1. Spirit Fanfics >
  2. "Memórias de Nina Garbo" >
  3. Aonde está você agora?

História "Memórias de Nina Garbo" - Aonde está você agora?


Escrita por: ValentinaEli

Notas do Autor


De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte, vai ser bom subir nas pedras, sei que faço isso pra esquecer, eu deixo a onda me acertar, e o vento vai levando tudo embora🎵

Capítulo 15 - Aonde está você agora?


Fanfic / Fanfiction "Memórias de Nina Garbo" - Aonde está você agora?

Narrado por Otávio

Tenho a nítida sensação da morte perto de mim, queria eu nunca ter voltado para o Brasil, talvez assim não estivesse perecendo. Eu realmente acreditei que ela viria me ajudar, mas a ferida que deixei em seu coração ainda não cicatrizou, ainda sangra e corrói. Todas as vezes que nos aproximamos, alguma força neste mundo lutava com unhas e dentes para nos separar. E agora, aqui nesta prisão, sinto todo o peso de uma​ cruz sobre meus ombros, estou aéreo, busco digerir o mínimo que seja do que está acontecendo comigo. Passei por um pesado interrogatório, estou enraivecido pelas acusações, me sinto sem forças e sozinho. Vitor agora deve achar que sou um criminoso, e a Nina, bem, esta, certamente​, acumulou mais uma dose de ódio a meu respeito.

Já findou a tarde, a cela em que me encontro na delegacia é pútrida, há mais de vinte detentos num espaço minúsculo, e todos me olham diferente, há maldade em seus olhos, deles escorrem toda perversidade, e a única coisa em que consigo pensar, é nos olhos verdes de uma mulher que me detesta. Se realmente existem outras vidas, eu devo ter sido um tirano ou bandido, pois olhando minha imagem agora, para a sociedade eu não devo ser menos do que isso.

- Acorda, vagabundo. - o barulho do cacetete contra a grade da cela me tirou do momento transe. - Tem visita pra você. - disse o policial. É ela, eu repeti mentalmente, e um sorriso bobo surgiu em meus lábios, como se a sua simples presença fosse resolver tudo. Acompanhei o agente até uma sala, e assim que entrei, sorri, mas não foi pela presença dela.

- Marcela! - exclamei surpreso. Me aproximei e a abracei fortemente, minha velha e leal amiga. Senti que ia chorar todas as minhas mágoas e ressentimentos​ no ombro dela, notei que ela também chorava com a cabeça deitada em meu peito. Segurei seu rosto com as duas mãos e a encarei desesperado. - Eu juro que não fiz nada, nunca roubei ninguém. - falei entrecortando as palavras, ela fazia gestos com as mãos para tentar falar. - Otávio, calma. - não a deixei terminar. - Acredita em mim, juro pela alma do meu filho que sou inocente. - falei firme. - Cadê a Nina? - ela não respondeu à minha pergunta, estou arrasado e só consigo pensar nela. O homem nos deixou a sós e nos sentamos ao redor do único móvel da sala, uma mesa com duas cadeiras uma de frente para a outra.

- Eu sou inocente, acredita em mim. - falei angustiado com a voz ainda entrecortada pelos soluços do choro.

- Otávio, calma! Me conta o que aconteceu. - perguntou serena, tentando me deixar mais tranquilo.

- Eu não sei, Marcela! - exclamei efusivo e com raiva. - Pelo amor de Deus, me tira daqui. - toda esta situação me trouxe novamente os terríveis enjôos, passei a mão pelo estômago ao constatar uma forte ânsia. - Otávio, eu vou ajudar você, mas se acalma, por favor. - ela levantou e foi até a porta. 

- Eu preciso de um copo d'água aqui, ele não está se sentindo bem. - o guarda assentiu e ela voltou para perto de mim, puxou a cadeira e sentou-se ao meu lado. - Você está febril, meu Deus. - constatou ao colocar a mão em minha testa. - Tá tudo bem, tenho isso as vezes. - ela negou com a cabeça, ignorando minha fala.  - Eu ainda não sei nada sobre o seu caso, mas vou tentar te colocar numa sela especial, você tem curso superior, não tem antecedentes criminais. - falou confiante, o rapaz logo trouxe o copo com água e nos deixou a sós. - Bebe. - disse olhando-me entristecida. - Pare de me olhar assim, é só mais um dos infortúnios que acontece comigo. - tomei todo o conteúdo do copo.

