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História Mayday - Capítulo XIV


Escrita por: Gazettera

Notas do Autor


É TETRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

CAPA MERDA POR HUMOR MERDA
CAPÍTULO GIGANTE

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Capítulo 14 - Capítulo XIV


Fanfic / Fanfiction Mayday - Capítulo XIV

 

“Quero esquecer tudo que já aconteceu comigo antes. Eu quero congelar esse momento... pra sempre.”

 

“Ok, Youngjae, respira. Você já passou por isso uma vez, pode passar de novo.”

Mas eu tinha quase certeza de que não podia.

Estava sentado, por pelo menos quinze minutos, exatamente no mesmo banco azarado que aparentemente fora destinado pra mim naquele parque gigante. No final saí cedo demais da companhia de Jackson e, ao invés de caminhar calmamente pelo trajeto até o parque próximo da casa de Jaebum, minhas pernas seguiram o ritmo do meu nervosismo e eu já estava no destino antes do combinado.

Tentava montar um roteiro na cabeça do que dizer e o que perguntar. Principalmente, tentava me programar para o que fazer e o que não fazer. O que foi inútil, como você já deve imaginar.

Sempre é.

Assim que decidi parar de me preocupar tanto em prever os acontecimentos do dia ergui a atenção dos meus pés  para olhar em volta. O céu parecia completamente limpo aquela tarde, mesmo que o clima fosse comum de um dia nublado e chuvoso. Até mesmo alguns pássaros voavam pelas árvores acima de mim. Muitas crianças corriam de um lado pro outro e era de certa forma animador ver como se realizavam apenas por encontrar uma folha de cor diferente em algum arbusto.

Acabei por ignorar minha própria voz interna e me distraí observando as famílas, principalmente um casal de idosos que liam, um ao lado do outro, sentados ao pé de uma árvore. Definitivamente, é o tipo de hábito que eu gostaria de ter no futuro.

Após alguns minutos observando a natureza e, consequentemente, me sentindo mais leve graças a ela, avistei Jaebum ao longe se aproximando. Usava roupas pesadas como as minhas para se abrigar do vento e da garoa que ainda não tinha cessado completamente, mas agora reduzida a alguns pingos fáceis de serem ignorados. Ao invés de um cachecol, cobria a parte de baixo do rosto com a gola levemente alta do casaco e suas clássicas botas brilhantes de couro ainda estavam lá.

E eu secretamente gostava muito delas.

Ele andava calmamente, vez ou outra tentando organizar os cabelos que o vento bagunçava, mas desistia para voltar a abrigar as mãos nos bolsos quentinhos. O inverno estava quase acabando, faltava muito pouco, mas quele frio vinha desde a estação anterior e parecia não querer ir embora tão cedo.

Uma garota passou por Jaebum. Pareceu focar em seu rosto por um momento, até mesmo diminuiu o passo para observá-lo. Ao notar isso, esperei que Jaebum agisse ao seu natural, sorrindo para ela com vontade e carisma, mas quando olhei em seu rosto novamente seus olhos estavam fixos em mim.

E um nó subiu pela minha garganta, fazendo com que engolisse em seco.

Faltavam apenas alguns metros para que chegasse até onde eu estava.

E era agora ou nunca.

Fiquei um tanto avoado, com os pensamentos completamente em branco, ao finalmente conseguir ouvir o som de suas botas se aproximando. Até mesmo fiquei estático, parecendo pensar quando na verdade não estava, continuando a simplesmente encará-lo com cara de panaca quando finalmente parou à minha frente.

— Youngjae?

— Oi...

— Você parecia avoado, pensando em algo... Está me esperando tem muito tempo?

— Não. – Menti por orgulho mesmo, eu ainda sou eu. – Cheguei quase agora.

— Ótimo. Eu não sei que horas são mas queria ter chegado cedo, evitar te deixar esperando.

— Tudo bem, não se preocupe. – Abri um leve sorriso, sentindo a tensão de Jaebum diminuir ao que seus ombros ficaram mais soltos. – Então...

— Então... – Jaebum ainda ficou alguns segundos em silêncio, me observando, até que riu desconcertado. – Essa sensação ta meio estranha.

— Sim... Acho que era de se esperar.

— Vamos... Fazer algo? – Virou-se minimamente, como se me desse espaço para seguir em frente. – Tem energia pra alguma coisa?

— Tenho, fui muito bem alimentado hoje. – Me levantei e dei dois passos, até estar ao seu lado. – Tem alguma coisa em mente?

— Na verdade não, eu não consegui pensar muito bem no que fazer hoje. – ‘Eu também não.’ Era o que eu queria responder, mas me limitei a assentir com um som.

— Posso escolher então?

Jaebum primeiro pareceu surpreso pela minha pergunta. Era compreensível já que nunca, até aquele exato momento, eu tive a iniciativa pra nada que envolvesse nós dois realizando alguma tarefa juntos, muito menos demonstrei que queria algo do tipo. Mas, naquele segundo mais calmo em que as coisas não pareciam tão ruins assim, só um pouco desconexas, eu senti que se fosse pra compreender Jaebum seria primeiramente pelos seus mínimos detalhes mais banais.

E naquele ponto eu já queria saber de tudo, até as coisas sem pé nem cabeça.

— Sim, claro que sim! Onde quer ir?

— Ouvi falar que tem um boliche aqui perto, quer ir? – Me encarou por alguns segundos, logo començando a afirmar animadamente com a cabeça.

— Sim, eu conheço o lugar. Vamos lá.

Começou a andar, olhando para o céu, e eu apenas o seguia. Ainda não tinha muito o que dizer, mas já sentia que não estava mais tão contido quanto antes. A presença de Jaebum, que antes eu julgava como irritante, no momento era reconfortante e me dava um rebuliço bom no estômago. Sem expectativas, sem suspeitas, sem julgamentos. Apenas nós dois, pessoas que se conhecem, andando lado a lado. Ainda tínhamos uma conversa séria para ter mas, naquele momento, era como se começássemos do zero.

