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História Memórias de um experiente - Crescer e Morrer


Escrita por: Vitorgraziani

Notas do Autor


Nesta capítulo, João de Deus nos conta sua experiência final em Brasília e seu futuro após o término da construção desta.
Boa leitura!

Capítulo 5 - Crescer e Morrer


Os dias na Nova Cap voavam, via-me cada vez mais envolvido com a construção do Congresso Nacional, pressionado por Israel, que temia que a cidade não ficasse pronta até o fim do mandato do presidente Juscelino, pois sabia que o próximo presidente não continuaria com a construção caso ela não estivesse pronta. Mudei-me para o Catetinho, e de lá, acompanhei muitas vezes falas de Seu Israel com Juscelino, dizendo que o dinheiro para a obra acabara, armando esquemas para corromperem-se, desviando dinheiro público para terminar as obras de Brasília. Ficava chocado, a cada vez que via aquelas cenas, não podia acreditar que pessoas tão bondosas como Seu Israel, e até mesmo o presidente Juscelino, poderiam ser bandidos. Ao mesmo tempo via os trabalhadores sofrerem, reclamarem do alimento que recebiam durante seus árduos trabalhos, levantando um prédio engenhoso como o Congresso Nacional, sentia-me representante daquela gente sofrida da qual já havia feito parte, sem saber, o sangue da política já corria em minhas veias. Lembro-me de um dia, em uma das visitas de Juscelino a Brasília, em que o fiz ir comer no refeitório dos operários a comida que comiam todo dia, e da qual tanto reclamavam, ele não gostou da ideia, mas tinha de ir, caso contrário, fariam greve e Brasília não ficaria pronta, ele comeu, e, só com uma garfada mandou que eu e Israel trocássemos a empresa que fornecia os alimentos. Fui ovacionado por todos, que já queriam que eu substituísse Seu Israel, vetei na hora a possibilidade, pois sabia que seria obrigado a corromper-me, e não queria isso, queria ajudar meu povo, sendo povo como eles são, isto é, não me vertendo em um bandido que lava suas mãos com o dinheiro suado do trabalhador. Continuei lutando, trabalhando pelos direitos dos Candangos, vendo toda a sujeira que era a política, vendo tudo o que a população não tinha o direito e a possibilidade de enxergar, mas não podia desistir, sabia que se o fizesse, meu substituto não atenderia somente as vontades do povo Brasiliano. Vi uma cidade nascer em tempo recorde. Foi uma festa no último dia de obras, quando eu mesmo fiz questão de instalar os dois crucifixos nos plenários do Congresso, o da Câmara de Deputados, e do Senado Federal. Foi emocionante. No dia seguinte, a cidade era outra, estava tomada por carros de luxo, ocupada por pessoas diferentes, não mais pelo simples trabalhador, que não encontrava lugar na nova capital do Brasil. Assim como eles, vi-me excluído daquela festança, e pude perceber que Brasília não fora feita para a população que a fez. O Presidente Juscelino, parecia outra pessoa, não mais aquele presidente, que embora corrupto, falava com os Candangos; naquele momento, só possuía voz e ouvidos para as autoridades que ou mudavam-se para a Nova Cap ou que o prestigiavam sua obra, obra que na verdade não era sua. Era como se meu sonho de melhorar de vida, de ser feliz, acabasse. Tinha vinte e dois anos, não havia cursado um curso superior. Brasília não havia sido feita para mim. Estava só. Acuado por pressões enormes para não ter o mesmo destino de meus pais, que morreram, vítimas de uma sociedade que impede mudanças e a felicidade da população mais simples. Seria covardia minha não rumar para um futuro melhor, novamente. Ouvi dizer que havia uma faculdade de Direito muito boa em São Paulo, disseram-me que tinha futuro e vocação para a área, e que seria atraso para minha pessoa, prosseguir em Brasília. Decidi ir, afinal, era só mais uma das mudanças pelas quais já havia passado e pelas quais ainda passaria. Com o dinheiro em estoque que ainda possuía, oriundo de meu cargo na construção de Brasília, comprei uma passagem de avião e rumei para São Paulo. Pela primeira vez entrei naquelas máquinas voadoras que nos transportam a qualquer lugar do mundo. Uma sensação indescritível que guardo até hoje. Chegando em São Paulo fiquei uma semana em um hotel até que comprei um apartamento para onde mudei-me, na semana seguinte fui admitido na Universidade do Largo São Francisco. Cursaria direito. Tive meu sonho adiado. Uma surpresa. O Presidente renunciara, e um comunista poderia assumir o poder. O país parou, tentaram inclusive matar o carismático presidente comunista, derrubando o avião que o transportava até a Brasília que havia ajudado a construir. Quando a situação se acertou, adentrei à faculdade. Um sonho que se realizava. Os primeiros meses foram fascinantes, tinha a impressão de que tudo fazia sentido, estava realizado, mas não estava completo. Faltava lembrar de meu lugar de origem. Faltava achar a companheira de minha vida. 


Notas Finais


Não perca no próximo capítulo, o reencontro de João de Deus com suas origens, e o encontro de seu amor!


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