- Você tem inimigos? Algum sócio com quem tenha brigado? Alguém que te odeie? - ri desacreditado de todas as coisas. - O mundo inteiro poderia me odiar, Marcela, menos ela. - suspirei. - Ela nunca vai me perdoar. - falei embargado. - Eu já não tenho mais nenhuma vontade de viver. - ela bateu com a mão fortemente na mesa me assustando. - Você tem que ter vontade de viver. - a encarei sem esperanças. - Não é nela que tem que pensar agora, é em você. - segurou minhas mãos. - Apesar de tudo, Otávio, ela também​ está sofrendo muito. - chorei ao ouvir. - Eu estou sendo acusado de coisas muito graves, Marcela.

- Eu sei. - respirou fundo. - Você tem um advogado na empresa, não tem? - a cada vez que ela falava comigo eu parecia mais distante, ouvia sua voz bem longe, só conseguia pensar no momento da prisão e de como a Nina me olhava. - Otávio. - falou ríspida me puxando pela gravata. - Onde está seu advogado? Me passa os contatos dele, eu vou ajudar você. - voltei à realidade.

- Ele não está no Brasil, está viajando de férias com a família. - parece que tudo conspira para minha derrota. - Droga, Otávio, justo agora? - exclamou desanimada. - Você confia nele? - indagou-me receosa. - De olhos fechados, Marcela. - falei com plena certeza.

- Otavio, eu vou advogar a seu favor, mas eu preciso saber de cada pessoa que direta ou indiretamente está ligado a você. Preciso de acesso à sua empresa, a todos os projetos e toda documentação do trabalhado no restaurante. - assenti ao ouvir as instruções. - Eu nem sei como te agradecer por tudo o que está fazendo, por me apoiar. - ela sorriu para mim. - Eu acredito em você, agora me fale quem eu devo procurar. - pediu.

- Fale com Teodoro Sampaio. - me olhou pensativa ao ouvir. - Tenho a impressão de já ter ouvido esse nome antes. - falou como se buscasse na memória alguma informação. 

- Ele é meu amigo e sócio, vai te passar todas as informações, inclusive faturas, documentos, tudo o que você precisar​. - expliquei. - Eu vou entrar com pedido de habeas corpus, mas isso pode demorar. Vou até a empresa e avaliar todos os documentos. - a olhei curioso e falei.

- Marcela, eu sei que eu errei muito com a Nina, mas será que ela acha mesmo que eu seria capaz de praticar estelionato e lavagem de dinheiro? - me olhou serenamente. - Otávio, são acusações graves e que envolvem o noivo dela, ela está muito abalada com tudo, mas não quero que pense nisso agora. - assenti. Marcela ficou mais alguns instantes comigo e assim que o guarda disse que nosso tempo havia terminado, ela foi embora. Recebi a visita de Leonora e de alguns amigos próximos que estavam indignados com a prisão. Estou vivendo o maior pesadelo da minha vida.

Narrado por Marcela

Ao sair da delegacia, fui até a empresa de Otávio e tive acesso a todas as informações. A princípio, não encontrei nenhuma irregularidade, estava tudo nos conformes, o que que me deixou mais intrigada ainda. Falei com Teodoro, sócio de Otávio a alguns meses, um homem super simpático e gentil que me mostrou todos os relatórios financeiros. Todos na empresa estavam chocados e revoltados com a situação, em unanimidade, as pessoas atestavam a conduta reta de Otávio.

Passei dias analisando cada mísero papel, mas nada encontrei que pudesse acusá-lo, tão pouco encontrei algo que pudesse livrá-lo de tais acusações, todas as informações que foram recolhidas como provas para incriminá-lo, foram deixadas na delegacia por um entregador anônimo. Negócios feitos fora da OCF Arquitetura e Urbanismo, cujo dinheiro recebido do estelionato era lavado em uma empresa fantasma de engenharia e arquitetura, localizada em São Paulo, aparentemente uma fachada para coisas maiores. Em nenhum momento eu deixei de acreditar nele, mesmo diante das provas, porém eu já não sabia mais o que fazer, só as nossas testemunhas para atestar o caráter e a bondade são insuficientes, mas é a única arma que temos.