 

 

 

∴*♡*∴

 

 

 

— Não, Youngjae. Você tem que jogar pra frente, não pra cima. – Jaebum dizia em alto e bom tom, sentado despojadamente no banco almofadado, com a maior expressão de zombaria que já vi. O sorriso ao menos dava sinal de que sairia do seu rosto.

Tudo bem que quando sugeri irmos ao boliche eu tinha ignorado completamente o fato de que nunca tinha ido em um antes na vida e nem ao menos pensei no mico que isso podia me render. Mas, bem, ali estávamos nós, e eu já queria jogar aquela bola de uma tonelada na cabeça de Jaebum e usar ela no lugar contra os pinos.

— A culpa não é minha se não consigo medir minha força, Jaebum! – Tentei mais uma vez, dessa vez com menos curvatura pra cima, mas a bola mesmo assim fez um estrondo ao atingir a pista de madeira e seguiu para a canaleta. E a risada de Jaebum ecoou pelo salão instantâneamente, até mais alto se possível. – Será que dá pra parar de rir de mim?

— Não dá, é uma mistura muito boa de trapalhada com fofura. – Bateu com as mãos contra as coxas, se levantando, exibindo aquele sorriso cheio de dentes que eu adoraria quebrar num acesso de raiva.

Jaebum passou por mim e habilmente pegou uma das bolas mais pesadas da pista sem ao menos olhar para ela. Foi até a frente, calculou a distância, deu dois passos para trás. Chacoalhou o braço uma vez, duas vezes, correu... e bem...

Fez um fodendo strike.

Quando se virou para mim, com um sorriso ainda maior que o anterior e os braços erguidos em comemoração, eu já estava de pé e prontamente indo até a saída pra não ter que aguentar mais daquele ultraje. Mas mal dei três passos e a mão de Jaebum se fechou em meu braço, fazendo com que voltasse.

— Calma, Youngjae. Você é apenas um novato. Eu prometo que paro de rir e te ensino a jogar, tudo bem? – Olhei para ele por alguns segundos, logo bufando e passando por ele num esbarrão.

— É bom mesmo, não to a fim de ficar o dia todo nessa humilhação.

— Você ainda tem sorte de estar comigo e não com o Jackson. – Seguiu até a frente, escolhendo uma bola por mim. – Ele é muito bom no boliche e não cansa de provar isso pros outros.

Estendeu aquele monstro pra mim, esperando que eu pegasse e jogasse. Uma das bolas mais pesadas que tinha à nossa disposição! Eu apenas olhei alternadamente pra cara dele e pra bola umas vinte vezes até cruzar os braços sobre o peito.

— Você ta achando mesmo que vou jogar melhor usando esse trambolho?

— Claro que vai. Você usa muita força e a bola vai pra cima, com uma mais pesada talvez arrume equilíbrio. – Pausou um pouco, olhando sério pra mim, mas logo teve um soluço e pressionou os lábios parecendo tentar não rir. – Quer dizer, o resto do problema ta todo nos seus pés.

— O que tem de errado com meus pés?

— Você corre de lado, Youngjae.

— EU NÃO- – Usou sua mão para cobrir minha boca antes que eu gritasse.

— OK, desculpe. Não precisa gritar. Vem, eu te ensino.

Prontamente me puxou pelo braço, me posicionando de frente para a pista uns quatro passos atrás da linha, e então colocou a bola em minhas mãos. Eu quase levei um susto quando ele soltou ela sobre meus dedos de repente e tive que dar um impulso pra baixo pra conseguir segurar aquele peso todo do nada antes que caísse sobre meus pés. Lancei um olhar furioso pra ele que apenas sorriu e andou até atrás de mim.

— Aqui, você tem que ficar reto. – Apoiou uma palma em minhas costas, endireitando minha coluna. – E coloca um pé na frente do outro também. Agora, encaixe os dedos na bola. Isso... E segure ela mais alto, assim.

Do jeito que falava sério realmente parecia um professor. Seus olhos brilhavam ao analisar minha postura, como se demonstrassem a paixão que sentia por aquilo. Tinha sido um golpe de sorte escolher fazer algo que Jaebum realmente gostava, mas já era um fato a mais para minha listas de coisas aprendidas sobre o homem que eu queria entender.

— Agora, é a parte que você erra. – Voltou até atrás de mim, passando seus braços pela minha cintura, alcançando meus cotovelos. Estava praticamente me abraçando por trás.

Ao me dar conta daquilo – e ao sentir sua respiração na minha nuca e ouvir a exaltação de duas moças na pista ao lado – dei um pulo para frente e o olhei por cima do ombro.

— O que você ta fazendo? – Minha voz saiu um tanto mais alta pelo susto e continuava a olhar de Jaebum para as mulheres, com os olhos arregalados. Jaebum, ao seguir meu olhar, percebeu o que tinha feito de errado, mas abriu um sorriso maior ainda.

— Eu to só ajudando um mané que não sabe jogar com todos os passos necessários, ou quer que ela te ensine? – Ao dizer aquilo, em alto e bom tom, apontou para a garota mais alta que nos olhava fixamente.

Não sei quem ficou mais vermelho e surpreso, eu ou ela.

— E-eu? – Ela gritou de volta, tentando falar mais alto que a música leve que tocava. – Não se preocupem comigo, eu... estava apenas olhando.

— Quer ou não, Youngjae? – Me encarava, com os braços cruzados.

Realmente. Jaebum só me fodia.

Me vi forçado e abrir o maior bico de frustração nos lábios. Me esticando minimamente para puxar Jaebum para mais perto de novo num puxão brusco, rapidamente virando para frente e voltando à posição em que estava.

Eu queria parecer bravo, mas estava apenas tentando esconder minha vergonha de ter aproximado ele por vontade própria.

Realmente, uma garota apaixonada num filme besta de Hollywood com roteiro mal escrito e clichês sem fim.

Eu estava taxando eu mesmo como ultrapassado.

Era definitivamente um penhasco entre os altos e baixos da minha vida.

