1. Spirit Fanfics >
  2. Memórias de um experiente >
  3. Ideologia

História Memórias de um experiente - Ideologia


Escrita por: Vitorgraziani

Notas do Autor


João de Deus percebe os diferentes mundos que existem na mesma terra. As diferentes realidades com as quais pode um ser conviver. A sede de um pensamento. O eco de um grito mudo. Nesse capítulo: boa leitura!

Capítulo 6 - Ideologia


Ah, voltava o dizer do desconhecido amigo Karl Marx, que há na face da terra uma tal luta entre os oprimidos e os opressores. Voltava o tal Amado que dizia que os capitães desse mundo, eram da areia – e que como essa, seus fiéis se esfacelavam com a primeira brisa que ali soprasse. Perdido no meio do mundo, vi uma cidade se erguer. Vi aqueles que deram suas vidas por aquele amontoado de concreto serem expulsos dali para que outros – que mal sabem o papel de cada pedaço desse – tomassem o poder dali. Vi olhos brilharem com a esperança de um amanhã diferente. Vi olhos se encantarem com a conspiração utópica do mundo ideal. Era tudo sonho. Conheci novos olhares: tão bonitos, tão distantes. Foi Marice a primeira a, tal qual um pescador pesca um peixe, içar meu cérebro ao pensamento maniqueísta. Sintomaticamente, aquela que era filha do patrono da universidade, aparecia como o símbolo da renomada instituição. Engajada na luta. Radical sem saber. Tal como o mar que disse, Marice era o símbolo das excluídas. Era o produto da disposição. Era a marca de tipo ideal que se vendia. Mas Marice também era fraca. Naquela filha pródiga, enxergava a incongruência: como podia lutar tanto se não era a luta natural? Como podia batalhar sem conhecer a verdadeira batalha? Como podia ser contra os vícios, se deles fazia jus junto à erva venenosa que dava qualidade insana aos seres – e que até hoje dá? Embora houvesse, ali, toda aquela figura enigmática, por trás, Marice era uma contradição de si mesma, e foi observando ela, que percebi que o mundo não merecia seu Estado de natureza, e que passou a domá-la, para que se criasse uma pessoa que de alguma forma fosse digna do mundo. Mas eu não queria ser Marice – até porque era o João de Deus e esse termo Deus não condizia com os tais princípios da suposta amiga Marice. Eu não queria ser alguém que era preso por essa lógica de lutar contra o sistema. Eu não queria ser alguém que estava sufocado pela ideia da luta para derrubar o governo, porque sabia que o governo era o menor problema de quem estava lá embaixo. E sabia disso porque havia vivido isso, ainda lá no Brejo da Cruz. Era para fazer com que menos lama fizesse aquele Brejo que eu precisava viver, e para isso, tinha que agir no Brejo, e, embora lembrando da luta de Marice, não repetir seus vícios. Não tornar nítida e cansativa minha luta. E foi isso que fiz. Naquele 1963, durante as férias, peguei minhas malas e parti para o centro da terra de São Paulo: tomaria o ônibus, ali, para confins que me levariam de volta ao Brejo da Cruz – anos depois de sair de lá pensando que jamais voltaria. Estava partindo para tentar mostrar para quem lá estava uma nova mentalidade, de forma simples, na conversa ribeira, na conversa que o caipira entende – e fazendo isso com o espírito da doutrinação do falso altruísmo de Marice. Mas, antes que o ônibus partisse da lateral do grandioso palácio de Campos Elísios, o assento do meu lado é ocupado por uma surpresa. Meus olhos dilatados a veem, e com fogo nos olhos, antes de tudo explodir, veem os planos de mudança serem interrompidos. Era Marice: ao meu lado, comigo, como um corpo só, como um único organismo que pensa diferente devido à quantidade de ramificações existentes. Querendo ou não, ela escolhera estar ao meu lado, mas não para que eu a ensinasse a lutar, mas sim para que ela lutasse por mim, e eu não concordava com isso. Não concordava porque queria fugir desse estigma velho, que é admirado por todos. Queria fugir do sistema sem criar um sistema novo. E a competitividade de Marice seria uma pedra no meio do caminho.


Notas Finais


No próximo capítulo: a saga de João no Brejo da Cruz, conciliando seus ideais com Marice.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...