Entramos em um inverno rigoroso por aqui, estranho encontrar o Rio de Janeiro tão frio, mas esse ano, especificamente, as temperaturas despencaram, deixando os dias ainda mais inquietantes e nostálgicos. Sem que pudéssemos perceber, passaram-se três semanas desde a prisão de Otávio, ele foi encaminhado até um presídio para aguardar o julgamento sem direito a habeas corpus. Por conta do caso, o visito com frequência, e a cada encontro, sinto que ele está mais abatido, emagreceu bastante devido a alimentação que não dispõe de todos os nutrientes possíveis​ para sua saúde frágil. E para piorar, o resultado do exame, infelizmente deu positivo, o câncer voltou e atingiu o fígado, ele está em tratamento quimioterápico e é levado com escolta policial até o hospital para fazer as aplicações. Tem perdas drásticas de apetite e está entrando em quadro depressivo muito grande, e pelo que sei através de Juan, Nina está arrasada, me dói saber que ela chora pelos cantos, negando à si mesma que quer ir atrás dele, mesmo que seja para tirar satisfações. O orgulho exacerbado do ser humano pode ser sua eterna ruína. Tentei uma reaproximação com ela, mas foi em vão, ela reluta em ceder, em pelo menos escutar. Tentei conversar com Vitor no restaurante sobre Otávio, mas o mesmo se nega a dizer qualquer coisa, relatando não falar de traidores, e isso inclui a mim também, pois escolhi defender Otávio, o calote no La Nuit foi arrasador e Vitor contabiliza os prejuízos até agora. Porém, ele me disse uma coisa que despertou uma ira tamanha, por isso, saí do restaurante e fui direto tirar essa história a limpo. Jamais me esquecerei desse dia, era uma manhã de terça-feira, o dia estava frio e os termômetros marcavam estranhamente quatorze graus.

Segui o mais rápido que pude para o meu destino, e assim que cheguei, estacionei meu carro em frente ao escritório​, respirei fundo e entrei. Passei pelo corredor que leva até a sala dela como​ se ninguém estivesse no meu caminho. - Doutora Marcela, ela está em reunião, pediu para não ser interrompida por ninguém. - a secretária veio atrás de mim. - Acha que eu sou idiota garota? Sei muito bem das desculpas que ela dá quando não quer receber visitas, além do mais, as reuniões não acontecem nesse horário. - a moça se colocou na minha frente, impedindo-me de entrar. - Recebi ordens, me desculpa, eu posso ser despedida por isso. - falou com medo. - Não se preocupa com isso, você não vai perder seu emprego, tem a minha palavra. - praticamente empurrei seu ombro e abri a porta de maneira brusca. - O que você vai ganhar com isso? - perguntei totalmente​ irritada, e ainda por cima fiquei boquiaberta quando vi que ela estava bebendo, há uma garrafa de uísque sobre a mesa. - Sua incompetente, nem uma ordem simples você sabe cumprir. - falou com raiva olhando para a secretária. - Me desculpa, doutora Nina, eu disse que estava em reunião, mas ela não me ouviu. - Nos deixe a sós, por favor. - pedi suave tentando acalmar a moça. - Depois vamos conversar seriamente sobre isso. - intimou, rapidamente ficamos sozinhas na sala. - O que você quer aqui? - perguntou furiosa. - Agora você começou a beber em serviço? - perguntei decepcionada. - Agora veio bancar a amiga precoupada? - riu ironicamente, sua voz saía um pouco mais arrastada pelo efeito da bebida.

- Eu realmente não queria ver isso, você fracassou, está se arruinando. - falei triste ao observar seu rosto abatido e sem maquiagem. - Você nem se arruma mais. - ela me olhava em silêncio. - Por que você está fazendo isso com o Otávio? - me olhou espantada. - Isso é uma piada? - ela ia encher o copo mais uma vez quando dei a volta na mesa, retirei a garrafa de sua mão e despejei seu conteúdo no lixo. - Qual é o seu problema? - esbravejou, joguei a garrafa fora e a encarei. - Você é uma fraca, uma covarde. - falei no mesmo tom, ela levantou a mão para me acertar, mas empedi segurando seu braço, a empurrei contra a cadeira fazendo com que ela caísse sentada.

- Burra, estúpida, é isso o que você é, uma completa idiota. - apontei o dedo em sua direção. - Cala essa boca, Marcela! - ela se mostrava irredutível, então decidi dizer tudo o que estava entalado em minha garganta.