— Ok, então. De volta a onde estávamos. – Abusado como era, Jaebum dessa vez se aproximou ainda mais de mim, deixando com que sua barriga grudasse em minhas costas e fazendo com que pudesse ver seu rosto ao lado do meu. – Seus braços ficam assim. E quando você for jogar, você joga o braço nesse impulso. – Puxou meu braço direito, que segurava a bola, para trás, voltando-o até a frente e depois fazendo de novo. Quando se afastou eu estava tão petrificado no lugar que ao menos percebia que já segurava a bola que julgava um elefante com apenas uma mão.

Vamos, Youngjae. Toma jeito! Vê se acorda pra vida, é só boliche.

— ...assim e quando você correr, apenas corra pra frente normalmente ok? Tente jogar a bola reto. – Mal consegui ouvir o incio da frase. Quando me toquei já estava afastado de mim uns bons três passos por medida de segurança. Então apenas olhei para trás para checar seu rosto e afirmei com a cabeça.

Respirei fundo, endireitei a postura, fiz exatamente o mesmo movimento que ele havia mostrado e corri para frente. Ergui o braço, lancei a bola incrívelmente reta, pela primeira vez. Ela seguiu um metro, dois metros... E então fez uma curva e derrubou um único pino.

Me voltei até os sofás, esperando que Jaebum já estivesse rindo da minha cara. Mas o encontrei apenas sorrindo, de pé, com a mão estendida no alto para que eu batesse.

— Viu? Já está melhorando!

Como o bom fingido que era, arrumei minha melhor expressão de raiva e bati em sua mão. Mas apenas segui até o sofá oposto ao que ele estava, colocando os braços sobre o peito, como se isso fizesse com que não sentisse o coração batendo mais acelerado.

Fiquei ali por mais vinte minutos, assistindo Jaebum derubar oito, nove pinos. Um strike atrás do outro.

E continuando a usar muita força ao jogar pra que ele me mostrase os passos mais uma vez.

Só mais uma vez.

 

 

 

∴*♡*∴

 

 

 

­Parecia que estava destinado a ser surpreendido.

Jaebum me levava apenas a lugares em que eu entrava e não queria sair nunca mais.

Eu estava definitivamente me punindo mentalmente por sair tão pouco de casa enquanto olhava em volta toda a estrutura do café em que estávamos sentados. Na verdade, a estrutura era sim bonita, mas a vitrine de doces merecia um prêmio. Um grammy, um oscar, um nobel, ser nomeada como maravilha do mundo. Era muito doce bonito pra pouco Youngjae com muita fome.

Eu estava apaixonado de novo.

Essa história de se apaixonar pra mim não anda muito bem.

E irritantemente sempre tem um Jaebum no meio.

— Hey, JB! Você voltou! – Uma garota baixa, de cabelos castanhos presos num rabo de cavalo, se aproximou aos pulos com um sorriso de nossa mesa, atraindo minha atenção.

Jaebum ao avistá-la sorriu imediatamente, fechando o cardápio e o colocando de lado na mesa.

— Harumi! Não sabia que já tinha voltado a trabalhar.

— Voltei tem só dois dias, não se preocupe. – Curvou-se minimamente, apoiando a mão no ombro de Jaebum. – Fiquei sabendo que anda ocupado com seu emprego novo.

— Às vezes, acabo fazendo um pouco todos os dias. Mas é bom saber que deu tudo certo.

Imaginem um Youngjae .jpg parado, sentado, com o cardápio aberto, olhando aqueles dois conversarem com a maior cara de boia murcha. Pois é, era eu mesmo.

Quem era ela, afinal?

Era uma garota visivelmente nova, super animada ao vê-lo, bem bonita e aparentemente com muita energia. Devia ser a empregada que mais atendia ali.

Quem ta com ciúme é sua mãe, ok? Eu continuo pleníssimo!

 

 

 

Mas sério, quem é ela?

— Bom, você com certeza veio pra comer, não pra conversar. – Tirou a mão de seu ombro para puxar um bloco de anotações de seu avental. – Você vai querer o de sempre, tenho certeza.

Jaebum ao ouvir aquilo sorriu ainda mais.

Ih.

Sorridente hein.

— Pro Youngjae pode trazer aquela torta que eu sempre peço, ok? – A garota ao ouvir o pedido vindo de Jaebum me observou rapidamente, logo sorrindo para mim também.

— Tudo bem! É pra já, seja bem vindo, Youngjae! – E então se retirou.

Espreitei com meus olhinhos sobre o cardápio Jaebum virar ainda observando ela ir e então desviar sua atenção para a rua através do vidro em que nossa mesa era encostada. Depois de alguns segundos distraído pareceu ver que o observava por cima do papel um tanto quanto desconfiado. Uniu um pouco as sobrancelhas, franzindo a testa, ao me encarar.

— O que foi?

— Valeu por me apresentar.

— Ah, a Harumi? Eu já estou acostumado a vir aqui então nem percebi, me desculpe.

— Hm... Está é?

— É meu café favorito na cidade, e nós nos conhecemos tem um bom tempo. São dois motivos pra que eu venha.

— Entendi... – Fingi ainda ler o cardápio enquando mordiscava meu lábio inferior escondido em nervosismo. Eu queria tanto perguntar. Mas tanto! Mas eu não devia, eu não posso ser tão curi... – Conhece ela há muito tempo?

Parabéns, Youngjae! Aqui vamos nós.

— Acho que já tem uns três ou quatro anos, sim.

— Ela parece nova...

— É, fez vinte no início desse ano.

— Conheceu ela aqui?

— Não, ela é japonesa e se mudou pra cá pra fazer aulas de canto. Deve ter percebido que o nome dela é Harumi. Ela quer passar em alguma audição de alguma empresa. Sonha em ser cantora. Nos conhecemos numa das casas de show que frequentava, acabamos trabalhando juntos.

— E ela conseguiu esse emprego depois pra sustentar as mensalidades das aulas, então?

