Pov Clarke
Dois meses depois
Eu acho que minha rotina na Polis ganhou uma nova tarefa: cuidar de Lexa após os treinos. É, eu não sei explicar muito bem como isso está acontecendo, mas está. Desde o primeiro dia ela está treinando muito mais, apareceu aqui apenas para algumas reuniões de extrema importância. Mas quando aparecia... o estado era diferente do que geralmente estou acostumada. Teve um dia que Lexa pegou uma faca, segundo ela, não sabia que era nova. E cortou o lábio inferior quando tentou um golpe contra um boneco. E perdi as contas de quantas vezes ela me disse, somente aquele dia, que as armas do Conclave são "cegas". É, claro. Nesse dia tive que deixar explícito o pensamento de que ela é teimosa. E foi a primeira vez que a vi sorrindo, até rindo. Ela negou, claro. Por que ela seria teimosa? Contém ironia.
Hoje era um desses dias, antes atípicos, agora recorrentes. Lexa estava na Polis, muito tempo após o expediente, porém não estava machucada e isso eu encaro como progresso. Eu estava cuidando de uns relatórios para finalizar o mês, por isso não fui embora. Uma coisa que não mudou nesses meses: Lexa bebendo. Imagino que isso não seja indicado por n motivos.
— Vou trocar seu whiskey por chá gelado e culpar outra pessoa.— murmurei mas ela ouviu. E me olhou.
— Faça isso. Será guerra declarada.— Lexa andou até sua mesa, segurando um copo.— Você sabe a diferença entre whiskey e whisky, Clarke?— me olhando, ela encostou na mesa.
— A diferença não, mas a semelhança sim. Álcool e te deixar desfocada.— esse sarcasmo todo eu estou adquirindo aqui, não me culpe.
Lexa sorriu.
— Ok. Um gole, Clarke. Sei que sua mãe tem em casa.— ela pediu que eu me aproximasse e bom, quando sua chefe pede... você faz. Mas eu queria fazer mesmo.— Tenho os dois aqui.— então ficamos paradas em frente à mesa com as bebidas que Lexa ganhara de presente de velhos acionistas ou algo assim. Enfim, bajulação.— Esse copo curiosamente se chama tumbler.— até o copo conta?— Mesmo não sendo o oficial nas melhores destilarias por aí.
— Tem outro copo?— perguntei curiosa e incrédula. O copo em questão é o que eu julgo comum, aquele de boca larga e um pouco baixo.
— É o que chamamos de glencarin, ou algo assim. Semelhante a uma taça, acredito. Posso estar totalmente equivocada. Eu particularmente detesto aquele copo, mas enfim... dois goles, Clarke. Um é whisky e o outro whiskey. Me deixe saber qual você prefere.— Lexa me deixou para provar.
Sabe quando você está entre duas coisas e fica em dúvida sobre qual escolher? Eu estava assim antes de experimentar. Mas quando o fiz...
— Eu deveria sentir alguma diferença?— fui sincera. Era a mesma bebida.
— Se você sentisse alguma diferença eu ficaria preocupada.— pela segunda ou terceira vez Lexa riu de mim. Ótimo...— A diferença é na escrita. Visto que a bebida foi originada na Escócia e Irlanda... mas descende de uma língua celta antiga em comum, gaélico. Na Escócia optaram por escrever sem a vogal "e", whisky. Na Irlanda decidiram chamar whiskey. E bom, o gosto é o mesmo. Deveria, pela menos.— novamente ela estava ao meu lado.
— Hoje você não se machucou.— sei que mudei de assunto, mas é um avanço. Lexa encostou na mesa e sorriu, balançando a cabeça.
— É o que você acha. Titus praticamente me jogou contra uma parede. Meu braço está uma maravilha.— Lexa fez uma careta.
Quint estava sobre Clarke quando Lexa lançou certeiramente a adaga conta seu antebraço. Clarke saiu de baixo do homem, que sentia a dor da facada. Lexa se aproximou e puxou a adaga do antebraço dele.
— Ataque-a e estará atacando a mim.—Lexa disse firme.
— Obrigada.— Clarke agradeceu e Lexa a olhou.
— Onde está sua guarda?— Lexa perguntou.
— Ele a matou.— Clarke olhou Quint, caído.
— Ela está mentindo.— Quint encarou Lexa.— Minha luta é só com ela.
— Yu gonplei ste Odon.— Lexa o encarou de volta, depois olhou para Clarke.— Você deve matá-lo, Clarke.— ela guardou a adaga, dando dois passos para trás, junto ao outro homem que estava em pé.
Clarke quase mirou a arma em direção ao homem, mas um grito distante chamou a atenção e, ao mesmo tempo, despertou pavor.