- Eu sei que você guarda rancor, que tem raiva dele, mas eu sei, também, que você não é ruim, só que está agindo como um monstro. - sua risada de deboche me tira do sério. 

- Continua rindo. - segurei para não chorar, coloquei as mãos nos "braços" da cadeira, encurralando-a e inclinei meu corpo em sua direção.

- Queria ver essa tua risada ao olhar pra ele definhando naquela cadeia, emagrecendo, queria ver essa tua risada cada vez que estou com ele no hospital e vejo ele receber a quimioterapia. - exclamei inconformada com a atitude dela. - Queria ver esse teu sorriso arrogante ao saber que o câncer dele voltou, que os cabelos estão caíndo. - me olhou incrédula engolindo seco a vontade de chorar.

- Eu nunca desejei isso pra ele. - falou embargada. - Nem precisa, Nina. Há muitas maneiras de destruírmos uma pessoa aos poucos. - saí de perto dela.

- Você fala como se eu fosse culpada pela doença dele. - protestou. - Não pela doença, mas por todo o resto, você vai ser a culpada pela condenação dele. - falei alto. 

- Como você pode dizer isso? As acusações sobre ele são reais ou eu estou ficando louca? - indagou-me irritada.

- Eu não acredito que você ​vai trabalhar na promotoria. - falei com raiva. - Do lado da acusação, Nina. - me revoltei. - Recebi ordens do juiz, ele quer que eu componha a equipe. - falou ao se levantar e andou pela sala. 

- Nina, você sabe que só sua presença alí vai dificultar as coisas, pelo amor de Deus, basta uma palavra sua pra ele ser condenado, você sabe do tamanho do prestígio você tem perante as autoridades. - me aproximei dela. 

- É do homem que você ama que estamos falando, se ele for condenado, não pega menos de quinze anos. - me olhou de forma bem cansada. - O que você quer que eu faça? Que eu diga pro juiz que não posso assumir o caso simplesmente porque tive um namorico com o réu? - a encarei espantosamente.

- Eu jamais te pediria isso e muito menos ele. - suspirei. - Porque agora eu vejo que você perdeu toda a sensibilidade que tinha como advogada, e principalmente​ como pessoa. Já recusou casos antes, esse não seria o primeiro. - caminhei em direção à porta. - Espero que consiga conviver com você mesma depois que ele morrer de desgosto, mofando naquela cadeia. - a olhei uma última vez e saí da sala.

Narrado por Nina

Senti uma dor terrível ao saber que ele está doente de novo, sentei e chorei como nunca havia feito antes, doeu demais e me senti a pior das pessoas. Depois que Marcela saiu, fiquei durante o dia inteiro sem reação, paralisei ao lembrar da minha juventude, de tudo o que passei ao lado dele, a saudade do meu filho começou a apertar e junto com o afastamento de minha melhor amiga, na verdade uma irmã, uma angústia enorme me preencheu. Porém, não estava mais aguentando ficar no escritório, peguei minha bolsa e sem dar o mínimo de satisfação ou instruções aos estagiários e à minha secretária, segui para o estacionamento, entrei no meu carro e fui para casa, o caminho parece mais longo do que o habitual, nada mais tem brilho, nem mesmo o mar que eu adoro admirar ao voltar pra casa, o sol está se pondo, o que deixa a cidade ainda mais bonita habitualmente, mesmo que hoje, aos meus olhos, não faça diferença. Notei que surgia em mim a mesma vontade de oito meses atrás, mas espantei os pensamentos ruins de minha cabeça. Quando cheguei em casa, entrei com o carro na garagem, desliguei o mesmo e respirei fundo, algumas lágrimas ainda insistiam em cair pelo meu rosto, esperei alguns minutos para entrar, fiquei em silêncio enquanto minha mente estava a mil. Praticamente me assustei quando meu celular vibrou e achei estranho ver o tal número na tela.