— Exatamente. Ela é muito esforçada, as vezes até demais. Acabou com uma infecção nas cordas vocais nas ultimas semanas por forçar muito nos treinos, no final pegou uma licença gigante. Cuidei dela vários dias da semana porque a idiota simplesmente se recusa a comer decentemente.  É bom que tenha melhorado, já que tem um show numa cidade longe pra fazer.

— Longe e sozinha? Deve ser perigoso, não? – Perigosa estava aquela conversa com o que eu queria tanto dizer enquanto ainda fingia ler o cardápio desinteressado. – Provavelmente vai pedir pra você ir junto. Já que se preocupa tanto com ela... JB.

Assim que terminei essa frase o silêncio se estendeu por longos segundos. Tantos que até mesmo comecei a estranhar que Jaebum não me respondesse, imaginando se teria ido embora, talvez corrido para ir conversar com a garota.

Sem baixar o cardápio espreitei por cima do papel o banco a minha frente de novo. Encontrei um Jaebum com uma expressão serena, um sorriso sem dentes sutil nos lábios, e o rosto apoiado nas duas mãos que se sustentavam pelos braços na mesa. Parecia tão em paz, como se apreciasse o momento.

— O que foi?

— Nada... – O mesmo sorriso continuava ali.

— Por que ta me olhando assim?

— To só curtindo essa sensação.

— Qual?

— Quem sabe... – Voltei meu rosto para o cardápio com a expressão frustrada. Só encarava a mesma taça de milkshake por pelo menos dez minutos, já não aguentava mais ver calda de chocolate.

— Ainda não respondeu minha pergunta.

— Bom, é bem capaz que ela pense em me chamar pra ir, mas como estou trabalhando ela não vai fazer isso. – Pausou por mais alguns segundos, soltando um riso soprado em seguida. – Já que a namorada dela já se preocupa o suficiente.

Me surpreendi com a última frase, voltando a encará-lo, dessa vez sem fingir minha reação. E ele, pra variar, riu da minha cara.

— Namorada?

— Sim, namorada. – Esticou a mão e puxou meu cardápio para longe. – E eu sei que você não ta lendo isso. Quer falar comigo, fala comigo. Mas olho no olho.

Bem, deve ser fácil de saber que eu nunca conseguiria conversar olho no olho com Im Jaebum num momento como aqueles quando praticamente dei um pequeno surto de ciúme, certo?

Claro que não.

Eu queria me enfiar debaixo da mesa, esperar a comida chegar e comer ali mesmo porque não se diz não pra comida. E então sair correndo como um tatu e me embolar no canto escuro mais próximo.

Eu só passava vergonha nessa vida.

 

 

 

∴*♡*∴

 

 

 

— Você ta falando sério?

— Sim. Por que? – Já era o quarto guardanapo que Jaebum dobrava e acabava estragando no final.

— Você? Gosta de animações?

— Sim! Não é coisa só de criança.

— Ok, mas... Eu imaginei que você gostasse de algo mais... Hitchcok ou Tarantino.

— Ah eu até gosto. Por que pensou isso?

— Não sei, talvez porque seja o tipo de coisa que o Jinyoung gosta... Vocês se parecem.

— Eu acho que a gente não tem nada a ver. – Sorriu, pegando a próxima vítima-guardanapo entre os dedos. – Muitas vezes ele perde a paciência comigo enquanto a gente conversa.

— Sério?

— Sim... Ele diz algo do tipo “você é tão Youngjae.”

Eu tinha pego um guardanapo também, apenas para acompanhar Jaebum naquela distração sem sentido. Mas ao ouvir aquilo rasguei o papel ao meio, adquirindo uma cara azeda de ódio. Jaebum riu de mim, falando que Jinyoung também dizia que eu faria aquele tipo de expressão caso soubesse do que ele falava de mim pelas costas.

Não é como se ele não falasse pra mim também, bem na cara, mas...

Ainda sim nós vivíamos em guerra de orgulhos.

E eu ia ganhar um dia.

Ouvi os saltos do sapato da garota, Harumi, se aproximando pelo chão de madeira. Carregava uma bandeja enorme com duas taças e dois pratos. Assim que se aproximou sorriu, dessa vez pra mim, estendendo um prato de sobremesa com uma torta de chocolate maravilhosa à minha frente, colocando-o na mesa. Depois serviu o resto do que trazia próximo de Jaebum, sorrindo minimamente para ele, voltando a virar para mim.

Abaixou até que estivesse próxima do meu ouvido e começou a falar como se fingisse que sussurrava.

— Você deve ser bem importante, Youngjae. Essa é a sobremesa favorita do JB na loja inteira. Nunca vi ele falando sobre ela ou oferecendo pra alguém, nem mesmo o Jackson... – E então se endireitou, deu uma piscadela pra mim, e foi embora. Virando-se de costas para a expressão envergonhada de Jaebum.

Ela obviamente queria que ele a ouvisse o delatando.

Só por isso já gostava bastante dela.

— Isso foi maldoso. Tenho que lembrar de me vingar depois.

Pela primeira vez com um sorriso no rosto, consegui observar o que Jaebum tinha pedido. Estendeu uma taça enorme de chocolate quente pra mim – se ele estava tentando me ganhar pela barriga, estava conseguindo – e puxar para si um milkshake de morango. Em seu prato, uma pilha de panquecas enorme estava enfeitada com uma calda arroseada e morangos cortados.

E quando eu vi aquilo e parei para ficar encarando, um tanto surpreso, Jaebum ficou confuso.

— O que foi?

— O que você pediu...

— É meu prato favorito. O que tem?

— É... o prato favorito do Yugyeom. – Ficou observando o próprio prato por alguns segundos, pensando.

— É mesmo? – Voltou a olhar pra mim. – Talvez nós tenhamos mais coisas parecidas do que eu esperava.

—Talvez... – Dei uma garfada na torta, sentindo a maciez do recheio sem ao menos tocá-lo. Quando levei até a boca podia jurar que estava morto de tão delicioso que aquilo era. Só podia ser o paraíso.

