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História Melhores Amigos - Quinze


Escrita por: TitiFlor

Notas do Autor


Oi, maravilhosas e maravilhosos! Saibam que além da alegria de compartilhar a história com vocês, também tem a alegria de receber todo esse feedback e carinho de vocês. Amo muito! Obrigada ❤

Capítulo 15 - Quinze


Os dias que seguiram foram de muitas transformações e descobertas para Paola. Nem todas as agradavam. No segundo dia de repouso ela já estava impaciente, por mais que soubesse a real necessidade de ficar deitada numa cama e só sair pra ir ao banheiro. Por mais que tivessem livros, filmes e pessoas à sua disposição, ela sentia muita falta das suas cozinhas, dos movimentos nas lojas, do sorriso satisfeito dos seus clientes, até mesmo de algumas reclamações que chegavam. Era raro, mas acontecia. 

Seus amigos sempre davam um jeito de visitá-la, conversar e acompanhá-la nas consultas. Quando entrou na décima primeira semana passou a ser surpreendida com enjoos matinais. Às oito da noite já estava bocejando e caindo de sono, o que a forçava a deixar as lojas bem antes do encerramento do serviço. No entanto, madrugada a dentro, era surpreendida por uma maldita insônia, que acabou por impedí-la de ir trabalhar cedo, como sempre gostou de fazer, devido ao cansaço.

 

Mais uma semana e algumas calças já estavam apertadas e outras nem serviam mais. Viu seu rosto encher-se de espinhas e seu cabelo começar a cair. Mais outra e tinha a azia como sua pior melhor amiga e seus pés inchavam facilmente obrigando-a a sentar mais vezes e pendurar as pernas. Havia mudado sua alimentação várias vezes tentando evitar o maldito mal estar, mas nada solucionava. Apenas se sentia bem com pastilhas de magnésia bisurada, que, às vezes, a fazia vomitar. Seu apetite aumentava cada vez mais ao ponto dela acordar de madrugada só para comer. Sentia-se gorda, desproporcional e horrível. Leu sobre muitas mulheres que se achavam maravilhosas durante a gestação e diziam-se orgulhosas das novas curvas. Ela as odiava, na verdade, e não era por vaidade. Isso a fazia sentir-se mal em alguns momentos. Sabia que era seu bebê crescendo, mas não conseguia se achar linda. Só queria que tudo acabasse. Muitas vezes se viu chorando ao se olhar em frente ao grande espelho que havia em seu closet: olheiras, cabelos mais ralos, pele mais oleosa e com acnes, "pés de batata", nariz virando uma bola e seu corpo se expandindo ao ponto de que nada que ela colocava no corpo ficava bom. Paola vivia uma montanha russa de emoções: uma hora sentia-se a mulher mais poderosa do mundo, pois tinha um bebê muito saudável crescendo dentro dela e aquilo a fazia acreditar que ela podia tudo; em outras horas, sentia-se cansada, horrível, insegura e com medo.

Era uma segunda-feira a tarde quando Henrique foi à casa de Paola após não encontrá-la na loja. Havia passado o final de semana fora por conta dos shows da banda e, desde sexta-feira, dia em que Paola havia tido uma consulta, não tinha conseguido falar com ela. Surpreendeu-se quando Daniela, visivelmente preocupada, disse que Paola não havia mais ido à loja desde estão.

- Oi, Dadá. Como cê tá? - Henrique falou a beijando na testa.

- Tou bem, meu filho. Ainda bem que você apareceu, viu?

- Cadê ela?

- Tá lá no quarto. É só onde ela fica. Não quis almoçar, acredita? Só tomou uma vitamina mais cedo. Tentei levar o almoço, mas ela até gritou comigo... - a mulher falou em um tom triste e magoado e ele pôde ver ela passando as mãos no olhos.

- Ô, Dadá, não fica assim. Cê sabe como a Paola é... - ele falou indo em sua direção e a abraçou.

- Eu sei, meu filho. Não é nem isso, eu já me acostumei até com as grosserias dela. Me preocupo é com esse jeito que ela tá... Daniela me disse que ela ficou assim quando aconteceu aquela depressão lá, quando a mãe morreu e o marido foi embora - Dadá falou já sem conseguir conter as lágrimas que desciam pelo seu rosto.

- Eu vou tentar falar com ela, tá bem? Não se preocupe, a gente vai ajudá-la.

- Só você mesmo, viu? Minhas esperanças estão em você, meu filho. Se nem você conseguir, eu fico apavorada só de pensar no pior, que é minha menina doente - Henrique abraçou a senhora novamente e a tranquilizou. Subiu as escadas, deu duas batidas breve na porta do quarto de Paola e a abriu. Apesar de ser dia, o quarto estava escuro por conta das cortinas fechadas. Paola se mexeu e virou-se em direção à porta para olhar quem havia entrado.

- O que você tá fazendo aqui? - ela questionou visivelmente emburrada.

- Vim te ver - ele falou e fechou a porta atrás dele.

