa, eu sei. Falei sem pensar.
- Sem problema. Quando eu for embora, te devolvo do mesmo jeito.
- Maria, são um presente. Me retribua com boas notas.
- Ta bom, muito obrigada. - Subo ao quarto e arrumo tudo. Depois do jantar a Bianca me mostra como usar, e até a baixar algumas músicas. E nesse dia, vou pra cama feliz.
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