— Sabe de mais alguma coisa que nós temos em comum?

— Além de me irritarem profundamente? Acho que não. – Jaebum levou o milkshake até a boca, dando um longo gole. Escolha estranha pra um dia de inverno. – Por que?

— Se eu for assim tão parecido com ele pode ser uma explicação do por que acabou gostando de mim também.

Quase engasguei com aquela frase, tendo dificuldades para engolir o que tinha na boca. Então era assim que Jaebum pretendia começar nossa conversa.

Nada sutil.

— Eu não... ‘gosto’ do Yugyeom. – Parou de comer por um segundo para me encarar. Tinha um brilho nos olhos, como se estivesse dizendo algo que ele queria ouvir há algum tempo. – Nós somos melhores amigos e compartilhamos ‘vantagens’ na nossa amizade por uns anos. Mas é só isso.

— Então quer dizer que não se apegou mesmo depois de tudo que fizeram? – Tsc, esse comentário tinha me irritado. Bastante.

— Não é muito diferente do que você faz. – Jaebum até mesmo abandonou os talheres sobre o prato para me encarar contrariado e confuso ao mesmo tempo. – Eu conversei com o Jackson. Ele me contou alguns dos seus hábitos.

— Não é como se você não fosse descobrir uma hora ou outra.

— É por isso que me beijou sem mais nem menos e depois respondeu minha confissão como se eu te oferecesse um doce?

Pelo que podia ter sido quase cinco longos minutos inteiros, Jaebum e eu apenas nos encaramos em silêncio. As quatro mesas à nossa volta estavam vazias, o que evitaria problemas caso elevássemos nosso tom de voz, mesmo que fálassemos baixo o suficiente para expressar nossas frustrações apenas com o tom com que a voz abandonava nossas gargantas.

Agora que estávamos frente a frente as coisas pareciam tão mais simples. Eu não tinha mil perguntas na cabeça, não tinha centenas de preocupações nem frustrações infundadas. Não pedia desculpas sem fim ou alguma problematização sentimental.

Queria apenas uma explicação simples e exata do por que Jaebum brincava daquela forma comigo.

Eu era passageiro de primeira viagem. Apaixonado novato. Confuso o suficiente sem tudo aquilo. Tinha me entregado àquela maluquice contra minha vontade por ele, porque ele era – ou havia se tornado em algum ponto – algo que em meu ponto de vista fazia valer a pena ignorar o inferno que a vida era e arriscar tudo.

Eu merecia a única coisa que eu pedia, e eu a queria.

— Me desculpe, Youngjae... – Baixou a cabeça, observando as próprias mãos. – Jackson deve ter te falado como minha cabeça funciona. Eu...

— Não se apega às pessoas.

— Eu fujo delas, Youngjae. – Me corrigiu, abruptamente. Olhei em seus olhos, encontrando apenas seriedade e sinceridade. – Da mesma forma que você foge.

— Mas é diferente.

— Sim, completamente diferente. Você odeia conhecer pessoas novas porque abala a querida rotina que você já tem. Você odeia ter que lidar com as pessoas, entender o que elas sentem e fazer com que elas entendam a confusão que você é. Eu sou o oposto, mas ao contrário de você, não me apego à ninguém. – Pareceu relaxar novamente, voltando a comer. – Acho que as únicas pessoas de quem sou próximo são Jackson e a Harumi.

— Eu também sou próximo só do Jinyoung e do Yugyeom. Não é como se fossemos água e óleo, Jaebum. – Suspirei, frustrado. Dei uma golada enorme no chocolate quente, esperando que o líquido ajudasse a aquecer meu coração e as ideias também. – Isso tudo podia ser tão mais simples do que é. Nós que transformamos em uma bola de neve.

— Eu estava curioso, mas assustado também. – Começou a falar, de repente, ainda comendo como se fosse um bate-papo normal. – Eu não costumava me apegar às pessoas porque ninguém nunca se apegou a mim. Eu sentia atração pelos outros, mas era só isso. Sou habituado a receber flertes e responder a altura. A ter alguém se esfregando em mim em algum clube e a povocar de volta, mesmo que não queira nada. A conhecer alguém o mínimo interessante, mesmo que só pela aparência, simplesmente chegar nela com um beijo e depois cair fora.

Terminou de mastigar o último pedaço enorme da primeira panqueca que comia, engolindo e finalmente parando para falar me olhando nos olhos.

— Quando eu encontrei com você, esperava que fosse só mais um desses relacionamentos casuais de trabalho. Mesmo depois que você me recepcionou daquela forma bruta e simplesmente me desprezava por nada, eu continuava ali pelo meu simples dever social. Mas então eu fui conhecendo Jinyoung e ele foi me falando mais de você. Eu consegui te observar à distância, os sorrisos que dava pra ele, as gargalhadas que você esquecia que qualquer um podia ouvir. Me intriguei até com seu jeito esquentadinho que não mede o comprimento  da língua antes de falar o que pensa. Pela primeira vez eu estava me interessando em alguém mais do que superficialmente e pela primeira vez eu não fazia ideia do que fazer.

Continuava a observá-lo enquanto falava. A mão firmemente apertada em volta do garfo e a outra pressionando os dedos contra a calça. Meu coração batia tão rápido que eu sentia que viraria dois, ou explodiria, ou o que quer que fosse. Eu podia senti-lo batendo por cada centímetro de pele do meu corpo enquanto meus ouvidos pareciam não entender que ouviam o que realmente ouviam.

— Você disse pro Jinyoung uma vez que eu era um cálculo errado na sua vida. Que simplesmente apareci e destruí tudo e não te deixava pensar direito, e que isso o irritava. Bom, acho que posso dizer a mesma coisa de você. – Sorriu para mim, verdadeiramente. Meu deus, os olhos dele estavam brilhando.

Os olhos de alguém estavam brilhando enquanto falava de mim. Pra mim.

Aquilo era muito surreal.

Principalmente por ser Jaebum.