- Já me viu. Pode sair. Tchau - ela diz e se vira de costas pra ele e jogando a coberta por cima da cabeça. - Henrique nada comentou. Apenas adiantou-se até a janela e puxou as cortinas.

- Que cê tá fazendo, hein? Será que yo no posso ficar em paz?

- Esse quarto tá escuro e abafado, Paola, só vou abrir a janela pra entrar um ar.

- Mas yo no quiero! Dá pra entender e respeitar isso?

- Baixa tua bola aí. Já não basta ter sido grosseira com a Dadá?

- Tua namorada sabe que você tá aqui? Até onde eu sei ela no gosta nenhum poco dessas tuas visitinhas...

- Olha só, eu não vou me irritar por conta das tuas ironias, beleza? Cê tá perdendo seu tempo.

- E você también tá perdiendo o seu! Só quiero ficar só. Por que vocês no entendem isso?

- Por que nos preocupamos com você?

- Se veio me perturbar como a Daniela e a Dadá já fizeram, yo só te peço que vá embora. Já me basta as duas - ela se queixou virando-se novamente de costas pra ele.

- Não vim te perturbar, não. Só fiquei sem notícias suas e vim saber de você - Henrique ficou observando a mulher deitada de lado na cama. Respirou fundo e coçou a cabeça, como sempre fazia quando precisava pensar em como lidar com ela. Sentou-se no chão e apoiou um dos seus braços na cama. Após um tempo em silêncio, decidiu falar:

- Não deu pra ver o sexo do bebê?

- No. Estaba com as pernitas cruzadas. No queria se exibir... - ela disse, e pelo modo doce que falou, ele suspeitou que pudesse haver um sorriso no seu rosto.

- Eu trouxe uma coisa da viagem. Afasta aí pra eu te mostrar - ele se levanta e a cutuca pra ela dar espaço. Ela revira os olhos e solta um suspiro, mas afasta-se e se apoia melhor nos travesseiros ficando um pouco sentada.

- O que és eso? - diz ela pegando a sacola que ele havia trazido.

- A gente foi ao shopping pra comer e eu passei em frente à uma loja de crianças. Lembrei de vocês.

- Que rico! Que lindo, Henrique! - ela falou admirando a roupinha branca de linho que ele havia comprado.

- A vendedora disse que é a roupinha que eles usam pela primeira vez. Tem um nome aí, mas eu esqueci.

- Saída de maternidade.

- Isso. Esse aí mesmo. Olha que gorro maneiro - ele pegou a peça pequena e encaixou nos dedos - fica caído assim, parece o do Chaves - ele termina soltando sua risada tão peculiar que faz Paola ri junto. - Tem esse outro aqui - ele pega outro pacote e entrega à ela.

- Ai! Outro exagerado. Já não basta a Ana Paula, que toda vez traz coisas.

- Mas a anã só quer uma desculpa para fazer compras, né? Agora ela deve tá satisfeita - ele disse arrancando outra risada da mulher.

- No acredito! - ela exclama ao ver a pequena blusa preta com o símbolo e nome da banda de Henrique - uma blusinha da Oitão!

- Gostou? Mandei fazer especialmente para a abóbora.

- Tá muito fofa! Viu, só, mi amor? Seu padrinho quer que você seja una abóbora roqueira, que tal? - Paola falou com a própria barriga a acariciando e olhando para ele, que achou aquela cena a mais linda do mundo. Henrique amava quando ela fazia aquele gesto e fazia referência a ele. Ser chamado de padrinho sempre o fazia se sentir especial e emocionado, exatamente como aconteceu quando ouviu ela falar aquilo pela primeira vez a ele.

Ainda sorrindo, a encarou de uma forma mais profunda, querendo agora entender o que aconteceu para que Paola estivesse se isolando daquela forma. Percebendo a intenção do homem, ela baixou seu olhar para evitar o dele, tão questionador.

- Quê que tá pegando, minha linda? - Paola fechou os olhos e por uns instantes odiou a si mesma por saber que ele sempre conseguia derrubar suas muralhas de proteção. Não devia ter deixado ele se aproximar. Ele sabia exatamente o que dizer e em que momento dizer.

- Estoy com miedo.

- Medo de que?

- Tanta coisa - ela suspirou enquanto mexia nos anéis que tinha nas mãos - Miedo de ser una mãe horrível. Miedo de no conseguir criar esse filho sozinha. Miedo de acontecer alguma coisa com ele e eu no ter ideia do que fazer. Miedo de parir. Miedo de no conseguir amamentar. Miedo de ser julgada por... Por odiar estar grávida! - era a primeira vez que Paola verbalizava aquela última frase, pois era algo que ela mesma se recriminava, porém também era o que mais sentia ultimamente - Yo odeio estar grávida, Henrique! - ela revelou e só nesse momento direcionou seu olhar para o dele. Esperava encontrá-lo assustado ou até mesmo horrorizado ao ouvi-la dizer aquilo, mas não. Ele a olhava com compaixão, sem julgamento algum. Permanecia calado, esperando que ela jogasse tudo pra fora.