— O que é isso?— Clarke quase sussurrou.
— Pauna.— Lexa deduziu.— Corram!— Lexa puxou sua espada e acertou Quint na perna, o deixando para trás como isca enquanto fugia com Clarke e o outro homem.
(...)
Clarke despertou quando aquele som característico soou entre as árvores e sentou, ofegante.
— Está tudo bem.— ela olhou para trás e Lexa estava encostada em um tronco.— Você está segura.
— Como está o seu braço?— Clarke perguntou assim que o braço de Lexa, em uma tipoia improvisada, a lembrou da queda da Comandante quando estavam escapando do animal, e como Lexa pediu que Clarke a deixasse para trás.
— Ele dói.— Lexa respondeu.
— Está doendo muito?— perguntei.— Lexa?— Lexa me olhou um tanto... perdida?
— Meu bra... ah, sim. Está doendo um pouco, não foi tão forte assim.— Lexa franziu o cenho e deixou o copo sobre a mesa.— Eu não quero ser processada por exploração ou algo assim, você deveria ir embora, Clarke.— ela sentou na cadeira e suspirou.— E você tem razão, eu preciso deixar o whisky de lado.
— Nem sempre tenho razão, mas agora sim... já disse, chá gelado.— falei divertida.
— Ok, sem chás. Troque por café, eu permito. Agora vá embora.— Lexa mandou.— Por que ainda estou te vendo aqui, Clarke? Vá, vá, vá!— Lexa mexia a mão em direção à porta e eu saí de lá tentando não rir da atitude dela. É conflituoso internalizar que Lexa tem esses momentos descontraídos e outros tão tensos... mas eu pensaria sobre isso mais tarde. Peguei minhas coisas e desci. Minha nova batalha agora é achar um táxi.
-•-
Legal que sessenta segundos formam um minuto, não é? E trinta minutos formam meia-hora... e nada de um táxi. Nova York, meu bem... me ajude a te ajudar. Quando eu não preciso de táxi, eles passam toda hora.
— Eu preciso me curvar à tecnologia e baixar o uber de uma vez por todas.— murmurei irritada e cacei meu celular para pedir que minha mãe chamasse o carro. Até posso ouvi-la falando "eu disse para baixar o aplicativo..." e é... ela tem razão. Muitas vezes eu fui embora com Lincoln, durante esses meses. Digamos que tem algo entre ele e a Octavia, que por acaso é irmã do Bellamy. É, muita coisa. Mas hoje perdi a carona, e eu não tenho paciência de dirigir. Já tentou fazer isso em Nova York? É horrível.
— Sem chance de você ficar aí nesse horário e sozinha.— eu me assustei, é óbvio que eu me assustei.
— Lexa...— meu coração foi a 130 batimentos por minuto, tenho certeza.
— Entre no carro, Clarke. Está perigoso.— ela falava de dentro do carro, quando ouvi a porta destravando.
— E-u não poss—
— Clarke. Eu preciso de você viva e inteira, não seja tímida ou orgulhosa. E a previsão do tempo indicou um clima desfavorável para logo, logo. Se eu fosse você...— Lexa chegou para o lado.
— Eu não sou tímida ou orgulhosa. Os caminhos não são divergentes?— o que? É uma pergunta real.
— O homem no banco do motorista literalmente é pago para dirigir, Clarke. Se você morasse em outra cidade eu o mandaria levá-la.— é, eu quis rir nessa parte. Lexa parecia insatisfeita com minha relutância.— Aceite como agradecimento por tudo que você tem feito em minha ausência, melhor assim?
— Ok...— me "rendi". Entrei no carro e claro, aquele carro deveria valer mais do que o meu rim, e olha que está em bom estado.— Eu já tinha aceitado na parte da outra cidade, só para você saber...— me segurei para transparecer séria, mas o que posso fazer?
— Vejo que levou a sério a brincadeira com o whisky.— Lexa murmurou olhando pela janela.
— Nah...— sim, totalmente. Não gosto de ser enganada.— Um pouco, talvez.
Lexa me olhou brevemente, suspirou e passou a focar em outras coisas. Ela acha que me engana? Sério?
O caminho incrivelmente foi calmo e quieto, quinze minutos depois eu estava em casa. Antes de descer, olhei para Lexa.
— Obrigada pela carona.— e Lexa me olhou.
— Já disse, preciso de você viva e de preferência inteira.— não respondi, apenas sorri e saí do veículo.
Pov Lexa
Quando Clarke desceu e meu caminho seguiu, peguei o celular e abri a pesquisa.
— Que diabos é Pauna...?— murmurei sozinha. Oh... uma gorila gigante? Sério?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.