— Quando Jinyoung te enganou e nos mandou para aquele parque, eu meio que só segui o fluxo do que gostava de fazer com o Jackson porque, por dentro, eu estava em branco. No final eu bebi demais, fiquei tonto e achei que aquela podia ser uma boa desculpa pra tentar tudo que eu sentia que devia, já que no final eu sou apenas um covarde. – Riu num sopro, com um sorriso cabisbaixo, voltando a encarar as próprias mãos. – Tão covarde que quando finalmente te beijei e senti tudo aquilo, que eu sinceramente não consigo descrever até agora, eu achei que tinha algo errado e decidi fingir que não tinha acontecido.

“Tão covarde que, quando ouvi você dizer que gostava de mim, eu entrei em pânico e respondi a primeira coisa que tinha na cabeça. Eu não sabia de nada, Youngjae. Droga, eu não sei nada nem sobre eu mesmo! Eu queria tanto correr atrás de você e pedir desculpas naquela noite, depois que você simplesmente correu pra longe. Eu sabia que tinha feito tudo errado, mas todas as outras vezes que ao menos tentei deram errado também e... eu não queria que você se machucasse como eu.”

— Jaebum...

— Desculpe, Youngjae... – Olhou pra mim uma ultima vez, com um leve sorriso nos lábios. – Sinceramente, me desculpe. Por ser tão confuso.

Instantâneamente tive um deja vú. Daqueles poderosos, em que eu até me senti em outro lugar, e em outro momento. Revivi toda a sensação da mensagem de Jaebum aquela noite, dizendo as exatas mesmas palavras.

Mas dessa vez não era o ódio e o arrependimento que embrulhavam meu estômago.

Era algo completamente diferente.

— Talvez o Jinyoung estivesse certo...

— O que? – Jaebum se surpreendeu com meu comentário aleatório.

Bem, até eu estava surpreso, já que não tinha planejado dizer aquilo em voz alta. Comecei a rir, tanto pelo impulso, quanto por perceber o que realmente, e finalmente, estava acontecendo ali. Estava rindo porque estava verdadeiramente feliz.

— É bom saber que não cometi um erro, como eu achava... – Dei mais uma garfada no doce e levei até a boca, sorrindo abertamente pra Jaebum que me olhava confuso. – Não se preocupe com sua confusão, Jaebum. Eu também gosto dela.

 

 

 

∴*♡*∴

 

 

 

— Não é exatamente emo, você sabe... – Jaebum insistia no mesmo assunto pela sétima vez, andando com os ombros erguidos contra as orelhas e as mãos nos bolsos, lutando contra o frio da noite.

Passamos tanto tempo conversando sobre besteiras e futilidades que, quando finalmente percebemos, o sol há muito já havia se posto no horizonte. Então começamos a andar, lentamente, tentando nos abrigar do vento, até o condomínio de Jaebum em busca de um carro.

Ele não queria que eu voltasse sozinho de metrô a noite e no frio.

E eu não queria que ele saísse sem o mínimo de zoação depois de dizer que ouvia Radiohead.

— Você já viu aquelas letras? Ou só ouve sem saber o que dizem? – Adiantei alguns passos a sua frente para poder olhá-lo emburrado enquanto implicava.

E não conseguia deixar de sorrir.

— Sim eu vi, mas só porque fala de um assunto triste não quer dizer que é emo.

— Eu sei disso, mas combinando com esse seu jeitão de se vestir? – Voltei a andar do seu lado, fingindo uma expressão pensativa. – Não sei não, hein?

Jaebum se deu por vencido, bufando frustrado e olhando pra longe no outro lado da avenida. Eu apenas gargalhei, finalmente sendo quem fazia a piada ali, chocando meu ombro contra o dele pra que não se estressasse.

— Só não continuo discutindo porque eu mereço. – Se desculpou, como se eu acreditasse, causando mais uma gargalhada fugitiva da minha garganta.

Senti uma lufada do vento frio soprar mais forte contra meu rosto, fazendo com que todo meu corpo estremecesse. Voltei a enfiar meu nariz entre as dobras do cachecol e apertei meus braços contra o corpo, procurando fazer mais calor. Aquele casaco sempre fora meu favorito por ser um dos mais quentes, bonitos e confortáveis do guarda roupa, mas aquela noite estava quebrando recordes.

Chacoalhei levemente o corpo de um lado pro outro, como se isso de alguma forma fosse acelerar o processo de criação de calor, chamando a atenção de Jaebum.

— Está com muito frio?

— Queria dizer que nem tanto... Mas estou sim.

Jaebum ficou mais algumas dezenas de metros do caminho apenas me observando tremer em silêncio. A calçada estava vazia, fora algumas poucas pessoas que passavam correndo pra dentro de comércios aquecidos. Só os dois idiotas estavam lá fora, expostos à temperatura negativa.

Comecei a andar encarando as pedras do chão, pensando se brincar de pular os quadrados seria divertido e se usar a desculpa de que era pra me aquecer ocultaria o fato de ser algo que uma criança faria. Foi quando quase cedi a tentação e planejava dar o primeiro pulo com a perna direita que o puxão do braço de Jaebum me surpreendeu, quase me fazendo perder o equilíbrio.

Passou seu braço esquerdo por sobre meu ombro, apertando meu corpo contra o seu e afagando meu braço com a mão para tentar me esquentar. Ao olhá-lo surpreso, Jaebum apenas soltou fumaça do vapor quente de seu hálito no ar, contrastando com o vermelhinho do seu nariz no céu escuro.

— Da próxima vez traga um casaco mais quente... – Virou seu rosto em minha direção quando paramos num sinal para pedestres fechado. Estávamos bem próximos pelo abraço, levando Jaebum a falar com a voz em apenas um sussurro. – Não precisa tentar me agradar tanto...

Rolei os olhos com seu comentário, prontamente respondendo com um leve soco em sua barriga.

— Calado. – Abri um bico revoltado nos lábios vermelhos, voltando a encarar o chão assim que a passagem foi liberada e Jaebum liderou o passo.