- Alô. - atendi um tanto ríspida. - Nina, eu preciso que você venha para o hospital agora. - ouvi a voz angustiada de Marcela, na mesma hora meu coração disparou e pensei no pior. - O que houve? - ela exitou do outro lado da linha. - Fala, Marcela, pelo amor de Deus! - passei a mão pela minha fronte, a mesma estava gélida, eu aguardava aflita sua resposta e quase não respirava. - O Otávio está indo embora. - chorou ao dizer. - Não! - falei tomada pelo desespero. - Ele quer se despedir de você. - suas palavras​ saíam entrecortadas. - Não brinca comigo, Marcela. - encostei minha cabeça no apoio do banco do carro e deixei minhas lágrimas caírem. - Nina. - ela me chamava. - Nina. - também chorava junto comigo. - Onde é o hospital? - perguntei tentando pronunciar as palavras. - São Vicente de Paulo, você sabe bem qual é. - era o mesmo hospital onde fiquei internada. 

- Já estou indo pra aí. - desliguei e segui em direção ao hospital, ainda no caminho, buscava acreditar que ele estava apenas passando mal, pisava fundo no acelerador e xingava quem entrasse no meu caminho, atrapalhando minha ida. O desespero começou a se intensificar, sentia um aperto enorme em meu peito.

- Por favor, Senhor não deixa ele morrer! - eu suplicava com os resquícios de esperança e de fé que eu tinha. - Não deixa! - pedia veementemente. Em poucos minutos cheguei ao hopistal, pedi informações, e segui para onde me indicaram. Assim que saí do elevador, avistei Marcela e corri em sua direção.

- Cadê ele? - perguntei segurando seus braços, ela parecia extremamente exausta e abatida​. - Alí. - olhou em direção a uma porta que estava entre aberta, andei rápido até ela, e assim que entrei, parei na porta​, vi Leonora na beira da cama, além de outras três pessoas que eu não sabia quem eram. Me detive a olhar o homem sobre a cama, não é mais o mesmo Otávio que vi pela última vez, está muito magro e seus cabelos estão bem ralos, sua barba falhada e sua pele pálida dão a ele um aspecto de sofrimento e muita dor. Me aproximei dele enquanto todos me olhavam. Cheguei perto do leito e inclinei meu corpo em sua direção, ele estava com os olhos fechados e respirava muito superficialmente, passei a mão por seus finos e poucos cabelos e segurei sua mão que estava sobre o seu peito.

- Otávio. - chamei por ele e seus olhos abriram vagarosamente. - Nina. - pronunciou meu nome sem forças​.

- Estou aqui, meu amor. - minha voz saiu falhada. - Não vai embora. - selei meus lábios aos dele, delicadamente. - Não faz isso comigo, me perdoa, por favor. - chorei ao ver sua face entristecida, ele derramava algumas lágrimas, mas não conseguia esboçar nenhuma reação, estava fraco demais para isso. - Não chora. - encostei minha cabeça em seu peito e o abracei quando ele pediu. - Isso tudo é culpa minha. - falei entre soluços. 

- Nunca diga isso, nunca. - ele falava baixinho e com dificuldade. - segurei seu rosto com cuidado e o encarei. - Eu não vou aguentar, fica comigo. - enxuguei suas lágrimas e nos olhamos por um bom tempo em silêncio. - Eu te amo tanto. - chorei mais ainda ao ouvir ele dizer. - Eu também te amo, te amo muito, mais do que tudo na minha vida. - beijei seu rosto várias vezes. - Eu te machuquei tanto, eu te feri tanto. - falei acariciando sua face, como se isso fosse me redimir das coisas que fiz e disse, ele levantou a mão devagar, acariciou meus cabelos e fechei os olhos sentindo o carinho, com medo avassalador de que fosse o último. - Eu fui tão injusta, me perdoa, meu amor. - beijei sua mão. - Não tenho que te perdoar por nada. - falou com dificuldade para respirar. - É do seu perdão que eu preciso. - me olhou profundamente​. - Me perdoa pelo que eu fiz. - tentou apertar minha mão, mas não conseguiu. - Eu não posso ir sem o seu perdão. - segurei suas mãos próximas de mim e toquei meu rosto com elas. - Você não vai morrer, não fala assim, você vai ficar bom, isso tudo vai passar. - afirmei tentando parecer forte, mas desmoronei por dentro.