- Yo amo meu filho, sabe? Amo saber que ele está saudável, que está se desenvolvendo perfectamente, amo vê-lo nas ultrassons, mas... Odeio essa sensação de estar vivendo em outro corpo! Me sinto sem controle do que acontece comigo mesma. Odeio enjoar, ficar inchada, vestir inúmeras roupas e nada ficar bem, odeio ter que me lambuzar de cremes pra evitar estrias, odeio comer como se o mundo fosse acabar em segundos... Mas parece que só yo me sinto así. Todas as otras mães do mundo se sentem lindas e mavilhossas e dizem estar vivendo a melhor fase de sus vidas. Yo só quiero que isso passe logo, mas é o tempo do meu bebê ficar pronto, no era pra yo me sentir así! Soy una mãe horrivel, Henrique! - ela fala já sem conseguir impedir que lágrimas caíssem em seu rosto.

- Que mãe horrível o que? Céloka- ele falou se aproximando mais dela e secando suas lágrimas - Você ama seu filho, Paola, e cuida dele muito bem. Você não é obrigada a gostar de todas essas coisas que te incomodam e que não são nada legais. Quem disse que se deve gostar disso?

- Na consulta de sexta-feira era só o que yo ouvia das otras mulheres que estavam lá. Que por mais incômodo que fosse, amavam todos aqueles momentos. Me senti de otro planeta. Fui falar que no gostava das transformações no meu cuerpo e senti todos aqueles olhares de julgamento.

- Mandava se foder, ô porra! Você é você, tem seu jeito de sentir e viver as coisas. Quem raios ama vomitar?

- Yo no.

- Nem eu. Então por que você tem que gostar? Parada escrota dessa... Céloko - ela viu sua feição emburrada e, mesmo se sentindo triste, só conseguiu achar engraçado. A maneira que ele falou, que nem com toda sua marra e brutalidade não impedia de ser amoroso. Acabou que não conseguiu segurar o riso.

- Qual a graça? - ele questionou fazendo sua testa enrugar.

- Você com esse jeitão durão todo bravo me defendendo - falou como se estivesse imitando a voz grossa dele.

- Tô falando sério, porra. Esse lance aí não faz sentido... Olha - ele se aproximou ainda mais dela para mirar profundamente em seus olhos - eu entendo o que cê diz, nada disso aí é fácil. Teus medos são normais, Pao, mas esse seu comportamento, não. Não deixa eles te dominarem. Até deixar de cozinhar, que é o que tu mais gosta de fazer, cê deixou pra ficar trancafiada aqui dentro. Não posso ver isso e não fazer nada - a mulher apenas baixou seu olhar, sabia que não devia se entregar, mas às vezes tudo ficava insuportável. Sentiu-o segurar seu queixo e trazê-la de volta pra ele. - Não se entrega... cê é forte pa caralho. Cê acha que a abóbora gosta de sentir a mãe dela triste? Acha que ela ia gostar de te ver assim? - ela balança a cabeça de um lado para o outro depressa e não consegue impedir novas lágrimas de rolarem após ouvir o que Henrique disse - então... Toca pra frente... O barato é loko, mas tu vai tirar tudo isso aí de letra, lindinha. E não se cobra tanto por essas paradas aí, não. Cada um sente da sua maneira... - ele limpa as lágrimas dela e vê seu sorriso se formar com aquela covinha tímida do lado.

- O barato é loko mesmo... - ela repete rindo e ganhando outro sorriso dele.

- Tá indo pra terapia direitinho? - ele questionou, mas ela virou o olhar e sussurrou algo que ele não entendeu.

- Não acredito que até isso cê deixou de ir, Paola!

- No tava com vontade. Só isso!

- Cê sabe que precisa...

- Yo sé - ela revira os olhos irritada.

Mierda que ele tinha que lembrar disso también?

- Voy marcar de novo, pra amanhã já.

- Vai mesmo! E sabe que cê vai fazer agora? Levantar daí e vai comer o rango dahora que a Dadá fez. Mas antes vai tomar um banho também. Aposto que cê nem tomou banho hoje, tô sentindo aqui que esse desodorante já venceu - ele fala levando uma mão ao próprio nariz. Ela sente seu rosto queimar de vergonha e automaticamente inclina a cabeça em direção a uma das axilas, o fazendo soltar uma grande gargalhada.

- Você é um idiota - diz brava acertando um tapa nele - não tô fedendo, tomei banho de madrugada - jogou as cobertas para o lado e se levantou depressa e irritada.

- Nossa... Quer ser a versão argentina do Cascão!

- Fala mais alguna coisa e yo te mato, Henrique! - ela se virou pra pegar um travesseiro e arremessar contra ele.

- Pois vai logo pro banho, que a gente ainda vai sair, ô Casquete!

- Eu não vou pra alugar algum com você, seu bad boy chato e imundo! - ela gritou já batendo a porta do banheiro e ele continuou com o sorriso bobo no rosto. Amava sua versão brava - ok, nem sempre - mas estava plenamente satisfeito de vê-la reagir.


Notas Finais


O barato pode ser loko mesmo, mas a abóbora vai ser roqueira 😎


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