Apertei meu corpo contra o dele, passando meu braço pela sua cintura. Como reação automática ao frio minha mão buscou o bolso de seu casaco, nem ao menos passando pela minha cabeça que sua própria mão já estaria lá.

Ao ter o contato de sua pele fria contra a minha me assustei, rapidamente voltando a puxá-la para fora, mas a mão de Jaebum foi mais rápida e puxou-a de volta para dentro da roupa, entrelaçando seus dedos aos meus.

Ergui olhar cautelosamente até seu rosto mais uma vez, percebendo que agora estava calado e um sorriso suave brincava em seus lábios.

— Você fica melhor quieto... – Comentei, fazendo-o rir. – Não estrague o momento.

 

 

 

∴*♡*∴

 

 

 

— Mais dois gatos? E porque só tem um com você?

— Os outros estão com a minha mãe. – Puxou o freio de mão do carro ao finalmente parar em frente ao meu prédio. – Estou naquele apartamento tem pouco tempo, queria garantir que não teria problemas em ter três animais.

— Então logo vai levá-los pra lá?

— Sim, provavelmente.

— Aquele lugar vai ficar inabitável. – Jaebum pareceu confuso com minha frase, parando após trancar o carro. – Eu tenho alergia. – Disse, tocando a ponta do nariz com o dedo.

— Vai precisar de anti alérgicos então.

Jaebum pareceu demorar mais que eu pra perceber o que tinha dito, mas rapidamente ficou com o mesmo nível de vergonha que eu, seguindo afobado e silencioso até a porta do prédio.

Um tanto encabulado puxei a chave eletrônica do bolso. Suspirei fundo, logo virando em direção de Jaebum antes de abrir a porta para entrar.

— Então... uh... – Fui interrompido pelo som da porta abrindo sozinha, dando um pulo no lugar.

— Vão entrar? – Ouvi a voz rouca gritar de algum lugar atrás de mim e juro, mesmo, que quis morrer.

 

O que o porteiro estava fazendo ali?

Aquela era uma porta automática... AUTOMÁTICA. SÓ EXISTE UM CONCEITO DE AUTOMÁTICO.

Suspirei frustrado, voltando a atenção até a cabine em que o infeliz se encontrava. Ainda tinha coragem de me olhar com aquela cara de merda. Querido, você que ta cortando meus planos aqui, no campeonato de cara de cu quem ganha sou eu!

— Sim... vamos. – Atravessei o limite da porta, abrindo espaço em direção a corredor.

Jaebum pareceu não entender de primeira, tendo que receber meu sinal de “vamo, anda” com a cabeça pra finalmente entrar no prédio também.

E a partir dali foi uma torta de climão.

O ar ficou silencioso e pesado enquanto esperávamos o elevador descer, enquanto estávamos lá dentro, enquanto a porta não abria e enquanto eu tentava desembolar a chave da porta que magicamente tinha dado nó no meu bolso.

Aquilo era coisa de fone de ouvido, não de chaveiro.

Assim que finalmente consegui me desembaralhar todo com aquele monte de metal percebi que não estava certo apenas dizer tchau, abrir a porta e bater a madeira contra a cara de Jaebum.

Era óbvio que eu nem ao menos queria aquilo.

As pontas dos meus dedos formigavam, os dedos dos pés se torciam dentro do sapato, meu coração estava batendo no estômago e meu pulmão parecia estar funcionando a menos de um décimo da capacidade.

Eu tava nervoso pra caralho.

Mais nervoso do que o fatídico dia do “Oi pai, tudo bom com o senhor? Então é que eu só passei pra falar que eu gosto de homem mesmo, mas nada muito importante. Pode terminar de jantar, ta? Tchauzinho!”

Aquilo tinha sido FICHINHA perto do que era estar do lado de Jaebum agora.

Respirei fundo e virei até estar frente a frente com ele, suas mãos estavam nos bolsos e se estava nervoso eu queria saber onde teve aulas de atuação porque não parecia nadinha, nem com uma pontinha de desespero.

E eu devia estar o próprio irmão do Gasparzinho àquela altura.

— Bom, acho que agora é isso...

— Uhum. – Concordou mas não se moveu. Apenas ficou lá me encarando.

— É... então. Eu... – Abri e fechei a boca várias vezes pensando no que ia falar e não sei porque ainda tentava. Até parecia que não me conhecia. – Ai, que droga..

Me joguei contra a parede frustrado, batendo até mesmo com um pouco mais de força do que pretendia, fazendo com que Jaebum risse.

— Não ri de mim, você já sabe que nunca sei o que dizer.

— Eu sei. – Deu um passo em minha direção, ainda com a mesma postura.

— Não vai dizer nada também?

Apenas permaneceu em silêncio, fitando meus olhos com a expressão mais calma do mundo.

Eu queria explodir.

A qualquer momento me converteria numa bomba atômica e viraria só o cogumelo de fumaça.

— Não sei se tenho algo pra dizer. – Deu mais um passo. – Nem se devia.

— O que não devia dizer?

— Sei lá...

— Você sabe de alguma coisa, Jaebum? – Falei aquilo com o tom um pouco mais estressado que o normal, causando outra risada em Jaebum.

— Sei de algumas coisas. – Mais um passo.

Agora estava bem à minha frente, a alguns poucos centímetros de distância. Continuava a olhar profundamente dentro dos meus olhos, como se tentasse me dar todas as respostas que tinha com o olhar.

Mas eu nunca fui bom em ler as pessoas.

E aquele rebuliço interno todo não ajudava a por as ideias no lugar.

Minhas mãos estavam suando e a cada três segundos eu engolia saliva como se aquilo fosse dissipar o nervosismo. Eu queria me mover e ao mesmo tempo não queria. Não conseguia.

Era toda aquela noite na cama de Jaebum de novo.

Mas agora ninguém estava bêbado, ou o mínimo tonto. E ninguém tinha nada a esconder.

Jaebum apoiou suas mãos na parede em que eu estava enconstado, transformando os centímetros já curtos em quase nulos. Continuou a observar meu rosto por mais algum tempo, em silêncio, para então observar com mais atenção a área da boca.