- Fala, Nina. - seu polegar acariciou a maçã de meu rosto. - Eu preciso. - prosseguiu. - Diz que me perdoa. - insistiu​ fazendo esforço para falar mais alto. - Perdoo amor, eu perdoo você. - sorri pra ele e beijei novamente seus lábios. - Obrigado, eu queria tanto ouvir isso. - ele esboçou um sorriso com seus últimos resquícios de força. - Me perdoa também. - pedi angustiada. - Por todo mal que eu te fiz, pelo meu orgulho. - acariciei suas mãos. - Por não te dizer que tínhamos um filho, pela minha arrogância, por tudo. - ele suspirou. - Eu vou ver o nosso filho hoje, Nina. - neguei com a cabeça e senti meu coração em frangalhos. - Você ainda vai viver muito, porque eu não posso ficar sozinha nesse mundo sem você. - ele me fitou com ternura. 

- Eu lembro de quando te vi pela primeira vez, tão linda. - sua voz quase inaudível é entoada com saudade e carinho. 

- Seus olhinhos verdes. - sorri afávelmente pra ele. - Eu nunca vou me esquecer daquela noite na praia. - toquei seus lábios ao dizer. 

- Do nosso primeiro beijo, eu ainda sinto o gosto dele em mim. - trouxe suas mãos​ para perto de minha boca, e aos poucos ele também conseguiu tocar meus lábios.

- Eu nunca vou ter a oportunidade de dançar com você, eu fiquei com tanta vontade naquela festa. - lembrei da festa na casa da Laura. - Nós vamos dançar juntinhos, só nós dois, eu prometo. - falei roçando meu nariz no dele.

- Meu amor foi inteiramente seu, só seu. - enclinei minha cabeça lateralmente para sentir seu afago. - Eu nunca amei outro homem. - declarei. - Me desculpa, eu queria tanto ter forças pra lutar mais. - meu coração começou a apertar com suas palavras. - Não desiste, amor, luta por você, luta por mim. - pedi no auge do meu desespero. - Eu quero ficar velhinha ao seu lado. - ele sorriu contido. - Promete que vai ser feliz, você merece. - apertei mais forte suas mãos​. - Minha felicidade é você Otávio, só você, eu menti tanto pra mim esses anos todos, eu senti tanto a sua falta, todos os dias. - alguns médicos entraram na sala e pararam para observar a cena. - Não houve um dia sequer que não tenha pensado em você, apesar de tudo o que passamos, você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, mas eu estraguei tudo. - exclamei, vi suas palpebras pesadas e seus olhos azuis quase sem brilho. - Eu sonhei com você essa noite, meu amor. - falou respirando profundamente. - Você foi a primeira imagem que eu desejei nesse dia e é a última que eu vou ver. - engoliu seco e tentou puxar o ar. - Otávio. - chamei aflita por ele. - Eu te amo, Nina. - falou pesadamente. 

- Eu também te amo, eu nunca deixei de te amar e vou te amar minha vida inteira. - lentamente ele pendeu a cabeça sem tirar os olhos de mim, piscou algumas vezes derramando suas últimas​ lágrimas​ e expirou o ar de seus pulmões, ele fechou os olhos, me deixando sozinha para sempre.

- Não! - protestei em meio a dor. - Não, Otávio! - chacoalhei seu corpo desfalecido. 

- Não! - gritei aos prantos, um choro agonizante saía de mim e eu me agarrei ao seu corpo o mais forte que pude. - Não faz isso comigo. - segurei seu rosto e beijei seus lábios. - Nina. - Marcela me chamou segurando meu braço. - Marcela, ele me deixou. - me apertei ainda mais contra ele beijando sua fronte, os médicos vinham em minha direção, e na sala, o choro de Leonora, de Marcela e das outras pessoas tornaram o ambiente pesado e sem vida. - Venha conosco, senhora. - um médico dizia calmamente. - Não, eu não vou sair daqui. - esbravejei. - Otávio você era meu único motivo pra viver, o que eu vou fazer agora sem você? - Marcela tentava a todo custa de tirar de perto dele, os médicos tinham que levar o corpo. - Ai, Marcela, minha vida acabou, meu amor foi embora. - ela chorava junto comigo. Aos poucos, com a ajuda de Leonora, eles conseguiram me afastar dele. 

- Eu nunca vou te tirar do meu coração e da minha memória, nunca! - falei ao tocar sua mão pela última vez. Me rendi ao remorso, a uma vida de solidão, que certamente, são as únicas​ coisas que me esperam de agora em diante. Meu coração foi arrancado do peito e junto com ele, o último motivo que eu tinha para ser feliz.


Notas Finais


Obrigada por lerem até aqui 😘


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...