História Me deixe sozinha - Aceito

Me deixe sozinha cap. 48

 Não sei quanto tempo faz que encaro a parede em minha frente, mas me desperto assim que as mãos de Murilo que se seguravam em minhas coxas caem ao lado de seu corpo, tento ficar calma, deve ser uma brincadeira, ele não pode ir agora, eu não, minha mente nem mais funciona direito, cogito voltar até minha casa, fingir que nunca escutei isso, talvez funcione, eu devo estar louca, por que? Deus, por que?

-Por que?

 Mal me lembro de como disse essas palavras, talvez meu cérebro apenas se cansou de escutar meus gritos internos, Murilo que até agora encarava o chão, respira fundo, até mesmo esse suspiro pesado me faz querer que ele não vá.

-Minha mãe sempre viajou para cuidar dos negócios da família, mas ela quer passar para mim, e quer que eu ganhe experiência ou sei lá, mas eu, eu não quero ir, não agora.

Um nó sobe em minha garganta, sei o que a mãe dele quer, ela é uma mulher sábia, quer que o filho pare de se envolver com casos violentos como se fosse um justiceiro, eu sei que isso é bom para ele, mas por que agora? Percebo que fiquei em silencio por muito tempo quando Murilo se levanta e segura meu rosto com as mãos e beija delicadamente minha testa, e beija cada uma das lágrimas que eu nem havia percebido que estavam rolando por meu rosto.

-Bia, por favor não chore, eu juro que vou voltar para você, eu não consigo ver minha vida sem você, não chore, por favor.

 Ele me abraça forte e finalmente meu choro ganha som, ele passa as mãos pelos meus cabelos e beija minha cabeça enquanto eu me perco em uma nuvem de soluços e lágrimas incessantes, e ficamos assim até eu perder a força e nós nos sentarmos, aquela sala parece incrivelmente fria agora, ele se senta e eu dito em seu colo, sua mão ainda acariciando meu cabelo, não lembro bem o quanto eu chorei antes disso, mas eu caio em um sono profundo com Murilo me confortando.

 Acordo com um cobertor leve que roçava em meu pescoço, meus olhos estão inchados e meu rosto úmido, me levanto e uma tontura me joga para o sofá de novo, esfrego os olhos e me paro pensando em tudo que vivi com Murilo, até mesmo as coisas que não me lembro que devem ter sido bem mais significativas do que as que me lembro, a pequena sala começa a me passar pensamentos mórbidos demais então me levanto para ir até o telhado, onde vejo Murilo, sentado em sua velha poltrona, ele fala ao telefone.

-Vai se fuder Carlos, acha que eu estaria indo se tivesse outra escolha?

 Eu estava me segurando para não me aproximar, mas ele apenas fala com Carlos, então ainda zonza, caminho até ele, que nem mesmo se assusta com minha aproximação, ele faz um gesto me pedindo para sentar ao seu lado e eu o faço, descansando minha cabeça em seu ombro. As luzes dos postes acendiam uma a uma conforme a tarde ficava mais vermelha, nem mesmo me recordo quanto tempo se passou.

-Por quanto tempo dormi?

 Ele beija o topo da minha cabeça e me entrega meu celular.

-O suficiente para sua mãe te ligar uma vez, e Victoria umas 17.

 Uma risada me deixa ainda mais melancólica se desprende de minha garganta, isso parece ter deixado a consciência dele mais leve, mas deixou a minha mais pesada, como eu posso ri nessa situação? Quando ele se prepara para dizer algo, meu telefone volta a tocar, mamãe aparece na tela com a música da banda que papai ouvia tocada com violoncelo, olho para Murilo como se esperasse autorização, ele apenas balança os ombros, é claro, ele nunca se atreveria dizer o que eu devo ou não fazer, como eu viu deixa-lo ir? Atendo no segundo toque, a voz de mamãe é como um ronrono.

“-Oi querida, você está voltando para a casa? ‘’

 Ela não fala como se fosse uma ordem, mas é assim que eu interpreto, Murilo ainda me olha.

-Na verdade não, mas se quiser eu vou agora.

 As palavras cortam minha garganta, eu não quero ir, a voz de mamãe agora parece uma criança pedindo doce.

-Na verdade querida, você já está bem grandinha não é mesmo?

 Ela esperava uma confirmação, mas estou intrigada demais para fazer qualquer som além de ‘’hum’’ mas ela ainda vê como uma resposta completa e continua.

-E você tem tantos amigos, até mesmo um namorado.

 Mais uma vez “hum”, ela continua.

-Você poderia não voltar para a casa hoje sabe, tenho certeza que seria uma ótima experiência para você não é mesmo.

 Meu Deus, mamãe quer ficar sozinha com Eduardo, novamente uma risada me escapa, essa um pouco mais escandalosa que a última, Murilo até mesmo salta um pouco do sofá.

-Claro mamãe, tenho certeza de que será bom para MIM.

 Escuto uma risada do outro lado da linha.

-Menina esperta, está com o cartão de crédito?

Passo a mão pelo meu bolso apenas para confirmar.

-Aham.

Consigo ver mamãe sorrindo como uma louca do outro lado da linha.

-Obrigada querida, te amo, tchau.

-Também te amo mãe.

 Assim que desligo o telefone, a melancolia volta, respiro fundo e olho nos olhos de Murilo, que sorri levemente.

-Foi por isso que você pintou o cabelo?

 Passo a mão pelo recém preto escuro dos cabelos de Murilo, que acena confirmando.

-Pelo visto um CEO não pode ter cabelo laranja.

 Concordo em silêncio.

-Quando você.... Vai?

 Essa pergunta não o afeta quanto eu esperava.

-Eu deveria ir amanhã, mas mamãe veio aqui enquanto você dormia, então eu meio que supliquei, eu vou assim que o baile acabar.

 O baile, a lembrança da ligação de Victoria retorna a minha cabeça, respiro fundo com a ideia, por que tudo agora me traz melancolia? Murilo passa os braços em minha volta e me aperta ainda mais.

-Você quer ir ao baile comigo?

 Eu sorri, assim que fui responder, meu celular vibra novamente, Victoria, atendo no primeiro toque enquanto faço que sim com a cabeça.

“-FESTA DO PIJAMA!! “

Eu me assusto com o grito de Victoria do outro lado da linha, mas antes que eu possa responder, ela continua.

“-Sua mãe me ligou, você vai ficar comigo, onde você está? “

Finalmente.

-Estou com Murilo.

 Escuto uma risada do outro lado da linha, é Carlos.

“-Então é isso, estamos indo aí. “