— Quer... – Não sabia de onde tirei palavras pra falar. Mas lá estavam elas. – Quer testar algo?

Jaebum sorriu de lado ao perceber a referência, voltando a atenção até meus olhos.

— Agora eu já tenho a resposta...

E então começou a se aproximar. Mílimetro por milímetro, cada vez mais perto. Minha cabeça gritava que era agora, meus dedos se apertavam uns contra os outros. E então jaebum pressionou seus lábios em mim.

Em minha testa.

E se afastou.

Do mesmo jeito que eu estava, fiquei. Apenas o encarando, tentando entender o que ele estava fazendo.

O QUE ELE TAVA FAZENDO?

A MINHA CARA GRITAVA “ME BEIJA” EM NEON COM COM SETAS PISCANTES E DANÇARINAS!

O QUE INFERNOS, DEMÔNIOS, SERES DE TODAS AS MALEFICÊNCIAS POSSÍVEIS, ELE TAVA FAZENDO?

Foi então que, ainda olhando minha cara de tacho, Jaebum murmurou “boa noite” e começou a se afastar.

E foi então que eu definitivamente perdi a paciência.

Que dei um passo mais largo que o seu e o puxei pelo braço. Que olhei para seu rosto por meio segundo, com os olhos brilhando e o interior fervendo, e levei minhas mãos até seu pescoço. Que fechei meus olhos, respirei fundo, dei um ultimo impulso, e colei o corpo de Jaebum ao meu.

E meus lábios nos seus.

Foi então que Jaebum finalmente desmanchou a expressão indiferente e sorriu entre meus lábios, rapidamente prendendo seus dedos em meus quadris e dominando minha boca.

E eu queria socá-lo, esmurrá-lo. Fazer com que ele se arrependesse de ter feito eu tomar a dianteira. Mas estava ocupado demais com a sensação maravilhosa que era finalmente beijá-lo. De ter sua língua se enrolando na minha, sentindo seu sabor e matando a vontade que eu a tanto tempo mantinha insaciada.

Meus dedos se arrastavam pela pele do seu pescoço e se prendiam em seu cabelo. Enquanto Jaebum apenas continuava a me apertar com possessividade contra si, mantendo um ritmo lento e nem um pouco suave nos movimentos que nossos lábios tomavam entre si.

Num impulso, uma vontade enorme que veio de lugar algum, tomei mais um fôlego e me prendi ainda mais a ele, puxando sua cabeça para baixo em direção a minha e aprofundando o beijo já intenso que trocávamos.

Com toda aquela vontade, aquela expectativa e desejo reprimido. Tudo aquilo que devíamos ter descontado um no outro muito mais cedo mas fomos idiotas demais pra faze-lo mais rápido. Com essa mesma satisfação finalmente realizada que mordi o lábio de Jaebum, puxando-o, fazendo com que ele se impulssionasse contra mim em desejo e nos chocasse contra a porta. Estendeu sua mão esquerda na madeira, espalmando-a, enquanto a outra se prendia em minha cintura e se infiltrava por baixo de minha blusa pesada.

Aquela sensação era tão prazerosa, tão enebriante e intensa, que eu poderia ficar naquilo a noite inteira. Desfrutando de cada pedaço de Jaebum que tinha sido estúpido demais de tomar para mim antes.

Poderia, se não tivéssemos feito barulho demais ao nos jogarmos contra a madeira e se Yugyeom não tivesse aberto a porta, quase fazendo com que eu caísse no chão, sendo salvo apenas pelas mãos atentas de Jaebum.

Ao me equilibrar, sem fôlego, e dar de cara com seus olhos sonolentos e a caneca de chá em sua mão, arregalei os olhos ao perceber que tinha sido flagrado e dei um pulo para trás, ficando entre os dois.

Jaebum parecia terminar de recuperar seu fôlego. Yugyeom, por sua vez, olhava pra nós dois como se processasse  a informação.

— Yuggie... Olá!

— Hyung... Já voltou?

— É... – Tentava encontrar o que dizer, mas nada parecia encaixar com a vergonha imensa que eu sentia.

Yugyeom após alguns segundos maquinando parecia já ter se situado, já que agora encarava Jaebum com um sorriso sutil puxando o canto dos lábios.

— Opa! – Fez uma falsa encenação de acidente. – Fiz uma besteira sem querer, e agora?

Eu apenas me encolhi contra mim mesmo, amaldiçoando Yugyeom por ser daquele jeito. Do jeito que estava não faria nada produtivo, muito menos algo que fizesse sentido, então apenas dei alguns passos até onde Jaebum estava, deixei um selar em sua bochecha e sussurei boa noite, dando as costas e indo até a cozinha.

Me recostei contra o azulejo da parede, tentando acalmar o coração e procurando ouvir algo que Jaebum pudesse dizer.

— Bom, eu vou indo...

— Jaebum... – Um silêncio momentâneo apareceu, me deixando um tanto apreensivo. – Devíamos almoçar qualquer dia. Você sabe...

Ouvi a risada abafada de Jaebum, logo imaginando que Yugyeom devia estar fazendo alguma graça sobre mim. Afinal, ele também era melhor amigo de Jinyoung, e se aqueles dois tinham algo em comum era o prazer absurdo de tirar uma com a minha cara.

Por fim ouvi Jaebum dizer “com certeza”, seguido do som de suas mãos se chocando em um cumprimento. Logo o som da madeira batendo contra o batente soou pela sala vazia e então a da tranca sendo girada.

E claro, o risinho abafado de Yugyeom.

— Kim Yugyeom, eu vou te matar!

 

 


Notas Finais


eu juro que ia cortar esse capítulo em dois mas mudei de ideia só porque EU AMO VOCÊS
só por isso tenho um cap a menos adiantado *chora*
ACHO BOM PARAREM DE ME XINGAR AGORA FERRANDA É SENSIVEL
BOA NOITE
ATÉ A PRÓXIMA


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